Por onde passou, Andrezinho conquistou títulos. Foi assim no Flamengo, no Internacional e até no futebol coreano. De volta ao Rio após sete anos, o paulista de Campinas diz que trocou o conforto da vitoriosa carreira em Porto Alegre pelo desafio de retomar os tempos de glória do Botafogo. Bem articulado, o camisa 10 conta que na chegada se emocionou ao se identificar com o escudo do clube: “Eu sou a estrela solitária da minha família”. Aos 28 anos, Andrezinho conheceu cedo o peso da responsabilidade nos ombros, e, com destreza, já se sente ambientado na nova casa e até confortável para aconselhar o companheiro Jobson.
MARCA BRASIL: Na cabeça do torcedor, você chega ao Botafogo como esperança de ajudar na conquista de um título de expressão. Essa pressão te preocupa?
ANDREZINHO: Se eu tivesse algum medo, teria ficado no Internacional, onde já estava há quatro anos, tinha conquistado sete títulos importantes, era idolatrado pela torcida e estava adaptado à cidade. Seria muito cômodo ficar com a garantia de um contrato de mais seis anos. Tive propostas do Corinthians e do Fluminense, mas eu sempre falo que o ser humano é movido a desafios.
MB: E qual é o seu?
A: Tem gente que fica dizendo que faz tanto tempo que o Botafogo não ganha uma competição de expressão nacional, não disputa a Libertadores e eu estava fazendo isso pelo Inter. E eu falo: o desafio é justamente esse. Sou muito tranquilo, mas sei da responsabilidade que é chegar com uma carga muito grande da diretoria e dos torcedores. Mas eu penso sempre positivamente.
MB: E o que os seus amigos acharam da sua ida para o Botafogo?
A: Quando eu saí do Rio (do Flamengo, em 2004), me taxaram de maluco porque eu ia para a Coreia, jogar no Pohang Steelers. Depois, quando eu saí de lá, me chamaram de maluco de novo porque eu ia ganhar menos no Inter, voltaria para o Brasil, onde eles acreditam que os clubes não pagam os salários. E agora me chamaram de maluco outra vez porque estou indo para o Botafogo. Mas na minha cabeça tudo faz sentido.
MB: Qual sentido?
A: É o desafio de levar o Botafogo à conquista de um título de expressão nacional, a parte pessoal de querer ser ídolo, colocar o clube na Libertadores. Na Coreia, pesou a parte financeira. No Inter, voltar ao futebol brasileiro e ter a cobrança da torcida. E, no Botafogo, é o desafio do título. Colocar o clube no lugar que merece.
MB: Como você lida com essa responsabilidade?
A: Cheguei ao Rio com 9 anos, vim de São Paulo, de uma classe pobre. Quando pisei no Botafogo, até me emocionei porque me identifiquei. Eu sou a estrela solitária da minha família. Quando criança, diziam que eu iria ser ‘o cara’, que iria salvar a família toda. Hoje, eu sei trabalhar muito bem a responsabilidade porque comecei cedo. Com 12 anos, sustentava a minha família e me sinto realizado por dar conforto a todos.
MB: Você costuma falar da importância do Rondinelli (ex-zagueiro, que levou Andrezinho para o Flamengo) na sua vida.
A: Ele foi quase um pai para mim, não deixou que eu ficasse deslumbrado, o que é natural. Se eu não tivesse uma pessoa do meu lado, poderia ter me perdido com dinheiro, joias, carrões, fama... E o Rondinelli nunca deixou isso acontecer. Às vezes, eu o chamava de chato. Graças a Deus eu tive um cara chato na minha vida.
MB: E você também é esse ‘cara chato’ com o Jobson?
A: Quando cheguei, conversei muito com o Jobson porque tive um pré-julgamento dele. E, hoje, eu percebo que ele é um moleque. Eu disse a ele: ‘Milhares de garotos gostariam de ter meia oportunidade, você está tendo mais de uma. Você tem que pensar que antes de ajudar o Botafogo, a sua família, seus amigos, você tem que se ajudar porque senão você não vai ajudar ninguém’. O tempo passa muito rápido.
MB: E ele te ouviu?
A: Pelo que todo mundo fala, ele está demonstrando ser um outro Jobson. Ele falou para mim: ‘Pô, pior que é mesmo’. Eu disse: ‘Você é novo. Já pensou que tem a Copa de 2014 e você pode estar numa seleção brasileira? Ganhar dinheiro? Só depende de você’. Ele precisa se ajudar.
MB: Qual o gol mais bonito e o mais importante da sua carreira?
A: O mais bonito foi contra o Fluminense. No Brasileiro de 2009, que o jogo foi 4 a 2. Eu chutei da meia-lua e encobri o goleiro (Ricardo Berna). É um gol para ficar marcado. E o mais importante, claro, contra o Flamengo, nas quartas de final da Copa do Brasil de 2009.
MB: Por que tanta importância?
A: Foi a primeira vez que enfrentei o Flamengo em Porto Alegre e tinha essa questão de ter sido revelado pelo clube. Geralmente, depois dos jogos, demoro a dormir. Naquele dia fui dormir às 7h. Quando saí para jantar, a reação dos torcedores comigo, mesmo com a presença do Nilmar e do Fernandão, foi diferente. A minha história começou ali, porque, antes, só o D’Alessandro batia as faltas e, a partir desse gol, a torcida passou a pedir para eu bater.
MB: Tem um gostinho especial enfrentar o Flamengo?
A: Vai ser o meu primeiro clássico com a camisa do Botafogo, o primeiro do campeonato e o meu primeiro clássico regional contra o Flamengo. Com certeza, vai ser um jogo diferente. A lembrança do gol de falta não vai ser só minha, mas do torcedor. Imagina fazer um gol?
MB: Como você dribla a ansiedade antes dos jogos?
A: Ouço muito samba, pagode e músicas que me motivam. Quando perdemos o primeiro jogo da Copa do Brasil para o Corinthians (2 a 0), eu saí muito frustrado de campo. Daí recebi uma ligação de um dos compositores do ‘Samba Pra Gente’ e ele cantou: ‘Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé. Manda essa tristeza embora. Basta acreditar que um novo dia vai raiar. Sua hora vai chegar’. Essa música, que ganhou fama com o ‘Revelação’, ficou marcada para mim e antes do jogos decisivos eu costumo ouvi-la. Tem gente que diz superstição, mas eu não tenho isso. Mas, como me falaram que a torcida do Botafogo é supersticiosa, essa pode ser uma.
MB: Espera se tornar um especialista em colocar times na Libertadores?
A: Eu já falei para os jogadores: ‘Imagina ganhar a Copa do Brasil? Vamos entrar para a história do clube’. Grandes ídolos do Botafogo não conquistaram isso. Podemos ser os primeiros. Vale o sacrifício de deixar de fazer algumas coisas, por sete, oito jogos, porque depois passa a oportunidade e vem a lamentação. No Inter, existe antes de 2005 e depois. A gana de vencer. O Botafogo está precisando disso, se acostumar a voltar a vencer. Isso faz que o torcedor tenha mais paciência.
MB: E qual o seu sentimento em relação a essa impaciência?
A: Eu sinto que a torcida do Botafogo tem essa desconfiança por causa disso. Quando leva um gol, na memória do botafoguense já vem o pensamento que vai acontecer de novo. E nós podemos mudar. Tem que ter essa convicção. Não pode acostumar a não vencer. Eu aprendi, porque vivi isso, que, com time bom, a gente ganha jogos, mas, título, vem com o grupo. Eu comparo com um bolo. Ser campeão é estar no bolo. Um vai ser o caramelo, o outro a velinha e quero estar no bolo.
MB: Já está ambientado?
A: O pessoal aqui é muito divertido. Tem um ambiente bom. E eu me pego questionando:‘Como o grupo é bom, o ambiente é bom, a estrutura é boa, a diretoria dá respaldo e os títulos não acontecem? O que está faltando? Só de ter um ambiente bom e uma estrutura boa já é meio caminho andado.
MB: Todo jogador quer estar na Seleção. Como você trabalha essa questão na sua cabeça?
A: Tem que ter os pés no chão. Eu penso no hoje, tudo é consequência. Quero ganhar títulos e fazer o melhor no Botafogo. Se a oportunidade vier, ótimo. Sou realizado no futebol, mas uma coisa que falta é chegar à seleção principal. É um sonho, mas não é uma obsessão.
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