sábado, 28 de junho de 2014

O fantasma sai de cena: Colômbia bate Uruguai e agora pega o Brasil

James Rodríguez faz os dois gols da vitória de 2 a 0 no Maracanã, leva os cafeteros a sua melhor campanha em Copas e evita revanche da final de 50


 A CRÔNICA

por Alexandre Alliatti

No Maracanã o fantasma nasceu, no Maracanã o fantasma se despediu. Graças à melhor Colômbia que já pisou as chuteiras numa Copa do Mundo, não acontecerá a tão esperada revanche da final da Copa do Mundo de 1950. É a talentosa seleção comandada pelo craque James Rodríguez, dono da vitória de 2 a 0 neste sábado, quem desafiará o Brasil nas quartas de final do Mundial. E o fantasma sai de cena – o Uruguai está fora da Copa.

A assombração agora é outra. A mística uruguaia, com as lembranças de 64 anos atrás, dá lugar à exuberância da seleção cafetera. A Colômbia jamais havia passado das oitavas de final em uma Copa do Mundo. Pois agora passou com sobras: tem 100% de aproveitamento, 11 gols marcados, apenas dois sofridos e uma campanha superior à do Brasil – que precisou recorrer aos pênaltis para eliminar o Chile. E tem James Rodríguez...

James Rodriguez Colômbia e Uruguai (Foto: Agência Reuters)
James Rodríguez acaba com o jogo e dá 
classificação história à Colômbia 
(Foto: Agência Reuters)

O camisa 10, melhor jogador da primeira fase para a Fifa, fez um golaço para ser cristalizado nas retinas colombianas. Matou no peito e, sem deixar a bola cair, abriu o placar da vitória – complementada por ele próprio no segundo tempo. O Uruguai, valente como sempre, abastecido de indignação pela suspensão aplicada a Luis Suárez, teve força para encarar o adversário. Mas não teve futebol. A equipe de José Pekerman é bastante melhor.

Sexta-feira, dia 4 de julho, às 17h (de Brasília), Brasil e Colômbia se enfrentam na Arena Castelão, em Fortaleza. O vencedor estará nas semifinais.

Tensão e pintura
Quando a bola começou a rolar no Maracanã, na despedida da tarde carioca, dois sentimentos saíam de cada canto do estádio e eram tão firmes, tão presentes, que quase deixavam de ser abstrações para se tornar sólidos – objetos que podem ser tocados. A raiva dos uruguaios estava presente em cada semblante, em cada máscara de Suárez a ornamentar um rosto, em cada faixa expelindo indignações contra a punição que alijou o atacante da Copa. E era proporcional ao surto de euforia dos colombianos, em êxtase com uma seleção que lhes permite sonhar um sonho outrora utópico.

A presença de dois estados de espírito tão opostos deixou o jogo tenso em campo e fora dele. Enquanto os atletas discutiam, dividiam cada bola com um pouco mais de força (especialmente os uruguaios), torcedores se desafiavam nas cadeiras, xingavam uns aos outros (especialmente os uruguaios).
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James Rodriguez Colômbia e Uruguai (Foto: Getty Images)
Craque do jogo, James Rodríguez comemora o 
primeiro gol (Foto: Getty Images)

No gramado, o que se viu foi uma Colômbia muito mais talentosa e um Uruguai além de seus próprios limites de obstinação – algo que poderia parecer impossível para uma equipe que tem a garra tatuada na alma desde que o mundo é mundo. Só que a diferença pró-Colômbia no primeiro quesito é maior do que a diferença pró-Uruguai no segundo. Não por acaso, o time de José Pekerman, na bola, na qualidade, pulou na frente na etapa inicial.

E foi justo. A Colômbia propôs o jogo, se mostrou mais veloz, usou melhor os lados. E tem um diamante em campo com a camisa 10. Aos 27 minutos, a bola pareceu se teleguiar até o peito de James Rodríguez. Ele a aninhou no corpo e, na queda, já emendou de canhota. O toque no travessão foi o último ato antes do grito de gol. De golaço. De enorme golaço.

A Colômbia teve 63% de posse, mais saídas para o ataque e mais do que o dobro de tentativas de gol do que o Uruguai no primeiro tempo. Mas sua superioridade não a deixou imune a ataques celestes. Cavani, de falta, quase empatou. E depois, pelo alto, não desviou de cabeça por detalhes – seria fatal a conclusão.

Cavani lamentando Uruguai x Colômbia (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Cavani tem as melhores chances do Uruguai, 
mas sem sucesso (Foto: André Durão
 / Globoesporte.com)

O fantasma sai de cena
O começo do segundo tempo ainda não estava munido de definições. Afinal, era o Uruguai do outro lado: tudo poderia acontecer. Mas não demorou para o fantasma sair de cena. Aos quatro minutos, a Colômbia trocou passes de pé em pé. Armero, da esquerda, mandou na cabeça de Cuadrado, que deixou a bola redonda (com o perdão do trocadilho) para James Rodríguez completar para a rede: 2 a 0, quinto gol do camisa 10 na Copa, agora artilheiro isolado, deixando Neymar, Messi e Thomas Müller para trás.

O Uruguai fez o que podia para reagir. Óscar Tabárez tirou Forlán (uma triste versão do craque do Mundial de 2010) e Álvaro Pereira para colocar Stuani e Gastón Ramírez. A seleção celeste até criou algumas chances, geralmente com Cavani, mas jamais deu pinta de que poderia virar o jogo – até porque o goleiro Ospina foi infalível. Com o passar do tempo, o time charrua ainda se tornou excessivamente viril – como em pancada desleal de Ramírez em Armero.

Enquanto isso, a parte brasileira da torcida passou a gritar “eliminado” para o Uruguai e a avisar aos próximos adversários: “Colômbia, pode esperar, a tua hora vai chegar”. Mas eles pouco ligaram. Responderam cantando: “Se vive, se sente, Colômbia está presente”.

E está mesmo. Como jamais esteve.

Torcedor vestido de fantasma de 50 com dentes do "vampiro Suárez" (Foto: Gettyimages)
Torcedor uruguaio vestido de fantasma e com 
dentes da mordida de Suárez (Foto: Gettyimages)




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