Vice mundial duas vezes, cearense usa infância pobre como aprendizado para superar lesões e falta de patrocínio. Na Gold Coast, encara algoz Steph Gilmore
Silvana Lima na Gold Coast, Austrália
(Foto: Felipe Siqueira)
Vice-campeã mundial em 2008 e 2009, Silvana Lima conquistou o direito de retornar ao CT (antigo WCT) em 2015 após se qualificar em primeiro na divisão de acesso (QS) do ano passado. Mas para isso, a cearense de 30 anos precisou superar muitas dificuldades.
Silvana Lima celebra vitória no QS de Galícia, em 2014 (Foto: Divulgação)
Fotos: conheça as surfistas da elite
- Foi difícil correr todas as etapas do QS. Não consegui um patrocínio principal para me ajudar. As passagens são muito caras. O Real para trocar para Dólar tá complicado… Tive que botar dinheiro do meu próprio bolso para chegar aonde cheguei hoje. Tive que vender um apartamento no Rio, vendi meu carro… Minha cadelinha teve seis filhotes. E foi o que me ajudou a comprar passagem e hospedagem para a Europa. E lá acabei vencendo na Espanha e garantindo a vaga.
Silvana Lima brinca com seus cachorros
(Foto: Reprodução)
lesões e falta de patrocínio
- O ano de 2013 foi muito difícil, porque eu estava voltando das cirurgias, estava sentindo muito o joelho. Eu não estava nem treinando para as baterias. E quando eu chegava até as quartas de final, já começava a ficar dolorida e não conseguia surfar mais. Quando você começa a sentir dor, seu psicológico não fica bem, então foi bem difícil. Mas foi um ano de aprendizagem.
Surfista
mostra cicatrizes das operações nos
joelhos. Rompeu ligamentos cruzado
anterior do joelho esquerdo duas vezes,
em 2007 e 2011, e do direito uma
vez, em
2012 (Foto: Felipe Siqueira)
vaquinha online e ajuda de fernanda lima
- Me ajudou um pouco. Mas não foi o que esperava. Só consegui dinheiro para correr a primeira etapa na Austrália. Depois os depósitos diminuíram e eu tive que botar meu dinheiro.
Depois, vislumbrou a ajuda da apresentadora Fernanda Lima, fã de surfe, praticante de bodyboard e que, apesar do sobrenome, não é parente dela. Em outubro do ano passado, a modelo a convidou para participar de seu programa de TV. Mas a data batia com uma etapa do calendário, e a surfista precisaria pagar uma multa se não participasse. Fernanda ficou então de repetir o convite em outra ocasião e também de ajudar na procura de patrocinadores.
- A verdade é que não rolou. Ela me deu grande atenção. Até hoje me manda e-mail, disse que assistiu minha vitória na Nova Zelândia, e que ficou superfeliz. Mas ainda não rolou - admite Silvana.
Silvana Lima e Fernanda Lima em
premiação da Revista Fluir
(Foto: Fábio Minduim / Revista Fluir)
E em 2015, mesmo de volta à elite, Silvana está na mesma situação. Sem patrocinador master, conta somente com apoiadores de menor porte. Sendo que apenas um deles lhe dá dinheiro. Os demais, lhe “pagam” em produtos: desde pranchas e acessórios até itens para vender e arrecadar dinheiro. Assim, nem a temporada na elite está garantida. O jeito é tentar obter bons resultados nas três etapas australianas (Gold Coast, Bells Beach e Margaret River) para conseguir pagar os gastos das próximas viagens:
- Quando você tem um patrocínio acreditando em você, você só vai para a água para surfar. Não precisa se preocupar com “caraca, tenho que passar essa bateria para ter dinheiro para a próxima etapa”. Mas continuo na luta. Terei que passar bateria por bateria para poder correr o outro evento.
Silvana Lima treinando em Snapper Rocks, Gold
Coast, nesta quinta-feira (Foto: Divulgação)
infância pobre como aprendizagem
- Sou muito guerreira. Depois de toda dificuldade que tive na minha vida, não eram três cirurgias que iam me derrubar. O que passei na minha infância foi muito complicado. Minha família não tinha condição. Morávamos na beira da praia, em uma barraca, meu pai era pescador. Não tinha o que comer. E eu estudava em escola particular por ter ganho uma bolsa por jogar bola. Mas aí tinha a parte ruim de não ter a comida de graça da escola pública. Aí tinha que comprar. Eu vendia adesivos para conseguir ter dinheiro para comprar alguma coisa para comer. Se não conseguisse, tinha que ficar pedindo um pedacinho de biscoito, um salgadinho. Hoje eu tenho que agradecer muito a Deus por ele ter me dado essa oportunidade de virar surfista profissional. Mesmo não tendo a melhor das vidas, para o que passei, isso aqui são mil maravilhas.
Silvana cresceu em família humilde no Ceará.
Superações viraram aprendizado
(Foto: Arquivo Pessoal)
hexacampeã no caminho
- Estou 100% preparada para o que der e vier e sem dores agora. Tenho confiança. Hoje estou na minha melhor fase do meu surfe. E por isso acredito que posso alcançar meu grande sonho que é ser campeã mundial. Não vim para somar, vim para brigar pelo título - bradou.
Hexacampeã mundial, Stephanie Gilmore será
rival de Silvana no round 1 em Gold Coast
(Foto: WSL / Kirstin)
Mas Silvana retorna em um período diferente de quando brigou pelo título. Assim como no masculino, uma nova geração de jovens surfistas vem mostrando talento e desafiando as veteranas. Mais velha das 17 competidoras da elite, com 30 anos, a cearense terá não apenas o desafio de bater Gilmore, mas terá também de vencer a concorrência de novos nomes como Tyler Wright (20 anos), Carissa Moore (22) e Sally Fitzgibbons (24). Mas para uma atleta que superou tantas dificuldades, a idade é o que menos conta nessa hora:
- As pessoas falam que os mais velhos são mais experientes, outros falam que não tem o mesmo ritmo dos mais novos. Mesmo passando por três cirurgias, estou superfeliz com meu físico, com meu psicológico e com meu surfe. Hoje eu estou com 30 anos, mas estou me sentindo como se tivesse 20 - concluiu.
round 1 - gold coast - feminino
Bateria 2: Sally Fitzgibbons (AUS), Courtney Conlogue (USA), Nikki Van Dijk (AUS)
Bateria 3: Stephanie Gilmore (AUS), Silvana Lima (BRA), TBD
Bateria 4: Tyler Wright (AUS), Dimity Stoyle (AUS), Alessa Quizon (HAW)
Bateria 5: Carissa Moore (HAW), Laura Enever (AUS), Tatiana Weston-Webb (HAW)
Bateria 6: Lakey Peterson (USA), Bianca Buitendag (ZAF), Coco Ho (HAW)
FONTE:
http://glo.bo/1E0WPht
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