Atacante destaca ótimo ano no Galo, explica troca do dinheiro árabe pelos títulos, relembra confusão com Cuca e garante estar pronto para ser campeão mundial
Diego Tardelli Atlético-MG (Foto: Alexandre Alliatti)
- Sinceramente? Modéstia a parte, acho que não.
Em 2013, o atacante do Atlético-MG completa dez anos de carreira profissional. Lá atrás, quando começou no São Paulo, era talentoso e inconsequente. Agora, na véspera de disputar seu primeiro Mundial de Clubes, é “só” talentoso. Não é expulso, não se atrasa nos treinos, não tem problemas no grupo. Diego Tardelli deixou de ser sinônimo de problema para se tornar solução.
Fundamental no esquema de Cuca, ele faz de tudo no ataque. Na Libertadores, esteve mais pelo lado direito, mas o técnico usou e abusou de sua inversão para a esquerda. No Brasileirão, enquanto Ronaldinho esteve lesionado, coube a Tardelli ser o principal armador, pelo meio.
Aliás, o fato de Cuca se aproveitar de sua versatilidade diz muito. É a terceira vez que eles trabalham juntos. Em 2009, o técnico abriu mão do atacante no Flamengo, e permitiu que ele tivesse a primeira passagem pelo Atlético-MG. Mas o caso mais emblemático ocorreu em 2004, no São Paulo.
Punido por atraso, o jogador teve de se concentrar um dia antes, mas já havia comprado ingressos para o show do cantor Fábio Jr. Resultado? Deixou a concentração e ficou afastado por 59 dias. Hoje, ambos dão risada do episódio.
- Eu dou
dura nele! Falo que ele deveria ter afastado outros dois, mas eu era o mais
novo.
Nesta
quarta-feira, o Galo enfrenta o Raja Casablanca em Marrakesh. É a semifinal do
Mundial, o primeiro passo rumo à esperada final, muito provavelmente contra o
Bayern de Munique.Em entrevista ao GloboEsporte.com, o jogador falou sobre o time marroquino e o alemão, revelou porque abriu mão de dinheiro para voltar ao Brasil, explicou a curiosa vontade de atuar novamente no Catar e manteve aceso o sonho de disputar a Copa do Mundo de 2014. Antes, outro sonho: ser campeão do mundo pelo Galo. Confira a íntegra da entrevista:
GloboEsporte.com: É sua segunda passagem pelo Atlético e, nas duas, você foi muito bem. Agora com títulos. O que há no clube, na cidade, que te faz tão bem?
Diego Tardelli: Fico muito em redes sociais e, desde minha saída, a torcida me pedia de volta. Diziam que não houve um grande atacante depois. Voltei mais pela mobilização da torcida. Minha esposa não queria, mas eu a convenci. Pelo elenco do Galo, eu queria estar naquele momento, tinha certeza de que poderíamos brigar para sermos campeões. Abri mão de muita coisa lá fora para ser ídolo. Sabia que precisava de um título importante.
Sua esposa queria ficar no Catar?
Ela fala todo dia, tem amiga lá, sempre bate saudade. Eu me adaptei superbem
ao futebol do Catar. Na Rússia não fui tão feliz, mas lá era artilheiro, saí
num momento muito bom. Por isso demorou tanto para fechar o negócio entre o
Atlético e o Al-Gharafa.
Então chegou o momento na sua vida em que era preciso abrir mão de dinheiro por...
Idolatria!
E também por currículo, não? Você nunca seria tão reconhecido se jogasse no Catar.
Também. O fator principal era ser campeão para entrar na história do clube. Sempre falaram só em Dadá e Reinaldo, agora chegou o momento de Ronaldinho Gaúcho, Jô, Bernard, Tardelli. Por 40, 50 anos, vão comentar tudo que fizemos. Valeu a pena abrir mão de tanta coisa.
Então chegou o momento na sua vida em que era preciso abrir mão de dinheiro por...
Idolatria!
E também por currículo, não? Você nunca seria tão reconhecido se jogasse no Catar.
Também. O fator principal era ser campeão para entrar na história do clube. Sempre falaram só em Dadá e Reinaldo, agora chegou o momento de Ronaldinho Gaúcho, Jô, Bernard, Tardelli. Por 40, 50 anos, vão comentar tudo que fizemos. Valeu a pena abrir mão de tanta coisa.
E as experiências no Catar e na
Rússia, valeram a pena? Você passa a impressão de ter voltado mais maduro,
dentro e fora de campo.
Na Rússia foi negativo, não serviu de experiência, mas valeu a pena pelo
aspecto tático. Eles priorizam muito. Mas acho que cheguei ao auge numa idade
de grande maturidade dentro e fora de campo, com minha família. Eu me vejo no
melhor momento da carreira.
Tardelli chega a BH nos braços da torcida no início deste
ano (Foto: João Godinho/O Tempo/Agência Estado)
O que foi tão ruim no Anzhi?
O clube tinha subido havia poucos meses, mas era muita bagunça. Eles achavam que
resolviam tudo com dinheiro. Se o jogador não desse certo, contratavam outro.
Fiquei um mês, não fiz gols e já não servia mais. Fui deixado de lado.
Ficávamos em grandes hotéis por causa do dinheiro, mas não havia estrutura.
Hoje, no Brasil, há alguém jogando mais do que você?
Sinceramente? Modéstia a parte, acho que não. Pelo que fiz neste ano, acredito que não. Fui muito regular desde minha chegada, recebi elogios. Tinha o Neymar, que era indiscutível. O Bernard também estava aqui. Mas depois da saída deles... Vocês (jornalistas) têm de dar a sua opinião, mas no meu ponto de vista, acho difícil alguém fazer o que venho fazendo.
Hoje, no Brasil, há alguém jogando mais do que você?
Sinceramente? Modéstia a parte, acho que não. Pelo que fiz neste ano, acredito que não. Fui muito regular desde minha chegada, recebi elogios. Tinha o Neymar, que era indiscutível. O Bernard também estava aqui. Mas depois da saída deles... Vocês (jornalistas) têm de dar a sua opinião, mas no meu ponto de vista, acho difícil alguém fazer o que venho fazendo.
O cabeceio. Eu não subo por nada, ainda mais depois que quebrei meu braço jogando pelo Flamengo. Foi um trauma, foram três meses doídos. O Jô briga com o zagueiro, rasga, dá trombada. Eu só fico ali na sobra.
Esse time do Atlético-MG é o melhor em que você já jogou?
É o melhor. Teve o time do São Paulo de 2005 também, mas acho o do Atlético bem melhor.
Por quê?
Ah, pelo jeito que encaixou, que a gente jogou. E também por eu ter jogado. Em 2005 eu fiz alguns jogos como titular, mas fiquei a maior parte do tempo no banco. Aqui joguei todas. Este ano foi especial, deu tudo certo. Aqui sou protagonista, lá eu não era.
As pessoas costumam dizer que você é calado, até meio retraído, mas no início da carreira causou problemas de rebeldia. Como você é, afinal?
Sempre fui calado, na minha. Criado com avó, né, no interior (risos). Sempre fui bem tranquilo. Às vezes o pessoal fala demais, inventam muitas coisas, talvez isso tenha me atrapalhado no início da carreira. Não que eu fosse um santo, mas falaram coisas absurdas. Sou de falar pouco. Hoje, com mais experiência, eu me coloco. Antes era um moleque, como ia falar com Rogério Ceni, Luis Fabiano? Tinha de ficar quietinho (risos).
Em que momento da sua carreira você deixou de ser problema pra se tornar solução?
Tardelli levanta a taça da Libertadores, maior título da história do Galo (Foto: Gabriel Duarte)
Um desses vacilos foi justamente com o Cuca, não é? Acha que, nove anos depois, vocês dois estão melhores e amadurecidos?
Bastante. É engraçado, brincamos até hoje porque ele foi a primeira pessoa que me afastou por causa do show do Fábio Jr. Hoje temos uma relação superboa. O Cuca mudou muito de 2004 pra cá. Às vezes ainda cisma com algumas coisinhas, não deixa de ser o Cuca, mas somos amigos, temos uma convivência muito boa.
O título da Libertadores deve tê-lo deixado mais seguro, não é?
Deixou um pouquinho mais seguro, sim. Mas às vezes ele ainda cisma com algumas coisas (risos).
E você ainda reclama daquele episódio?
Eu dou dura nele! Falo que ele tinha que ter afastado outros dois jogadores também, mas eu era o mais novo. Aí ele vem, todo sem graça, querendo distorcer a história (risos). Mas foi até bom porque eu era um fiozinho desencapado e serviu de lição para não fazer mais. Hoje tiramos de letra.
Depois daquilo, foi a algum show do Fábio Jr.?
Acredita que não? Foi o último. Sou fã, mas nunca mais fui.
Você e o Cuca também se encontraram no Flamengo. O que não deu certo lá?
Foi gostoso jogar no Flamengo, apesar de alguns detalhes como atraso de salário. Mas faz parte, né? Eu tinha quatro anos de contrato e no primeiro já quiseram me negociar. Mas foi bom porque vim parar no Atlético em 2009.
E o Kalil? Ele parece muito passional, muito presente nos momentos importantes. Como é a relação dele com os jogadores?
Ele é muito torcedor. Em jogos especiais ele costuma dar sua palavra, mas em geral deixa para nós resolvermos. O pessoal tem medo dele, viu? Ele fala na cara o que tiver de falar, não tem meio-termo. Mas é um cara de que gosto muito, considero um pai. Ele e a família dele me ligam, se preocupam comigo.
De onde surgiu essa versatilidade que você apresentou neste ano, atuando pelos dois lados e pelo meio?
Acho que é o talento, dom, a qualidade técnica que sobressai nessas horas. O que menos gosto de ser é o centroavante. Meu porte físico não aguenta os trancos de jogar de costas para o gol. Meu preparo físico é muito bom. Falo para o Cuca que, se eu estiver bem fisicamente, ele pode me colocar em qualquer posição. Ele me usou aberto na Libertadores, no meio no Brasileiro. Mas aconteceu naturalmente, e eu também me surpreendi.
Já que você depende tanto assim da condição física, como faz para que ela esteja sempre ideal?
Isso é nos treinos, procuro sempre observar, penso lá na frente. Tem a musculação, me cuido fora de campo. E tem o Carlinhos Neves (preparador físico), que é o melhor de todos com quem já trabalhei. O melhor do Brasil, além de ser chato para caramba (risos). Isso me deixa em condições muito boas.
Você tem o hábito de estudar os adversários antes do jogo?
Não. Só naqueles minutos de preleção em que presto bastante atenção para saber o que tenho de fazer no campo.
Mas e nesse caso em que, há meses, existe uma probabilidade grande de confronto contra um time poderoso como o Bayern de Munique? Você não passou a assistir aos jogos deles de outra forma?
Agora sim. Sempre que estamos concentrados, assistimos aos jogos do Bayern. Até brinco com o Marcos Rocha que podemos explorar mais desse lado (direito), ganhar o jogo por ali, jogar em cima de tal cara. Isso vai entrando na cabeça automaticamente.
Porque é inevitável pensar que esse é o duelo mais provável e mais difícil, certo?
Temos de pensar, é o principal adversário, por isso começamos a estudar antes. Faz parte do processo.
E o que você já viu do Bayern?
É um baita time. Tem algumas falhas, mas é um time muito completo. Não vai ser fácil, mas temos chance, como o Corinthians teve no ano passado. Vai depender muito do primeiro jogo (contra o Raja Casablanca), ele é tão importante quanto a final. Esse jogo define tudo. Se chegarmos à final, são onze contra onze, entra motivação, ganha quem estiver mais ligado. Nossa torcida vai estar no estádio. Se seis ou sete jogadores estiverem bem, o time todo fica bom. Se seis ou sete estiverem mal, o jogo será muito ruim. Então temos de nos preparar bem porque podem ser os jogos da história do Clube Atlético Mineiro.
Do Tardelli também?
Meus também. Meu primeiro Mundial. Se ganharmos, entraremos ainda mais na
história do clube.
E o Raja Casablanca, adversário de
quarta? O maior perigo é o time ou a torcida?
O Raja tem méritos, não venceu seu jogo à toa, mas a torcida sempre é fundamental. Acho que não teríamos sido campeões da Libertadores se não fosse nossa torcida. Então influencia, sim.
Müller e Ribéry: craques do Bayern não assustam Tardelli (Foto: Agência AP)
Nós prestamos muita atenção no jogo deles, mas não deu para pegar detalhes. Sabemos que tocam muito bem a bola, têm um ataque rápido, mas agora o Cuca vai passar um vídeo para termos mais detalhes.
Disputar um Mundial era uma dívida que você tinha consigo mesmo, já que em 2005 acabou afastado do São Paulo pouco antes da competição?
Ah, sim. São momentos diferentes, hoje sou protagonista, me sinto mais à vontade, é bem melhor. Por isso estou me preparando ainda mais do que na Libertadores.
E a possibilidade de enfrentar o Ribéry? Acha que ele merece ser eleito o melhor jogador do mundo contra Messi e Cristiano Ronaldo?
Ainda fico com o Cristiano Ronaldo. O Ribéry está numa fase incrível, sempre fazendo gols, nos preocupamos com ele e com os outros jogadores do Bayern. E o que o Messi fez ultimamente é indiscutível, mas o momento é do Ronaldo.
Ainda sonha disputar a Copa do Mundo do ano que vem ou desistiu?
Não desisti, não. Em 2010, fiquei na lista de 30 convocados, foi uma grande vitória. Depois de quatro anos, a expectativa era disputar a Copa. Por isso resolvi voltar, mas estou deixando acontecer e fazendo minha parte, trabalhando com seriedade. Ainda me vejo disputando a Copa, mas deixo nas mãos do papai do céu e do Felipão.
O Felipão costuma conversar muito com
o Cuca. Nunca pediu ao seu técnico para fazer um lobby?
Na última convocação, eu vi o Cuca dando um toque no Jô sobre a ligação do
Felipão. Até perguntei: “E aí, não falou nada, não?”. Mas criar expectativa é
complicado. Se eu tiver de ser convocado, serei.
Você tem dois objetivos que se esgotam em oito meses: ser campeão mundial pelo Atlético-MG e disputar a Copa do Mundo. E depois? O que vislumbra no futuro?
Pretendo, um dia, voltar a jogar no Catar. Não imediatamente, mas também não quando estiver velho. Quero voltar em alto nível porque tenho uma dívida com o xeque, saí no meio da competição. Lá minha família teve a vida que queria. Menos jogos, menos concentração.
Você tem dois objetivos que se esgotam em oito meses: ser campeão mundial pelo Atlético-MG e disputar a Copa do Mundo. E depois? O que vislumbra no futuro?
Pretendo, um dia, voltar a jogar no Catar. Não imediatamente, mas também não quando estiver velho. Quero voltar em alto nível porque tenho uma dívida com o xeque, saí no meio da competição. Lá minha família teve a vida que queria. Menos jogos, menos concentração.
Eu apoio. Já assinei, devo ter sido o primeiro (risos). São muitos jogos, é muito cansativo. Mas há jogadores mais experientes, como o Victor e o Gilberto Silva, que podem participar mais ativamente.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/atletico-mg/noticia/2013/12/tardelli-diz-que-nao-ve-alguem-no-brasil-jogando-melhor-do-que-ele.html
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