domingo, 14 de fevereiro de 2016

Desastre de Mariana soterra futebol e surfe no Espírito Santo e Minas Gerais


Mar de lama se confundiu com as águas do Rio Doce e destruiu campo do União São Bento e deixou a praia de Regência imprópria para banho, afetando a economia local




Por
Rio de Janeiro, RJ



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O tempo foi curto. Em apenas 40 minutos, cerca de 35 milhões de metros cúbicos de lama derrubaram 82% das edificações de Bento Rodrigues, distrito de Mariana. Dentre elas, o campo de futebol do time União São Bento. Desde 1976, o futebol regia os domingos dos 600 habitantes daquele pequeno vilarejo.

- Todo domingo, oito da manhã, a gente já estava no campo esperando os adversários. A gente já disputou até a primeira divisão de Mariana. Já disputamos segunda, passamos, voltamos - puxa na memória Onésio, que hoje é técnico do time. 

O União São Bento sobrevive à tragédia a base de uniformes emprestados e regido por Onésio em uma quadra de futsal a cerca de 20 quilômetros do campo antigo. Com os olhos marejados, ele tenta pontuar como era o cenário anterior ao rompimento. 

- Tinham reformado o vestiário, colocado alambra, cercado tudo bonitinho, pintado, estava lindo. Nós íamos fazer a inauguração agora em dezembro. É difícil até falar, chega nessa parte, é impressionante, não tem como, não. É muito doído. Machuca - se esforça Onésio. 
O mesmo acontece com Ednei, o craque do time, que é apelidado de Garrincha. Junto com a equipe do Esporte Espetacular, ele retorna ao local onde costumava exibir seu talento. 

Edinei Mariana EE (Foto: Guilherme Van Der Laars / TV Globo)
Edinei, Garrincha do União São Bento, observa 
o que sobrou do campo do time (Foto: 
Guilherme Van Der Laars / TV Globo)


- A barragem é lá em cima,  lá no alto. O único caminho que tinha pra descer era esse caminho. Como o campo era grande, e era nesse local, a primeira coisa que foi embora foi o campo. Nem a trave você vê. Destruiu tudo. Vestiário. Foi tudo por água abaixo - lamenta. 

À medida que ia jorrando, a lama entranhava cada vez mais nas águas do Rio Doce. Era questão de tempo vê-la chegar ao mar. No dia 21 de novembro, ela alcançou a praia de Regência, no Espírito Santo. Os moradores do local fizeram contagem regressiva. Tentaram colocar barreiras para conter a lama. Em vão. A lama castigou o azul cristalino da água e matou os tubos perfeitos que os surfistas da região tentavam desafiar. 

Praia de Regência, após desastre ambiental (Foto: Fernando Madeira/A Gazeta)
Praia de Regência, após desastre ambiental 
(Foto: Fernando Madeira/A Gazeta)


- Nossa infância toda foi aqui dentro, do rio, da praia. E, quando aquela lama chegou, ela veio como se tivesse destruindo todo nosso passado e também o nosso futuro - afirma Cadeado, surfista local. 
Regência é uma comunidade com cerca de 1.200 habitantes. Para eles, o surfe é muito mais que um esporte, é parte fundamental da economia. Fábricas de pranchas, escolinhas de surfe e até pousadas foram construídas para receber os turistas que procuravam os tubos da região. O cantor Gabriel Pensador era um deles. 

Gabriel O Pensador surfando na praia de Regência/ES (Foto: Vinicius Rodrigues / Divulgação)
Gabriel O Pensador surfando na praia de 
Regência/ES (Foto: Vinicius Rodrigues 
/ Divulgação)


- A onda em Regência é tubo. Eu gosto de ondas tubulares, Noronha, Indonésia, Regência. A praia de Regência é uma das mais bonitas que eu já conheci e, em qualidade de onda, é uma das melhores. É uma tristeza quando a gente pensa na tragédia - conta Gabriel.

Lucas trabalhou como operário para juntar dinheiro para viver do surfe. Eric expandiu sua pousada para pertinho do mar. São muitos exemplos, do surfe ou do futebol. Onésio, Fabinho, Ceará, Cadeado. São personagens que nunca se viram, mas que no dia 05 de novembro foram arrastados pelo mesmo drama: o rompimento da barragem de Fundão.

- A natureza vai sofrer um impacto de longo prazo, mas a comunidade está sofrendo agora com a pesca, com o esporte e as crianças sem escolas - afirma Gabriel Pensador. 

O cantor fez uma música em parceria com o grupo Falamansa para não deixar ninguém esquecer das vítimas que estão lá e estão passando dificuldade até hoje.O clipe será lançado nesta segunda-feira e ONGs locais vão receber os direitos autorais da música para ajudar no projeto de recuperação da comunidade. (Clique no LINK da FONTE abaixo para ver o vídeo e assistir ao trecho).


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