sábado, 6 de dezembro de 2014

Churrasco, séries de TV e cachorros: a amizade dos vizinhos Goulart e Ribeiro

Meias, destaques do bicampeão brasileiro, aproximaram-se atuando pelo Cruzeiro, carregam entrosamento para o campo e levam boa relação às esposas


Por
Belo Horizonte


Alguém bate na porta, e Marília, esposa de Éverton Ribeiro, vai atender. O cão Brad vai atrás. É Ricardo Goulart. Marília o cumprimenta e o chama de "Guga". Brad faz festa, recebe o artilheiro do Cruzeiro no Brasileirão como se o conhecesse há tempos. O meia celeste desce as escadas, cumprimenta o dono da casa, a quem chama de “baixinho”, e logo começam a conversar sobre séries de TV. Goulart conta que viu os últimos episódios de uma série recomendada pelo casal. A conversa se desenrola com muitas risadas e descontração.

Tal cena é corriqueira na rotina dos dois principais jogadores da Raposa na campanha do bicampeonato brasileiro. Vizinhos, Ricardo Goulart, de 23 anos, e Éverton Ribeiro, de 25, cultivam uma amizade que nasceu no Cruzeiro e agora traz frutos para o clube. O entrosamento em campo foi para fora também. A relação se estendeu às companheiras da dupla. Marília, mulher do camisa 17, e Diane, esposa de Goulart, também são grandes amigas. Encontros, churrascos, conversas pelo WhatsApp entre os quatro são constantes no dia a dia dos casais.  
 
Éverton Ribeiro, meia do Cruzeiro, e Ricardo Goulart, meia do Cruzeiro (Foto: Daniel Mundim)
Éverton Ribeiro recebe Ricardo Goulart em 
sua casa: o cachorro Brad não quer saber 
do dono (Foto: Daniel Mundim)


- Eu morava perto da casa dele no começo. Morava em um prédio, e ele (Éverton Ribeiro) em outro, mas próximo. Fomos nos aproximando. Minha esposa se deu muito bem com a esposa dele. Temos cachorros, não temos filhos, somos jovens, quase com as mesmas ideias, aí bateu a amizade. Descobri que ele é de uma cidade perto da minha. Ele é de Santa Isabel, eu sou de São José dos Campos. Tudo foi dando certo – relata Ricardo Goulart.  
 
Minha esposa se deu muito bem com a esposa dele. Temos cachorros, não temos filhos, somos jovens, quase com as mesmas ideias, aí bateu a amizade"
Ricardo Goulart

As reuniões têm motivos variados. Às vezes se encontram para acompanhar alguns jogos de futebol, até mesmo do Cruzeiro, quando não estão relacionados. Ambos moram no mesmo condomínio. Foi Éverton quem sugeriu a Ricardo para que se mudasse para o local. A amizade foi crescendo. No entanto, segundo o craque do Brasileirão, as maiores beneficiadas na história são as mulheres.  

- Nossas esposas estão sempre juntas. As mulheres ficam um pouco sozinhas por causa da nossa concentração e viagens. Tem que bater o gosto, e bateu. É bem legal essa amizade delas. Ajudar a superar essa solidão que às vezes fica, já que viajamos muito – comenta Éverton Ribeiro.  

No dia 7 de dezembro do ano passado, enquanto o Cruzeiro fazia seu último compromisso pelo Brasileirão ao empatar por 1 a 1 com o Flamengo, Éverton se casava com Marília em São Paulo. O título antecipado da Raposa, conquistado na 34ª rodada, facilitou a dispensa. Mas a noiva, Marília, lembra que precisou convencer o técnico cruzeirense a liberar também o parceiro do noivo.   

- Eu fiquei desesperada quando vi que a última rodada do campeonato seria no dia 8. Normalmente é no primeiro fim de semana de dezembro, mas, com a Copa das Confederações, o Campeonato Brasileiro se estendeu. Ainda bem que o Cruzeiro foi campeão antes, aí o Éverton pediu a dispensa. 

Mas falei para ele (Éverton Ribeiro) pedir para o Goulart ser liberado também. Não só por ele, a Diane é muito minha amiga também. O Nilton também foi. No final deu tudo certo, graças ao título antecipado! – narra Marília, esposa do camisa 17 cruzeirense.

Ricardo Goulart no casamento do Everton Ribeiro (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Ricardo Goulart e a esposa Diane no casamento 
de Éverton Ribeiro: noiva Marília fez questão 
da presença dos dois amigos (Foto: 
Marcos Ribolli)


a conversa dentro de campo

“Ó, baixinho, o cara vai vir aqui, fica atrás que vou tocar de primeira”. “Vamos, que a gente precisa de você!”. As frases são trechos de diálogos que acontecem dentro de campo. Não é em vão que Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro formam a dupla de meias da seleção do Campeonato Brasileiro. 

Eles são responsáveis por quase metade dos gols do Cruzeiro no Brasileirão. Seja com passe ou conclusão, ambos estiveram presentes em 28 das 65 bolas na rede. Em cinco oportunidades, os dois foram protagonistas – um dando assistência para o gol do outro. O entrosamento foi construído facilmente com a proximidade dos dois fora de campo.  

Henrique, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart - Cruzeiro (Foto: Gualter Naves/Light Press)Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart participaram de 28 gols do Cruzeiro no Brasileirão (Foto: Gualter Naves/Light Press)


- Por sermos próximos, podemos cobrar um do outro. Quando um não está tão legal no jogo, posso falar: "Vamos, a gente precisa de você!". É bom ter essa amizade para poder cobrar, incentivar e dar o seu melhor. Desde o ano passado nos entendemos bem. Eu sou um cara que arma a jogada, ele finaliza muito bem. Nos completamos. Isso é muito bom para o Cruzeiro. Vamos crescendo junto com a equipe – analisa Éverton.  

Ricardo Goulart também não poupa elogios ao amigo. Até lembra que tem ótima relação com outros dois jogadores - Tinga, que conheceu ainda no Inter, e Egídio, companheiro desde quando atuaram no Goiás. No entanto, é com o parceiro de meio-campo do Cruzeiro com quem se entende melhor dentro das quatro linhas. Os dois tem uma linguagem própria em campo.  

- Não digo que ele é o meu melhor companheiro, mas nos entendemos. Um vê quando o outro está bem, ou está mal, ou está bem posicionado: "Vamos, faz essa jogada", ou eu falo "É por aqui". Isso ajuda dentro de campo. E não só por isso, o Éverton é um grande jogador, todos já sabem. Fica fácil jogar do lado dele, do lado do Willian, de todos os jogadores. A bola vem redonda, você se orienta. Com ele estamos vencendo, está dando muitos resultados – avaliou o artilheiro cruzeirense do ano.  
o trote na seleção

A parceria no Cruzeiro voou. No último dia 19 de agosto, Dunga fez sua primeira convocação após seu retorno à Seleção e, entre as novidades, estavam os nomes dos dois companheiros da Raposa. Ambos foram convocados para os jogos contra Colômbia e Equador, mas atuaram juntos apenas na segunda etapa diante dos equatorianos. Mas a experiência foi o suficiente para reforçar a conexão entre os dois.

- Cada um estava na sua casa, no condomínio. Acordei umas 11 e pouco, só para ver a convocação. Saiu o nome dele (Éverton Ribeiro), e vibramos bastante. Eu e minha esposa já demos os parabéns para ele. Passaram uns dois nomes e veio o meu. Aí ligamos um para o outro na hora. Vibramos bastante. Nos encontramos depois no clube. Foi uma festa total – relembra Ricardo Goulart.  




A chegada à Seleção rendeu um episódio curioso. Os calouros no grupo sempre passam por uma prova. Na ocasião, os dois novatos tiveram que cantar uma música na frente de todos os outros companheiros. Em sua performance, Éverton diz que se saiu bem. Já Goulart...  

- O trote da Seleção foi um dos momentos mais engraçados da gente. Tínhamos que subir e cantar uma música na frente de todo mundo. Eu gravei a parte dele, ele gravou a minha. Demos muitas risadas. Ele cantou um sertanejo lá e tomou vaia (risos). Eu cantei uma música do Thiaguinho. Eu fui bem. Depois ficamos tirando onda um com o outro – conta o meia.
Éverton seria chamado novamente para os jogos com Japão e Argentina. Goulart, lesionado, foi cortado. Mas, enquanto a boa convivência persistir fora de campo, bons resultados estão previstos pelo Cruzeiro e com a camisa amarela.  

- Às vezes tem time em que um não se dá bem com o outro, mas também vence. Mas é mais difícil. É muito bom ter essa liberdade, não só com ele, mas com todos. A gente tem uma amizade muito grande, o grupo inteiro. Um cobra o outro, independentemente de posição, para poder estar sempre vencendo, para que todos estejam bem e a amizade vai vencendo – resume Éverton.


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