sábado, 9 de abril de 2011

Sem vaidade, Lincoln se diz feliz no Palmeiras e sonha com títulos

Meia alviverde rejeita rótulo de ídolo e fala em conquistar taças para minimizar sofrimento da torcida com tropeços passados

Por Julyana Travaglia São Paulo

Lincoln palmeiras (Foto: Julyana Travaglia / Globoesporte.com)Lincoln: sem vaidade, meia tenta se manter no time
(Foto: Julyana Travaglia / Globoesporte.com)

Lincoln não liga para o fato de ser ou não ídolo do Palmeiras. Avesso às badalações e ao status que é sonho de muitos jogadores, ele se diz um cara caseiro e sem vaidades. Aos 32 anos, o meia só quer saber de se manter no time - desde que chegou, no início de 2010, ele tem 38 jogos, sendo oito nesta temporada. E de conquistar títulos.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, o mineiro de São Braz do Suaçuí afirmou que não tem problemas com a diretoria, jogadores ou com Luiz Felipe Scolari. Após ter sido deixado de lado pelo técnico durante dois meses, diz que só pensa em se firmar no time e, quem sabe, jogar ao lado de Valdivia. O camisa 99 também explicou o imbróglio sobre a dívida que o clube tem com ele, dá época em que se desligou do Galatasaray-TUR. Ele confia que o presidente Arnaldo Tirone ainda vai pagar o que lhe deve.

Você teve muito sucesso na Alemanha e na Turquia. Como foi essa época?O que vivi na Alemanha e na Turquia... Aí vi o peso do que as pessoas viam em mim. Na Turquia assustava, não podia sair e ficava em lugares isolados nos restaurantes. Na Alemanha eu vivi a melhor fase da minha vida, sempre sendo lembrado em possíveis convocações. Havia o interesse que eu me naturalizasse, mas, como joguei na Seleção Brasileira Sub-20, não tinha como. Mas eles sempre falavam que deveria ser convocado no Brasil. Mas era uma loucura. Houve uma situação na Turquia em que eu estava num shopping e os funcionários de uma lanchonete pararam de trabalhar e começaram a gritar o meu nome. Eu não tenho vaidade no futebol, sou muito simples. E até por isso não entendia tudo aquilo. Mas recebi muito carinho quando joguei fora do Brasil. Faziam isso comigo, mas nunca me preparei para badalação. Comigo tinha a certeza de que não precisava daquilo, não mexia com meu ego. É claro que o reconhecimento me deixava feliz, mas queria que fosse só em campo.
Em momento algum pensei em deixar o Palmeiras. Sempre quis cumprir o meu contrato"
Lincoln

Você só foi convocado na base da Seleção. Ainda tem esperança de vestir a amarelinha?Nenhuma. Meu único objetivo é o Palmeiras. Em momento algum pensei em sair ou deixar o Palmeiras. Podem comprovar que nunca falei isso. Sempre quis permanecer e cumprir o meu contrato.

E como foram os anos até a saída do Galatasaray?Foi ótimo também, apesar do problema que tive em relação à vontade de sair. Eu assinei por quatro anos, mas só fiquei dois. Falei que não tinha mais vontade de ficar para o presidente, para ele me ajudar. Só que ele não quis, não foi simples, porque ele sabia que eu era importante para o clube. Tive dificuldades de adaptação porque já estava há sete anos fora do Brasil, estava cansado. Não conseguia mais depois de dois anos. Mas era bem tratado, não tenho nada para reclamar da Turquia, as pessoas tentam te ajudar de uma forma que mostra que podem fazer coisas quase impossíveis. Acho que tive um cansaço mental. Mas dentro de campo foi maravilhoso. No primeiro ano fomos campeões da Copa da Truquia e do Campeonato Turco. Fazia três anos que o time não ganhava nada. Eu fui eleito um dos melhores do campeonato, com o maior número de assistências. Só a saída foi conturbada pelo fato de o presidente não acertar, pois tinha feito um investimento alto (foram 5 milhões de euros).

Ainda sente dificuldades para se adaptar ao futebol brasileiro?
É muito diferente. Em alguns momentos ainda me sinto no processo de adaptação. O Alemão é disputadíssimo, mais de corpo a corpo, mas ainda técnico. O futebol turco é quase 90% de choque, não é muito técnico. Tive de passar por adaptação lá e aconteceu rápido. A volta ao Brasil foi com dificuldade, principalmente pelo calendário. Converso com Anselmo (Sbragia, preparador físico) e ele fala que é normal. Agora fiquei dois meses parado e senti. Foram três jogos seguidos e senti cansaço maior no terceiro. Na Europa nunca passei por isso. Aqui tem até 80 jogos no ano. Lá eram no máximo 50. Lá raramente treinávamos dois períodos. Mas não é desculpa. Pode falar com qualquer jogador que esteve fora.
Lincoln santos x palmeiras (Foto: Bruno Miani / ZDL)Lincoln em ação pelo Palmeiras  no clássico contra
o Santos (Foto: Bruno Miani / ZDL)

Você teve problemas de lesões no ano passado e jogou pouco. Foi uma primeira temporada frustrante?Eu esstava há oito meses parado por causa do processo para me desligar do Galatasaray. Cheguei em fevereiro (2010) e só joguei em março. Nunca tive lesões graves, mas tive problemas musculares que me fizeram parar por 15 dias, depois por três semanas, um mês. Na semifinal da Sul-Americana eu joguei machucado. Mas vincularam que não jogava porque tinha dinheiro para receber. Isso nunca aconteceu. Sei que meu rendimento poderia ter sido melhor, mas não adianta achar que vai chegar e as coisas acontecerem. Tudo tem seu momento. A Sul-Americana estava em nossas mãos, pelo menos a chance de chegar até a final. Isso me deixa frustrado.

O Palmeiras já lhe pagou o que deve por ter bancado a multa no Galatasaray?Eram quatro parcelas: abril, junho, setembro e novembro do ano passado. Faço questão de frisar que tive uma reunião com o presidente Arnaldo Tirone e com o vice Roberto Frizzo. As pessoas cansaram de falar que tinha problemas com a diretoria e isso não é verdade. Como que teria problemas se eles estão há menos de três meses? Nunca tinha conversado com a atual diretoria. Fiquei feliz quando o Tirone me chamou para conversar, ele sabe ouvir, é maravilhoso. Conversamos, acertamos, disse que queria ficar e ele falou que me queria no clube também. Ainda não falamos sobre o restante do pagamento (o Alviverde pagou somente a primeira parcela dos 1,5 milhão de euros que deve). Ele deixou claro que posso confiar neles e está tudo certo. Eu só ficava chateado quando falavam que eu não jogava porque não recebia, o que não era verdade.

O Felipão lhe deixou fora do time, mesmo quando estava recuperado das lesões. Alguma vez ele liberou você para procurar outro clube?Nunca ouvi isso da boca dele e nem da boca de ninguém. Por isso fiquei feliz quando o presidente quis conversar comigo. Eu era uma opção para o Felipão. Assim como ele não conversou comigo quando não me relacionava para os jogos, não falou nada também quando voltei. E acho isso normal. Temos uma relação profissional.
Virar ídolo é consequência de títulos"
Lincoln

Você tem contrato até o fim deste ano com o Palmeiras. Ainda dá para recuperar o tempo e conseguir um status de ídolo?Perguntaram-me isso na minha chegada. Fiz um esforço grande para jogar aqui. Isso mexeu comigo antes mesmo de vir. Algumas propostas eram financeiramente melhores (ele foi procurado por Flamengo, Cruzeiro e Atlético-MG na época). Na última hora teve a multa e paguei. Particularmente, sou feliz aqui. Agora ídolo é diferente, tem a ver com vaidade e ego. Única coisa que quero é ver o time vencer, fazer amizades e nunca inimizades. Virar ídolo é consequência de títulos. Prefiro ser campeão pelo fato de passar alegria para torcida.

O time é líder do Campeonato Paulista e a torcida está sedenta por títulos. Qual a receita para não frustrar o torcedor no estadual?É trabalho, porque não gosto dessa palavra da badalação. Uma receita é difícil de falar, mas estamos caminho certo. Temos como objetivos as vitórias, jogamos simples, é um time obediente e todo mundo joga para todo mundo. Agora é a hora de dar o algo mais e passar por cima de experiências ruins, como a Sul-Americana. Mas estamos no caminho certo.

O apelido pé de algodão lhe irrita?
(Risos) O Patrik é um moleque folgado, no bom sentido. Ele não falou que apanha todos os dias, né? Aí fica colocando apelidinhos. Ele fala isso porque eu chego no gol e não chuto forte. Nos treinos também, eu sempre quero colocar a bola. Essa é a minha característica. Mas não me incomodo porque o ambiente é muito bom.

Você acha que é possível jogar ao lado do Valdivia?Acho que sim, é viável. E por mais que Felipão dê uma ou outra declaração que não, isso pode acontecer. Nós ficamos na expectativa. Respeito, mas tenho certeza que no momento certo isso pode acontecer. Ele sabe das nossas qualidades e pode juntar as duas. Somos dois camisas 10. Ele mais para frente, do drible, e eu mais de dar um passo para trás, do toque de bola. Seguro mais para cadenciar.
Lincoln palmeiras (Foto: Divulgação / Jornal Correio de Minas)Lincoln é 'dirigente' de um time amador em São
Braz do Suaçui (Foto: Divulgação)

Você ajuda um time na sua cidade natal (São Braz do Suaçui, em Minas Gerais). Já é um cartola da equipe?É o Suaçuiense, time amador da cidade. Foi onde comecei minhas peladinhas até infantil e juvenil, quando já estava no Atlético-MG. Temos campo bem cuidado, e disputamos o campeonato regional, num raio de 100km. Ajudo os jogadores porque eles não têm salários. Eu pago as despesas com viagens, chuteiras, material esportivo, dou um bichinho quando tem um jogo difícil (risos), um lanche depois dos jogos e dou alguns palpites na escalação. O técnico é meu primo, e o Renato Mendes, que ganhou uma Copa São Paulo pelo Corinthians e depois se profissionalizou lá, também joga no time. Montamos um time forte para o campeonato, com alguns jogadores da cidade. Acompanho e quero sempre estar perto. Não tenho pretensão de trabalhar ligado ao futebol depois, mas admito que tenho facilidade para ser treinador ou manager. Mas agora só dou uma de Eurico (Miranda, ex-presidente do Vasco) e já está bom.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/palmeiras/noticia/2011/04/sem-vaidade-lincoln-se-diz-feliz-no-palmeiras-e-sonha-com-titulos.html

Nenhum comentário: