terça-feira, 1 de setembro de 2015

Da fama ao ostracismo: sem emprego, Flávio Caça-Rato tenta renasce

Sem clube há quatro meses, atacante revela ansiedade por retornar a jogar, mas garante que não pretende voltar ao Santa Cruz, onde é idolatrado pela torcida



Por
Recife



Na entrada da casa, um encarte ligando o nome a um show de brega é um dos poucos indícios dos tempos em que fazia mais de 50 mil pessoas gritarem seu nome. Na sala, que fica na comunidade de Chão de Estrelas, zona norte do Recife, uma pequena estante com quatro medalhas, enferrujadas. Lembranças dos tempos em que defendeu o Santa Cruz. Após quatro meses longe dos gramados, isso é o que restou do “fenômeno” Flávio Caça-Rato. Idolatrado pela torcida do Santa Cruz, a quem deu o título da Série C 2013, além dos Estaduais de 2012 e 2013, e fruto da decepção dos torcedores do Remo, por onde jogou sete jogos e marcou apenas um gol, o folclórico atacante vive dias de ostracismo.

Sem propostas oficiais e tentando manter-se na mídia, Caça-Rato mantém o discurso otimista e tenta, sem muito sucesso, não transparecer a angústia por ter interrompido, por falta de pagamento, o contrato com o Remo. Ao lado da esposa, Daiana dos Santos, e dos filhos, Flávio Augusto e Fabrício, ele garante não se arrepender de ter saído do Tricolor.

 - Não me arrependo de ter deixado o Santa Cruz. Fiz história lá, mas não quero ficar marcado como jogador de um único clube. Quero ser conhecido jogando em campeonatos Carioca, Paulista e em outros clubes. Tenho vontade para voltar ao Santa Cruz, mas para encerrar a carreira ou algo do tipo.

Caça-Rato (Foto: Elton de Castro (GloboEsporte.com))
Caça-Rato espera voltar a atuar ainda em 
2015 (Foto: Elton de Castro (GloboEsporte.com))


 Há quatro meses longe dos gramados, Caça-Rato começa a sentir os efeitos do ostracismo. Longe dos holofotes e, principalmente, sem renda mensal, o atacante diz que a vontade de voltar a jogar começa a o incomodar.

- Sinto saudade de jogar. Queria fazer o que gosto, ver a torcida gritar o meu nome e, principalmente, poder ajudar a minha família. Tenho dois filhos e preciso cuidar deles. Não quero acertar com qualquer clube, minha ideia é ir para um time que possa me dar condições de cuidar da minha família.

O receio do jogador tem um motivo. Contratado como estrela pelo Remo, no início da temporada, Caça-Rato garante ter deixado o clube por motivos financeiros e disse ter sido despejado do hotel em Belém, por falta de pagamento.

- Me arrependo muito de ter ido para o Remo. Quando cheguei lá, o presidente do clube disse que o que ele esperava de mim era que eu fizesse um gol no Paysandu. Eu pensei: Só isso?. Como o presidente de um clube não pensa no time dele, que não disputa nenhuma divisão e fica querendo se preocupar com o Paysandu, que está com a vida feita? Vi que a mentalidade era pequena. Depois disso, eles não me pagaram o que me prometeram. Você prometer pagar R$ 50 mil quando não tem nem R$ 5 mil para pagar salário. Fiquei quatro meses sem receber e cheguei a ser despejado do hotel, porque o clube também não pagava. Como eu era amigo dos funcionários, eles me deixaram pegar minhas coisas. Mas isso foi definitivo para eu sair de lá.

Caça-Rato (Foto: Elton de Castro)
Caça-Rato tenta manter a forma enquanto 
espera por proposta de novo clube 
(Foto: Elton de Castro)


Extrovertido, Caça-Rato soube tirar proveito do lado folclórico. Fez ensaio fotográfico, virou inspiração para música e chegou até mesmo a ser “ator” em clipe de bandas de brega, ritmo que embala a periferia recifense. O lado brincalhão, no entanto, começa a atrapalhar a vida esportiva do atacante. Mesmo treinando diariamente em uma academia próxima a casa onde reside, o jogador afirma que a proximidade com os músicos da periferia fez com que ele fosse taxado como “baladeiro”.

 - Às vezes, as pessoas me olham gravando clipe de brega ou indo aos shows e acham que sou problemático. Apareço em clipe de brega é para ajudar o pessoal. Essas bandas são bandas da comunidade e não posso virar as costas. Assim como Neymar grava pagode, no Rio. Sou um cara que gosta de ajudar e isso, às vezes, acaba me prejudicando. Pode ser ruim para minha imagem, mas nunca vou deixar de ser assim. Isso sou eu. Não adianta querer mudar agora. As pessoas falam que aqui (Chão de Estrelas) só tem traficante, mas não é verdade. Pode sair jogador, também. 

Tanto tempo de inatividade fez crescer no atleta o receio de não voltar a atuar em 2015. A apreensão, no entanto, não consegue afastar o otimismo do jogador, que garantiu ter propostas concretas para voltar aos gramados. 

- Não adianta se desesperar. Isso é uma fase ruim e não é o pior que já passei. Enfrentei coisas piores e conseguir vencer e não será isso que acabará com Caca-Rato. Tenho propostas e devo acertar na próxima semana. Estava tentando algo para fora do país, pois tinha o sonho de jogar na Europa, mas não deu certo. Agora, tenho oferta de quatro clubes e devo acertar em breve. Logo, logo Caça-rato volta a fazer gol. 


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