segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Memória falada: Sicupira conta causos da carreira e histórias com Garrincha




FUTEBOL


Ex-meia de Atlético-PR, Botafogo e Corinthians, Sicupira guarda poucos objetos da carreira, mas tem muitas histórias para contar. "Não tive nenhum desgosto no futebol"



Por
Curitiba



Jogadores de futebol costumam guardar camisas, chuteiras, faixas, fotos e outros materiais, que servem para contar suas histórias no futebol. Sicupira, maior artilheiro da história do Atlético-PR e com passagens por Botafogo e Corinthians, é a exceção que foge à regra. Não guarda muitos objetos de sua carreira. Tem em casa, em um bairro próximo ao centro de Curitiba, apenas uma camisa (presente dado pelo Furacão em 2011), dois quadros, dois álbuns de fotos e mais alguns poucos materiais. Barcímio Sicupira Júnior, hoje com 72 anos, talvez prefira ele mesmo contar suas histórias, sem depender de mais nada além da memória.

- O pessoal vinha aqui, pedia camisa para alguma gincana e acabava não devolvendo - explicou, aos risos, antes de conceder a entrevista ao GloboEsporte.com.

A falta de objetos antigos não apaga o passado do ex-meia. Ele começou a carreira no Ferroviário (uma dos clubes que formou o Paraná Clube posteriormente) no início dos anos 60. Depois, passou por Botafogo, Botafogo-SP, Atlético-PR e Corinthians. Voltou para o Rubro-Negro paranaense e, em 1975, pendurou as chuteiras com apenas 31 anos de idade.

Mais de quatro décadas depois, Sicupira guarda muitas lembranças, muitas histórias e muitos causos de sua carreira. Conta, por exemplo, o dia em que ficou com apenas metade do bigode. Ou quando participou de uma excursão que terminou com o time - formado por ex-atletas - festejando uma vitória em uma casa de entretenimento adulto (assista no vídeo clicando no LINK da FONTE no final da matéria abaixo).

Sicupira teve passagem por Ferroviário, Botafogo, Botafogo-SP, Atlético-PR e Corinthians. Hoje, é comentarista esportivo.

Entre tantos gols, vitórias e histórias, Sicupira diz ser impossível eleger o momento mais emocionante. Por outro lado, afirma não lembrar do pior momento. Admite o sofrimento após algumas derrotas, mas garante que só guarda "lembranças boas". O ex-meia, porém, não titubeia ao ser questionado sobre o melhor jogador com quem teve a chance de atuar:

- O melhor jogador com que eu joguei, para mim, foi o Garrincha porque ele, depois do Pelé, é o segundo melhor jogador do mundo na minha opinião. Ele fazia coisas incríveis com a bola e coisas que a gente realmente nunca tinha visto. Às vezes, você deixava de jogar para ficar apreciando o que o Garrincha fazia. Então, tive a grande honra de jogar com ele, assim como com Rivelino, Gerson, Zagallo, Nilton Santos... e contra os outros. Pelé e companhia limitada.

Sicupira jogava com Garrincha no Botafogo dos anos 60. Aquele time, aliás, contava com outros craques do futebol brasileiro: Manga, Nilton Santos, Gerson, Didi, Jairzinho, Zagallo e companhia. Sicupira aponta aquele como o melhor time onde ele jogou e lembra como era conviver com jogadores que formavam a base da Seleção brasileira:

- Eu joguei em um dos maiores times do mundo, o Botafogo de 64. Eram sete jogadores da Seleção brasileira. E jogadores titulares da Seleção brasileira. E se eu consegui me intrujar (me intrometer) naquele meio ali, para mim foi uma vitória, né? Aí eu comecei a... Na verdade, nunca deixei de acreditar em mim. Eu treinava muito, terminava o treino comum e ia treinar chute a gol, uma porção de coisas para cada vez me aperfeiçoar mais. Essa era a vontade que você tinha de fazer a coisa certa e deu certo, né? Não tive desgosto no futebol.

Sicupira Atlético-PR (Foto: Gabriela Ribeiro)
Sicupira exibe os poucos objetos que ainda 
guarda: quadro e camisa do Atlético-PR
 (Foto: Gabriela Ribeiro)


Assim, com poucos materiais, mas com muito papo, Sicupira vai contando suas histórias. Ele, inclusive, planeja reuni-las em um livro de memórias. E, embora tenha tantas recordações, não quer ser o autor desta obra. Sicupira busca alguém para imprimir no papel aquilo que guarda no coração.


Confira outros trechos da entrevista de Sicupira ao GloboEsporte.com

Não dá para você narrar. É uma hora em que o cara não pensa em dinheiro. Aquele ambiente e aquela festa já são suficientes 
Sicupira sobre momentos alegres

GloboEsporte.com: Qual a maior alegria da sua carreira?

Sicupira:
 Ah, é difícil. É difícil porque cada vitória, cada jogo que você ganha, cada gol que você faz é uma satisfação, é uma coisa que não dá para você narrar para uma pessoa com quem isso nunca aconteceu, de ficar sabendo da reação da torcida porque aquilo é prazeroso. É uma hora em que o cara não pensa em dinheiro. Aquele ambiente e aquela festa já são suficientes.

Qual o melhor jogador com quem você atuou?
Tive companheiros famosos, como Garrincha, Rivelino no Corinthians, aqui no Atlético o Alfredo e o Nilson (Borges), uma porção de gente boa. Então, dizer o melhor, o melhor jogador com quem eu joguei, para mim, foi o Garrincha porque ele é, depois do Pelé, o segundo melhor jogador do mundo porque ele fazia coisas incríveis com a bola, coisas que a gente realmente nunca tinha visto. Eu, que passei a treinar com ele depois... às vezes você deixava de jogar para ficar apreciando o que o Garrincha fazia. Então, tive a grande honra de jogar com ele.

Você trabalhou como técnico depois de pendurar as chuteiras. Como foi essa experiência?
Eu parei de jogar muito cedo, com 31 anos, por problemas de não receber pagamento. Mas eu nunca me afastei do esporte, tanto que eu dei aula de educação física por toda a minha vida. Eu pretendia continuar, mas não da forma como foi. Eu comecei errado. Não podia começar no Atlético. Tinha que começar em outro time ou começar na base, que era o meu sonho. Eu via já naquele tempo e dizia que a base era a esperança do futebol. Então, eu queria trabalhar com a base, tenho certeza que me daria bem, mas nunca recebi um convite nem do Atlético, onde encerrei a carreira, nem de outros lugares.

Sicupira Atlético-PR (Foto: Gabriela Ribeiro)
Sicupira sobre o futebol atual: "Com certeza, 
eu teria mais facilidade para jogar" 
(Foto: Gabriela Ribeiro)


Como é acompanhar o futebol hoje, após ter jogado ao lado de nomes como Garrincha?
Eu acompanhei a evolução do futebol tecnicamente dentro de campo. Eu jogava em uma posição em que a marcação não era tão vigilante, tão apertada. Atravessei o período quando o volante começou a marcar o atacante que saía. Então, comecei a ter que ir para os cantos para me colocar de uma forma melhor. Essa é uma das evoluções. Aí depois você acompanha outras assistindo futebol na televisão, assistindo ao vivo e comentando, você tem que prestar atenção nas nuances táticas e gosto disso. E, para mim, é muito fácil. 4-4-2, 4-3-3, 3-5-2... Tudo isso é um formato para começar. Quando começa, você ataca com sete, defende com oito. São coisas que o futebol apresenta, e você tem que estar preparado para tudo.

Quando está assistindo aos jogos, consegue imaginar como seria o Sicupira em campo?Eu não sei, mas, com certeza, teria mais facilidade, até pelo material. Você jogar na Arena fechada em dia de chuva... A gente jogava na chuva, tinha poça d'água e você tinha que ter técnica até para jogar no gramado molhado. Hoje, por exemplo, se for no Atlético, você não vai jogar em gramado molhado em casa. Então, com certeza, eu teria mais facilidade para jogar.


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FONTE:
http://globoesporte.globo.com/pr/futebol/noticia/2017/01/memoria-falada-sicupira-conta-causos-da-carreira-e-historias-com-garrincha.html

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