segunda-feira, 13 de maio de 2013

Lembra Dele? Valdeir, a 'quedinha' pelo Bota e a rivalidade dos anos 90


The Flash, hoje no ramo imobiliário em Goiânia, lembra alegrias e tristezas pelo Bota e bronca da família ao fazer gol pelo Flamengo contra o ex-clube

Por Alexandre Alliatti Rio de Janeiro

Header-Materia_100anos_FLAxBOTA (Foto: Infoesporte)
Nem passa pela cabeça de Valdeir, 45 anos, ficar sem jogar bola todo santo final de semana. As pernas começam a coçar. Justifica-se: foram quase duas décadas de disparadas ataque afora - correria que lhe rendeu o apelido de "The Flash". As peladas pela Sociedade Esportiva Savana, time de brincadeira criado por ele e alguns amigos em Goiânia, servem para o ex-atacante relembrar os dias de fama em clubes como Botafogo e Flamengo - rivais cujo primeiro jogo completa 100 anos nesta segunda-feira.

Valdeir (Foto: Arquivo pessoal)Valdeir, hoje com 45 anos, se diverte em time de pelada em Goiânia (Foto: Arquivo pessoal)

Foi nos anos 90 que Valdeir construiu uma parte substancial de sua carreira. Vem de lá a principal fatia da memória que o ex-jogador cativa - tempos em que chamou a atenção pelo Botafogo, tempos em que depois vestiu rubro-negro. Ele viveu um dos momentos em que a agora centenária rivalidade entre os dois clubes esteve mais evidente. Chegou ao Botafogo pouco depois do título estadual de 1989 (sobre o Flamengo) e deixou o clube logo após a perda do Campeonato Brasileiro de 1992 (para o Flamengo).

Depois, em 1994, retornou ao Rio. Mas para defender o outro lado. E detalhe: para fazer gol contra o Botafogo.

Coração dividido? Nem tanto. Passadas duas décadas, Valdeir se orgulha da experiência como rubro-negro, mas não esconde:

- Tenho uma quedinha pelo Botafogo.

Valdeir time Savana (Foto: Divulgação)Valdeir, o primeiro à esquerda na fila do meio, e o time do Savana (Foto: Divulgação)

Primeiro, o Botafogo

Valdeir chegou ao Botafogo em 17 de agosto de 1989. Tinha 21 anos. Destacara-se no Atlético-GO, por quem fizera 18 gols no Estadual daquele ano. Ao chegar à nova casa, o atacante se deparou com um elenco recém-saído da conquista histórica do Campeonato Carioca de 1989 - quebrando um jejum de 21 anos sem o título local. A rivalidade com o Flamengo era particularmente forte naquela época.

- Cheguei ao Botafogo depois de ele ter conquistado um título justamente contra o Flamengo. Isso fez com que aumentasse um pouco mais a rivalidade. Tive a oportunidade de trabalhar num clube que foi campeão depois de muito tempo. Já tive a oportunidade de sentir esse clima. Claro, todo clássico é importante, todo atleta sempre gosta de disputar um clássico. Mas o Flamengo, na época, nos anos 80, conquistou os maiores títulos da vida do clube. Ganhar do Flamengo nos anos 80 era interessantíssimo - recordou o ex-atacante.
The Flash logo cresceu no elenco. Em 1990, ajudou o Botafogo a conquistar mais um título estadual, dessa vez sobre o Vasco.
- Aquele grupo do Botafogo era muito bom, maravilhoso. Tenho muita saudade. Era uma família.
Valdeir ficou no Botafogo até 1992, quando foi negociado com o Bordeaux, da França. Em seu último ano com a camisa alvinegra, viveu sua maior decepção: a perda do Campeonato Brasileiro. Justamente para o Flamengo.
O Botafogo era favorito. Tinha um time mais consolidado. Tinha melhor campanha. Contava com jogadores como Renato Gaúcho, Carlos Alberto Santos, Carlos Alberto Dias e Válber. Mas foi engolido pelo Flamengo no primeiro jogo da decisão, em 12 de julho. Ainda no primeiro tempo, levou 3 a 0, gols de Júnior, Nélio e Gaúcho. Valdeir foi titular.


Não foi possível matar a desvantagem no segundo jogo. O Flamengo ainda abriu outros dois gols, com Junior e Júlio César Imperador. A reação do Botafogo nos últimos minutos foi inútil. Pichetti descontou. E Valdeir empatou, mas viu o adversário ser campeão. Até hoje, ele alimenta certo incômodo com aquela derrota (relembre no vídeo acima).

- O Botafogo, naquele ano, era dado como favorito. O time era muito bom. Meus amigos ainda hoje me perguntam o que aconteceu naquele jogo, naquela final. O Botafogo já era contado como campeão. Fica até difícil tentar achar alguma justificativa, alguma resposta. O Flamengo esteve mais concentrado do que o Botafogo. Nosso time era altamente qualificado, um time maravilhoso. Ninguém acreditaria que no primeiro tempo teria aquela avalanche.

Valdeir sente falta daquele título.

- Vivi quatro anos maravilhosos no Botafogo. Para ter fechado com chave de ouro, aquele título era essencial.

A decisão foi marcante a ponto de alguns de seus personagens, quando se encontram hoje em dia, ainda conversarem sobre aqueles episódios. Os próprios rubro-negros, conta Valdeir, se surpreenderam com o tamanho da vitória.

- Quando eu converso com o Gaúcho, o Uidemar, o Júlio César, outros amigos, a rapaziada fala que não acredita no que aconteceu, pelo elenco que o Botafogo tinha.

Depois, o Flamengo

Tha Flash deixou o Botafogo, tentou a sorte no Bordeaux, da França, e logo retornou ao país para defender o São Paulo. Fez parte do elenco bicampeão mundial em 1993. Estava no melhor time do Brasil, mas não resistiu a um convite para voltar ao Rio de Janeiro, cidade de que tanto gosta. Mas o retorno não foi para o Botafogo. Para choque de seus amigos, ele vestiu rubro-negro.

- Muitos botafoguenses, especialmente amigos e familiares, me cobraram bastante. Disseram que a volta deveria ser para o Botafogo. Mas o problema é que o Botafogo vivia um momento dificil. Fiquei só seis meses no Flamengo, mas foi muito importante para mim. Tenho muitos amigos flamenguistas, e eles diziam: "Agora, a gente pode te respeitar.".


No Fla, Valdeir não teve o mesmo sucesso que alcançou no Botafogo. Mas viveu momentos marcantes. Não saem da cabeça dele as três vezes em que enfrentou o ex-clube: empate por 1 a 1 e vitórias por 1 a 0 e por 3 a 1. Nos três jogos, começou no banco. No último, fez gol (recorde no vídeo abaixo).

- Foram clássicos que me marcaram em dois sentidos: primeiro, por ficar no banco; segundo, pelo gol que fiz. Quando eu chegava no Maracanã, a torcida do Botafogo gritava meu nome. Isso mexe com a pessoa. Entrei e fiz um gol contra o Botafogo. Contra o Botafogo...

Foi uma situação das mais inusitadas para Valdeir. Quando jogou pelo Alvinegro, ele viu parte de sua família se tornar botafoguense. Acabou levando puxões de orelha entre quatro paredes.

- É meio estranho. Teve cobrança até dentro de casa. "Pô, vai fazer gol justo contra o Botafogo?". Depois que joguei no Botafogo, a família passou a torcer pelo clube. Aí aconteceu isso.

Hoje, cuidando de imóveis e da família

No Rio de Janeiro, Valdeir ainda defendeu o Fluminense. Também passou por equipes como Atlético-MG, Paraná, Ceará, Madureira e Brasiliense até encerrar a carreira, há dez anos. Hoje, cuida de imóveis ao lado de um irmão em Goiânia. E gosta.

- Faço de tudo: compro, vendo, alugo. Está dando certo - diz ele.

Valdeir é casado com Katiúcia e tem duas filhas: Jordana e Jéssica, de quatro e oito anos. Nelas, encontra o antídoto para a saudade que sente dos campos.

- No inicio, eu sentia mais. Agora, já sinto um pouco menos. Construí familia, aí chego em casa e tenho minhas filhas para dar atenção. É muito bom.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/bau-do-esporte/noticia/2013/05/lembra-dele-valdeir-quedinha-pelo-bota-e-rivalidade-dos-anos-90.html

Nenhum comentário: