quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Médico comemora avanço de Lais e diz que lesão pode não ser completa

Antonio Marttos Jr afirma que atleta move os ombros, já tem alguma sensibilidade na parte superior do braço e tórax e resiste bem à diminuição do suporte de ventilação

Por Rio de Janeiro


Lais Souza Ski Aerials (Foto: Mauro Horita)Lais Souza vem mostrando evolução no tratamento (Foto: Mauro Horita)
 
Num piscar de olhos a vida mudou radicalmente. Naquele dia 27 de janeiro, quando fazia uma de suas últimas descidas na pista de esqui de Salt Lake City, Lais Souza era só uma atleta que pensava em cumprir mais um dia de treino de uma preparação que havia começado sete meses antes. O sonho de se ver competindo nas Olimpíadas de Inverno de Sochi, no esqui aéreo, estava perto de ser realizado. Até que veio o freio. Um choque numa árvore colocou a ex-ginasta olímpica diante de seu maior desafio. Internada em estado grave, com uma lesão na terceira vértebra da coluna cervical, que foi totalmente deslocada, teve de ser submetida a uma cirurgia. E embora o risco de morte ainda exista, e o histórico de lesões semelhantes aponte para uma recuperação lenta, os progressos têm sido comemorados. Alguns sinais fazem a equipe médica acreditar que a lesão medular não tenha sido completa. Lais sente o local da cirurgia, consegue mover os ombros e tem alguma sensibilidade na parte superior do braço e do tórax. O quadro respiratório também evoluiu positivamente, e a colocação do marcapasso no diafragma foi retardada. 

- Não é possível nesse momento afirmar qualquer prognóstico sobre o quadro final da Lais. Ela está sendo tratada em um dos centros mais avançados do mundo nesse tipo de lesão, The Miami Project to Cure Paralysis, comandado pelo doutor Barth Green. O ponto mais positivo nessa primeira semana foi em relação à parte respiratória. Decidimos pela não implantação do marcapasso no diafragma inicialmente. Nesse momento, iniciamos o processo de diminuição do suporte de ventilação mecânica. Até o momento ela está tolerando bem esse "desmame". 

Estamos otimistas de que ela sairá do ventilador mecânico. Quanto à parte de movimentação ainda é muito cedo para dar qualquer prognóstico, mas temos alguns sinais de que a lesão é grave, mas não completa. Reitero que impossível nesse momento saber como irá evoluir a parte motora. A primeira vitória será o "desmame" da ventilação mecânica, a partir daí trabalharemos duro para comemorar cada evolução de seu quadro - disse o médico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Antonio Marttos Jr, em entrevista via chat.
 A força e paciência apresentadas por Lais para resistir à fase aguda e encarar a nova rotina, também animam. Ela tem feito trabalho de fisioterapia motora, respiratória e ocupacional, psicologia e vem tendo acesso aos tratamentos mais modernos e recentes para esse tipo de lesão. Está em uma cama especial, que roda de um lado para o outro a fim de prevenir pneumonia, escaras, infecções e coágulos. Não fez nenhum pedido especial até o momento e está ciente da gravidade da lesão. Como o foco está na recuperação, a questão do momento do acidente ainda não foi abordada pelos médicos.

homenagem a lais souza sochi jogos de inverno (Foto: Reprodução/Facebook) 
Homenagem feita pela delegação brasileira
 deixou Lais feliz (Foto: Reprodução/Facebook)

- Lais está muito forte mentalmente, se comunica com todos ao redor e só não tem a voz porque está com a traqueostomia, mas sussurra o que quer. Pediu para assistir filmes, escutar músicas e está ciente das manifestações de carinho de todos, da força que vem recebendo da família, dos amigos. Ficou muito feliz de ter visto a foto da equipe brasileira em Sochi com a camisa em sua homenagem. Lais é uma das pessoas mais fortes que já tratei. Está extremamente tranquila, ciente do desafio que tem pela frente. O foco agora é a recuperação, daí a equipe médica não ter abordado essa questão do acidente. Ela está consciente e informada sobre os próximos passos da recuperação. Lais é muito inteligente, sabe o que está acontecendo. É forte e determinada para enfrentar a situação e este processo que está acontecendo na vida dela. O suporte na parte psicológica será muito importante. 

O médico do COB acompanha Lais desde sua entrada no Hospital Universitário de Utah. Na quarta-feira, na companhia dele e de uma fisioterapeuta Lais foi transferida para o Hospital da Universidade de Miami. A mãe, dona Odete, acompanha de perto o tratamento. A previsão inicial é que a filha fique internada por mais dois meses. O quadro permanece grave, porém estável. 

Dr. Antonio Marttos Jr, médico Lais Souza (Foto: Arquivo Pessoal) 
Antonio Marttos Jr, acompanha o tratamento de 
Lais Souza (Foto: Arquivo Pessoal)

- Como atleta, Lais está acostumada a se superar, ter paciência e a vencer etapas. O fato de ela ser jovem e atleta tem ajudado nesse momento, principalmente a resistir nessa fase aguda. Ela ficará internada em Miami o tempo necessário para sair da fase aguda e que tenha segurança para retornar ao Brasil, dentro da logística que será preparada para isso. Ela está sendo acompanhada também pelo doutor Stephen Olvey, que é o chefe da Unidade de Terapia Intensiva neurocirúrgica do Jackson Memorial Hospital. Ele foi chefe da Fórmula Indy, e quem atendeu e recuperou o piloto Alessandro Zanardi, que sofreu amputação bilateral das pernas e tem uma vida normal. Independentemente do nível de recuperação motora da Lais, nosso principal objetivo será proporcionar a melhor qualidade de vida possível e reintegrá-la à sociedade com um sorriso em seu rosto. 


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/olimpiadas-de-inverno/noticia/2014/02/medico-comemora-avanco-de-lais-e-diz-que-lesao-pode-nao-ser-completa.html

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