sábado, 17 de agosto de 2013

Joias Perdidas: Bruno, o 'novo R10', flerta com aposentadoria aos 29 anos

Sem clube, meia assediado pelo Arsenal antes de virar profissional no Grêmio vive em Balneário Camboriú. Só retoma bola com oferta especial

Por Hector Werlang Porto Alegre

Quem desconhece o presente de Bruno se confunde com o passado do meia que surgiu no Grêmio no fim da década de 1990, foi assediado pelo Arsenal e protagonizou comparações com Ronaldinho Gaúcho. Afinal, tem uma rotina parecida com a de famosos da bola. Não é fácil encontrá-lo. Mantém a forma com exercícios físicos diários. Joga futebol. Basta aprofundar o dia a dia, porém, para perceber que o futuro indica aposentadoria. Aos 29 anos. Desapontado com o rumo que a carreira tomou, a promessa rodou por mais dez clubes até decidir fixar residência em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Vive da renda que o pouco sucesso lhe deu. E só voltará a atuar de forma profissional caso surja uma oferta especial.

Conhecer o que realmente aconteceu com a joia tricolor, líder dos times de todas as categorias de base, chamado para quase todas da Seleção, apontado pelo próprio Ronaldinho Gaúcho como jogador que ‘sabe muito de bola’ e fez o presidente à época, José Alberto Guerreiro, mandar colocar uma faixa na entrada do Olímpico com os dizeres "Não vendemos craques", remete ao mundo fora das quatro linhas. Dentro delas, não há reparos. Todos o elogiam. Todos o consideram diferenciado. Mas o despertar para uma vida nova, o sucesso, a pressão, a relação com a torcida e com a imprensa o afetaram. Brecaram uma ascensão quase certa. E praticamente deram fim a sonhos.

Bruno, ex-meia do Grêmio no Joias Perdidas (Foto: José Doval/Agência RBS) 
Bruno comemora gol contra o Corinthians no seu "melhor jogo" (Foto: José Doval/Agência RBS)
 
Tudo começou em 11 de junho de 1999. Era aniversário de 15 anos de Bruno. A mãe Liange interrompeu a preparação do pão com ovo, que seria servido ao filho, para atender ao telefone. Do outro lado da linha, estava Jose Fuentes, representante do Arsenal na América Latina.

 Oferecia US$ 250 mil (R$ 440 mil, à época), carro, casa e estadia a toda família em Londres em troca do acerto com o clube da Inglaterra. Queria aproveitar que o futuro jogador ainda não tinha contrato profissional com o Grêmio – o que a Lei Pelé só permitia aos 16 anos. Era o primeiro capítulo de uma mudança e tanto.


Bruno, 15 anos, na trilha de Ronaldinho (Foto: Reprodução) 
Imprensa comparava Bruno a Ronaldinho no início da carreira (Foto: Reprodução)
 
- Demorou uns dias, mas o representante foi lá em casa. Levou uma mala cheia de dólares. Nunca tinha visto tanto dinheiro. Parecia coisa de filme. Eu era uma criança. É claro que balancei – relembrou Bruno.

O interesse foi levado à direção do Grêmio. A família Ferraz das Neves, na figura de Joaquim, pai, funcionário do Tricolor e lateral do Inter na década de 1980, tentava encontrar alternativas para manter o prodígio em Porto Alegre. Pretendia ganhar uma casa do clube. Não levou. Conseguiu, após muita negociação, um adiantamento financeiro e a promessa de um contrato profissional de três anos com alto salário. Afinal, o primeiro vínculo, como amador, previa apenas uma ajuda de custo de R$ 50.

Fácil, agora, concluir que foi um erro o veto aos ingleses. Negativo. Bruno não se arrepende:

Pessoal falava que eu dormia em campo, mas não era assim. Não soube administrar a minha qualidade"
 Bruno, ex-meia do Grêmio
 
- Sei que não dei muito certo. Peguei uma fase complicada do clube, mas tudo o que tenho eu devo e agradeço ao Grêmio. Foram 12 anos, desde a escolinha, até virar profissional. E foi lá que fiz o grande contrato da minha vida e conquistei o que tenho.

Não foi fácil. Em 1999, Bruno era chamado para completar treinos do profissional, comandado por Celso Roth. Ronaldinho Gaúcho, de tanto destaque, ganhou chance na Seleção de Vanderlei Luxemburgo. Fez golaço, com direito a chapéu em zagueiro, na estreia diante da Venezuela na Copa América. Pronto. As comparações entre os dois passaram a ter caráter nacional. E a pressão ao novato, que subira definitivamente com Tite em 2001, ficou exagerada.

- Isso foi uma bobagem. São estilos diferentes. Isso me atrapalhou. Foi uma pressão em cima de um menino. Não tive a base para suportar – reconheceu Bruno.

Bruno, 15 anos, de malas prontas - Zero Hora (Foto: Reprodução) 
Aos 15 anos, Bruno era assediado pelo Arsenal, da Inglaterra (Foto: Reprodução)
 
O jogador cerebral, que provavelmente não sabia a cor da grama - afinal, jogava sempre de cabeça erguida -, de passadas largas e passes certeiros, logo se perdeu. Passou a ser figura discreta em treinos, jogos. Ganhou o apelido de ‘Soneca’. Situação que só mudou com a chegada de Adilson Batista, em 2003, o responsável por salvar o Tricolor do rebaixamento no Brasileirão.
 Com Bruno como protagonista. Com direito a gol na última rodada contra o Corinthians, em 14 de dezembro, na vitória por 3 a 0. Com a garantia de permanência na Série A. Com o "melhor jogo da vida". A comemoração do gol com a torcida tomando o Olímpico, aliás, rendeu uma foto que estampa um quadro na sala da casa de Bruno. Até hoje.


O ano de 2004, porém, foi tumultuado. Grêmio caiu cedo no Gauchão. Adilson fora demitido. O clube seria rebaixado no Nacional. E as críticas a Bruno aumentaram. Em 2005, com Mano Menezes, ele decidiu ficar para ‘devolver o clube ao lugar que nunca deveria ter saído’. Foi titular. Até sofrer uma lesão na virilha da perna direita. Sair e não voltar mais ao time. Na virada de ano, com o retorno à elite brasileira, após a histórica Batalha dos Aflitos, o Tricolor reformulou o elenco. Bruno sobrou. Seguiria perambulando por clubes como Fluminense, Porto Alegre, Joinville, Santa Cruz (RS), Cruzeiro, Noroeste, Metropolitano (SC), União Leiria (Portugal), Consadole Sapporo (Japão) e Guarani (SP). Sempre com a mesma pecha: promessa que não vingou.

Bruno vive com a esposa e os filhos Pedro Henrique e Maria Luisa (Foto: Arquivo Pessoal) 
Bruno vive com a esposa e filhos Pedro Henrique e Maria Luisa (Foto: Arquivo Pessoal)
 
- O pessoal falava que eu dormia em campo, mas não era assim. Não soube administrar a minha qualidade com a necessidade de marcar. Isso, sim, eu faria diferente. Tinha de correr mais. Marcar mais. Eu não ligava muito para isso. Se tivesse a cabeça de hoje, faria algo melhor.

 Depois que se passa por alguns clubes sem estrutura, se valoriza muito mais o que eu tive. O Grêmio é muito grande.

O último clube do jogador foi o Guarani em 2012, anos de disputa do Paulistão e da Série B. A saída de Osvaldo Alvarez, o Vadão, tornou o ambiente, na opinião do meia, insustentável. Decidiu não continuar. Briga na Justiça para receber salários atrasados. Rotina que o desgasta. Não quer mais. Por isso, flerta com a aposentadoria. Espera uma chance de voltar ao Japão para defender o Consadole Sapporo – um amigo tenta criar a oportunidade de repetir a boa temporada de 2011. Lá foi titular e ajudou a equipe a subir da Série B para a A. Se não acontecer o acordo, seguirá vivendo em Camboriú.
- Não sou rico, mas dá para manter a família.

Bruno vive com a mulher e o casal de filhos: Pedro Henrique, sete anos, e Maria Luisa, quatro. O menino sempre lhe pede para jogar futebol na praia. Os dois vão, claro. Mas é perguntar se o pequeno será jogador de futebol para o passado voltar ao presente.

- Não vou forçar nem cobrar nada...

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/rs/noticia/2013/08/joias-perdidas-bruno-o-novo-r10-flerta-com-aposentadoria-aos-29-anos.html

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