terça-feira, 8 de julho de 2014

Pode mais: Messi vai bem, mas ainda está abaixo do Maradona de 1986

Até as quartas de final, ex-craque argentino brilhava, fazia quatro assistências e marcava três vezes contra quatro gols e uma assistência do atual camisa 10


Por São Paulo e Belo Horizonte

Os argentinos confiam e cantam todos os dias da Copa do Mundo de 2014 que Messi vai repetir Maradona em 1986. Dois gênios de estilos diferentes, mas igualmente decisivos. Ou quase isso. Uma análise dos cinco primeiros jogos de Maradona no México contra as cinco partidas iniciais de Messi guardam semelhanças e notáveis diferenças. Apesar de um gol a menos até as semifinais, passava pela canhota de Maradona sete das nove bolas que foram às redes dos adversários da Argentina. Messi marcou quatro e tocou para um dos oito gols marcados pelo time de Sabella – para o chute de Di María, que salvou dos pênaltis contra a Suíça nas oitavas.
Pelas características do futebol de 28 anos atrás e, talvez, por não carregar ainda nas costas o peso de melhor do mundo em 1986 – quanto mais os quatro troféus de maior do planeta que Messi enfileirou até 2012 -, Maradona tinha um pouco mais de espaço e aproveitava cada pedaço de grama dos gramados mexicanos. Fez fila e jogadas geniais em todas as partidas. Messi, hoje, tem lampejos de gênio, mas é menos constante e participativo durante os jogos.
Em análise das situações de gol criadas pela Argentina até vencer a Inglaterra nas quartas de final com dois gols do craque, impressiona a quantidade de vezes que Maradona desmonta a defesa adversária. A rigor, apenas no primeiro gol contra a Bulgária, último jogo da primeira fase, o camisa 10 não participa da jogada. O lance é construído com cruzamento de Cuciuffo para o gol de cabeça de Valdano, um coadjuvante importante daquela conquista.

INFO números de Maradona x Messi (Foto: Editoria de Arte)


Na semifinal, Dieguito marca duas vezes contra a Bélgica e na decisão, contra a Alemanha, passa a bola que terminaria com o gol do título de Burruchaga. Antes disso, Maradona fez chover desde a estreia. Contra a Coreia do Sul, três passes para gols - dois de bola parada e o último depois de driblar um na ponta e dizer “faz, Valdano”. Contra a Itália, antes de empatar após bonita triangulação do ataque argentino, faz duas jogadas pela ponta direita, mas não supera o goleiro Dino Zoff. No último jogo da primeira fase, vai ao fundo de novo, se livra do adversário no contra-ataque e coloca, uma vez mais, Burruchaga para marcar. Contra o Uruguai nas oitavas, bate falta de longe no travessão, cruza para gol incrível perdido por Valdano e inicia a jogada do gol da classificação contra o Uruguai, embora o último passe não seja dele.
Com participação abaixo nos cinco jogos da Argentina até agora, mas decisivo para os hermanos mesmo assim, Messi tem a partida contra a Holanda e uma possível final pela frente. São mais 180 minutos, pelo menos, para que o craque chegue ao mesmo patamar de Don Diego da Copa de 1986. No apito final contra a Alemanha em 1986, Maradona fechava um Mundial irretocável com cinco gols e cinco assistências. Confira abaixo análise dos dois craques em 1986 e 2014.

PRESSÃO
Maradona 1986 - Depois de integrar a pré-lista de 1978 e ficar fora do Mundial na Argentina, que deu o primeiro título ao país, Maradona chegava em 1986 com 26 anos e no esplendor da forma física. Estava bem no Napoli, pelo qual foi contratado em 1984 e só brilharia intensamente no fim dos anos 1980, mas carregava a dúvida sobre seu desempenho depois de uma passagem irregular e curta pelo Barcelona e o fracasso na Copa de 1982. 
Messi 2014 - Consagrado como melhor jogador de sua geração, maior jogador da história do Barcelona e vencedor de quatro prêmios de melhor do mundo, Messi chegou ao Brasil com o Mundial sendo o único "porém" em sua carreira. Em oito partidas em 2006 e 2010, tinha marcado somente um gol e, com 27 anos completados durante a atual Copa, o momento é esse. Além disso, encontra com Sabella seu melhor rendimento pela seleção. Com treinadores anteriores, tinha marcado 17 gols em 61 exibições em seis anos, mas com o comandante atual foram 21 tentos em 25 exibições. Tudo conspira a favor.

COADJUVANTES
Maradona 1986 - Se não tinha grandes craques ao seu lado, havia uma equipe eficiente. Os atacantes Valdano e Burruchaga se completavam. Jogador de choque, Valdano fazia o pivô - foi dele o passe de primeira para o empate de Maradona em bonito gol contra a Itália na primeira fase - e era o homem de área, enquanto Burruchaga jogava em velocidade, principalmente pela ponta direita. A assistência para o gol do título do camisa 7 exemplifica bem as opções que Maradona tinha. Valdano disputa bola no meio de campo, e ela sobra para Maradona, que dá de primeira para selar a vitória por 3 a 2 sobre a Alemanha.

Messi 2014 – O Pulga chegou ao Brasil tendo ao seu lado um trio - integrado por Higuaín, Agüero e Di María - que tinha marcado 104 gols por seus clubes na última temporada. Angelito chegou à Copa como maior garçom no mesmo período (25 passes para gol) e melhor jogador da final da Champions League pelo Real Madrid. Na prática, no entanto, coube a Lionel fazer a diferença. Na primeira fase, principalmente, com quatro dos seis gols. Nas oitavas, Di María fez gol salvador, enquanto Higuaín foi o herói da classificação na semi. O jogador do Real, no entanto, não encara a Holanda, e Agüero, decepção até o momento, volta a ficar à disposição após dois jogos.

PERSONALIDADE
Maradona 1986 - Era o personagem da Copa em todos os sentidos. Não só pela sequência impressionante de jogadas individuais em todos os jogos, como pela malandragem e catimba contra os adversários. Sem falar no histórico gol de mão contra os ingleses, o camisa 10 argentino se jogava artisticamente para cavar faltas e cartões, chegando a arrancar a bandeira de escanteio e paralisar o o duelo com a Inglaterra depois de reclamar de pouco espaço e de ser atrapalhado pelos fotógrafos. Don Diego dominou o jogo contra o Uruguai com provocações e chegou a derrubar um zagueiro adversário com um pontapé antes de fazer um gol que terminou anulado só mais adiante, depois que Maradona empurra o zagueiro e toca para as redes.

Messi 2014 - Leo tem perfil bem mais discreto do que Maradona e também é bem menos participativo nas partidas. A braçadeira de capitão, no entanto, o fez dar mais a cara a tapa desde o período de preparação em Ezeiza. Fora de campo, o que se vê é um Messi mais comunicativo e disposto a ser o porta-voz do time para o país. Em campo, mantém a postura que o transformou em figura do futebol mundial nos últimos seis anos ao lado de Cristiano Ronaldo. Genial quase sempre, mas pouco catimbeiro e com pouca interferência quando a jogada não é proposta pela Argentina. Nas quartas de final contra a Bélgica, até se exaltou com a arbitragem duas vezes no primeiro tempo, mas desapareceu na etapa final.

Montagem Maradona e Messi Copas (Foto: Editoria de Arte)
Vermelhos contra eles: Maradona 
dribla um coreano e Messi passa por 
um belga (Foto: Editoria de Arte)

POSICIONAMENTO
Maradona 1986 - O craque argentino tinha total liberdade. Quando o time era atacado, ele, invariavelmente, esperava que a bola chegasse na sua canhota pouco antes do círculo central. De lá, ele dava o primeiro tapa e arrancava em passos largos para o contra-ataque - uma diferença clara para Messi que costuma colar mais a bola aos pés. Maradona também se colocava atrás dos laterais e recebia lançamentos para preparar as jogadas para as cabeçadas de Valdano e de Pasculli. Este último, autor do gol da classificação contra o Uruguai, perdeu chance incrível no mesmo jogo depois de Diego driblar três pela ponta direita.

Messi 2014 - A maneira como iniciou jogando na Copa deixou Messi desesperado. Com esquema defensivo contra a Bósnia, o 5-3-2, o craque praticamente não tocou na bola no primeiro tempo e recuava muito para participar mais do jogo. O resultado? Ou era facilmente desarmado ou tocava para trás. No segundo tempo, com a volta para o 4-3-3 que fez a Argentina brilhar nas eliminatórias, Leo fez um golaço e iniciou, ainda na zona mista, campanha declarada por um sistema mais para frente. Deu certo. Agora, joga atrás da linha de três homens ofensivos quando a equipe tem a bola: Enzo Perez na direita, Lavezzi na esquerda e Higuaín centralizado. Costuma abrir mais pela direita para partida em diagonal com a bola dominada e se aproxima dos volantes Biglia e Mascherano para receber o passe já na intermediária ofensiva. Quando o rival ataca, é o último na linha defensiva, praticamente sem a necessidade de marcar.

MARCAÇÃO
Maradona 1986 – Evidente que Don Diego era muito marcado - a cena clássica de uma muralha belga na semifinal contra ele é emblemática -, mas não era incomum que o craque pegasse a bola com liberdade para ajeitar e pensar no que fazer. No gol diante do Uruguai, ele domina e finta sem tocar na bola duas vezes um marcador antes de iniciar a jogada que terminaria no único gol do jogo, sem receber combate na cobertura. No jogo final contra a Alemanha os espaços diminuem e ele desequilibra menos, só conseguindo deixar Burruchaga na cara do gol com um passe de primeira no meio do campo. 

Messi 2014 - Observar Messi em campo neste Mundial é ver também sempre, no mínimo, dois adversários ao redor, prontos para marcá-lo. Na maioria das ocasiões, quando domina tem alguém próximo e outro na sobra, com destaque para marcação incansável dos iranianos na segunda rodada. Quase sempre, porém, o argentino encontra uma solução. Assim, marcou gols nas três partidas da primeira fase e arrancou para servir Di María nas oitavas de final. A aproximação de Higuaín surge muitas vezes como alternativa para as tabelas curtas tão comuns no Barcelona. Quando os espaços próximos da área estão fechados, Messi usa do mesmo artifício de Maradona: recua até o grande círculo para buscar a bola dos pés do volante e partir em velocidade. Ao contrário de Diego, porém, costuma tabelar mais do que somente driblar.
   


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/argentina/noticia/2014/07/pode-mais-messi-vai-bem-mas-ainda-esta-abaixo-do-maradona-de-1986.html

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