Em última semana da carreira, maior jogador do vôlei de praia disputa o Grand Slam do Rio de Janeiro e admite que reserva nos Jogos pesou na hora de tomar decisão
Por João Gabriel Rodrigues
Rio de Janeiro
Cada passo ganha o peso de ser o último. Nesta
segunda-feira, Emanuel acordou antes do normal para o treino. Na cabeça, o
pensamento de se despedir de cada detalhe que fez parte de sua rotina nos
últimos 25 anos. No Grand Slam do Rio de Janeiro, disputado nesta semana nas
areias de Copacabana, o maior nome da história do vôlei de praia dá adeus com a
missão de eternizar cada momento.
Aos 42 anos, Emanuel anunciou a aposentadoria das areias.
Escalado como reserva para os Jogos Olímpicos do Rio, em agosto, preferiu
evitar a espera pelo chamado e adiantou o adeus. Com as principais duplas do
mundo na disputa, o Grand Slam do Rio serve como despedida à altura do campeão.
E, por isso, cada momento tem um sentimento diferente.
Emanuel se despede das areias nesta semana
(Foto: João Gabriel Rodrigues)
-
Tudo pela última vez. Acordei mais cedo, tomei meu café e
fui para o treino antes das 9h. Comecei a pensar que a rotina vai
acabar. Tive
o último bate-papo, amanhã (terça) vou fazer o último treino
preparatório. Cada
segundo vai se eternizar. As pessoas não sabem nem o que dizer. Chegam
perto de
mim e não sabem o que falar. É uma sensação diferente, mas entendo.
Entendo
meus amigos, a organização. Cada momento agora vale por mil segundos -
disse, durante coletiva de imprensa do evento, ao lado de Ricardo e da
dupla Duda e Elize Maia.
A cobrança, ele diz, vem a todo momento. Pegas de surpresa,
pessoas que fazem parte da rotina de Emanuel se assustaram com o anúncio da
aposentadoria.
- No dia seguinte do anúncio, já foi difícil. Até o porteiro
do meu prédio olhou para mim e disse: “Vai parar? Por que não disse antes?”.
Essas coisas não são assim, tem que tomar uma decisão e firmar. Sei que as
pessoas querem demonstrar o carinho, mas também sei que as pessoas queriam que
eu continuasse jogando. E eu também gostaria. Mas acho que esse é o momento,
parar em alto nível, atual campeão brasileiro. Gostaria de manter minha
carreira reta e da melhor forma possível. Disse para um tio que ia parar, e ele
me disse: “Pois pare. Eu quero que meu herói continue sendo meu herói”. Eu não
gostaria de chegar
Grand Slam do Rio começa nesta
terça-feira, com a fase classificatória
(Foto: João Gabriel Rodrigues)
O fato de estar escalado para a reserva dos Jogos do Rio
também pesou. Emanuel não queria passar pela situação de ter de esperar que
alguém se machucasse para poder disputar mais uma edição das Olimpíadas. Nos
Jogos, o Brasil será representado por Bruno Schmidt/Alison e Evandro/Pedro
Solberg.
- Eu não gostaria de ficar na torcida para alguém se
machucar para poder jogar as Olimpíadas. Isso não está na minha nobreza, não
tenho esse sentimento. Sempre fui muito estrategista. Pensei: sou reserva. Para
jogar, alguém tem de se machucar. Se eu não jogasse as Olimpíadas, o próximo
grande evento seria o Mundial em 2017. Ou seja, teria de ficar um ano
esperando.
Emanuel vai dar adeus às areias ao lado do parceiro Ricardo.
E o amigo, que ainda não sabe como será após o Grand Slam, disse estar pronto
para ajudar a fazer com que a despedida seja a melhor possível.
- Primeiro, estou tentando curtir ao máximo essa semana e,
depois, me programar. Foi uma surpresa para todos que estão envolvidos no vôlei
de praia. Mas é uma decisão que só o atleta tem essa coragem de tomar. Acredito
que ainda sou meio covarde nesse lado (risos). Não quero pensar no futuro,
quero pensar no momento, ajudar da melhor forma.
As areias de Copacabana já deram alegrias a Emanuel. Em
1997, ao lado de Loiola, foi campeão do Grand Slam disputado na praia carioca.
Fazer a despedida no local, segundo ele, é especial.
- Para mim, Copacabana tem muito simbolismo. Não só por ser
a praia mais famosa do Rio de Janeiro, mas pela a importância para o vôlei de
praia. Eu lembro que tudo começou aqui, os grandes eventos lotavam. É gostoso
lembrar disso, que já fui vitorioso aqui. Tem uma mística que me faz muito bem.
O Grand Slam do Rio tem início nesta terça-feira, com a fase
classificatória. A fase de grupos, disputada na quarta e na quinta, definirá as
duplas classificadas para o mata-mata, na sexta-feira. As quartas e semifinais
serão realizadas no sábado, enquanto a final e a disputa do terceiro lugar
serão jogadas no domingo.
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