Além dos quilos a mais no corpo, atacante do Fluminense batalha por uma cabeça mais leve e abre o coração: "Sou um pouco carente"
Walter, em treino do Tricolor (Foto:
Bruno Haddad / Fluminense)
A
cena se repetiu ao longo de todo o período em que o Fluminense esteve
na pré-temporada nos Estados Unidos. Terminado o treino do grupo, Walter
começava a correr em volta dos campos do local das atividades do
Fluminense em Deltona, na Flórida, cidade que fica a 20 km de Orlando.
Corrida leve, que durava cerca de 30 minutos, mas que representou muito
para o atacante.
- Foram quatro, cinco quilos, em uma semana. Uma coisa absurda. É que quando eu quero eu perco muito rápido – disse o jogador.
Walter
está faminto. E o trocadilho cabe aqui. Acima do peso, sem espaço no
time titular e na disputa para ser a primeira opção para o ataque entre
os suplentes, o camisa 18 quer perder quilos e ganhar gols. Foram só
nove em 41 partidas em 2014. Números que ele detesta.
Em
entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com ainda nos Estados Unidos, o
jogador abriu o coração numa conversa de 20 minutos na sala de espera do
aeroporto de Miami. Enquanto aguardava a volta ao Brasil, garantiu que
vai emagrecer e prometeu trabalho extra para entrar em forma.
-
Quando quero uma coisa, eu perco muito rápido. Ano passado foi isso,
estava querendo, perdi.
Depois entrei nas férias na metade do ano e
voltei acima do peso. Dei uma relaxada.
Além dos quilos a mais no corpo, Walter luta contra a balança mental. Uma leveza insustentável o persegue.
-
Eu, quando quero uma coisa, consigo. Mas quando relaxo, desculpa os
modos, eu sou uma m... Vai por água abaixo. É complicado demais. Sou um
pouco carente, né, cara? Se alguma coisa não estiver bem comigo, eu fico
malzão.
Confira a íntegra da entrevista:
Todos
os dias depois do treinamento com o grupo em Orlando você corria
sozinho em torno dos campos do CT. O que pensava naquele momento?
É
bom que é um passo muito grande, corre e pensa muitas coisas. O que
passa na minha cabeça naquele momento é estar 100% mais rápido, para
quando o professor optar por mim eu estar bem. E eu quero isso esse ano,
focar nisso. Para pararem de falar que o Walter está acima do peso.
Quero estar no peso que o professor quer, que também é o peso que eu me
sinto bem. E estou trabalhando forte para estar bem. Penso mil coisas.
Penso na minha filha longe de casa, penso na minha esposa também. Foi
bom aquilo, vou continuar fazendo. Você pensa que não é nada, mas é o
que mais ajuda. Queima as gorduras, corro 20, 25 minutos. Vou continuar
sempre mantendo isso e um pouco a mais.
Walter comemora seu gol contra o Colônia: o
último havia sido em maio
(Foto: Bruno Haddad / Fluminense)
Deu
para ver que você se esforçou bastante. O Rodrigo Poletto, preparador
físico, te elogiou, o Cristóvão te elogiou. Foi para os Estados Unidos
com essa ideia fixa de fazer dar certo?
Com
certeza. Eu tenho uma qualidade, eu perco muito rápido peso. Quando
quero uma coisa, eu perco muito rápido. Ano passado foi isso, estava
querendo, perdi. Depois entrei nas férias na metade do ano, voltei acima
do peso. Dei uma relaxada. Não podia, mas dei. Voltei nesse ano abaixo
do que cheguei no início do ano passado, e vou tentar melhorar ao máximo
para chegar ao peso que o professor quer. Não vou estar 100% em oito,
dez dias. Numa semana não vou perder tudo. Não adianta. Tem que ser de
pouquinho em pouquinho. Aquilo que fiz nos Estados Unidos e focado para
fazer no Brasil treinando, cuidando a comida, cuidando de tudo fora do
campo, que é mais importante. No campo, o professor treina. Os treinos
do Poletto são de muita qualidade. É isso que eu quero, esse ano vai dar
tudo certo nesse assunto do peso.
Ano passado você falou muito da sua esposa, que te ajudava. Ela continua te apoiando, cuidando da sua alimentação?
Sem
dúvida. Sem ela, eu não seria nada. Jamais vou esquecer da minha mãe
também, que me ajudou muito. São duas pessoas muito especiais. Minha
esposa sempre pega no meu pé, quero comer uma coisinha e ela não deixa.
Minhas coisas já são separadas, ela compra tudo. Renata (Faro,
nutricionista do Flu) conversou com ela. E treinando até o dia 1º tenho
que estar bem.
Você jogou 45 minutos em cada jogo no Torneio da Flórida e voltou a marcar um gol. Não fazia um gol há um tempinho, né?
Um tempinho você está sendo bonzinho (risos).
Desde o jogo contra o São Paulo, não foi, em maio?
Foi meu último gol, velho. Fiz dois naquele jogo (assista os gols de Fluminense 5 x 2 São Paulo no vídeo acima).
Qual foi a sensação de ver aquela bola entrando contra o Colônia?
Quando
eu chutei... Que pena que nosso time perdeu, mas para mim tirou um peso
muito grande. Um tempão sem fazer um gol. Atacante trabalha para fazer
gol, vive de gol. E eu fiquei um tempão sem fazer gol, cara. Dois tempos
de 45 minutos e já marcar um gol já foi muito bom. Espero que esse ano
de 2015 seja melhor que 2014. (Veja os gols de Fluminense 2 x 3 Colônia no vídeo abaixo)
Você completou um ano de Fluminense agora. Sempre te vi muito à vontade no grupo. Mas parece que está mais. Achou seu espaço?
Sem
dúvida, cara. E para mim isso é muito importante para levar para dentro
do campo. Eu sou muito assim. E fico feliz porque todo mundo gosta de
mim aqui. Todo mundo. Brinco muito com Cristóvão, com a comissão toda,
com todos os jogadores. Pode ter certeza que esse um ano que fiz estou
muito à vontade no Fluminense. E isso é muito bom. Você chega, fica com
receio. O Fluminense um time grande, você vem com experiência. Primeiro
ano foi experiência. Esse segundo ano pode ser melhor, vou fazer de tudo
para isso. Sei que 2014 não foi bom. São não sei quantos jogos (41),
nove gols no ano. Muito pouco para mim. Tenho tudo para fazer muito mais
que nove gols. Minha qualidade, a qualidade do grupo, eles vão me
ajudar. Hoje estou bem à vontade mesmo, posso falar que me sinto em
casa. O Goiás é uma segunda casa para mim, passei um ano e meio lá,
todos me respeitam muito, mas estou chegando bem perto do que senti no
Goiás. Chego no Fluminense e não tenho pressa para sair. Me sinto bem
lá, me sinto bem com as pessoas. Me ajuda muito.
Nessa
questão da forma física, seu melhor momento foi sob o comando do Renato
Gaúcho. Você sentiu a saída dele, que era um cara que ficava no seu pé?
Muita
gente pensa que ele ficava no meu pé. Não ficava nada, cara. Nem o
Renato, nem o Alexandre. Nem a Renatinha ficava. Eu que estava focado,
consciência boa, falei que queria emagrecer e consegui minha melhor
forma. Eu, quando quero uma coisa, consigo. Mas quando relaxo, desculpa
os modos, eu sou uma m... Vai por água abaixo. É complicado demais. Sou
um pouco carente, né, cara? Se alguma coisa não estiver bem comigo, eu
fico malzão. E foi isso que aconteceu. Mas o Renato nunca pegou no meu
pé, nunca ficou me enchendo. Foi naturalmente. Sem pressão nenhuma. Foi
uma coisa que aconteceu, todo mundo ficou feliz. Depois estava bem com o
Cristóvão também, só que tive uma parada na metade do ano e foi aí que
me atrapalhou um pouco. Voltei, perdi espaço também, você fica um pouco
triste, mas o Renato jamais me encheu. Brincava comigo sobre peso e
essas coisas, mas não pegava no pé. Certeza que senti muito a saída
dele. Foi um cara que não tinha trabalhado com ele, muitos falavam bem.
Posso falar que é um baita de um treinador e baita pessoa.
Você falou que é carente. Dá para ver que recebe o carinho dos jogadores e dos torcedores. Carinho não está faltando, né?
Olha,
cara. Todo mundo gosta de mim. A torcida é uma coisa... Gosta muito de
mim. Agradeço. Não é só a torcida do Fluminense, mas um pouco da torcida
de cada clube tem um carinho grande por mim, entende? Conheci uma moça
aqui (Estados Unidos), no jogo, ela me olhou e falou "nossa, gostei de
você. Você tem uma cara de bom, vou torcer por você. Olho para você e
vejo uma luz". Do nada veio falar isso para mim. E muita gente fala.
Torcedor do Flamengo, do Vasco, "mas eu gosto de você, torço por você". É
um carinho muito grande. Agradeço muito por isso. Sei que tenho isso.
Se eu tiver mais ainda, tenho que fazer gol, ser campeão, para ter ainda
mais carinho.
Passou nove dias na terra do fast food, com sanduíches, batata frita, refrigerantes. Sofreu com alguma tentação?
Pior
que não. Fiquei de boa. Saímos um dia, fiquei de boa, almocei normal.
Passei a tarde toda. O que me pega muito é quando eu relaxo, como
besteira. Mas eu estou focado. No Brasil, mais ainda. Se tiver treino só
pela manhã, vou treinar de manhã e à tarde. Se der, vou almoçar no
hotel e depois vou para casa. Depende de mim. Eu sei que eu consigo. Em
dez dias, já perdi bastante peso. E mais o tempo que vamos treinar, pode
ter certeza que vou estar bem.
Mesmo o ano
passando não tendo sido bom em números, conseguiu colocar dúvidas em
certos momentos na cabeça do Renato e do Cristóvão. Seu objetivo em 2015
é virar titular?
Meu começo de ano foi
muito bom. Tenho essa consciência. Depois que as coisas começaram a dar
errado. Meu Carioca foi bom, consegui jogar as semifinais. Esquema de
hoje está sendo difícil jogar com dois atacantes. O Fred é nosso
capitão, nosso líder. Não vou brigar com Fred para ser titular. Tenho
que brigar para estar bem, quando ele não jogar, o professor optar por
mim. Em alguns jogos que ele não jogou, eu não fui escolhido. Estava
mal. Foi correto. Até Seleção, se o Fred for, porque tem qualidade,
posso ser chamado. Ou se ele sentiu algo, ou tomou cartão. Primeira
opção? O Walter. Tenho que trabalhar para jogar do lado dele ou ser o
substituto imediato.
Walter, já de volta ao Brasil, treina nas
Laranjeiras (Foto: Bruno Haddad
/ Fluminense)
Você é chamado de presidente por alguns jogadores. Como surgiu isso?
Começou
comigo, Chiquinho e Biro Biro (risos). Começaram a me chamar de
presidente, os mais jovens. Eu ando mais com os meninos da base, vim da
base, sei como é sofrido. Converso com eles, aprendi muito, tenho que
passar para eles. Brincadeira do Biro Biro (que está na Ponte Preta). O
Biro Biro era diretor, agora virou o Rafinha, mas ele está quase caindo
do cargo. Futebol é assim. Vira o ano, você perde dois amigos, o Biro
Biro e o Chiquinho, mas fiquei mais próximo do Edson e do Renato,
estamos sempre juntos. Os moleques da base podem contar comigo. Só não
podem contar comigo para dinheiro porque para dinheiro eu estou mal
(gargalhadas).
Já se despediu do Conca?
Esse
Conquinha é engraçado, né? Quem tem dinheiro puxa mais dinheiro ainda.
Como pode, né? Ele falou que está esperando uma resposta do Fluminense.
Se ficasse, seria muito bom. Pode ter certeza. Nosso time vai sentir
muito a falta dele. Dentro e fora do campo. É engraçado, um cara de
grupo. Mas nosso time tem grandes jogadores. A proposta é boa para ele e
para o Fluminense. Não sei como está. Vou torcer pelo melhor para ele. É
um cara correto, que merece muito. É um cara danado.
Você fica?
A
princípio eu fico. Estamos conversando algumas coisas, meu empresário
está resolvendo. A princípio fico porque tenho contrato até 31 de
dezembro. A princípio eu fico, sim.
Dá para ver que você está feliz, né?
Estou
bem mais leve. Vou para meu segundo ano aqui, estou me sentindo com
três, quatro anos. Cheguei meio preso, estou mais solto, mais alegre.
Conheço o professor agora, são sete meses juntos. Eu conheço o grupo
bem, os caras que chegaram estão se sentindo em casa. O bom do nosso
grupo é isso. Os caras chegaram e já estão à vontade.
Pelo que conversamos, percebo que além de perder peso no corpo, você precisa estar sempre com a cabeça leve. É isso?
A
cabeça é o corpo da pessoa. Se a cabeça não estiver boa, nada dá certo.
Tem algumas coisas faltando ainda, mas vão ser resolvidas para a cabeça
estar 100% bem.
Essas coisas que faltam são Unimed e Porto?
Essas
coisas de Unimed (direitos de imagem atrasados), do Porto (Flu tem que
exercer compra). Só falta isso para resolver, está quase resolvido. Só
isso que está faltando.
Quantos quilos perdeu nos dez dias?
Foram
quatro, cinco quilos, em uma semana. Uma coisa absurda. É que quando eu
quero, eu perco muito rápido. Se vacilar, ganho muito rápido. Por isso
tenho que estar com controle. Saio bem da pré-temporada, triste porque
não ganhamos. Feliz pelo gol e por voltar ao Brasil bem abaixo do que eu
estava.FONTE:
http://glo.bo/1xCljWH
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