sábado, 12 de março de 2016

Esquecidos em Atenas, piloto de van na China... Os 5 "causos" de Emanuel


Com aposentadoria marcada para o Grand Slam do Rio de Janeiro, multicampeão relembra momentos marcantes da carreira de 25 anos. Confira os mais curiosos!




Por
Rio de Janeiro, RJ






Dono de três medalhas olímpicas e mais de 150 conquistas no vôlei de praia, Emanuel é muito respeitado e tido como referência no mundo do esporte. Mas, ao longo de seus 25 anos de carreira, até mesmo o "Rei" já passou por inúmeras dificuldades e histórias curiosas que seus fãs nem fazem ideia. Após tomar uma dura decisão e fazer sua última participação em quadra no Grand Slam do Rio de Janeiro (LEIA MAIS), ele abriu seu baú de memórias, relembrou algumas delas e contou com detalhes os seus cinco melhores "causos".


Confira abaixo os melhores "causos" contados pelo próprio Emanuel:

01
ESQUECIDOS EM ATENAS
- Nas quartas de final das Olimpíadas de Atenas, em 2004, esqueceram da gente (risos). Nosso jogo, por alguma razão, era sempre o último da rodada, bem tarde da noite. Teve uma vez que era para começar 21h30, acabou que tudo foi atrasando e fomos jogar lá pelas 23h. Ganhamos de 2 a 0 e acabou bem depois de meia-noite. Fomos para o vestiário, estávamos tomando banho, conversando, tranquilos, e aí de repente ficou tudo muito quieto, muito silencioso. Quando saímos, todas as luzes da arena estavam apagadas, os corredores estavam apagados, ninguém por lá. Perguntei: "O que está acontecendo, Ricardo?". Ele disse: "Não, não, com certeza tem alguém aí".


ILUSTRAÇÃO Vôlei de praia Emanuel 01 (Foto: Mario Alberto)
Emanuel e Ricardo foram esquecidos na arena 
de Atenas (Foto: Mario Alberto)


- Fomos no local das vans. Nenhum carro parado, nada, nada. Só os seguranças estavam por lá. Perguntamos e eles se limitaram a dizer: "Foram embora". Ficamos 15, 20 minutos esperando. Nada. De repente vem um cidadão com a roupa do Brasil. Era o Renzo Agresta, da esgrima. Perguntamos: "O que você está fazendo aqui?". Ele explicou que tinha perdido o transporte também e não tinha como chegar na Vila. Falei: "Então senta aqui do meu lado" (risos). Ficamos nós três sentados no meio-fio, esperando, esperando, esperando... Deu 1h, 1h30... Enfim, vem uma van da competição com o nosso diretor, o Marcelinho (Wrangler), falando: "Procurei vocês na Vila e disseram que não estavam lá". Enfim, ele nos levou para lá. Normalmente, os Jogos acabavam 22h30, então eu até entendo essa confusão (risos).


02
PONTO DE VAN NA CHINA

- Estávamos eu e Ricardo, tínhamos acabado de chegar na China, e o hotel ficava a uma hora e meia do aeroporto de Xangai. Estávamos eu, ele e um jogador japonês no fundo da van. Saindo do aeroporto pegamos uma autoestrada, e o motorista começou a ir para o acostamento e voltar, ir para o acostamento e voltar... Aí falei com o Ricardo: "A próxima vez que ele for para o acostamento, vou pedir para dirigir". Ele riu. Quando ele fez, toquei nele, ele encostou no acostamento e fiz um gesto para o volante. Ele olhou para trás, mostrei minha carteira, e ele olhando sem entender, com aquela cara de chinês (risos), e resolveu me dar o lugar. Comecei a dirigir, e o japonês no fundo dando risada, sem entender muito. O Ricardo gargalhando, e o motorista do meu lado. Ele estava realmente com sono, mas, de repente, começou a encostar no meu banco, rir muito e fazer positivo para o japonês e para o Ricardo. Ele pegava um chá dele com um cheiro terrível, tomava, e eu dirigindo.


ILUSTRAÇÃO Vôlei de praia Emanuel 02 (Foto: Mario Alberto)
Emanuel já pilotou até van na China 
(Foto: Mario Alberto)


- Lá, quando você chega perto do hotel, vai ficando menor a estrada. Você pega a autoestrada, vai diminuindo e fica numa estrada bem vicinal. Muitas pessoas estavam andando na pista, eu fui devagar e tal e ele me interrompia e dizia: "No, no, no". E tocava a buzina forte. Ele apontava a buzina e apertava forte. Depois ria demais. Perguntei para o Ricardo: "Esse cara não estava com sono não?". Ele só ria. Quando estava chegando no hotel, na porta, estavam Isabel e Adriana Behar. Eu buzinei para elas, cheguei dirigindo, e elas ficaram se perguntando o que tinha acontecido. Aí depois contei toda a história. Acredita nisso? O mais importante foi conseguir fazer ele entender que eu tinha a carteira, queria dirigir e ele ainda me deixar.


03
COMIDA NO CIRCUITO MUNDIAL 


- Eram duas etapas seguidas na China. Mandei um e-mail para o meu assessor dizendo que não dava mais. Comecei no futuro a levar saco de leite em pó, proteína, saco de achocolatado daqui para lá. Não provei essas coisas de rua não, mas teve uma, ainda com o Ricardo, quando fomos num restaurante fora do hotel que tinha uma faixa: "Bem-vindos atletas do vôlei de praia". Decidimos entrar. Chegamos, sentamos, e veio um garçom dizendo que tinha uma comida especial para a gente. Agradeci. Eram dois potinhos fechados. O garçom do meu lado, sorrindo e fazendo um gesto para provarmos.

 
ILUSTRAÇÃO Vôlei de praia Emanuel 03 (Foto: Mario Alberto)
Sopinha com pé de galinha? Emanuel ganhou 
esse "presente" na China (Foto: Mario Alberto)



- De repente, quando abrimos a tampa da porcelana, era uma sopa. Parecia uma água, e tinha uma pé de galinha imenso, com as unhas bem grandes, olhando para mim, olhando para ele (risos)... E o garçom todo feliz, dizendo que era uma homenagem. Queriam que a gente provasse. Coloquei o potinho na boca só para agradar ele e veio aquele pé de galinha na minha cara, agradeci e falei que não dava, era impossível. E o Ricardo nem tocou no dele.


04
DIVIDINDO QUITINETE EM JOÃO PESSOA

- Foi um momento interessante. Na época, eu jogava com o Aloísio. José Marco jogava com o Paulo Emílio. Eles tinham acabado de ganhar quatro etapas do Circuito Brasileiro, eram os primeiros do ranking, dominavam... E o Paulo na etapa de Maceió me perguntou com quem eu ia jogar a próxima etapa, porque o Aloísio anunciou que estava machucado e não poderia jogar. Ele me falou: "Então vamos ali no meu quarto". Eu não os conhecia direito. Quando ele chegou lá, disse: "Zé Marco, infelizmente vou ter que voltar para Salvador. Você quer jogar com o Emanuel?". Fiquei meio assim... Eles tinham acabado de ganhar, eram líderes. A etapa seguinte seria em Salvador. Então ele topou. Fui para João Pessoa. O local onde o Paulo Emílio treinava era onde ele dormia, onde fazia tudo, e eu simplesmente entrei nesse apartamento com o Ernesto (Vogado, hoje técnico) e outras pessoas. Eu era uma peça de reposição para o Paulo.


ILUSTRAÇÃO Vôlei de praia Emanuel 04 (Foto: Mario Alberto)
O "Rei" do vôlei de praia sofreu com o sal da 
carne de charque de Ernesto Vogado 
(Foto: Mario Alberto)


- Eu morava com o Ernesto. Ele era bom cozinheiro, inventava umas comidas. Eu não me arriscava na cozinha, cuidava mais da "infraestrutura", do "administrativo": lavava os pratos, cuidava da limpeza, ia no mercado, fazia compras... Na realidade, eu fazia arroz (risos). Eu lembro de quando ele resolveu que ia fazer uma carne de charque. Era uma peça salgada lá, ele fez. Eu fiz arroz, Cajá fez o suco e fomos comer. Salgado pra caramba. Perguntamos: "vem cá, você tirou o sal?". Ele não respondeu. E aí era água, água, água... Depois de um tempo ele se revelou, disse: "o negócio é o seguinte, minha mãe me ensinou, mas eu esqueci de tirar o sal".


05
GAROTO ABUSADO X LENDAS AMERICANAS

- Foi uma experiência muito diferente. Eu tinha 17 anos e jogava com outro jogador do Paraná. Na semana do Campeonato Mundial, estávamos no Rio e aproveitamos para ficar assistindo aos treinos das duplas estrangeiras. Estávamos vendo (Sinjin) Smith e (Randy) Stoklos (lendários jogadores que dominaram os anos 80 e 90 na praia). Eles tinham começado há uns 15 minutos e, de repente, o técnico deles aponta pra gente, faz um gesto e, em inglês, chama a gente. Não entendi muito bem, não falava nada (risos), mas desci para a quadra. Entendi que era para jogar com eles. Começamos a jogar. Nessa época, eu e Clézio éramos bem magros e muito rápidos, porque jogávamos vôlei de quadra, e as bolas eram mais chutadas, mais rápidas lá. Começou o jogo, fomos indo e eles começaram a se surpreender com a gente, nós nos empolgamos. Éramos um time jovem.


ILUSTRAÇÃO Vôlei de praia Emanuel 05 (Foto: Mario Alberto)
Emanuel encarou os poderosos Smith e Stoklos 
no Rio, ainda jovem (Foto: Mario Alberto)


- Quando o jogo estava 11 a 11, a gente jogando bem, uma hora o técnico disse: "Let's go". Aí o Stoklos foi para o saque, olhou para nós do outro lado e começou: fez um saque forte na minha linha. Ace. 12/11. Um ace do lado do Clézio. 13/11. Fez um saque no meio. 14/11. Outra bola. Passou e eu não consegui. Pronto. Acabou o jogo como se fosse uma brincadeira de criança para ele. E nós estávamos como? Superempolgados. Foi muito interessante para mim. Depois demos uma entrevista para a Globo e me perguntaram: "Como foi jogar com os campeões mundiais? Vocês assustaram eles?". Eu disse na entrevista: "Ah, a gente jogou, mas eles não são tudo isso" (risos). Foi interessante porque depois dali passei a ver o esporte de forma diferente e a acompanhar mais o trabalho deles. Fiquei sabendo que o Stoklos, na época, treinava 300 saques, 300 levantamentos, 300 passes... Pensei: "Será que essa é a maneira certa de treinar?".  Ano passado estávamos eu e Ricardo na etapa de Long Beach, fizemos um certo número de torneios juntos, e a CBV fez uma filmagem com cada um deles. O Stoklos disse que me conheceu com 17 anos e que se surpreendeu e falou para o Sinjin que eu ia chegar lá.


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FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei-de-praia/noticia/2016/03/esquecidos-em-atenas-piloto-de-van-na-china-os-5-causos-de-emanuel.html

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