Sérvio afirma que oferta chegou através de pessoas que trabalhavam com ele à época
A divulgação de um escândalo de manipulação de resultados no mundo do tênis ofuscou a rodada de abertura do Aberto da Austrália. Enquanto a maioria absoluta dos tenistas evitou comentar o assunto e negou ter recebido qualquer proposta ao longo da carreira, o atual número 1 do mundo revelou que em 2006 chegou a seu conhecimento uma oferta de US$ 200 mil (mais de R$ 800 mil na cotação atual) para que perdesse uma partida de primeira rodada em Petersburg – o sérvio acabou sequer participando da competição.
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Novak Djokovic vence na estreia do Aberto da
Austrália (Foto: Quinn Rooney/Getty Images)
Em reportagem divulgada neste domingo, a emissora britânica “BBC” e site “Buzzfeed” revelam suspeitas de corrupção em um sistema de apostas e combinação de resultados que envolveriam 16 tenistas, todos entre os 50 melhores do ranking da ATP. Segundo a publicação, oito deles estariam no Aberto da Austrália, que teve início neste domingo. O esquema teria atuado em várias partidas, incluindo Wimbledon e Roland Garros.
A reportagem ainda diz que a ATP teria acobertado o esquema. Em pronunciamento, o presidente da entidade, Chris Kermode, negou que a Associação tenha sido negligente com o caso e disse desconhecer qualquer evidência de arranjo de resultados. Os veículos ingleses dizem que obtiveram documentos de investigações iniciadas em 2007 pela própria ATP.
Apesar da denúncia, não foram citados nomes de atletas. “BBC” e “Buzzfeed” prometem revelar mais detalhes nesta terça-feira. Segundo a publicação, um ganhador de Grand Slam estaria entre os envolvidos no esquema. As propostas dos apostadores para os tenistas seriam de US$ 50 mil (mais de R$ 100 mil) ou mais por cada partida. De acordo com a reportagem, os documentos contêm evidências de arranjo de resultados orquestrados por apostadores da Rússia e Itália.
Nome de Davydenko é o único citado até agora em suspeita de manipulação (Foto: Agência Reuters)
- Não acho que haja um sombra sobre nosso esporte. As pessoas estão falando sobre nomes, tentando adivinhar quem esses jogadores são. Mas não há prova ou evidência real de nenhum atleta em atividade relacionado a isso. Até o momento é só especulação - disse Djokovic.
Apesar de ainda não citar os denunciados, a reportagem que expôs o esquema colocou pelo menos um nome em evidência. A matéria cita o jogo entre o russo Nikolay Davydenko e o argentino Martin Vassalo Arguello, em agosto de 2007, em torneio em Sopot, na Polônia.
Davydenko era o quarto do ranking na ocasião, e Vassalo o 87º. Após vencer o primeiro set por 6/2 e perder o segundo por 6/3, o russo abandonou o confronto. Uma casa de apostas italiana apresentou altos valores na vitória de Arguello, que era improvável, e o caso veio a público em 2008. Entretanto, os dois jogadores foram inocentados pela ATP. Segundo a investigação dos veículos ingleses, o argentino teria trocado 82 mensagens de texto com os apostadores italianos.
- Alguém pode chamar isso de uma oportunidade. Para mim é uma conduta não esportiva, é um crime no esporte, honestamente. Acho que não há espaço para isso em esporte algum, especialmente no tênis. Fui ensinado e sempre cercado de pessoas que cultivaram e respeitaram os valores esportivos. Esta é a forma como cresci. Felizmente, para mim, eu não precisei me envolver diretamente nestas situações - disse Djokovic.
Atual campeã em Melbourne entre as mulheres, Serena Williams declarou jamais ter recebido proposta ou ouvido qualquer conversa sobre manipulação de resultados no circuito profissional.
– Não que eu esteja ciente (de algum caso de manipulação de resultados). Quando estou jogando, estou jogando. Eu posso responder apenas por mim. Eu jogo duro, e todo adversário meu também parece se esforçar muito. Eu acho que, como um atleta, eu faço tudo que posso para estar bem. Se isso está acontecendo, eu não sei. Eu vivo em uma bolha, às vezes – declarou a americana.
ATP SE DEFENDE E CITA INVESTIMENTO
Em
entrevista coletiva nesta segunda-feira, o presidente da ATP, o inglês
Chris Kermode, se defendeu das acusações de que a entidade teria noção
do esquema. Kermode ressaltou que pretende investigar qualquer evento
novo sobre o assunto.
Chris
Kermode, presidente da ATP, Nigel
Willerton, chefe da Unidade de
Integridade
do Tênis, Mark Young, vice-presidente da
ATP (Foto: Shuji
Kajiyama/AP)
– A Unidade de Integridade do
Tênis e as autoridades do tênis rejeitam absolutamente qualquer
evidência de que arranjos de resultados tenham sido acobertados ou não
tenham sido investigados. Os relatórios da “BBC” e o “Buzzfeed”
referem-se a eventos de 10 anos atrás, e vamos investigar qualquer
informação nova. Sempre investigamos.
Segundo o
dirigente, mais de US$ 14 milhões (mais de R$ 28 milhões) já foram
gastos em ações para combater a corrupção no esporte. Chris lamentou que
as denúncias tenham surgido no dia de estreia do primeiro Grand Slam da
temporada, mas não acredita que o Aberto da Austrália seja prejudicado
no momento. Vale lembrar, no entanto, uma curiosa coincidência: a
competição é patrocinada pela William Hill, uma das principais casas de
aposta da Europa.
– É sempre decepcionante quando
histórias como essa surgem logo antes de um grande evento, realmente
prejudica. Mas estamos confiantes de que nada no esporte esteja sendo
escondido. Estamos confiantes de que a Unidade de Integridade do Tênis
está fazendo o que pode sobre esse assunto – reiterou o presidente da
ATP.
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