quinta-feira, 27 de junho de 2013

'Fábrica de volantes', Grêmio fatura quase R$ 60 milhões com vendas

De Fernando, último a deixar o Tricolor, a Lucas e Rafael Carioca, clube tem histórico positivo na formação e venda nesta posição nos últimos anos

Por Jessica Mello Porto Alegre
 
Fernando comemora, Grêmio x Independiente (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)Fernando é exemplo mais recente da tradição
de volantes (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
 
Élton, China, Bonamigo, Dinho, Luís Carlos Goiano. Todos jogadores históricos do Grêmio e com uma característica em comum: atuavam como volantes. Muitos deles não foram formados no clube gaúcho, é verdade, mas integram uma estatística de grandes nomes que davam retaguarda aos zagueiros tricolores. Nos últimos anos, o clube não só seguiu com bons jogadores na posição, mas também se especializou em revelar jovens camisas 5 e 8. Das últimas 13 grandes vendas de jogadores formados na base, seis foram de meio-campistas de marcação. Os valores totais envolvidos na negociações somam quase R$ 100 milhões. Nos cofres do Grêmio, caíram R$ 57,4 milhões.

Último jogador negociado, Fernando foi vendido por R$ 36 milhões ao Shakhtar Donetsk. O Grêmio, detentor de 40% dos direitos do jogador, lucrou R$ 14 milhões.

A boa venda de Fernando após passagem pelo grupo principal do Grêmio, rendendo-lhe, inclusive, convocações e atuações pela Seleção, apenas segue um ciclo iniciado já há anos. Antes, Lucas, Rafael Carioca e Adilson foram alguns dos volantes vendidos para clubes europeus. Pode-se somar aí até o caso de Anderson, meia de formação em Porto Alegre que passou a atuar mais recuado a partir das necessidades do futebol inglês.

Volante Clube Ano da venda Valor recebido pelo Grêmio
Fernando Shakhtar Donetsk 2013 R$ 14,4 milhões
Adilson Terek Grozny 2011 R$ 2,9 milhões
Rafael Carioca Spartak Moscou 2009 R$ 15,48 milhões
Tiago Dutra e Bruno Renan Villarreal 2009 R$ 4,9 milhões
Lucas Liverpool 2007 R$ 19,6 milhões
 * Valores com a cotação da época
A trajetória de Anderson pelo meio-campo, aliás, é até comparada com a de Emerson, campeão da América com a camisa tricolor e que, recentemente, foi auxiliar técnico da equipe principal. O volante também teve suas origens como meio-campista. E, ao comentar do sucesso do prata da casa no Manchester United, foi só elogios.

- Comecei no Grêmio como meia. Fui atuar mais recuado com a Seleção, em 1999, com o Vanderlei (Luxemburgo). Com o Anderson, que está muito bem na Europa, aconteceu quase a mesma coisa. No futebol inglês, que é um campeonato muito difícil, passou a jogar mais atrás. Era uma das grandes promessas do Grêmio e saiu do time muito bem, muito novo. Se firmou bem na Europa. Jogar lá fora não é fácil - analisa.

Outro ponto curioso de todas as últimas grandes vendas do Grêmio de jogadores formados na sua base é de que nenhum atua do meio para frente, apenas para trás. O último grande goleador a sair dos campinhos de Porto Alegre para os do mundo foi Ronaldinho Gaúcho, em 2001. O fato é visto com completa naturalidade por Emerson, por considerar a formação de atletas de defesa uma das características do time gaúcho.

- O Grêmio sempre foi um clube formador de jogadores de defesa. A exceção, nos últimos anos, foi o Ronaldinho, que é de um nível top. É a cultura do clube, o modo como se joga, sempre teve bons defensores - afirma.

Grêmio, uma fábrica de volantes

anderson manchester united (Foto: Agência Getty Images)Formado no Grêmio como meia, Anderson virou
volante na Inglaterra (Foto: Agência Getty Images)
 
O sucesso de jogadores da posição dentro do Estádio Olímpico é uma das razões, aliás, pelas quais as categorias de base seguem relevando atletas de meio-campo. Inspirados naqueles que conquistam boas atuações e conseguem garantir o seu sucesso profissional, os garotos que chegam ao clube para se inscrever nas escolinhas apontam suas preferências para as posições que dão mais resultados. No caso do Grêmio, a de volante.

Segundo o coordenador geral das categorias de base do clube, Junior Chávare, chega a ser "assustador" o número de meninos que querem ser volantes:

- É até assustador. De cada dez atletas que nós avaliamos, quatro são volantes. O Grêmio sempre teve essa característica de ter bons jogadores de meio-campo. E o volante tem um espírito guerreiro, de intensidade de jogo, que são características do Grêmio. Normalmente o jogador da base se inspira nos que tiveram sucesso. Eles querem ser da mesma posição do ídolo. Isso acaba contribuindo para se ter mais atletas nessa posição.

É até assustador. De cada dez atletas que nós avaliamos, quatro são volantes. O Grêmio sempre teve essa característica de ter bons jogadores de meio-campo."
 Junior Chávare, coordenador geraldas categorias de base do Grêmio
 
Dentre as equipes sub-20, 19 e 17, hoje existem oito volantes que já estão sendo observados e que inspiram confiança em seus comandantes. Três deles iniciaram seu processo de transição para o grupo principal. Processo esse que é feito com muita calma para evitar "queimar" qualquer tipo de etapa, vindo a prejudicar o atleta de alguma forma no futuro. A lapidação das características e qualidades do jovem é feita antes de encarar uma atividade com a equipe profissional. Da base, o jogador deve sair "semi-pronto", de acordo com Chávare.

Neste ano, aliás, o Grêmio passou a desenvolver um projeto chamado de "Lapidar", visando ao desenvolvimento de fundamentos em todas as posições, tendo uniformidade em todos os setores do campo. A ideia é de que o Tricolor passe a revelar atletas além do meio-campo. Assim, profissionais realizam exercícios específicos para cada categoria e em cada posição, deixando a parte técnica completa e apenas os aspectos emocionais e comportamentais para serem aperfeiçoados ao integrar o grupo principal.

Matheus Biteco, aposta para o futuro

matheus biteco grêmio são luiz gauchão arena (Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)Matheus Biteco tem moral no grupo de Luxa
(Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA)
 
Foi o que aconteceu neste ano, por exemplo, com Matheus Biteco. Aos 18 anos, passou a treinar sob o comando de Vanderlei Luxemburgo e já conta com seis jogos profissionais em seu currículo. Teve chance de vestir a camisa canarinho, pela seleção sub-20, e recebeu até assédio de clubes europeus. É um dos jogadores, na visão compartilhada de Chávare e de Emerson, que mais pode render ao clube nos próximos anos nesta posição.

- Da nova geração, vejo que o Matheus Biteco ainda vai evoluir muito. O potencial e o profissionalismo dele é muito grande. Não é a toa que já chegou na Seleção Sub-20. Se continuar nesse caminho, ainda vai render muitos frutos - aposta Emerson.

Quem sabe Matheus não siga os mesmos passos do seu irmão, Guilherme, que também veio da base e já carimbou seu passaporte para a Europa - teve 70% dos seus direitos vendidos para o Hoffeinheim, da Alemanha, no ano passado, mas segue atuando no Rio Grande do Sul até o fim do ano que vem.

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