Fundador da equipe que deu primeira chance ao brasileiro recorda manhã de 19 de julho de 1983: 'Era muito inteligente, tinha controle de tudo'
- Minha visão de Ayrton antes do teste era de um jovem que dominou todas as categorias juniores pelas quais competiu. Ele parecia estar em seu caminho até o topo. Por isso, eu estava com a mente aberta – contou Sir Frank.
Ayrton Senna, pela primeira vez em um carro de Fórmula 1 (Foto: TV GLOBO)
O palco não poderia ser melhor para Senna, Donington Park. Lá, tinha vencido todas três as corridas que havia disputado nas categorias de base. O carro seria uma Williams FW08C, motor V8 Ford Cosworth, com o qual o finlandês Keke Rosberg havia se sagrado campeão mundial no ano anterior. Ayrton chegou ao autódromo, conversou com os mecânicos e entrou no bólido. Franzino, precisaria se adaptar ao cockpit de Keke, mais alto e pesado que ele. A jovem promessa fez os últimos ajustes e foi para a pista. Em poucas voltas, mostrou seu potencial, deixando todos impressionados. Cravou 1m00s5, cerca de um segundo mais rápido que o tempo anotado pelo piloto de testes do time, o britânico Jonathan Palmer. Ao fim de 83 voltas, parou nos boxes e foi almoçar. Foi aí que a "marra" daquele garoto fora da pista chamou ainda mais a atenção do dirigente da equipe.
- O mais intrigante era: ele veio para uma avaliação, conversou com os engenheiros começou a entender o carro. Então ele se virou, deu algumas voltas de instalação e passou a fazer trechos de cinco a oito voltas rápidas. Seus tempos baixavam, baixavam e baixavam. Foi muito impressionante, mas não mais do que quando ele chegou para mim após as voltas e disse “ok, é isso” e foi para o almoço. Eu pensei que ele ia querer ficar no carro o dia todo. Mas ele disse “não, estou feliz, muito feliz”. Respondi: “Foi o suficiente? Ok, obrigado”.
- Depois, refleti sobre isso e pensei: “É um piloto que está totalmente no controle de tudo. Tem a própria maneira de fazer as coisas, seus próprios planos. Provavelmente será muito bom no futuro”. Ele achava que tinha feito o suficiente, entendeu o carro, fez boas voltas. Era o suficiente para ele. Ele era muito inteligente. Tinha um grande carisma e controle de tudo que dizia e fazia. Era uma pessoa incrível em muitos aspectos – avaliou.
Diz a lenda que o chefão da Williams teria até pedido para os mecânicos colocarem chumbo no carro de Senna para que o jovem não fosse tão rápido. O objetivo seria que ele não chamasse tanto a atenção dos rivais, para que a equipe conseguisse contratá-lo em um futuro breve. Verdade ou mito, não seria para 1984. A dupla do time britânico para aquele ano já estava fechada, sob contrato: Keke Rosberg e o veterano francês Jacques Laffite, já com seus 40 anos. Além disso, Frank argumentava que não costumava contar com pilotos novatos em sua equipe.
Frank Williams em entrevista a Reginaldo Leme após teste com Senna (Foto: TV GLOBO)
União entre Senna e Williams, só dez anos depois
A Williams teve uma joia nas mãos e deixou passar. Ficou em Sir Frank o desejo de um dia contar com aquele jovem e abusado piloto que conheceu melhor naquela manhã de verão britânico. A sonhada união foi se concretizar apenas dez anos depois, em 1993, após uma conversa naquele mesmo circuito de Donington, justamente após uma das maiores atuações de Senna na F-1. Perguntando se não tinha algum arrependimento de não ter contratado Ayrton naquela oportunidade e ver a promessa se tornar um dos maiores mitos da história do esporte, Frank relativizou:
- Ayrton ganhou todas as categorias de base. Se ele tivesse falhado na Fórmula 1, isso teria sido mais surpreendente.
Desde acidente fatal de Ayrton Senna em 1994, Williams estampa "S" em seus carros (Foto: Getty Images)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2013/07/trinta-anos-depois-frank-williams-relembra-1-teste-de-senna-com-f-1.html
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