Comandante na Copa de 70, Angelo Niculescu recorda com carinho passagem pelo país, lembra convite para beber com Garrincha e não se empolga com Neymar
A reportagem do GloboEsporte.com visitou Niculescu em sua casa, um modesto apartamento em Bucareste, capital da Romênia. Cada cômodo do local é adornado por lembranças do Brasil: fotos do Cristo Redentor, um cartão postal autografado por Pelé e Jairzinho e flâmulas da Copa do Mundo de 1970, quando ele comandou a seleção de seu país.
Mas a primeira coisa que Niculescu mostrou com orgulho foi um olho mágico, no qual é possível ver uma foto antiga do Maracanã. Ele mesmo não se furtou em brincar com o objeto, mirando, saudoso, os melhores dias de sua vida.
- O maior momento de toda a minha carreira foi ter disputado uma partida no Maracanã. É um estádio especial, uma obra de arte - elogiou o ex-treinador.
Porta-retrato com foto de Niculescu no Cristo
Redentor (Foto: Felipe Schmidt)
A paixão pelo Brasil começou quando Niculescu viajou com a seleção romena para ficar dois meses na América do Sul, em dezembro de 1969. A ideia era preparar a equipe para a disputa do Mundial no México. O time se hospedou em Copacabana, mas também passou por Porto Alegre, São Paulo e Amazonas, onde, segundo o ex-técnico, chegaram a oferecer um jacaré de presente para ele. Mas foi no Rio de Janeiro que Niculescu se sentiu em casa.
- Eu gostei do estilo de vida dos brasileiros. Eles eram livres, podiam fazer qualquer coisa, ir a qualquer lugar, a qualquer hora. Eles gostavam de música, de dança. Eles amavam viver. Isso era muito diferente da Romênia - disse Niculescu, em referência ao período em que a Romênia foi governada por uma ditadura comunista.
Para ele, mesmo com os militares brasileiros instituindo um sistema parecido, o Brasil ainda era muito mais "livre" que seu país natal.
- A vida na Romênia durante o comunismo era muito difícil. Não conseguíamos achar comida. Eu era perseguido pela polícia e não podia dar minha opinião. Eu não era comunista, portanto foi muito complicado trabalhar num regime assim. Eu estava trabalhando contra eu mesmo. É como comer algo que você não gosta. Depois disso, você acaba vomitando - reclamou.
Nicolescu posa ao lado de foto de Pelé e
recordações da Copa de 70 (Foto:
Felipe Schmidt)
Salvo pelo futebol
A mágoa de Niculescu com o o regime comunista romeno é justificável. Em sua carreira como jogador, ele iniciou no Carmen Bucareste, um tradicional time da capital que foi dissolvido porque o governo não permitia que o clube fosse de propriedade privada. Depois disso, Niculescu foi para o Dinamo, onde encerrou a carreira.
Antes de tudo isso, o ex-treinador escapou da luta na Segunda Guerra Mundial graças ao futebol. Ele se alistou no exército romeno por quatro anos, mas escapou do front de batalha por causa da bola.
- Quando era jovem, eu jogava no time da minha cidade natal, Craiova. Um dos líderes da equipe era coronel no exército, então ele me ajudou a ficar longe da luta. Eu treinada duas vezes por semana e tínha permissão especial para jogar aos domingos. Um irmão meu foi morto na guerra, e outro ficou gravemente ferido. Eu fui salvo pelo futebol.
Foto do Carmen Bucareste, time onde Niculescu
jogou (Foto: Felipe Schmidt)
No bar com Garrincha
Cartão postal autografado por Pelé e Jairzinho enfeita mesa (Foto: Felipe Schmidt)
- Nós saímos do Brasil de propósito durante o carnaval. Não podíamos arriscar. Os jogadores estavam muito tentados e poderiam se envolver em aventuras. Seria um grande erro se eu, como treinador da seleção, os deixasse no Rio - justificou.
Apesar da cautela para evitar excessos, o próprio Niculescu protagonizou uma escapada da rigidez. Foi num bar no Rio de Janeiro que o romeno conheceu Garrincha, um de seus ídolos no futebol.
- Eu estava no bar quando vi o Garrincha, e ele me convidou para beber ao lado dele. É claro que aceitei, eu era fã dele. Não lembro bem sobre o que conversamos, mas o clima no bar era muito bom - lembrou.
Neymar? Só no comercial
'Só conheço Neymar pelos comerciais' (Foto: AP)
- Eu não gostei de ficar no grupo do Brasil, porque sabia que não tínhamos chance contra eles. Pelé não jogou tão bem contra nós. Ele foi bem, mas não fantástico. Não fez nada de especial. Eu gostei de Tostão. Era um jogador muito inteligente.
Apesar do amor pelo Brasil, Niculescu não assiste mais às partidas da Seleção. Fã de Didi, Garrincha, Tostão e Pelé, ele não se entusiasma com o futebol atual. Neymar, por exemplo, só chegou ao conhecimento do ex-técnico romeno por motivos extracampo.
- Só conheço Neymar pelos comerciais. Em campo, ele não me impressionou. Não acho que seja tão especial. Não pode ser comparado aos jogadores do passado - decretou o fã do Brasil.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2014/03/maracana-pele-e-cristo-redentor-ex-treinador-da-romenia-e-fa-do-brasil.html
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