quarta-feira, 22 de julho de 2015

Inimiga nos anos 90, Mireya Luis tenta reerguer Cuba no comando do vôlei

Entre as maiores da história, cubana coordena seleções e lamenta crise nas finanças. Ex-atleta nega mágoas por Atlanta e se declara ao Brasil: "Sempre vai estar em mim"



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Direto de Toronto, Canadá


Vôlei Mireya Luis 1995 (Foto: Tasso Marcelo / Ag. Estado)Mireya Luis era a pedra no sapato do Brasil (Foto: Tasso Marcelo/Ag. Estado)


Mireya Luis é uma lenda do voleibol. Seu currículo é extenso, e a história do vôlei cubano está atrelada à ela. Foi com Mireya, tida por alguns como a melhor de todos os tempos, que o país foi ouro pela primeira vez nas Olimpíadas (Barcelona 1992). A ex-atleta ainda esteve nos ouros de Atlanta 1996 e Sydney 2000 e em inúmeros outros títulos. Hoje, em um momento um tanto quanto diferente para o esporte de Cuba, é a coordenadora das seleções nacionais de vôlei de quadra e praia. E, com muita raça e habilidade, assim como fazia para driblar a baixa estatura para a modalidade (1,76,m), vai se desdobrando na função.

Os cubanos sofrem uma crise financeira, e isso têm afetado (e muito) o voleibol. O país era tão forte na quadra que, certa vez, o ex-jogador da seleção brasileira Nalbert chegou a revelar uma brincadeira entre os atletas. Eles diziam que existiam três categorias no vôlei mundial: o feminino, o masculino e Cuba, tamanho o calibre cubano. Atualmente, o país até possui alguns atletas de qualidade, mas luta para poder participar das competições, tanto na areia como no indoor.

- Está afetando demais. Os atletas estão aqui jogando o Pan, mas tivemos limitações para participar de alguns eventos que poderiam elevar nosso nível. Estou esperando que um patrocinador olhe pelo vôlei de Cuba. Vivemos do governo. Não é muito, mas dá para algo. Aproveitamos da melhor forma possível com inteligência. Temos de fazer planos, escolher eventos e mudar planejamentos de treino - lamentou a ex-atleta, que está no Pan como membro do Conselho de Administração da Norceca (Confederação das Américas do Norte e Central e do Caribe).



A última vez que Cuba venceu as Olimpíadas, aliás, foi com Mireya, em Sydney 2000. O melhor resultado depois foi em Atenas 2004. No masculino, chegou apenas ao 3º lugar nos Jogos de Montreal 1976. Nos últimos anos, o país foi decaindo. No último ranking divulgado pela FIVB, apareceu em 26º lugar no feminino, e 7º no masculino. Há bons jogadores, mas estão espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil, por conta da crise financeira.

- Temos deserções, atletas que deixam as equipes, vão morar em outros lugares, outros deixam o esporte, mas a equipe da Federação é cheia de experiência e está tentando realizar um trabalho que nos possibilita encontrar talentos e colocá-los no alto rendimento.

Mireya Luis é a coordenadora das seleções de quadra e praia de Cuba (Foto: GloboEsporte.com)
Mireya Luis é a coordenadora das seleções 
de quadra e praia de Cuba 
(Foto: GloboEsporte.com)


Mireya lamenta que, no vôlei cubano, não haja um patrocinador como o Banco do Brasil, que está por trás da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Hoje, além do financiamento do governo, eles só contam com uma empresa de material esportivo que oferece roupas, sapatos, bolas, entre outros equipamentos.

A ex-jogadora foi, talvez, a maior adversária do vôlei brasileiro, que começou a despontar no feminino quando Bernardinho assumiu em 1994. Tinha um estilo provocador dentro de quadra. E, na década de 1990, Mireya era mais que uma pedra no sapato. O Brasil foi eliminado por Cuba na briga pela vaga na decisão de Sydney 2000 e perdeu na final do Mundial de São Paulo 1994. Mas a partida que mais marcou foi a semifinal de Atlanta 1996.

Ana Moser Atlanta 1996 (Foto: Agência AP)Ana Moser em ação em Atlanta (Foto: Agência AP)


Naquela ocasião, após o fim do jogo, ocorreu um desentendimento entre as seleções. As cubanas, incluindo as craques Mireya e Regla Torres, ofenderam as brasileiras, tentaram desestabilizá-las durante o confronto. Como consequência disso, houve uma briga generalizada com direito a socos e pontapés.

- Agora sou amiga, não há ressentimento, nem nada. Eram sentimentos somente do esporte, nada pessoal. Para mim, as jogadoras do Brasil, pelas quais sinto grande respeito e carinho, estão entre as pessoas que mais gosto. Sou cubana, mas quando estou com as brasileiras me sinto parte delas. Depois disso, abracei a Virna, Ana Moser, Leila, e sentimos uma coisa muito boa.

Mireya garante que o sentimento é de total admiração, que o Brasil foi uma parte de sua vida e que admira o país e seu voleibol. E, claro, sonha estar como membro da Federação Cubana nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

- Tudo que sempre quis na minha vida foi ser jogadora de vôlei, ser campeã mundial e olímpica, e tive que passar a barreira brasileira, uma barreira competitiva, forte, com muita garra como nós, e isso me encantou. Sempre vai estar em mim. Eu desejo o melhor, muito êxito nos Jogos Olímpicos e que façam um jogo maravilhoso, porque é o que o Brasil merece.  

Queremos muito participar de 2016. Penso que vou ao Rio em 2016, mas, por favor, não quero comprar ingressos, me convidem (risos). Ao presidente do Comitê Olímpico, Sr. Nuzman, que me convide para ir ao Rio - concluiu.


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