Sérgio Nogueira, que participa de quadro no 'Caldeirão do Huck', acompanhou o Internacional no título mundial de 2006 sobre o Barcelona
O improvável gol de Adriano Gabiru na final do Mundial de Clubes da Fifa ainda ecoava, de fato, na cabeça do professor no refúgio do hotel. Nas caixas de som de seu laptop, a voz de Galvão Bueno narrando o título inesquecível, um pedido de dezenas de outros torcedores colorados à porta de seu quarto. Outras centenas deles estavam nas ruas, brindando o dia histórico. Mas o compromisso com o blog "Um Colorado no Japão" o prendia ali por alguns minutos. A vontade era de comemorar naquela noite. E o extravaso veio em forma de palavras para a leitura da imensa torcida vermelha e branca espalhada pelo Brasil.
Algumas horas antes, o professor estava nas arquibancadas do Estádio Internacional de Yokohama. Em campo, os 81 minutos até o gol derradeiro pareceram correr muito mais depressa que os 12 restantes até o apito final. Com Xavi, Iniesta, Deco e Ronaldinho, o Barcelona tinha as melhores chances, mas ainda assim não assustava. O Inter, recuado, esperava uma chance apenas e apostava em um lampejo genial do ainda menino-promessa Alexandre Pato. Com câimbras, Fernandão, o capitão do time, foi substituído aos 21 minutos da segunda etapa. Em seu lugar, entrara Adriano Gabiru. Predestinado, o jogador recebeu passe primoroso após arrancada de Iarley, e o improvável aconteceu.
Sérgio Nogueira, ao lado do filho, em Tóquio, vibra
com 1ª vitória do Inter (Foto: Arquivo pessoal)
com 1ª vitória do Inter (Foto: Arquivo pessoal)
O sofrimento até a confirmação do título mundial, no entanto, começou muito antes da partida contra o Barcelona. Em meio ao trabalho, Sérgio Nogueira não pôde presenciar a vitória sobre o São Paulo na final da Libertadores. Seu filho, porém, estava no estádio e ligou após o triunfo: "Arruma um jeito de a gente ir para o Japão." O dinheiro da aposentadoria por 35 anos de magistério que o professor havia recebido alguns dias antes já tinha um destino. Apenas comunicou à esposa e começou a planejar a viagem no fim do ano, que teria um final feliz.
A distância te faz mais gaúcho. No meu caso, mais colorado"
Sérgio Nogueira
- Na minha infância, tinha um jogador chamado Bodinho. Era meia no time que foi tetracampeão na década de 50, quando eu era criança. A década de 60 foi horrorosa, só valeu pelo finzinho, com a inauguração do Beira-Rio. Para não deixar ninguém fora, tinha o Claudiomiro. Depois, na década de 70, não tem como não citar Figueroa e Falcão. E mais recentemente, o Fernandão. Ele me deu os principais títulos que vi. Esse século é uma loucura. O Internacional ganhou tudo - disse, orgulhoso.
Quatro anos depois, a decepção
Em 2010, o Internacional conquistava a América mais uma vez. Com um time mais confiável que o de quatro anos antes, o sonho do bicampeontato mundial pairava sobre os colorados. Até porque o adversário de uma provável final seria o Inter de Milão e não o temível Barcelona de Messi & Cia. Sérgio Nogueira novamente arrumou as malas e, acompanhado do irmão e do sobrinho, foi aos Emirados Árabes para ver o time de coração. No entanto, ao contrário da glória, veio a decepção. Havia o Mazembe, time da República do Congo, e a derrota por 2 a 0 doeu.
Diante do Mazembe, o professor viu a pior derrota
(Foto: Jefferson Bernardes / VIPCOMM)
(Foto: Jefferson Bernardes / VIPCOMM)
Rogério Ceni, Deco e Juninho: os "amigos" do português
Há seis anos no ar como o professor de gramática do "Soletrando", Sérgio Nogueira, de 62 anos, encontrou mais um prazer após tantos anos nas salas de aula. No quadro do programa "Caldeirão do Huck", é ele quem escolhe as palavras, determina os níveis de dificuldade e ainda se emociona com a história de vida e estudo dos alunos que participam. A cada ano, as crianças vão mais longe e enchem de orgulho o mestre: "A sorte é que a câmera não fica em cima de mim, porque o meu olho enche d'água."
Ao assistir às partidas de futebol, no entanto, ele se depara com outro parâmetro. As frases feitas e o "maltrato" à língua portuguesa são comuns nas entrevistas dos atletas e treinadores. Até por isso, não é difícil eleger os mais eruditos, que tratam o português com mais carinho.
- O que mais se destaca é o Rogério Ceni, goleiro do São Paulo. Juninho, do Vasco, e Deco, do Fluminense, também são articulados e bem acima da média. A maioria dos jogadores são repetitivos, com um vocabulário paupérrimo e erros grosseiros, principalmente de concordância - afirmou.
'Às vezes me pego torcendo pelo Grêmio contra times do Rio' (Foto: Thiago Quintella / Globoesporte.com)
Antes de ir para o Rio de Janeiro, em 1972, após se formar na faculdade, Sérgio Nogueira viveu momentos de atleta ainda no Rio Grande do Sul. Apesar de amante do futebol, foi com a bola nas mãos que se destacou e se federou no basquete. Integrou a seleção gaúcha do esporte em 1968 e enfrentou jogadores como Alberto Bial e Galvão Bueno pelo Campeonato Brasileiro daquele ano.
No Rio, porém, largou um pouco o basquete e disputava eventuais peladas no clube Piraquê com a pelota nos pés até poucos anos atrás. Apesar do sotaque que não deixa desmentir sua terra natal, já incorporou muito do cidadão carioca, principalmente na hora de torcer contra os rivais no futebol.
- Eu digo que a distância te faz mais gaúcho. No meu caso, me fez mais colorado. Um pouco menos antigremista talvez. Às vezes eu me pego torcendo pelo Grêmio contra certos times aqui do Rio - disse, em meio aos risos.
Clemer; Ceará, Índio, Fabiano Eller e Rubens Cardoso; Edinho, W.Monteiro, Alex (Vargas) e Fernandão (Adriano Gabiru); Alexandre Pato (Luiz Adriano) e Iarley | Valdes; Zambrotta (Beletti), Márquez, Puyol e Van Bronckhorst; Motta (Xavi), Iniesta e Deco; Giuly, Gudjohnsen (Ezquerro) e Ronaldinho |
Técnico: Abel Braga | Técnico: Frank Rijkaard |
Gol: Adriano Gabiru, aos 36 minutos do segundo tempo | |
Árbitro: Carlos Batres (Guatemala) |
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Local: Estádio Internacional de Yokohama (Japão) Data: 17/12/2006. Competição: Campeonato Mundial de Clubes da FIFA. Público: 67.128 presentes |
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