quinta-feira, 26 de março de 2015

Para rival de Ary, retirada do Brasil da Copa evita polêmicas de manipulação

Homem forte do vôlei americano, Doug Beal defende que todas as seleções disputem a competição que vale duas vaga para as Olimpíadas de 2016 na mesma situação


Por
Rio de Janeiro

 
O vôlei proporcionou os momentos mais especiais da vida de Doug Beal, de 68 anos. O maior feito do americano foi no comando técnico da seleção dos Estados Unidos nas Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, quando seu país conquistou a medalha de ouro. Algoz da histórica geração de prata do Brasil, ele não conseguiu se despedir totalmente do esporte. Hoje é CEO da da Federação Americana de Vôlei. Em 2012, inclusive, perdeu para o brasileiro Ary Graça a disputa pela presidência da Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Um dos dirigentes mais respeitados do esporte atualmente, Doug concorda com a exclusão do Brasil da Copa do Mundo, competição mais importante do calendário neste ano e que classifica duas seleções para as Olimpíadas de 2016. Para ele, a decisão é necessária para evitar qualquer especulação sobre manipulações de resultados, uma vez que os brasileiros já estão garantidos nos Jogos do Rio. 

- Acho que é necessário. Porque é muito fácil ter alguma manipulação se você tem alguma equipe que já está qualificada porque é do país sede. E todos os outros países estão lutando pelas duas posições da Copa do Mundo. Sei que é muito difícil para o Brasil porque o país tem uma grande história de sucesso em participações da Copa Mundo. Mas é a mesma situação da China, em 2007, quando eles iam sediar as Olimpíadas em Pequim. Não puderam participar. Acho que a política e a regulamentação do Comitê Olímpico Internacional (COI), apoiadas pela FIVB, são de que, se um país já está qualificado, não deve estar apto a participar de outro torneio de qualificação. Acho muito importante preservar a integridade e a abordagem ética do esporte - analisou Doug Beal, em entrevista por telefone ao GloboEsporte.com.

Ary Graça eleição FIVB (Foto: Luiz Pires / VIPCOMM)
Ary Graça ao lado de Doug Beal (Foto: Luiz 
Pires / VIPCOMM)


No Mundial de 2010, na Itália, uma derrota do Brasil para a Bulgária na segunda fase gerou polêmica, uma vez que a seleção verde-amarela acabou pegando um caminho considerado mais fácil na fase seguinte. Na ocasião, o time foi vaiado e ouviu gritos de protesto da torcida durante o revés por 3 a 0. O ex-jogador Giba deixou a quadra falando em mancha na carreira. Apesar do passado recente, Doug Beal deixa claro que sua opinião não significa que o Brasil poderia buscar influenciar nos resultados de quem se classificaria para as Olimpíadas. No entanto, a ausência brasileira evitaria qualquer mal-estar por conta de situações que podem acontecer naturalmente durante o torneio.

- Sei que é muito difícil para o Brasil e seus torcedores entenderem. Isso não é porque eles iriam tentar manipular. Mas, se algum jogador se lesionou ou eles não fizeram o melhor jogo contra uma equipe, mas contra outro jogaram muito mais forte... seria uma problema difícil para a FIVB explicar a situação para os meios de comunicação e para o mundo. Então, é muito mais fácil se todas as equipes estão participando estejam na mesma situação - ressalta, afirmando que acredita que essa regra deve valer para todas as qualificações dos Jogos Olímpicos do Rio.

Questionado sobre 1995, quando justamente o time americano jogou a Copa do Mundo às vésperas dos Jogos Olímpicos de Atlanta, ele acredita que, naquela época, a decisão foi equivocada. A experiência como treinador permite Doug Beal se colocar na posição dos técnicos das seleções brasileiras. O americano confessa que, sob a ótica de Bernardinho e José Roberto Guimarães, também questionaria a decisão de retirar o Brasil da competição.

- Tenho certeza de que, se você falar com os treinadores (Bernardinho e José Roberto Guimarães), eles vão dizer que vai ser um problema (ficar fora da Copa do Mundo). E eu entendo. As duas equipes, de homens e mulheres, têm sido tão fortes por tantos anos que isso realmente não vai ser um problema grande. Ambos têm competições, Grand Prix e Liga Mundial, e possibilidades de jogos. Se eu fosse treinador de uma das equipes brasileiras, é claro, iria preferir jogar a Copa do Mundo. É um grande torneio, com muitos jogos bons. Mas acho que não irá prejudicar o desenvolvimento. Entendo o ponto de vista dos técnicos. Se fosse treinador dos times brasileiros, iria achar que não é bom para a preparação para as Olimpíadas. Sei da pressão, da responsabilidade e da expectativa elevada para a seleção brasileira para 2016 - completou o americano.

vôlei Brasil x Polônia (Foto: FIVB)
vôlei Brasil x Polônia (Foto: FIVB)


Na conversa com o GloboEsporte.com, Doug Beal falou de outros temas como a gestão Ary Graça na FIVB e as recentes questões políticas envolvendo a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e a expectativa para as Olimpíadas de 2016. Veja os principais trechos: 


Denúncias contra a CBV
Acho que é importante que Ary responda e resolva da melhor maneira possível. Porque a imagem de todo esporte é importante. Mas, fundamentalmente, isso é um assunto interno da federação nacional no Brasil. E dever ser resolvido internamente. O impacto na FIVB, agora, é muito pequeno. Certamente as pessoas estão cientes de alguns artigos e da controvérsia. Mas não tem motivos para se tornar um grande problema no mundo do esporte internacional. Sei que é uma preocupação para muitos dos jogadores, dos treinadores e talvez líderes da federação. Talvez alguns problemas com alguns patrocinadores. Temos vários problemas dentro do vôlei, mas, por exemplo, o futebol tem muito mais problemas políticos e financeiros. Isso não é incomum para esportes internacionais. Quanto mais rápido você puder resolver, é melhor para a imagem e o futuro do esporte. Certamente também para a integridade e a credibilidade da FIVB. Porque o Brasil é uma das federações nacionais mais importantes.


Tensões entre CBV e FIVB x desempenho brasileiro 
A situação das finais da Liga Mundial já foi resolvida. Serão organizadas no Rio, como evento-teste para os Jogos Olímpicos. É muito difícil saber se isso pode afetar os jogadores. Eu vejo um monte de artigos na internet sobre jogadores, treinadores e federações, mas acho que os programas são muito fortes no Brasil. Além disso, os treinadores são realmente fantásticos. Eu conheço bem ambos, Bernardinho e Zé Roberto. E eles terão grandes times no Rio, com certeza. Não acho que afetará a performance dos times do Brasil.
Análise da gestão de Ary Graça

Acho que ele está fazendo coisas muito boas em marketing, promoção e televisão. Essa é a área em que é mais forte. Entende muito bem que temos que vender nosso esporte. Porque estamos competindo em um mundo muito complicado, com todos os outros esportes. E todos estão buscando a mesma coisa. Mais participação, mais patrocinadores, mais televisão, mais espectadores. Acho que o voleibol está em uma posição muito boa agora. Mas ainda precisamos de algumas coisas novas. Temos que examinar o nosso jogo a partir do ponto de vista do tempo, como nos apresentar da melhor forma na televisão. Temos que fazer que o vôlei seja o mais ''entretenimento'' possível. Mostrar para as pessoas quão espetaculares os jogadores são. Temos que mostrar para as pessoas o que os atletas podem fazer. Quão alto eles saltam, quão forte batem, como é difícil salvar bolas no fundo da quadra, os bloqueios. Mostrar os detalhes do desempenho desses jogadores. Sei que Ary está trabalhando nesta área, com televisão, patrocinadores e novas tecnologias. É difícil, porque o vôlei está em posição diferente em alguns países. Por exemplo, na Polônia é inacreditável como é popular. No Brasil também, talvez chegando perto do futebol. Temos que apoiar também as federações menores, países menores. Trabalhar para desenvolver vôlei nas escolas, mais ligas profissionais, federações mais fortes.
Temos que fazer confederações mais fortes e mais profissionais. Então, Ary tem um trabalho difícil. Mas o Rio 2016 vai ajudar muito. Talvez seja o esporte número 1 no Rio.


Expectativa com o vôlei feminino dos Estados Unidos
Acho que as expectativas são muito altas. Perdemos para o Brasil nas duas últimas finais olímpicas. Sabemos que o Brasil é muito forte e certamente terá vantagem jogando no Rio. Talvez essa vantagem exista para todas as equipes de vôlei do Brasil. Mas a situação do Rio vai ser fantástica para o voleibol, talvez o esporte mais importante para os Jogos Olímpicos, o mais popular. Acho que nos últimos cinco, seis ou sete anos, Estados Unidos e Brasil, entre as mulheres, estão no topo do mundo. E assim, temos grandes expectativas, mas sabemos que vai ser muito difícil levar a medalha de ouro. Vai ser um grande desafio.


Time masculino americano 
Existem alguns times que têm a possibilidade de ganharem a medalha de ouro. Penso que a Rússia é muito forte, Brasil também...Polônia, França, Irã...É um mundo muito forte para o vôlei masculino. Mas achamos que eles (time americano) têm grandes possibilidades. Mesma situação que no feminino. Temos expectativas altas. Acho que a qualificação masculina para o Rio é muito difícil. Na Europa, há muitos times bons, mas estamos otimistas.


Crescimento do vôlei de praia
Acho que o vôlei de praia está crescendo muito rápido em popularidade em muitos países. Acho que o mais importante é desenvolver ligas nacionais fortes, os ''tours'' nacionais, como nos Estados Unidos. No Brasil vocês têm o circuito nacional de vôlei de praia. Acho que precisamos mais desses produtos nacionais para ajudar a crescer o esporte em todo mundo. É um esporte atraente e estamos começando agora nos EUA a ter mais nas universidades. O Campeonato Mundial deste ano vai ser importante, acontecendo na Europa pela segunda vez consecutiva, depois da Polônia. Acho que o futuro será fantástico para o vôlei de praia e os Jogos do Rio vão ser realmente espetaculares na praia de Copacabana, um dos melhores locais do mundo.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2015/03/para-rival-de-ary-retirada-do-brasil-da-copa-evita-polemicas-de-manipulacao.html

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