Meias, destaques do bicampeão brasileiro, aproximaram-se atuando pelo Cruzeiro, carregam entrosamento para o campo e levam boa relação às esposas
Alguém bate na porta, e Marília, esposa de Éverton Ribeiro, vai atender. O cão Brad vai atrás. É Ricardo Goulart. Marília o cumprimenta e o chama de "Guga". Brad faz festa, recebe o artilheiro do Cruzeiro no Brasileirão como se o conhecesse há tempos. O meia celeste desce as escadas, cumprimenta o dono da casa, a quem chama de “baixinho”, e logo começam a conversar sobre séries de TV. Goulart conta que viu os últimos episódios de uma série recomendada pelo casal. A conversa se desenrola com muitas risadas e descontração.
Tal cena é corriqueira na rotina dos dois principais jogadores da Raposa na campanha do bicampeonato brasileiro. Vizinhos, Ricardo Goulart, de 23 anos, e Éverton Ribeiro, de 25, cultivam uma amizade que nasceu no Cruzeiro e agora traz frutos para o clube. O entrosamento em campo foi para fora também. A relação se estendeu às companheiras da dupla. Marília, mulher do camisa 17, e Diane, esposa de Goulart, também são grandes amigas. Encontros, churrascos, conversas pelo WhatsApp entre os quatro são constantes no dia a dia dos casais.
Éverton Ribeiro recebe Ricardo Goulart em
sua casa: o cachorro Brad não quer saber
do dono (Foto: Daniel Mundim)
- Eu morava perto da casa dele no começo. Morava em um
prédio, e ele (Éverton Ribeiro) em outro, mas próximo. Fomos nos aproximando. Minha
esposa se deu muito bem com a esposa dele. Temos cachorros, não temos filhos, somos
jovens, quase com as mesmas ideias, aí bateu a amizade. Descobri que ele é de
uma cidade perto da minha. Ele é de Santa Isabel, eu sou de São José dos Campos.
Tudo foi dando certo – relata Ricardo Goulart.
Minha
esposa se deu muito bem com a esposa dele. Temos cachorros, não temos filhos, somos
jovens, quase com as mesmas ideias, aí bateu a amizade"
Ricardo Goulart
As reuniões têm motivos variados. Às vezes se encontram para
acompanhar alguns jogos de futebol, até mesmo do Cruzeiro, quando não estão
relacionados. Ambos moram no mesmo condomínio. Foi Éverton quem sugeriu a
Ricardo para que se mudasse para o local. A amizade foi crescendo. No entanto,
segundo o craque do Brasileirão, as maiores beneficiadas na história são as
mulheres.
No dia 7 de dezembro do ano passado, enquanto o Cruzeiro
fazia seu último compromisso pelo Brasileirão ao empatar por 1 a 1 com o
Flamengo, Éverton se casava com Marília em São Paulo. O título antecipado
da Raposa, conquistado na 34ª rodada, facilitou a dispensa. Mas a noiva, Marília,
lembra que precisou convencer o técnico cruzeirense a liberar também o parceiro
do noivo.
- Eu fiquei desesperada quando vi que a última rodada do campeonato
seria no dia 8. Normalmente é no primeiro fim de semana de dezembro, mas, com a
Copa das Confederações, o Campeonato Brasileiro se estendeu. Ainda bem que o
Cruzeiro foi campeão antes, aí o Éverton pediu a dispensa.
Mas falei para ele
(Éverton Ribeiro) pedir para o Goulart ser liberado
também. Não só por ele, a Diane é muito minha amiga também. O Nilton também
foi. No final deu tudo certo, graças ao título antecipado! – narra Marília,
esposa do camisa 17 cruzeirense.
Ricardo
Goulart e a esposa Diane no casamento
de Éverton Ribeiro: noiva Marília
fez questão
da presença dos dois amigos (Foto:
Marcos Ribolli)
a conversa dentro de campo
“Ó, baixinho, o cara vai vir aqui, fica atrás que vou tocar
de primeira”. “Vamos, que a gente precisa de você!”. As frases são trechos de
diálogos que acontecem dentro de campo. Não é em vão que Ricardo Goulart e
Éverton Ribeiro formam a dupla de meias da seleção do Campeonato Brasileiro.
Eles são responsáveis por quase metade dos gols do
Cruzeiro no Brasileirão. Seja com passe ou conclusão, ambos
estiveram presentes em 28 das 65 bolas na rede. Em cinco oportunidades, os dois foram
protagonistas – um dando assistência para o gol do outro. O entrosamento foi
construído facilmente com a proximidade dos dois fora de campo.
Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart participaram de 28 gols do Cruzeiro no Brasileirão (Foto: Gualter Naves/Light Press)
- Por sermos próximos, podemos cobrar um do outro. Quando
um não está tão legal no jogo, posso falar: "Vamos, a gente precisa de você!". É
bom ter essa amizade para poder cobrar, incentivar e dar o seu melhor. Desde o
ano passado nos entendemos bem. Eu sou um cara que arma a jogada, ele
finaliza muito bem. Nos completamos. Isso é muito bom para o Cruzeiro. Vamos crescendo junto com a equipe – analisa Éverton.
Ricardo Goulart também não poupa elogios ao amigo. Até
lembra que tem ótima relação com outros dois jogadores - Tinga, que
conheceu ainda no Inter, e Egídio, companheiro desde quando atuaram no Goiás. No
entanto, é com o parceiro de meio-campo do Cruzeiro com quem se entende melhor
dentro das quatro linhas. Os dois tem uma linguagem própria em campo.
- Não digo que ele é o meu melhor companheiro, mas
nos
entendemos. Um vê quando o outro está bem, ou está mal, ou está bem
posicionado: "Vamos, faz essa jogada", ou eu falo "É por aqui". Isso
ajuda dentro de campo.
E não só por isso, o Éverton é um grande jogador, todos já sabem. Fica
fácil
jogar do lado dele, do lado do Willian, de todos os jogadores. A bola
vem
redonda, você se orienta. Com ele estamos vencendo, está dando muitos
resultados – avaliou o artilheiro cruzeirense do ano.
o trote na seleção
A parceria no Cruzeiro voou. No último dia 19 de agosto,
Dunga fez sua primeira convocação após seu retorno à Seleção e, entre as
novidades, estavam os nomes dos dois companheiros da Raposa. Ambos foram
convocados para os jogos contra Colômbia e Equador, mas atuaram juntos apenas
na segunda etapa diante dos equatorianos. Mas a experiência foi o suficiente
para reforçar a conexão entre os dois.
- Cada um estava na sua casa, no condomínio. Acordei umas 11
e pouco, só para ver a convocação. Saiu o nome dele (Éverton Ribeiro), e
vibramos bastante. Eu e minha esposa já demos os parabéns para ele. Passaram
uns dois nomes e veio o meu. Aí ligamos um para o outro na hora. Vibramos bastante.
Nos encontramos depois no clube. Foi uma festa total – relembra Ricardo
Goulart.
A chegada à Seleção rendeu um episódio curioso. Os calouros
no grupo sempre passam por uma prova. Na ocasião, os dois novatos tiveram que
cantar uma música na frente de todos os outros companheiros. Em sua
performance, Éverton diz que se saiu bem. Já Goulart...
- O trote da Seleção foi um dos momentos mais engraçados da
gente. Tínhamos que subir e cantar uma música na frente de todo mundo. Eu gravei
a parte dele, ele gravou a minha. Demos muitas risadas. Ele cantou um sertanejo
lá e tomou vaia (risos). Eu cantei uma música do Thiaguinho. Eu fui bem. Depois
ficamos tirando onda um com o outro – conta o meia.
Éverton seria chamado novamente para os jogos com Japão e
Argentina. Goulart, lesionado, foi cortado. Mas, enquanto a boa convivência
persistir fora de campo, bons resultados estão previstos pelo Cruzeiro e com a
camisa amarela.
- Às vezes tem time em que um não se dá bem com o outro, mas
também vence. Mas é mais difícil. É muito bom ter essa liberdade, não só com
ele, mas com todos. A gente tem uma amizade muito grande, o grupo inteiro. Um
cobra o outro, independentemente de posição, para poder estar sempre vencendo, para
que todos estejam bem e a amizade vai vencendo – resume Éverton.
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