Em entrevista ao canal português SIC, técnico chora ao falar da relação com pais, esposa e filhos e prevê lágrimas de felicidade após final da Copa no Maracanã
Felipão: emoção aflorou em entrevista a canal português (Foto: Reprodução)
- Eu imagino, sim, a jogar a final no Maracanã. A seleção de 1950 conseguiu isso e nos ensinou o caminho, porque alcançou a primeira final do Brasil. Consigo imaginar os momentos antes do jogo, mais de 60 mil pessoas ali no estádio superlotado, o início, os minutos antes, o ambiente da final e o fim do jogo com todos nós vibrando de alegria, dando a volta ao campo nos abraçando e as lágrimas de felicidade. Imagino o nosso povo feliz porque também temos uma missão no Brasil que não é só vencer a Copa do Mundo. A missão do brasileiro é receber bem quem vai estar agora no Brasil, abrir os braços, acolher, dar carinho, mostrar as coisas certas e fazer com que o nosso país seja bem visto e que estas pessoas possam voltar um dia não por causa do futebol, mas pelo país Brasil. Só aí teremos completado o nosso ciclo da Copa do Mundo 2014 - afirmou Felipão.
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Em
35 minutos de entrevista, Felipão se emocionou e ficou com lágrimas nos
olhos ao falar dos filhos Leonardo e Fabrício, da esposa Olga, e dos
pais, Benjamin e Cecy, falecidos. Recordou histórias e curiosidades do
seu passado como jogador, abordou o nascimento dos dois filhos em que
não pôde estar presente devido ao seu trabalho como treinador, mas se
recusou a alterar alguma coisa no seu passado, exceto uma, que trocaria
com prazer. - Bom, a final da Eurocopa 2004 era um dos poucos momentos que eu trocaria, o resto, não - afirmou, relembrando a final que Portugal perdeu para a Grécia em casa há dez anos.
Confira outros trechos da entrevista
Balanço da vida
- A minha vida foi e é maravilhosa. Por que as pessoas gostam de mim? Porque eu também gosto das pessoas. Tenho amigos no mundo inteiro, namorei muito - a Olga que não esteja escutando isso - tenho filhos espetaculares, um casamento maravilhoso, eu não trocaria nada na minha vida, só dois ou três momentos como esse dessa final perdida e mais nada.
Olga, a esposa
- Felizmente eu tenho um casamento sólido, 40 anos de casado. Eu adoro a minha mulher, ela foi mais importante que qualquer outra coisa no futebol ou na minha vida, porque cuidou muito desse aspecto familiar. Ela era namoradinha de um grande amigo meu que foi morar em outra cidade e pediu que eu cuidasse dela. E estou cuidando até hoje (risos).
Benjamin, o pai
- Sempre foi um pai muito amoroso, não demonstrava muito. Nunca foi muito expansivo, mas sempre mostrava o que a gente tinha que fazer. Quando precisava cobrar, cobrava. E "ô", como cobrava. Guardei bem o que é cobrar, do pai para o filho. Ele nunca quis que eu jogasse futebol. Tinha uma imagem de jogador de futebol diferente da minha. Depois que as coisas deram certo, ele também ficou contente.
Cecy, a mãe
- Ela era espetacular. Para ela, o filho era o "Rei da Índia" (com lágrimas nos olhos, Felipão respira fundo). De vez em quando me dava umas reprimendas, mas quando estava mais velha, quem reprimia era eu. No final, quem podia passar alguma coisa, no sentido não de reprimi-la, mas que ela tivesse a possibilidade de viver um pouco mais - se bem que morreu com 90 anos. Se eu chegar aos 90 também, será bom.
Felipão: final no Maracanã já mexe com
a cabeça do treinador (Foto: Marcos
Ribolli / Globoesporte.com)
- Eu ainda sou um pouco como o meu pai, ainda receio um pouco em mostrar o meu carinho a eles. Ainda tenho um pouco daquilo que o meu pai foi comigo. Sempre me tratou muito bem, me amava, me adorava, mas nunca dizia explicitamente, mas mostrava com gestos. Eu também faço isso um pouco com eles. Tenho mais dificuldades, já a mãe, não.
Perdas dos pais- Em 1980 perdi o meu pai, em 2012, a minha mãe. A gente tem sempre essa recordação. Quando a gente perde numa sequência normal de vida pai e mãe, não se lida bem, mas tudo bem, se aceita. Mas quando a gente perde filhos, deve ser muito pior. Deve ser horrível. Acho que, aí, perde-se uma parte.
Momentos que gostaria de ter presenciado e não pôde
- Não estive no nascimento dos meus dois filhos porque o futebol tinha me tirado essa possibilidade. Essas oportunidades assim a gente fica meio chateado. Primeira comunhão de um filho, alguma solenidade de escola a gente não está presente e para eles é importante...
Se não fosse treinador...
- Se eu não fosse técnico de futebol ou de voleibol - as especializações que fiz - seria professor de educação física, porque essa era a minha vocação.
Arce: ex-lateral paraguaio está na lista dos preferidos de Felipão (Foto: Agência Getty Images)
- O melhor jogador que já treinei? Um com muita qualidade técnica, o Arce no Palmeiras. O Figo… O Figo joga muita bola, é correto, equilibrado, boa pessoa, culto, bom de papo e de discutir assuntos que não sejam só futebol. Foi um ótimo capitão, ele falava para os outros: "está com problemas, joga a bola para mim". Agora, eu estou sabendo que o Cristiano está tendo essa mesma atitude como capitão de Portugal. Ele começou falando dessa forma com os colegas agora. É normal, ele começou novinho, foi adquirindo experiência. Dele eu imaginava tudo, não tem igual como pessoa e como jogador de futebol, ele se supera todos os dias.
Cristiano Ronaldo e os recordes
- Eu tenho conversado com o Cristiano e já falei para ele: “Cristiano calma. Os recordes não estão aí para serem quebrados todos de uma vez.” Mas ele quer tudo, quer quebrar todos. Do Cristiano, todo o mundo fala que se cuida com os cremes, mas o pessoal não sabe o que ele faz nos treinamentos. Ele vai para dentro do campo e fica uma hora a mais do que outros. Essa é a virtude dele. As pessoas falam, mas também não sabem o que ele faz com as crianças. Ajuda muitas instituições e tem gestos que fazem a diferença.
O olhar de Felipão
- Os meus olhos dizem que sou emotivo, feliz e tenho muito respeito pela amizade.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2014/06/com-olhos-cheios-dagua-felipao-reve-o-passado-minha-vida-e-maravilhosa.html
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