quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Walter sobe na balança mental e admite: "Quando relaxo, sou uma m..."

Além dos quilos a mais no corpo, atacante do Fluminense batalha por uma cabeça mais leve e abre o coração: "Sou um pouco carente"


Por
Rio de Janeiro


Walter, Treino Fluminense (Foto: Bruno Haddad / Fluminense)
Walter, em treino do Tricolor (Foto: 
Bruno Haddad / Fluminense)


A cena se repetiu ao longo de todo o período em que o Fluminense esteve na pré-temporada nos Estados Unidos. Terminado o treino do grupo, Walter começava a correr em volta dos campos do local das atividades do Fluminense em Deltona, na Flórida, cidade que fica a 20 km de Orlando. Corrida leve, que durava cerca de 30 minutos, mas que representou muito para o atacante.

- Foram quatro, cinco quilos, em uma semana. Uma coisa absurda. É que quando eu quero eu perco muito rápido – disse o jogador.

Walter está faminto. E o trocadilho cabe aqui. Acima do peso, sem espaço no time titular e na disputa para ser a primeira opção para o ataque entre os suplentes, o camisa 18 quer perder quilos e ganhar gols. Foram só nove em 41 partidas em 2014. Números que ele detesta. 

Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com ainda nos Estados Unidos, o jogador abriu o coração numa conversa de 20 minutos na sala de espera do aeroporto de Miami. Enquanto aguardava a volta ao Brasil, garantiu que vai emagrecer e prometeu trabalho extra para entrar em forma.


- Quando quero uma coisa, eu perco muito rápido. Ano passado foi isso, estava querendo, perdi. 
Depois entrei nas férias na metade do ano e voltei acima do peso. Dei uma relaxada.
Além dos quilos a mais no corpo, Walter luta contra a balança mental. Uma leveza insustentável o persegue.

- Eu, quando quero uma coisa, consigo. Mas quando relaxo, desculpa os modos, eu sou uma m... Vai por água abaixo. É complicado demais. Sou um pouco carente, né, cara? Se alguma coisa não estiver bem comigo, eu fico malzão.


Confira a íntegra da entrevista:

Todos os dias depois do treinamento com o grupo em Orlando você corria sozinho em torno dos campos do CT. O que pensava naquele momento?
É bom que é um passo muito grande, corre e pensa muitas coisas. O que passa na minha cabeça naquele momento é estar 100% mais rápido, para quando o professor optar por mim eu estar bem. E eu quero isso esse ano, focar nisso. Para pararem de falar que o Walter está acima do peso. Quero estar no peso que o professor quer, que também é o peso que eu me sinto bem. E estou trabalhando forte para estar bem. Penso mil coisas. Penso na minha filha longe de casa, penso na minha esposa também. Foi bom aquilo, vou continuar fazendo. Você pensa que não é nada, mas é o que mais ajuda. Queima as gorduras, corro 20, 25 minutos. Vou continuar sempre mantendo isso e um pouco a mais.

Walter, Fluminense X Colonia  (Foto: Bruno Haddad / Fluminense)
Walter comemora seu gol contra o Colônia: o 
último havia sido em maio 
 (Foto: Bruno Haddad / Fluminense)


Deu para ver que você se esforçou bastante. O Rodrigo Poletto, preparador físico, te elogiou, o Cristóvão te elogiou. Foi para os Estados Unidos com essa ideia fixa de fazer dar certo?
Com certeza. Eu tenho uma qualidade, eu perco muito rápido peso. Quando quero uma coisa, eu perco muito rápido. Ano passado foi isso, estava querendo, perdi. Depois entrei nas férias na metade do ano, voltei acima do peso. Dei uma relaxada. Não podia, mas dei. Voltei nesse ano abaixo do que cheguei no início do ano passado, e vou tentar melhorar ao máximo para chegar ao peso que o professor quer. Não vou estar 100% em oito, dez dias. Numa semana não vou perder tudo. Não adianta. Tem que ser de pouquinho em pouquinho. Aquilo que fiz nos Estados Unidos e focado para fazer no Brasil treinando, cuidando a comida, cuidando de tudo fora do campo, que é mais importante. No campo, o professor treina. Os treinos do Poletto são de muita qualidade. É isso que eu quero, esse ano vai dar tudo certo nesse assunto do peso.


Ano passado você falou muito da sua esposa, que te ajudava. Ela continua te apoiando, cuidando da sua alimentação?
Sem dúvida. Sem ela, eu não seria nada. Jamais vou esquecer da minha mãe também, que me ajudou muito. São duas pessoas muito especiais. Minha esposa sempre pega no meu pé, quero comer uma coisinha e ela não deixa. Minhas coisas já são separadas, ela compra tudo. Renata (Faro, nutricionista do Flu) conversou com ela. E treinando até o dia 1º tenho que estar bem.


Você jogou 45 minutos em cada jogo no Torneio da Flórida e voltou a marcar um gol. Não fazia um gol há um tempinho, né?
Um tempinho você está sendo bonzinho (risos).


Desde o jogo contra o São Paulo, não foi, em maio?
Foi meu último gol, velho. Fiz dois naquele jogo (assista os gols de Fluminense 5 x 2 São Paulo no vídeo acima).


Qual foi a sensação de ver aquela bola entrando contra o Colônia?
Quando eu chutei... Que pena que nosso time perdeu, mas para mim tirou um peso muito grande. Um tempão sem fazer um gol. Atacante trabalha para fazer gol, vive de gol. E eu fiquei um tempão sem fazer gol, cara. Dois tempos de 45 minutos e já marcar um gol já foi muito bom. Espero que esse ano de 2015 seja melhor que 2014. (Veja os gols de Fluminense 2 x 3 Colônia no vídeo abaixo)


Você completou um ano de Fluminense agora. Sempre te vi muito à vontade no grupo. Mas parece que está mais. Achou seu espaço?
Sem dúvida, cara. E para mim isso é muito importante para levar para dentro do campo. Eu sou muito assim. E fico feliz porque todo mundo gosta de mim aqui. Todo mundo. Brinco muito com Cristóvão, com a comissão toda, com todos os jogadores. Pode ter certeza que esse um ano que fiz estou muito à vontade no Fluminense. E isso é muito bom. Você chega, fica com receio. O Fluminense um time grande, você vem com experiência. Primeiro ano foi experiência. Esse segundo ano pode ser melhor, vou fazer de tudo para isso. Sei que 2014 não foi bom. São não sei quantos jogos (41), nove gols no ano. Muito pouco para mim. Tenho tudo para fazer muito mais que nove gols. Minha qualidade, a qualidade do grupo, eles vão me ajudar. Hoje estou bem à vontade mesmo, posso falar que me sinto em casa. O Goiás é uma segunda casa para mim, passei um ano e meio lá, todos me respeitam muito, mas estou chegando bem perto do que senti no Goiás. Chego no Fluminense e não tenho pressa para sair. Me sinto bem lá, me sinto bem com as pessoas. Me ajuda muito.
Nessa questão da forma física, seu melhor momento foi sob o comando do Renato Gaúcho. Você sentiu a saída dele, que era um cara que ficava no seu pé?
Muita gente pensa que ele ficava no meu pé. Não ficava nada, cara. Nem o Renato, nem o Alexandre. Nem a Renatinha ficava. Eu que estava focado, consciência boa, falei que queria emagrecer e consegui minha melhor forma. Eu, quando quero uma coisa, consigo. Mas quando relaxo, desculpa os modos, eu sou uma m... Vai por água abaixo. É complicado demais. Sou um pouco carente, né, cara? Se alguma coisa não estiver bem comigo, eu fico malzão. E foi isso que aconteceu. Mas o Renato nunca pegou no meu pé, nunca ficou me enchendo. Foi naturalmente. Sem pressão nenhuma. Foi uma coisa que aconteceu, todo mundo ficou feliz. Depois estava bem com o Cristóvão também, só que tive uma parada na metade do ano e foi aí que me atrapalhou um pouco. Voltei, perdi espaço também, você fica um pouco triste, mas o Renato jamais me encheu. Brincava comigo sobre peso e essas coisas, mas não pegava no pé. Certeza que senti muito a saída dele. Foi um cara que não tinha trabalhado com ele, muitos falavam bem. Posso falar que é um baita de um treinador e baita pessoa.
 Muita gente pensa que ele ficava no meu pé. Não ficava nada, cara. Nem o Renato, nem o Alexandre. Nem a Renatinha ficava. Eu que estava focado, consciência boa, falei que queria emagrecer e consegui minha melhor forma"
Walter


Você falou que é carente. Dá para ver que recebe o carinho dos jogadores e dos torcedores. Carinho não está faltando, né?
Olha, cara. Todo mundo gosta de mim. A torcida é uma coisa... Gosta muito de mim. Agradeço. Não é só a torcida do Fluminense, mas um pouco da torcida de cada clube tem um carinho grande por mim, entende? Conheci uma moça aqui (Estados Unidos), no jogo, ela me olhou e falou "nossa, gostei de você. Você tem uma cara de bom, vou torcer por você. Olho para você e vejo uma luz". Do nada veio falar isso para mim. E muita gente fala. Torcedor do Flamengo, do Vasco, "mas eu gosto de você, torço por você". É um carinho muito grande. Agradeço muito por isso. Sei que tenho isso. Se eu tiver mais ainda, tenho que fazer gol, ser campeão, para ter ainda mais carinho. 


Passou nove dias na terra do fast food, com sanduíches, batata frita, refrigerantes. Sofreu com alguma tentação?
Pior que não. Fiquei de boa. Saímos um dia, fiquei de boa, almocei normal. Passei a tarde toda. O que me pega muito é quando eu relaxo, como besteira. Mas eu estou focado. No Brasil, mais ainda. Se tiver treino só pela manhã, vou treinar de manhã e à tarde. Se der, vou almoçar no hotel e depois vou para casa. Depende de mim. Eu sei que eu consigo. Em dez dias, já perdi bastante peso. E mais o tempo que vamos treinar, pode ter certeza que vou estar bem.


Mesmo o ano passando não tendo sido bom em números, conseguiu colocar dúvidas em certos momentos na cabeça do Renato e do Cristóvão. Seu objetivo em 2015 é virar titular?
Meu começo de ano foi muito bom. Tenho essa consciência. Depois que as coisas começaram a dar errado. Meu Carioca foi bom, consegui jogar as semifinais. Esquema de hoje está sendo difícil jogar com dois atacantes. O Fred é nosso capitão, nosso líder. Não vou brigar com Fred para ser titular. Tenho que brigar para estar bem, quando ele não jogar, o professor optar por mim. Em alguns jogos que ele não jogou, eu não fui escolhido. Estava mal. Foi correto. Até Seleção, se o Fred for, porque tem qualidade, posso ser chamado. Ou se ele sentiu algo, ou tomou cartão. Primeira opção? O Walter. Tenho que trabalhar para jogar do lado dele ou ser o substituto imediato.

Walter, Treino Fluminense (Foto: Bruno Haddad / Fluminense)
Walter, já de volta ao Brasil, treina nas 
Laranjeiras (Foto: Bruno Haddad 
/ Fluminense)


Você é chamado de presidente por alguns jogadores. Como surgiu isso?
Começou comigo, Chiquinho e Biro Biro (risos). Começaram a me chamar de presidente, os mais jovens. Eu ando mais com os meninos da base, vim da base, sei como é sofrido. Converso com eles, aprendi muito, tenho que passar para eles. Brincadeira do Biro Biro (que está na Ponte Preta). O Biro Biro era diretor, agora virou o Rafinha, mas ele está quase caindo do cargo. Futebol é assim. Vira o ano, você perde dois amigos, o Biro Biro e o Chiquinho, mas fiquei mais próximo do Edson e do Renato, estamos sempre juntos. Os moleques da base podem contar comigo. Só não podem contar comigo para dinheiro porque para dinheiro eu estou mal (gargalhadas).


Já se despediu do Conca?
Esse Conquinha é engraçado, né? Quem tem dinheiro puxa mais dinheiro ainda. Como pode, né? Ele falou que está esperando uma resposta do Fluminense. Se ficasse, seria muito bom. Pode ter certeza. Nosso time vai sentir muito a falta dele. Dentro e fora do campo. É engraçado, um cara de grupo. Mas nosso time tem grandes jogadores. A proposta é boa para ele e para o Fluminense. Não sei como está. Vou torcer pelo melhor para ele. É um cara correto, que merece muito. É um cara danado.


Você fica?
A princípio eu fico. Estamos conversando algumas coisas, meu empresário está resolvendo. A princípio fico porque tenho contrato até 31 de dezembro. A princípio eu fico, sim.
 Foram quatro, cinco quilos, em uma semana. Uma coisa absurda. É que quando eu quero eu perco muito rápido
Walter


Dá para ver que você está feliz, né?
Estou bem mais leve. Vou para meu segundo ano aqui, estou me sentindo com três, quatro anos. Cheguei meio preso, estou mais solto, mais alegre. Conheço o professor agora, são sete meses juntos. Eu conheço o grupo bem, os caras que chegaram estão se sentindo em casa. O bom do nosso grupo é isso. Os caras chegaram e já estão à vontade.


Pelo que conversamos, percebo que além de perder peso no corpo, você precisa estar sempre com a cabeça leve. É isso?
A cabeça é o corpo da pessoa. Se a cabeça não estiver boa, nada dá certo. Tem algumas coisas faltando ainda, mas vão ser resolvidas para a cabeça estar 100% bem.


Essas coisas que faltam são Unimed e Porto?
Essas coisas de Unimed (direitos de imagem atrasados), do Porto (Flu tem que exercer compra). Só falta isso para resolver, está quase resolvido. Só isso que está faltando.


Quantos quilos perdeu nos dez dias?
Foram quatro, cinco quilos, em uma semana. Uma coisa absurda. É que quando eu quero, eu perco muito rápido. Se vacilar, ganho muito rápido. Por isso tenho que estar com controle. Saio bem da pré-temporada, triste porque não ganhamos. Feliz pelo gol e por voltar ao Brasil bem abaixo do que eu estava.


FONTE:
http://glo.bo/1xCljWH

Nenhum comentário: