Área correspondente a 13 campos de futebol fez muita gente sonhar com o 'Thermas' do União Futebol Clube, mas o clube 'sangrou' até perder o local
No dia 15 de outubro de 1975, o União Mogi comprou, em um terreno
situado no Bairro do Caputera, uma área de 12,82 hectares, ou 128.200m²,
o equivalente a 13 campos de futebol. Adquirido do casal Yoneka Sakata e
Tadao Sakata, segundo a escritura, o clube pagou na época Cr$ 50 mil. O
equivalente hoje, de acordo com o INCC, a R$ 80,5 mil.
Para o local conhecido como terreno da Vila da Prata, os dirigentes do União tiveram grandes pretensões mas, por sucessivas brigas internas e más administrações, o terreno foi penhorado para pagar dívidas trabalhistas.
Com o inédito título de 2006 da Segunda Divisão do Paulista e o acesso à
Série A3, conquistados com a parceria da empresa DARM, que fazia a
gestão do futebol do clube, a ideia era construir um Centro de
Treinamento no local.
- Eles queriam construir um CT. O plano da DARM era um contrato de dez anos, construir quatro campos de futebol, refeitório, alojamento. Só que o terreno estava penhorado. A intenção era tirar a penhora do terreno para eles poderem construir, inclusive já tinham contato com uma rede de fast food famosa aqui no Brasil para construir ali também. E alguns conselheiros não foram a favor disso - lembrou o presidente do União na época, Atílio Suarti.
Por essa imposição, segundo Suarti, a parceria foi desfeita e a DARM não seguiu na gestão do futebol do clube a partir de 2007.
Thermas
Não foi o primeiro projeto frustrado. Na década de 80, o União
pretendia construir o "União F.C. Complexo Aquático Poli-Esportivo",
lançado pelo então presidente José Guerra. Títulos foram comercializados
por uma empresa especializada, que mantinha uma equipe de vendas para
projetar o empreendimento.
- Naquela ocasião, o clube vendeu muitos títulos, acredito que foram mais de quatro mil. A maioria comprou a prazo, uma parte direto com o clube e outra com a empresa que vendia os títulos - contou Delmiro Goveia, ex-conselheiro e ex-presidente do clube.
Conheça a história do União em dez capítulos interativos
De acordo com Goveia, o dinheiro das vendas ficou aplicado, mas veio o Plano Collor, o confisco da poupança e o projeto foi literalmente por água abaixo.
- O dinheiro foi devolvido, mas quando foi liberado já não valia muito por causa da inflação. E muitos que compraram pagaram a primeira parcela e não pagaram as restantes.
O episódio rendeu ao clube, na ocasião, alguns processos na justiça
para devolução do dinheiro pago pelo título. Muitos ganharam as ações,
mas nunca viram o dinheiro de volta, uma vez que o União não tinha como
pagar.
- Muitos compraram e não pagaram também. Alguns ainda tinham esperança de que o complexo fosse feito. Outros demoraram a entrar na justiça e perderam, porque viram seus direitos prescritos - recordou Delmiro, que não foi o único prejudicado.
- Eu paguei o título integralmente. Falaram que seria um clube social, com piscinas, toboágua, restaurante e etc. Tentaram fazer escavação nos locais das piscinas, possivelmente ainda há bombas velhas de água lá. Não devolveram o dinheiro e acabaram com tudo - relatou Senerito de Souza, atual presidente do clube e dono do título de número 1633, adquirido em 18 de agosto de 1983.
As formigas e a penhora
O time chegou a usar o local como estrutura de treinamento e alojamento (para jogadores que vinham de longe) durante algumas temporadas nos anos 2000, porém, os atletas sofriam com as condições precárias, além de 'ligeiros adversários', que insistentemente pegavam no pé e nas canelas dos atletas unionistas: as formigas que fizeram do campo de treinamento uma grande 'comunidade' (veja abaixo reportagem do Esporte D exibida no dia 29 de fevereiro de 2008).
O pior veio em janeiro de 2006, quando o terreno foi arrematado por R$ 200 mil em um leilão judicial, após penhora para pagamento de uma dívida trabalhista movida pelo ex-funcionário do clube, João Francisco da Silva. Na ocasião, conforme informado por um oficial de justiça por meio de certidão, o terreno acumulava dívidas fiscais com o município de Mogi das Cruzes em R$ 1.504.528,36. Pelos registros da época, o terreno valia, no mercado imobiliário, cerca de R$ 5 milhões, ou seja, foi arrematado por 4% do valor avaliado.
Um dos conselheiros do clube na época, Claudio Martins, contou que ainda tentou sugerir uma saída antes do terreno ser penhorado.
- Em uma reunião do União, propus que cerca de 40.000m², da parte da frente do terreno, fosse loteado e vendido. Fiz um estudo e daria algo em torno de R$ 5 milhões. Mas minha ideia foi rechaçada por outros conselheiros que não aceitavam ver o União com uma área menor na Vila da Prata.
Até meados de 2009, representantes do clube entraram com recurso para anular o leilão, com a alegação de irregularidades no processo. A briga judicial se alastrou até agosto de 2008, quando a justiça deu ganho de causa ao arrematador do leilão e colocou um ponto final na história. O novo dono do terreno ainda aceitou um acordo para que o clube utilizasse a área até junho de 2009 para treinamento de suas equipes, que tiveram que conviver com um local sem água, luz e banheiros. As formigas, verdadeiras donas do CT da Vila da Prata, foram testemunhas.
Para o local conhecido como terreno da Vila da Prata, os dirigentes do União tiveram grandes pretensões mas, por sucessivas brigas internas e más administrações, o terreno foi penhorado para pagar dívidas trabalhistas.
Elenco
do União Mogi na Vila da Prata em 1993. Tamanho da área equivale a
aproximadamente 13 campos de futebol (Foto: Arquivo Pessoal/José
Pieroccetti)
- Eles queriam construir um CT. O plano da DARM era um contrato de dez anos, construir quatro campos de futebol, refeitório, alojamento. Só que o terreno estava penhorado. A intenção era tirar a penhora do terreno para eles poderem construir, inclusive já tinham contato com uma rede de fast food famosa aqui no Brasil para construir ali também. E alguns conselheiros não foram a favor disso - lembrou o presidente do União na época, Atílio Suarti.
Por essa imposição, segundo Suarti, a parceria foi desfeita e a DARM não seguiu na gestão do futebol do clube a partir de 2007.
Thermas
Goveia mostra o seu título do "Thermas" do União(Foto: Petterson Rodrigues)
- Naquela ocasião, o clube vendeu muitos títulos, acredito que foram mais de quatro mil. A maioria comprou a prazo, uma parte direto com o clube e outra com a empresa que vendia os títulos - contou Delmiro Goveia, ex-conselheiro e ex-presidente do clube.
Conheça a história do União em dez capítulos interativos
De acordo com Goveia, o dinheiro das vendas ficou aplicado, mas veio o Plano Collor, o confisco da poupança e o projeto foi literalmente por água abaixo.
- O dinheiro foi devolvido, mas quando foi liberado já não valia muito por causa da inflação. E muitos que compraram pagaram a primeira parcela e não pagaram as restantes.
Complexo prometia a gravação do nome dos sócios remidos no hall de entrada (Foto: Petterson Rodrigues)
- Muitos compraram e não pagaram também. Alguns ainda tinham esperança de que o complexo fosse feito. Outros demoraram a entrar na justiça e perderam, porque viram seus direitos prescritos - recordou Delmiro, que não foi o único prejudicado.
- Eu paguei o título integralmente. Falaram que seria um clube social, com piscinas, toboágua, restaurante e etc. Tentaram fazer escavação nos locais das piscinas, possivelmente ainda há bombas velhas de água lá. Não devolveram o dinheiro e acabaram com tudo - relatou Senerito de Souza, atual presidente do clube e dono do título de número 1633, adquirido em 18 de agosto de 1983.
Terreno na Vila da Prata está sem uso pelo atual proprietário (Foto: Pedro Vieira)
O time chegou a usar o local como estrutura de treinamento e alojamento (para jogadores que vinham de longe) durante algumas temporadas nos anos 2000, porém, os atletas sofriam com as condições precárias, além de 'ligeiros adversários', que insistentemente pegavam no pé e nas canelas dos atletas unionistas: as formigas que fizeram do campo de treinamento uma grande 'comunidade' (veja abaixo reportagem do Esporte D exibida no dia 29 de fevereiro de 2008).
O pior veio em janeiro de 2006, quando o terreno foi arrematado por R$ 200 mil em um leilão judicial, após penhora para pagamento de uma dívida trabalhista movida pelo ex-funcionário do clube, João Francisco da Silva. Na ocasião, conforme informado por um oficial de justiça por meio de certidão, o terreno acumulava dívidas fiscais com o município de Mogi das Cruzes em R$ 1.504.528,36. Pelos registros da época, o terreno valia, no mercado imobiliário, cerca de R$ 5 milhões, ou seja, foi arrematado por 4% do valor avaliado.
Um dos conselheiros do clube na época, Claudio Martins, contou que ainda tentou sugerir uma saída antes do terreno ser penhorado.
- Em uma reunião do União, propus que cerca de 40.000m², da parte da frente do terreno, fosse loteado e vendido. Fiz um estudo e daria algo em torno de R$ 5 milhões. Mas minha ideia foi rechaçada por outros conselheiros que não aceitavam ver o União com uma área menor na Vila da Prata.
Até meados de 2009, representantes do clube entraram com recurso para anular o leilão, com a alegação de irregularidades no processo. A briga judicial se alastrou até agosto de 2008, quando a justiça deu ganho de causa ao arrematador do leilão e colocou um ponto final na história. O novo dono do terreno ainda aceitou um acordo para que o clube utilizasse a área até junho de 2009 para treinamento de suas equipes, que tiveram que conviver com um local sem água, luz e banheiros. As formigas, verdadeiras donas do CT da Vila da Prata, foram testemunhas.
Certidão do leilão que arrematou o terreno da Vila da Prata (Foto: Reprodução)
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