Meia adota tom 'light' para falar do Santos, elogia recuperação física no novo clube e garante que vai voltar a mostrar personalidade forte em campo
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, os rancores com o tratamento recebido no Santos ficaram somente nas entrelinhas. Basta reparar nos trechos, cobertos de sutileza, em que afirma que merecia um tratamento melhor, ou que precisava ter parado por mais tempo para tratar suas lesões.
Mas, abertamente, sobram elogios: Rogério Ceni, Lucas, Ney Franco, Fabrício, Neymar, Kaká, Oscar, Mano Menezes, Muricy Ramalho... Ganso caminha para um mandato conciliador, mas não perde sua autoconfiança. Garante que está mais forte, confiante e seguro após horas e horas diárias de recuperação no Reffis. E em sua promessa de campanha, garante aos torcedores que o São Paulo não vai se arrepender de ter investido R$ 23,9 milhões (em parceria com o DIS, grupo de investidores que detém uma parte dos direitos econômicos do atleta) para contratá-lo.
- Estou voltando para jogar muita bola e conquistar muitos títulos, com a ajuda de vocês.
Na última semana, Ganso fez os primeiros trabalhos dentro de campo. A recuperação tem sido melhor do que os médicos esperavam e mais longa do que o jogador imaginava. A lesão no músculo reto femural da coxa esquerda já está cicatrizada, mas o São Paulo investe no equilíbrio muscular entre as pernas para evitar novos problemas com o meia, que aos 23 anos já acumula quatro cirurgias.
O histórico médico gera as maiores desconfianças em relação ao sucesso de Ganso no Tricolor. Mas também há quem pense que aquele jogador, que na final do Campeonato Paulista de 2010 se recusou a sair de campo quando o técnico Dorival Júnior tentou substituí-lo contra o Santo André, não existe mais. O camisa 8 jura que não perdeu a personalidade forte e só precisa de sequência de jogos para provar isso.
- Isso está sempre presente comigo. Tive momentos difíceis de lesões aqui e ali, sem continuidade em campo. Mas agora estou me preparando bem para não sentir mais nada e ter sempre essa personalidade forte.
Ganso deverá fazer sua estreia ainda este ano pelo São Paulo (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Nos seus últimos jogos pelo Santos, a impressão é que você estava longe dos 100%. Você estava jogando no sacrifício?
No sacrifício, não. Estava jogando da maneira que eu pensava estar bem, mas precisava parar. Hoje tenho todo tempo do mundo para parar, me fortalecer, ganhar massa muscular. Coisas importantes para eu voltar. Eu não estava 100%, mas me sentia bem.
Mas então se tivesse parado antes por esse tempo, teria sido melhor para você?
Não posso falar se teria me ajudado parar antes. Hoje me sinto muito mais forte, confiante e seguro. Esse trabalho está sendo muito bom para mim e minha musculatura.
Você enfrentou o Corinthians, na Libertadores, 21 dias depois de operar. Hoje, se arrepende de ter entrado em campo?
Não, eu tinha condições de entrar em campo e ajudar. O que não daria tempo de fazer era um condicionamento físico melhor. Correr na areia, ter a companhia dos preparadores... Precisava treinar com bola e faltou um pouco dessa condição física, pelo tempo que eu não tinha, e pela minha decisão de jogar aquela partida.
Ganso já realizou dois treinos com bola no São
Paulo (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)
Paulo (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)
Em algum momento da negociação você chegou a duvidar que conseguiria jogar no São Paulo, que fosse dar certo?
Ah, foram vários momentos. Até porque chegou ao último dia, então minha cabeça ficava um pouco preocupada. Será que meu futuro seria no São Paulo, no Santos, em outro clube? O futebol acabou ficando um pouco de lado porque eu queria definir meu futuro.
O que passou por sua cabeça quando subiu ao gramado do Morumbi e viu 40 mil pessoas gritando seu nome? Você, que era ídolo do rival, já fez gols no São Paulo...
Olha, eu esperava bastante gente, até porque haveria um jogo depois (contra o Cruzeiro). Mas ver 40 mil pessoas gritando meu nome foi um momento único na minha carreira. Eu não esperava por aquilo, fazia tempo que eu não sentia aquele friozinho na barriga de subir para um gramado e ter a torcida gritando meu nome.
O São Paulo se acertou nos últimos jogos. Como você acha que pode se encaixar nessa equipe?
Tenho que utilizar minha qualidade, meu talento, foi por isso que o São Paulo me contratou. Deixo essa boa dor de cabeça para o Ney Franco unir mais qualidade na equipe.
Você já deve ter ouvido falar que Ganso e Jadson não podem jogar juntos. Há alguém aqui no São Paulo com quem você pode não jogar junto?
Não, não (risos). Dá para jogar com todo mundo. O problema é que só 11 podem entrar em campo. Então, como eu falei, deixo essa boa dor de cabeça para o Ney.
Em 2010, houve um encantamento com sua atitude de se recusar a sair de campo, com 20 anos, na final do Paulistão. Foi uma demonstração de personalidade muito precoce. Mas, de uns tempos pra cá, você tem sido considerado um jogador apático, sem reação. Aquele Ganso, que se nega a ser substituído, ainda existe?
Lógico que existe, isso está sempre presente comigo. Tive momentos difíceis, de lesões aqui e ali, sem continuidade em campo, sem poder disputar mais jogos. Mas agora isso voltou. Estou me preparando muito bem para não sentir mais nada e ter sempre essa personalidade forte.
Meia usa janela da sala de fisioterapia do CT para arrumar o cabelo (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
O Lucas vai embora no fim do ano e o Rogério Ceni ainda não decidiu se renova por mais um ano. Você gostaria de voltar logo, até para poder atuar com eles?
O Rogério é um ídolo, tem uma história linda no São Paulo. E o Lucas também fez muita coisa boa aqui. Pena que ele está de saída, mas não havia outra decisão. Quero jogar ao lado deles e ajudar nessa reta final de Brasileiro, e também na Sul-Americana, em que podemos chegar ao título. Vai ser muito importante para mim e para o São Paulo.
A situação do Lucas é inevitável, mas e sobre o Rogério? Seria importante para você tê-lo ao seu lado no primeiro ano de clube? Você gostaria que ele renovasse?
Seria muito importante pela história que ele tem, e pela pessoa que mostra ser. Hoje posso conversar mais com ele, é um cara muito gente boa. Pela experiência que ele tem, dentro e fora de campo, seria importante para mim e um marco para o São Paulo.
A torcida do Santos pichou sua imagem no muro do clube, e o clássico contra eles está marcado para a Vila Belmiro no Paulistão do ano que vem. Isso te chateou? Como imagina a recepção?
Chateado a gente fica, mas o torcedor age com emoção. Tenho uma história muito bonita no Santos, minhas conquistas, belas jogadas, muitos gols. Isso vai ficar marcado, ninguém vai apagar. E sobre o clássico do ano que vem, espero sair vencedor. Vou fazer de tudo para levar o São Paulo sempre às conquistas.
Já decidiu se vai comemorar, caso faça gols?
Não cheguei a pensar nisso. Quando estiver mais perto a gente vê o que acha melhor.
Ver 40 mil pessoas gritando meu nome na apresentação foi um momento
único na minha carreira. Eu não esperava por isso. Há muito tempo não
sentia aquele friozinho na barriga"
Ganso
Não digo necessidade, mas é um desejo que todo jogador tem, de disputar uma Copa do Mundo, e no Brasil seria melhor ainda. Hoje, preciso retornar e jogar futebol. Se estiver jogando muito bem, consigo retornar. E respeitar a decisão do Mano, que vem fazendo uma equipe muito boa. O Kaká tem uma história bonita na Seleção, e o Oscar está bem. Tenho de buscar meu espaço jogando bem pelo São Paulo.
Você conhece a história do Pita (meia que trocou o Santos pelo São Paulo em 1985)?
Já ouvi falar. Ele saiu do Santos para o São Paulo, né? Não conheço bem, mas muitos torcedores dizem que tenho estilo parecido, de tocar bem a bola, visão de jogo aprimorada. Espero que eu possa construir uma história parecida, ou até melhor, de conquistas no São Paulo.
Como é a vida de torcedor? Você sofre muito vendo os jogos?
Tenho torcido bastante (risos). A gente sofre junto, quer estar em campo e ajudar os companheiros, mas hoje não posso. Em breve vou sofrer um pouco menos dentro de campo e poderei ajudá-los.
Você tem convivido bastante com o Fabrício no Reffis. Ele vai completar um ano praticamente sem jogar. Vocês conversam?
O Fabrício é uma pessoa fantástica, tenho convivido e conversado bastante com ele. Um cara que chegou ao São Paulo, teve várias lesões, não conseguiu ter sequência de jogos, mas tenho certeza que ele vai se recuperar bem e nos ajudar muito em 2013.
Você disse que o Muricy foi um paizão para você. E ele afirmou que quando o São Paulo entrou na briga para te contratar, ele sabia que perderia, porque conhece bem o clube. Ele chegou a te dar conselhos sobre o São Paulo?
Não, em momento algum falamos sobre o São Paulo ou qualquer outro clube. Ele sempre me falou que eu precisava me recuperar fisicamente porque sou o camisa 10, de futebol raro, que a gente não tem hoje no Brasil. Para eu me cuidar, que voltaria bem.
Camisa 8 posa em frente a um dos murais no CT
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Quem tinha razão na discussão entre o Rogério Ceni e o Ney Franco?
Ah, isso a gente chegou a um acordo. O São Paulo está vencendo os jogos, é um baita jogador e um baita técnico. Com uma boa conversa, a gente sobe na tabela e consegue chegar à final da Sul-Americana.
E o Ney já te mostrou o famoso campinho que havia desenhado com você no time, e que deixou o Muricy bravo no início da negociação? (Quando o São Paulo fez a primeira proposta por Ganso, o técnico afirmou que havia esboçado a formação com o então meia do Santos).
(risos) Não, ele ainda não falou. Mas brincou, disse que agora poderia tirar o campinho da gaveta. Ele vai saber me utilizar da melhor maneira possível.
E seu duelo com o Neymar? Vocês têm se falado com frequência?
Vai ser um duelo bom. Eu brinco que ainda bem que não sou zagueiro, porque ele é um craque, um gênio do nosso futebol. Mas espero que eu saia sempre vencedor. A gente se fala sempre, ele é um moleque muito humilde, uma pessoa fantástica. Não dá para ficar longe.
É difícil imaginar uma trajetória sem ele?
Jogamos muito tempo juntos, e um completava o outro, em todos os sentidos. Hoje sigo meu caminho no São Paulo, e ainda teremos muito tempo para jogar na Seleção.
Você ficou chateado pelo Santos não ter dado a você uma medalha pelo título da Recopa?
Não, chateado não. Atuei o primeiro jogo, posso dizer que sou campeão também. Meu nome estava lá.
Pé esquerdo do meia canhoto, que tem feito tratamento intensivo (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Temos totais condições de sermos campeões. É um título que pode nos dar uma vaga na Libertadores sem depender do Brasileiro. E o mais importante é o título.
Dá para perceber que você tem adotado um tom light nas respostas sobre o Santos, mas a gente sabe que sua saída de lá foi tensa. Por que tomou essa decisão?
Porque nunca tive problemas com o Santos. É o clube onde fiz minha história, está gravada e ficará sempre na memória do torcedor. Então não posso ficar com mágoa ou ódio. Tem de ser um tom light, mesmo.
Você teve problemas com pessoas específicas do Santos, então?
Não posso dizer pessoas específicas. Acho que eu poderia ter um tratamento melhor.
E esse tratamento melhor você está tendo no São Paulo?
Quando falo em tratamento melhor, é sobre negociações. Lá, sempre tive uma relação muito boa com a comissão técnica e os jogadores. E aqui fui bem acolhido, isso tem me ajudado bastante a me adaptar ao clube.
Há quanto tempo você não joga futebol com alegria?
Sempre entrei em campo com tesão e motivação de jogar futebol, mas as lesões me deixaram triste. Eram dores mais fortes, que me impossibilitavam de fazer algumas coisas. Mas, fora isso, sempre entrei com vontade e alegria.
Como você se sente quando olha no espelho e pensa que valeu R$ 23,9 milhões?
É uma responsabilidade grande saber que muita gente acredita no meu futebol. Por isso houve essa grande contratação. Só quero entrar em campo para mostrar todo meu talento e qualidade, para o torcedor são-paulino ficar bem alegre.
Mas faz bem para o ego, não?
Faz bem para o ego, mas é uma responsabilidade grande e tenho de saber administrar bem e mostrar isso dentro de campo.
Que recado pode mandar ao torcedor do São Paulo?
Que estou voltando para jogar muita bola e conquistar muitos títulos com a ajuda deles.
Ganso recebeu equipe do GLOBOESPORTE.COM no CT do Tricolor (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
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