Dono
de três medalhas olímpicas e mais de 150 conquistas no vôlei de praia,
Emanuel é muito respeitado e tido como referência no mundo do esporte.
Mas, ao longo de seus 25 anos de carreira, até mesmo o "Rei" já passou
por inúmeras dificuldades e histórias curiosas que seus fãs nem fazem
ideia. Após tomar uma dura decisão e fazer sua última participação em
quadra no Grand Slam do Rio de Janeiro
(LEIA MAIS), ele abriu seu baú de memórias, relembrou algumas delas e contou com detalhes os seus cinco melhores "causos".
Confira abaixo os melhores "causos" contados pelo próprio Emanuel:
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Nas quartas de final das Olimpíadas de Atenas, em 2004, esqueceram da
gente (risos). Nosso jogo, por alguma razão, era sempre o último da
rodada, bem tarde da noite. Teve uma vez que era para começar 21h30,
acabou que tudo foi atrasando e fomos jogar lá pelas 23h. Ganhamos de 2 a
0 e acabou bem depois de meia-noite. Fomos para o vestiário, estávamos
tomando banho, conversando, tranquilos, e aí de repente ficou tudo muito
quieto, muito silencioso. Quando saímos, todas as luzes da arena
estavam apagadas, os corredores estavam apagados, ninguém por lá.
Perguntei: "O que está acontecendo, Ricardo?". Ele disse: "Não, não, com
certeza tem alguém aí".
Emanuel e Ricardo foram esquecidos na arena
de Atenas (Foto: Mario Alberto)
-
Fomos no local das vans. Nenhum carro parado, nada, nada. Só os
seguranças estavam por lá. Perguntamos e eles se limitaram a dizer:
"Foram embora". Ficamos 15, 20 minutos esperando. Nada. De repente vem
um cidadão com a roupa do Brasil. Era o Renzo Agresta, da esgrima.
Perguntamos: "O que você está fazendo aqui?". Ele explicou que tinha
perdido o transporte também e não tinha como chegar na Vila. Falei:
"Então senta aqui do meu lado" (risos). Ficamos nós três sentados no
meio-fio, esperando, esperando, esperando... Deu 1h, 1h30... Enfim, vem
uma van da competição com o nosso diretor, o Marcelinho (Wrangler),
falando: "Procurei vocês na Vila e disseram que não estavam lá". Enfim,
ele nos levou para lá. Normalmente, os Jogos acabavam 22h30, então eu
até entendo essa confusão (risos).
-
Estávamos eu e Ricardo, tínhamos acabado de chegar na China, e o hotel
ficava a uma hora e meia do aeroporto de Xangai. Estávamos eu, ele e um
jogador japonês no fundo da van. Saindo do aeroporto pegamos uma
autoestrada, e o motorista começou a ir para o acostamento e voltar, ir
para o acostamento e voltar... Aí falei com o Ricardo: "A próxima vez
que ele for para o acostamento, vou pedir para dirigir". Ele riu. Quando
ele fez, toquei nele, ele encostou no acostamento e fiz um gesto para o
volante. Ele olhou para trás, mostrei minha carteira, e ele olhando sem
entender, com aquela cara de chinês (risos), e resolveu me dar o lugar.
Comecei a dirigir, e o japonês no fundo dando risada, sem entender
muito. O Ricardo gargalhando, e o motorista do meu lado. Ele estava
realmente com sono, mas, de repente, começou a encostar no meu banco,
rir muito e fazer positivo para o japonês e para o Ricardo. Ele pegava
um chá dele com um cheiro terrível, tomava, e eu dirigindo.
Emanuel já pilotou até van na China
(Foto: Mario Alberto)
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Lá, quando você chega perto do hotel, vai ficando menor a estrada. Você
pega a autoestrada, vai diminuindo e fica numa estrada bem vicinal.
Muitas pessoas estavam andando na pista, eu fui devagar e tal e ele me
interrompia e dizia: "No, no, no". E tocava a buzina forte. Ele apontava
a buzina e apertava forte. Depois ria demais. Perguntei para o Ricardo:
"Esse cara não estava com sono não?". Ele só ria. Quando estava
chegando no hotel, na porta, estavam Isabel e Adriana Behar. Eu buzinei
para elas, cheguei dirigindo, e elas ficaram se perguntando o que tinha
acontecido. Aí depois contei toda a história. Acredita nisso? O mais
importante foi conseguir fazer ele entender que eu tinha a carteira,
queria dirigir e ele ainda me deixar.
03
COMIDA NO CIRCUITO MUNDIAL
-
Eram duas etapas seguidas na China. Mandei um e-mail para o meu
assessor dizendo que não dava mais. Comecei no futuro a levar saco de
leite em pó, proteína, saco de achocolatado daqui para lá. Não provei
essas coisas de rua não, mas teve uma, ainda com o Ricardo, quando fomos
num restaurante fora do hotel que tinha uma faixa: "Bem-vindos atletas
do vôlei de praia". Decidimos entrar. Chegamos, sentamos, e veio um
garçom dizendo que tinha uma comida especial para a gente. Agradeci.
Eram dois potinhos fechados. O garçom do meu lado, sorrindo e fazendo um
gesto para provarmos.
Sopinha com pé de galinha? Emanuel ganhou
esse "presente" na China (Foto: Mario Alberto)
-
De repente, quando abrimos a tampa da porcelana, era uma sopa. Parecia
uma água, e tinha uma pé de galinha imenso, com as unhas bem grandes,
olhando para mim, olhando para ele (risos)... E o garçom todo feliz,
dizendo que era uma homenagem. Queriam que a gente provasse. Coloquei o
potinho na boca só para agradar ele e veio aquele pé de galinha na minha
cara, agradeci e falei que não dava, era impossível. E o Ricardo nem
tocou no dele.
04
DIVIDINDO QUITINETE EM JOÃO PESSOA
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Foi um momento interessante. Na época, eu jogava com o Aloísio. José
Marco jogava com o Paulo Emílio. Eles tinham acabado de ganhar quatro
etapas do Circuito Brasileiro, eram os primeiros do ranking,
dominavam... E o Paulo na etapa de Maceió me perguntou com quem eu ia
jogar a próxima etapa, porque o Aloísio anunciou que estava machucado e
não poderia jogar. Ele me falou: "Então vamos ali no meu quarto". Eu não
os conhecia direito. Quando ele chegou lá, disse: "Zé Marco,
infelizmente vou ter que voltar para Salvador. Você quer jogar com o
Emanuel?". Fiquei meio assim... Eles tinham acabado de ganhar, eram
líderes. A etapa seguinte seria em Salvador. Então ele topou. Fui para
João Pessoa. O local onde o Paulo Emílio treinava era onde ele dormia,
onde fazia tudo, e eu simplesmente entrei nesse apartamento com o
Ernesto (Vogado, hoje técnico) e outras pessoas. Eu era uma peça de
reposição para o Paulo.
O "Rei" do vôlei de praia sofreu com o sal da
carne de charque de Ernesto Vogado
(Foto: Mario Alberto)
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Eu morava com o Ernesto. Ele era bom cozinheiro, inventava umas
comidas. Eu não me arriscava na cozinha, cuidava mais da
"infraestrutura", do "administrativo": lavava os pratos, cuidava da
limpeza, ia no mercado, fazia compras... Na realidade, eu fazia arroz
(risos). Eu lembro de quando ele resolveu que ia fazer uma carne de
charque. Era uma peça salgada lá, ele fez. Eu fiz arroz, Cajá fez o suco
e fomos comer. Salgado pra caramba. Perguntamos: "vem cá, você tirou o
sal?". Ele não respondeu. E aí era água, água, água... Depois de um
tempo ele se revelou, disse: "o negócio é o seguinte, minha mãe me
ensinou, mas eu esqueci de tirar o sal".
05
GAROTO ABUSADO X LENDAS AMERICANAS
-
Foi uma experiência muito diferente. Eu tinha 17 anos e jogava com
outro jogador do Paraná. Na semana do Campeonato Mundial, estávamos no
Rio e aproveitamos para ficar assistindo aos treinos das duplas
estrangeiras. Estávamos vendo (Sinjin) Smith e (Randy) Stoklos
(lendários jogadores que dominaram os anos 80 e 90 na praia). Eles
tinham começado há uns 15 minutos e, de repente, o técnico deles aponta
pra gente, faz um gesto e, em inglês, chama a gente. Não entendi muito
bem, não falava nada (risos), mas desci para a quadra. Entendi que era
para jogar com eles. Começamos a jogar. Nessa época, eu e Clézio éramos
bem magros e muito rápidos, porque jogávamos vôlei de quadra, e as bolas
eram mais chutadas, mais rápidas lá. Começou o jogo, fomos indo e eles
começaram a se surpreender com a gente, nós nos empolgamos. Éramos um
time jovem.
Emanuel encarou os poderosos Smith e Stoklos
no Rio, ainda jovem (Foto: Mario Alberto)
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Quando o jogo estava 11 a 11, a gente jogando bem, uma hora o técnico
disse: "Let's go". Aí o Stoklos foi para o saque, olhou para nós do
outro lado e começou: fez um saque forte na minha linha. Ace. 12/11. Um
ace do lado do Clézio. 13/11. Fez um saque no meio. 14/11. Outra bola.
Passou e eu não consegui. Pronto. Acabou o jogo como se fosse uma
brincadeira de criança para ele. E nós estávamos como? Superempolgados.
Foi muito interessante para mim. Depois demos uma entrevista para a
Globo e me perguntaram: "Como foi jogar com os campeões mundiais? Vocês
assustaram eles?". Eu disse na entrevista: "Ah, a gente jogou, mas eles
não são tudo isso" (risos). Foi interessante porque depois dali passei a
ver o esporte de forma diferente e a acompanhar mais o trabalho deles.
Fiquei sabendo que o Stoklos, na época, treinava 300 saques, 300
levantamentos, 300 passes... Pensei: "Será que essa é a maneira certa de
treinar?". Ano passado estávamos eu e Ricardo na etapa de Long Beach,
fizemos um certo número de torneios juntos, e a CBV fez uma filmagem com
cada um deles. O Stoklos disse que me conheceu com 17 anos e que se
surpreendeu e falou para o Sinjin que eu ia chegar lá.
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FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei-de-praia/noticia/2016/03/esquecidos-em-atenas-piloto-de-van-na-china-os-5-causos-de-emanuel.html
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