Craque troca arrancadas e gols por liderança e luta, sai ovacionado pela torcida e deixa porta aberta antes de “aventura” nos Estados Unidos
A
torcida do São Paulo passou quatro meses cantando que “o Kaká voltou”.
Passou rápido. E ele já se vai novamente, rumo ao Orlando City, novo
clube dos Estados Unidos que o emprestou ao Tricolor. Com menos jogos,
gols e assistências do que a média de sua carreira (três anotados em 24
partidas), mas ovacionado pelos torcedores. Muitos deles, os mesmos que o
vaiaram em 2003. Foi um acerto de contas.
Kaká também não ganhou títulos, mas é considerado insubstituível por Muricy Ramalho e pelos demais jogadores. Mas o que tornou tão forte e especial essa segunda passagem do meia pelo São Paulo?
- Em relação a números, não foi das melhores, mas pude ver que futebol não é só bola. Transcende gols e assistências. O torcedor conseguiu ver toda minha dedicação, minha luta, meu esforço em campo e o orgulho de vestir novamente a camisa do São Paulo.
Não há ninguém no CT da Barra Funda que negue a importância do craque. Para os mais velhos, como Rogério Ceni, ele foi um companheiro e tanto, principalmente com o surgimento da turma do carteado. Sua chegada e a de Alan Kardec tornaram o baralho o maior elo de amizade entre eles, o goleiro, e jogadores como Paulo Henrique Ganso e Souza.
Aos mais jovens, Kaká deu exemplo. Uma liderança diferente da de Ceni, por exemplo. Mais platônica. Ao contrário do capitão, que esteve sempre ali no CT da Barra Funda, sob seus olhares, os garotos só usavam Kaká no vídeo game, desde que ele foi eleito melhor jogador do mundo em 2007. De repente, tabelavam com ele.
Uma cumplicidade que dá ao jogador a certeza em afirmar que sua passagem pelo Morumbi foi muito melhor do que ele podia imaginar. Foi a última? Possivelmente, mas ele faz questão de deixar portas abertas antes de começar a cumprir o contrato de três anos com o Orlando City. Uma “aventura”, segundo o próprio Kaká, mas bem ambiciosa.
Antes de iniciar as férias, que serão divididas entre a capital paulista e os Estados Unidos, Kaká fez ao GloboEsporte.com, em 20 minutos, uma análise dos últimos meses e do que projeta para os próximos anos, além de críticas ao calendário brasileiro e elogios ao ex-companheiro Cristiano Ronaldo.
Você imaginou que sua passagem pelo São Paulo (24 jogos e três gols), tão curta, fosse ter esse sucesso?
Não, sinceramente. Não pensei que daria errado, mas foi muito mais do que eu imaginei. Eu me preparei muito, queria que as coisas dessem certo, e elas foram acontecendo. O time se encaixou. No final, foi muito bom. Não digo que foi excelente porque faltou um título, mas valeu a pena para mim e para o São Paulo.
A que você atribui esse sucesso?
Da minha parte, à preparação. Eu me preparei mesmo. Todos queriam que eu estreasse contra a Chapecoense, mas conversei com o Muricy: vamos segurar mais um pouquinho, estrear contra o Goiás, mesmo fora de casa, fazer uma mini pré-temporada. E o grupo é muito bom, técnico, tem jogadores excelentes. As coisas se encaixaram. Além da maturidade. Os 32 anos de idade, e 11 de Europa, me ajudaram a ter uma adaptação rápida.
Em 2003, você, em momento excelente, decidindo jogos, na plenitude física, saiu vaiado pelos torcedores. Agora, sem muitos gols ou mesmo brilho em algumas partidas, foi ovacionado. O torcedor amadureceu, mudou ou passou a lhe respeitar mais pelo que você ganhou lá fora?
Um “mix” dessas coisas. Em relação a dados, números, não foi das melhores, mas pude ver que futebol não é só bola. Minha passagem agregou coisas ao São Paulo, e o São Paulo agregou à minha carreira e vida pessoal. Isso transcende gols e assistências. O torcedor conseguiu ver toda minha dedicação, luta, esforço e o orgulho de vestir novamente a camisa do São Paulo. Eu consegui passar isso, o grupo conseguiu. Saiu aplaudido depois da eliminação (para o Atlético Nacional, na semifinal da Copa Sul-Americana) porque o torcedor viu que corremos, lutamos. Mostrei a eles que eu estava feliz e orgulhoso.
Você percebe essa influência tão exaltada pelos outros que você teve perante o grupo?
Não sei mensurar quanto, mas sei que ajudei e contribuí. Pelo exemplo, por ser um cara que atuou 11 anos fora e conquistou o que eu conquistei. Transmiti que não estava acomodado, que iria correr, lutar e jogar por eles. Aprendi com Rogério, Maldini e Cafu, que conquistaram tudo que podiam, e estavam sempre dispostos a batalhar. É o prazer pela vitória. O Maldini ganhou cinco Liga dos Campeões. Na última eu estava junto. Para mim, foi a maior festa, para ele foi só mais uma, mas todo dia ele era o primeiro a chegar. Foi um grande exemplo, e um pouco do que procurei transmitir a esse pessoal.
E o que o São Paulo acrescentou a você em menos de seis meses?
Saio mais maduro do que cheguei. Convivemos por muitos dias com amizade e união fortes. Tentei ajudar a formar um grupo forte, mas para isso era preciso receber em troca, ver que estavam dispostos. Rogério, Ganso, Pato, Kardec, Souza, esse pessoal mais próximo no dia-a-dia, e os mais novos: Ewandro, Boschilia, Ademilson, Lucão, Auro... Eu olhava para eles e me lembrava que um dia estive naquela situação. Imaginava como é, para eles, chegar e ver tudo isso. Foi uma experiência muito bacana.
O Rogério pediu sua opinião antes de renovar contrato? O que você disse a ele?
Temos o grupo do carteado nas concentrações e batemos muito papo. Sempre perguntávamos se não dava para ele estender um pouco mais, e víamos que ele ficava em dúvida, falava das dores. Nós respeitávamos, ninguém falava o que ele devia fazer. Mas, fora, sempre deixei minha opinião clara, que ele poderia jogar pelo menos mais seis meses pelo nível técnico. O Rogério ganhou muitos jogos para nós esse ano, com gols e defesas. Eu fiquei muito feliz com a renovação, por ele disputar mais uma Libertadores, porque é um cara que tem liderança fora do comum, consegue motivar e fazer o time ser competitivo. As coisas que ele fala, tem uma visão de jogo fantástica. Vai fazer muito bem ao São Paulo.
O São Paulo mudou muito nesses 11 anos em que você esteve fora?
Evoluiu muito em estrutura, hoje não deve nada... Claro que lá (na Europa) tudo é um pouco maior, mas aqui há instalações ótimas. O Centro de Formação de Atletas (em Cotia) é excelente, a área de imprensa é muito boa. Na parte de formação está indo, está formando. Não é fácil, mas continua sendo um dos clubes que mais formam jogadores. É um dos maiores e mais bem administrados do Brasil.
Você
tentou ficar mais seis meses? É frustrante sair sem disputar a
Libertadores pela segunda vez, já que você foi vendido em 2003 e o São
Paulo voltou ao torneio em 2004?
O São Paulo vinha conversando com o Orlando. Na semana passada, quando o São Paulo fez a última tentativa, o Orlando falou que não havia possibilidade nenhuma pelos compromissos com a liga, governo e prefeitura, fatores que transcendem o campo. Eu entendi e estou super feliz com essa nova experiência, essa aventura. Foi muito bom esse tempo no São Paulo, e agora acho que vou viver muitas coisas boas nos Estados Unidos.
É possível imaginar uma terceira passagem pelo São Paulo, aos 35 anos?
Vai depender muito das minhas condições físicas e tudo mais, mas com certeza a porta ficará aberta sempre, tanto de minha parte, e acredito que do São Paulo também. Se houver a possibilidade de voltar ao Brasil um dia, a preferência será sempre do São Paulo.
Você é só jogador do Orlando City ou há alguma sociedade? Sua participação no clube é maior do que foi divulgada até o momento?
Não tenho nenhuma parte de sociedade, meu contrato é de jogador. E há minha ligação com o Flávio (Augusto da Silva, dono do Orlando City). Conforme os anos se passarem, ficarei mais próximo porque vou nascer e crescer junto com esse clube. Muitas coisas poderão acontecer, mas, de partida, é um contrato de jogador.
O que o faz optar pela liga norte-americana, mesmo ainda jogando em bom nível?
Acho que a liga vai crescer muito e quero fazer parte desse crescimento, do desenvolvimento, poder ser um embaixador. E pela qualidade de jogo. Poderei me preparar melhor para cada jogo, gostaria muito de ser campeão. É um objetivo pessoal nessa nova aventura, mas o principal é fazer parte desse crescimento.
Isso pode lhe afastar da Seleção ou a proximidade de anos que você tem com o Dunga torna o fato de você jogar nos Estados Unidos irrelevante para convocações futuras?
O Dunga sempre foi muito coerente nas convocações, se baseou em critérios e deixou muito claro. Convivemos por quatro anos, nos conhecemos, ele viu o que pude agregar à Seleção nessa última convocação. Então, daqui para frente, se o Dunga achar que eu me encaixo no que ele acha legal para a Seleção, vai me chamar, independentemente de onde eu estiver atuando.
O que mais lhe irritou no futebol brasileiro nestes poucos meses de retorno?
O que mais pega é o calendário, a organização. Isso incomoda porque não há tempo de descansar. É jogo atrás de jogo, viagens muito longas, um dia joga num lugar e no fim de semana não sabe onde vai jogar. Não dá para fazer um planejamento, uma preparação bem feita. O ponto que deveriam pensar imediatamente é o calendário.
Tem alguma sugestão?
Primeiro é reduzir o número de jogos. Não sou um cara que sabe quantas datas há no ano, quantas de televisão, quantas datas Fifa, mas reduzir o número de jogos seria um ponto importante pela qualidade do espetáculo, para que o torcedor fique satisfeito e curta. Porque se o time dele joga domingo, quarta e domingo, ele escolhe um dos três jogos. Não cria expectativa de ver o time jogar. Esse deveria ser o ponto de partida para melhorar o campeonato.
Você foi eleito o melhor jogador do mundo em 2007. Desde então, só Cristiano Ronaldo e Messi ganharam. É uma era dominada por eles? É impossível competir com os dois?
São jogadores bem acima da média. O Cristiano é completo, o ícone do jogador moderno. Fisicamente é um animal, faz gol de direita, esquerda, cabeça, bate falta. E o Messi é um gênio, a genialidade dele é fora do comum. Mas o prêmio vai muito pelo que se faz coletivamente. Eles atuam em dois grandes clubes. Se alguém tivesse se destacado individualmente na seleção alemã, seria eleito melhor do mundo. É bem provável que o Cristiano leve porque ganhou a Liga dos Campeões com o Real. São excelentes, sempre haverá essa disputa para ver quem é melhor.
Você jogou um bom tempo com o Cristiano. Quem é ele? O marrento que olha com certo menosprezo no campo ou o cara que chora igual criança ao receber o prêmio e dedica à mãe?
Esse é o verdadeiro Cristiano (risos). É brincalhão, chega brincando ao vestiário, tem ótima relação com todo mundo, odeia brigar. O Cristiano dentro do campo, eu não digo que seja um personagem. É extremamente dedicado, competitivo, quer ganhar tudo, fazer tudo. O Cristiano de verdade é uma excelente pessoa.
Kaká também não ganhou títulos, mas é considerado insubstituível por Muricy Ramalho e pelos demais jogadores. Mas o que tornou tão forte e especial essa segunda passagem do meia pelo São Paulo?
- Em relação a números, não foi das melhores, mas pude ver que futebol não é só bola. Transcende gols e assistências. O torcedor conseguiu ver toda minha dedicação, minha luta, meu esforço em campo e o orgulho de vestir novamente a camisa do São Paulo.
Não há ninguém no CT da Barra Funda que negue a importância do craque. Para os mais velhos, como Rogério Ceni, ele foi um companheiro e tanto, principalmente com o surgimento da turma do carteado. Sua chegada e a de Alan Kardec tornaram o baralho o maior elo de amizade entre eles, o goleiro, e jogadores como Paulo Henrique Ganso e Souza.
Aos mais jovens, Kaká deu exemplo. Uma liderança diferente da de Ceni, por exemplo. Mais platônica. Ao contrário do capitão, que esteve sempre ali no CT da Barra Funda, sob seus olhares, os garotos só usavam Kaká no vídeo game, desde que ele foi eleito melhor jogador do mundo em 2007. De repente, tabelavam com ele.
Uma cumplicidade que dá ao jogador a certeza em afirmar que sua passagem pelo Morumbi foi muito melhor do que ele podia imaginar. Foi a última? Possivelmente, mas ele faz questão de deixar portas abertas antes de começar a cumprir o contrato de três anos com o Orlando City. Uma “aventura”, segundo o próprio Kaká, mas bem ambiciosa.
Antes de iniciar as férias, que serão divididas entre a capital paulista e os Estados Unidos, Kaká fez ao GloboEsporte.com, em 20 minutos, uma análise dos últimos meses e do que projeta para os próximos anos, além de críticas ao calendário brasileiro e elogios ao ex-companheiro Cristiano Ronaldo.
Kaká fez 24 jogos e três gols nesta sua segunda
passagem pelo São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)
Não, sinceramente. Não pensei que daria errado, mas foi muito mais do que eu imaginei. Eu me preparei muito, queria que as coisas dessem certo, e elas foram acontecendo. O time se encaixou. No final, foi muito bom. Não digo que foi excelente porque faltou um título, mas valeu a pena para mim e para o São Paulo.
A que você atribui esse sucesso?
Da minha parte, à preparação. Eu me preparei mesmo. Todos queriam que eu estreasse contra a Chapecoense, mas conversei com o Muricy: vamos segurar mais um pouquinho, estrear contra o Goiás, mesmo fora de casa, fazer uma mini pré-temporada. E o grupo é muito bom, técnico, tem jogadores excelentes. As coisas se encaixaram. Além da maturidade. Os 32 anos de idade, e 11 de Europa, me ajudaram a ter uma adaptação rápida.
Em 2003, você, em momento excelente, decidindo jogos, na plenitude física, saiu vaiado pelos torcedores. Agora, sem muitos gols ou mesmo brilho em algumas partidas, foi ovacionado. O torcedor amadureceu, mudou ou passou a lhe respeitar mais pelo que você ganhou lá fora?
Um “mix” dessas coisas. Em relação a dados, números, não foi das melhores, mas pude ver que futebol não é só bola. Minha passagem agregou coisas ao São Paulo, e o São Paulo agregou à minha carreira e vida pessoal. Isso transcende gols e assistências. O torcedor conseguiu ver toda minha dedicação, luta, esforço e o orgulho de vestir novamente a camisa do São Paulo. Eu consegui passar isso, o grupo conseguiu. Saiu aplaudido depois da eliminação (para o Atlético Nacional, na semifinal da Copa Sul-Americana) porque o torcedor viu que corremos, lutamos. Mostrei a eles que eu estava feliz e orgulhoso.
Você percebe essa influência tão exaltada pelos outros que você teve perante o grupo?
Não sei mensurar quanto, mas sei que ajudei e contribuí. Pelo exemplo, por ser um cara que atuou 11 anos fora e conquistou o que eu conquistei. Transmiti que não estava acomodado, que iria correr, lutar e jogar por eles. Aprendi com Rogério, Maldini e Cafu, que conquistaram tudo que podiam, e estavam sempre dispostos a batalhar. É o prazer pela vitória. O Maldini ganhou cinco Liga dos Campeões. Na última eu estava junto. Para mim, foi a maior festa, para ele foi só mais uma, mas todo dia ele era o primeiro a chegar. Foi um grande exemplo, e um pouco do que procurei transmitir a esse pessoal.
Kaká: "Saio mais maduro" (Foto: Marcos Ribolli)
Saio mais maduro do que cheguei. Convivemos por muitos dias com amizade e união fortes. Tentei ajudar a formar um grupo forte, mas para isso era preciso receber em troca, ver que estavam dispostos. Rogério, Ganso, Pato, Kardec, Souza, esse pessoal mais próximo no dia-a-dia, e os mais novos: Ewandro, Boschilia, Ademilson, Lucão, Auro... Eu olhava para eles e me lembrava que um dia estive naquela situação. Imaginava como é, para eles, chegar e ver tudo isso. Foi uma experiência muito bacana.
O Rogério pediu sua opinião antes de renovar contrato? O que você disse a ele?
Temos o grupo do carteado nas concentrações e batemos muito papo. Sempre perguntávamos se não dava para ele estender um pouco mais, e víamos que ele ficava em dúvida, falava das dores. Nós respeitávamos, ninguém falava o que ele devia fazer. Mas, fora, sempre deixei minha opinião clara, que ele poderia jogar pelo menos mais seis meses pelo nível técnico. O Rogério ganhou muitos jogos para nós esse ano, com gols e defesas. Eu fiquei muito feliz com a renovação, por ele disputar mais uma Libertadores, porque é um cara que tem liderança fora do comum, consegue motivar e fazer o time ser competitivo. As coisas que ele fala, tem uma visão de jogo fantástica. Vai fazer muito bem ao São Paulo.
O São Paulo mudou muito nesses 11 anos em que você esteve fora?
Evoluiu muito em estrutura, hoje não deve nada... Claro que lá (na Europa) tudo é um pouco maior, mas aqui há instalações ótimas. O Centro de Formação de Atletas (em Cotia) é excelente, a área de imprensa é muito boa. Na parte de formação está indo, está formando. Não é fácil, mas continua sendo um dos clubes que mais formam jogadores. É um dos maiores e mais bem administrados do Brasil.
Kaká e Michel Bastos se ariscam no samba em
festa no CT do São Paulo (Foto: Rubens
Chiri/saopaulofc.net)
O São Paulo vinha conversando com o Orlando. Na semana passada, quando o São Paulo fez a última tentativa, o Orlando falou que não havia possibilidade nenhuma pelos compromissos com a liga, governo e prefeitura, fatores que transcendem o campo. Eu entendi e estou super feliz com essa nova experiência, essa aventura. Foi muito bom esse tempo no São Paulo, e agora acho que vou viver muitas coisas boas nos Estados Unidos.
É possível imaginar uma terceira passagem pelo São Paulo, aos 35 anos?
Vai depender muito das minhas condições físicas e tudo mais, mas com certeza a porta ficará aberta sempre, tanto de minha parte, e acredito que do São Paulo também. Se houver a possibilidade de voltar ao Brasil um dia, a preferência será sempre do São Paulo.
Você é só jogador do Orlando City ou há alguma sociedade? Sua participação no clube é maior do que foi divulgada até o momento?
Não tenho nenhuma parte de sociedade, meu contrato é de jogador. E há minha ligação com o Flávio (Augusto da Silva, dono do Orlando City). Conforme os anos se passarem, ficarei mais próximo porque vou nascer e crescer junto com esse clube. Muitas coisas poderão acontecer, mas, de partida, é um contrato de jogador.
Kaká vai vestir a camisa 10 no Orlando City (Divulgação)
Acho que a liga vai crescer muito e quero fazer parte desse crescimento, do desenvolvimento, poder ser um embaixador. E pela qualidade de jogo. Poderei me preparar melhor para cada jogo, gostaria muito de ser campeão. É um objetivo pessoal nessa nova aventura, mas o principal é fazer parte desse crescimento.
Isso pode lhe afastar da Seleção ou a proximidade de anos que você tem com o Dunga torna o fato de você jogar nos Estados Unidos irrelevante para convocações futuras?
O Dunga sempre foi muito coerente nas convocações, se baseou em critérios e deixou muito claro. Convivemos por quatro anos, nos conhecemos, ele viu o que pude agregar à Seleção nessa última convocação. Então, daqui para frente, se o Dunga achar que eu me encaixo no que ele acha legal para a Seleção, vai me chamar, independentemente de onde eu estiver atuando.
O que mais lhe irritou no futebol brasileiro nestes poucos meses de retorno?
O que mais pega é o calendário, a organização. Isso incomoda porque não há tempo de descansar. É jogo atrás de jogo, viagens muito longas, um dia joga num lugar e no fim de semana não sabe onde vai jogar. Não dá para fazer um planejamento, uma preparação bem feita. O ponto que deveriam pensar imediatamente é o calendário.
Tem alguma sugestão?
Primeiro é reduzir o número de jogos. Não sou um cara que sabe quantas datas há no ano, quantas de televisão, quantas datas Fifa, mas reduzir o número de jogos seria um ponto importante pela qualidade do espetáculo, para que o torcedor fique satisfeito e curta. Porque se o time dele joga domingo, quarta e domingo, ele escolhe um dos três jogos. Não cria expectativa de ver o time jogar. Esse deveria ser o ponto de partida para melhorar o campeonato.
Você foi eleito o melhor jogador do mundo em 2007. Desde então, só Cristiano Ronaldo e Messi ganharam. É uma era dominada por eles? É impossível competir com os dois?
São jogadores bem acima da média. O Cristiano é completo, o ícone do jogador moderno. Fisicamente é um animal, faz gol de direita, esquerda, cabeça, bate falta. E o Messi é um gênio, a genialidade dele é fora do comum. Mas o prêmio vai muito pelo que se faz coletivamente. Eles atuam em dois grandes clubes. Se alguém tivesse se destacado individualmente na seleção alemã, seria eleito melhor do mundo. É bem provável que o Cristiano leve porque ganhou a Liga dos Campeões com o Real. São excelentes, sempre haverá essa disputa para ver quem é melhor.
Você jogou um bom tempo com o Cristiano. Quem é ele? O marrento que olha com certo menosprezo no campo ou o cara que chora igual criança ao receber o prêmio e dedica à mãe?
Esse é o verdadeiro Cristiano (risos). É brincalhão, chega brincando ao vestiário, tem ótima relação com todo mundo, odeia brigar. O Cristiano dentro do campo, eu não digo que seja um personagem. É extremamente dedicado, competitivo, quer ganhar tudo, fazer tudo. O Cristiano de verdade é uma excelente pessoa.
Kaká concedeu entrevista na sala de imprensa
do CT do São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)
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