Ida para o Oympique de Marselha, ouro nos Jogos Rio 2016 e confronto com craque sueco na França estão nos planos. Zagueiro da Seleção sub-21 não fala sobre Bota
A passagem de Dória pela França no início da semana foi
rápida. Chegou, assinou contrato, foi apresentado pelo Oympique de Marselha e
logo partiu para o Catar. Em Doha, defende a seleção brasileira sub-21 em uma
série de amistosos que fazem parte da preparação para os Jogos Olímpicos Rio
2016. Do técnico Alexandre Gallo, recebeu a braçadeira de capitão. Aos 19 anos,
é líder da equipe e se diz pronto para assumir o posto.
- Tento passar algumas coisas que eu aprendi ao longo do meu
pouco tempo de carreira, mas algumas coisas que já passei.
A experiência profissional de Dória se resume ao Botafogo.
Mas na entrevista ao GloboEsporte.com ele não quis falar sobre o
ex-clube. Está chateado com o que viu e viveu por lá, principalmente nos
últimos meses,
quando atrasos salariais tumultuaram o ambiente e colocaram os jogadores
em situações
constrangedoras.
Dória veste a braçadeira do time olímpico
do Brasil: capitão aos 19 anos
(Foto: Richard Souza)
O
zagueiro agora só quer pensar na Seleção e no novo clube. O sonho do
ouro olímpico se mistura com toda a expectativa de estrear na Europa
e enfrentar alguns dos melhores do mundo. O principal deles: Zlatan
Ibrahimovic.
- Acompanho os jogos dele, um cara alto, de muita técnica,
muita qualidade. Vai ser bom para mim também marcar ele.
Dória ainda precisa aprender a falar francês. O vocabulário é limitadíssimo, mas ele já achou uma saída.
- Com o sorriso você já ganha alguma coisa (risos).
Confira a íntegra da entrevista:
Capitão é capitão. Seja na base ou no time principal. Que responsabilidade
usar a braçadeira da Seleção olímpica, hein?
Ser capitão significa que você representa alguma coisa para
a categoria, para a Seleção. Tento fazer por onde para ajudar meus
companheiros, para que a gente busque o melhor resultado em cada jogo, se cobre
ao máximo. É bom para todo mundo, todos saem vencendo. É isso que tento buscar
para que a gente sempre tire o nosso melhor dentro de campo, independentemente
de ser amistoso, conta qualquer seleção. Que todos deem o melhor e lá na frente
vamos colher os frutos.
O que você acha que o levou a ser escolhido?
Eu tento ser quem eu sou. Não forço nada. Tento passar
algumas coisas que eu aprendi ao longo do meu pouco tempo de carreira, mas
algumas coisas que já passei. Tento ser amigo de todo mundo. Nunca tive
problema com nenhum dos convocados. Todos são gente boa. É estar em contato com
todos, buscando levantar o astral.
Existem vários tipos de liderança. O Dunga era um capitão
rigoroso, por exemplo, chegou a exagerar com alguns companheiros em campo. Qual
o seu estilo?
Se for preciso a gente brigar, sair no tapa, para que a
gente vença, a gente vai sair. Mas sou mais de boa, de conversa. Se tiver algum
problema, eu chego na pessoa e converso. Acho que sendo claro, honesto, as
coisas acontecem.
Thiago Silva chorando muito antes da disputa por pênaltis nas oitavas de final da Copa (Foto: EFE)
Vimos na Copa do Mundo o Thiago Silva, que era o capitão do
Brasil, chorando antes da decisão por pênaltis contra o Chile, nas oitavas de
final. Ele foi muito criticado. Como você analisa aquilo? O capitão tem que ser
o cara mais frio do time?
O que aconteceu na Copa foi uma situação que só quem estava
jogando pode responder. Foi uma circunstância adversa. Até mesmo na hora dos
pênaltis, que foi a imagem do Thiago, todo mundo que criticou não vai saber
explicar porque não estava passando pelo momento. O capitão tem que passar tranquilidade
para a equipe nos momentos difíceis, buscar animar todo mundo, tentar ligar o
time. Mas é complicado. Cada situação tem seu peso, cada jogador responde de
uma maneira diferente.
Que avaliação você faz desse projeto olímpico?
O trabalho, para mim, não começou agora. Começou há uns dois
anos, quando o Gallo assumiu. A gente começou conquistando o torneio de Toulon
(na França). Acho que já tinha alguma coisa mirando a Olimpíada pela nossa idade,
para já ter uma base. Esse trabalho está sendo muito bom para mim e para todo
mundo. O Gallo passa tranquilidade para que todos mostrem o seu melhor. Como já
passaram muitos jogadores, a maioria deu conta do recado. Vai ser uma briga
boa, quem tem a ganhar é o Brasil.
Tem seu lado bom e o lado ruim. Acho que a torcida vai sempre apoiar a gente, como foi na Copa. Todo mundo quer ver o Brasil ganhar a primeira medalha de ouro olímpica no futebol. Vai ser um marco para a história do futebol brasileiro. E acho que todos esperam isso, depositam confiança na gente. Mas não podemos transformar esse apoio total em pressão. Pressão é natural, vai acontecer, mas temos de estar tranquilos. Não dá para entrar achando que tem de vencer no primeiro minuto de jogo. Não é assim. Temos de estar concentrados para não deixar isso virar contra a gente.
Você é o capitão, mas tem só 19 anos. E nos Jogos Olímpicos
o técnico pode levar os três jogadores acima dos 23. Acha que é importante ter
jogadores com mais bagagem?
Isso é uma questão mais para o Gallo, uma opção dele. Já vi
uma entrevista em que ele disse que ia levar. Esses três jogadores precisam se
entrosar o mais rápido possível com quem vai estar na Olimpíada. Isso é importante.
A gente vem fazendo uma preparação há algum tempo, é difícil três jogadores
chegarem e entrarem no time. São três jogadores que não estarão presentes antes
da competição, então quando mais rápido entrosar, vai ser melhor para o Brasil.
Um desses caras, o Gallo já avisou, será o Neymar. Fica mais
fácil com ele?
Claro (risos). Neymar tem uma qualidade indiscutível. É
claro que todo mundo quer ele na Seleção. Não vai ser diferente com a gente.
Fica bem mais fácil com ele. Não tiro o mérito de quem está aqui, todo mundo
está mostrando o seu valor, mas o Neymar tem espaço em qualquer clube ou
seleção. É sempre bem-vindo e vai ajudar bastante.
Você é um jogador que está amadurecendo mais rápido?
Acho que sim. Já passei por alguns momentos que algumas
pessoas vão passar com vinte e poucos anos, dificuldades dentro do clube. Com
19 anos já passei por coisas que vão me ensinar a não cometer erros, a não
ficar impressionado ou chateado com alguma situação que o futebol proporciona.
Acho que está servindo como aprendizado, como salário atrasado, Justiça. Vai
ser bom para levar para o resto da carreira. Vai me deixar preparado casa
ocorra novamente.
Acha que conseguiu superar isso e se manter concentrado no
campo?
É claro que o jogador não vai bem em todos os jogos. Às
vezes, passa por situação difícil, sua cabeça está a mil, estressado, não
consegue render o máximo que pode. Mas isso serve para o cara estar sempre
preparado. A carreira é curta, você não pode cometer o mesmo erro duas vezes.
Como é que está seu francês, Dória?
(Risos) Para ser sincero, de francês ainda não sei muita
coisa. Mas vou ter aula e acho que dá para pegar rapidinho. Foi tudo muito rápido,
me apresentei na segunda-feira (na França), já viajei para cá (Doha, Catar), me
apresentei na Seleção na terça e volto para lá quando acabar a nossa preparação
aqui.
O que já sabe falar?
Ah, um bonne journée (bom dia), merci (obrigado). Está dando
para levar. E com o sorriso você já ganha alguma coisa (risos).
A pronúncia do seu nome vai mudar lá na França, né?
Vai ser “Dorriá”, alguma coisa assim (risos). No começo me
perguntaram se queria que me chamassem de Matheus ou de Dória. Eu escolhi Dória
e conseguiram chamar legal. Estão falando Dória bonitinho.
São cinco anos de contrato com o Olympique de Marselha, um clube importante da
França, num campeonato que está crescendo, alguns clubes fazem altos investimentos.
Qual sua expectativa para essa mudança?
É um passo muito importante, é uma grande decisão que o cara
tem que tomar. Estou preparado, vai ser importante para a minha carreira jogar
contra muitos jogadores que estão entre os melhores do mundo, disputando um campeonato
que está sendo forte, competitivo. Acho que só tenho a ganhar por estar nessa
idade lá e ao longo do tempo fazer uma carreira brilhante.
Dória terá de marcar Ibra no Campeonato Francês (Foto: Reuters)
Já imaginou como vai ser enfrentar o Ibra contra o Paris
Saint-Germain?
Já! Já conversei com meu pai (Élio), alguns torcedores já
postaram nas redes sociais, brincando, falando para o Ibrahimovic se preparar,
alguma coisa assim. Eu estava prestando atenção, acompanho os jogos dele, um
cara alto, de muita técnica, muita qualidade. Vai ser bom para mim também
marcar ele.
Conseguiu conhecer algo do clube?
Sim, mas foi bastante rápido. Vi que é um clube muito
estruturado. Quando cheguei, queria ver casa, essas coisas, mas disseram que era
só pensar em jogar. Eles cuidavam de tudo.
Dória, olimpíada não tem taça, como o capitão vai fazer se o Brasil ganhar o
ouro?
Pois é. Quando o cara é campeão, levanta a taça. É um alívio e uma
felicidade. Não tem taça, mas tem medalha. A gente levanta (risos). E como o
Brasil nunca foi campeão, se conquistar vai ser algo inexplicável para todo
mundo
.
Você não teve muito tempo para se despedir dos torcedores do
Botafogo. O que diria para eles?
Me despedi nas redes sociais só. O pessoal me
apoiou, me deu boa sorte. Tenho só a agradecer. O que passei no Botafogo foi
importante para mim, o clube que abriu as portas para mim. Com 17 anos estar
jogando na minha posição é muito difícil. Às vezes, as pessoas têm até que sair
do Brasil para poder buscar um espaço, jogando numa liga de menos expressão.
Com 17 anos, jogando na zaga, só tenho a agradecer ao Botafogo, até mesmo o
professor Oswaldo (Oliveira). Nunca vou esquecer dele, foi o cara que apostou
em mim. A torcida, ao longo desses dois anos, sempre me apoiou, até mesmo nos
momentos difíceis que passamos no clube. Estava sempre do nosso lado, sempre
incentivando. Sou grato pelo carinho que tiveram e têm comigo. Não tive tempo
de me despedir em jogo, mas vou ser sempre grato e eles sabem disso.
Dória é apresentado pelos dirigentes
do Olympique de Marselha
(Foto: Divulgação )
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