Ex-Inter e Guarani que fez 2 gols de cabeça e levou um do meio-campo na saida chegou a ganhar minuto de silêncio, mas voltou a jogar após 7 anos
À boca pequena, chegava a notícia: "Hiran morreu!". "Como?" "Num
terrível acidente de carro." Na cidade de Jaguaré, no norte do Espírito
Santo, a pouco mais de 200km de distância da capital Vitória, o árbitro
de uma das partidas da divisão de acesso do Campeonato Capixaba de 2003
não teve outra alternativa a não ser autorizar o tradicional minuto de
silêncio em homenagem àquele que fora um dos maiores goleiros nascidos
no estado.
Era alarme falso. Hiran estava vivo, mas as notícias boas terminavam aí. Seu estado de saúde era gravíssimo.
Braços, pernas, bacia, costelas... Difícil é citar os ossos que
permaneceram inteiros. Após o choque de seu carro com uma carreta na BR
101, no município de Aracruz, quando ia de Linhares, sua terra natal, ao
Aeroporto de Vitória, o ex-goleiro de Guarani, Ponte Preta e Internacional,
entre outros clubes, passaria pelo pior momento de sua vida. Com um
detalhe: o amigo, José Luís, que estava no banco do carona, não sofreu
praticamente nada.
Sem condições de reagir, Hiran foi salvo por policiais rodoviários que
apagaram o fogo que começava a tomar conta de seu veículo. Retirado das
ferragens, só não fez jus ao tal minuto de silêncio graças a um
desfibrilador, que manteve seu coração batendo. O baço, porém, foi
perdido. O órgão que ajuda a "limpar o sangue" e a produzir células de
defesa do organismo teve que ser sacrificado. Os 12 meses seguintes
seriam dentro de hospitais e levariam praticamente todo o patrimônio
acumulado pelo jogador em dez anos de futebol.
Não menos impressionante que essa história é o fato de que, uma década depois, Hiran ainda esteja agarrando. O goleiro que chegou a ser dado como morto resolveu dar sobrevida à própria carreira. Depois de quase oito anos parado, voltou a jogar em 2010. Na última segunda-feira, estreou oficialmente, aos 41 anos, com a camisa do Colatina, na modesta Série B do Campeonato Capixaba. E foi o destaque na vitória por 2 a 0 sobre o Esse. Mas o passado permanece vivo na memória do grandalhão de 1,96m que conseguiu a proeza de marcar dois gols de cabeça - e no último acabou sofrendo um gol do meio de campo enquanto ainda comemorava.
- Na época do acidente, eu tinha acertado com o Brasiliense,
estava indo para Vitória pegar o voo para Brasília. Chovia na estrada, e
numa curva veio uma carreta cortando outra, pela contramão. A carreta
conseguiu ultrapassar a outra, mas rodou na pista e veio em minha
direção. Lembro dos policiais com extintor apagando o fogo, depois
desmaiei porque a dor era muito grande. Sei que "tomei" até
desfibrilador também. Tive hemorragia interna. Meu baço foi arrancado.
O goleiro contou as dificuldades pelas quais passou no período de recuperação. Agora, concentra-se no futuro e traça planos sem dar sinal do drama que protagonizou.
- Passei em vários hospitais, por mais de um ano. Vendi duas empresas, uma de cosméticos, que eu tinha montado para minha esposa, e uma revendedora de carros. Eu comprava os carros em Campinas e vendia em Linhares. Gastei R$ 500 mil. O pessoal comenta que perdi tudo. Mas foi para salvar minha vida. E ainda bem que pensei no futuro quando era mais novo. Houve um período em que eu tomava uma injeção por dia e cada uma custava R$ 6 mil. A parte financeira é um dos motivos de eu continuar hoje. Vivo só do futebol. E ainda me sinto em condições. Não sinto dor, não sinto nada - contou.
Na temporada passada, Hiran jogou a Série D do Brasileiro pelo Aracruz, atual campeão do Espírito Santo. Foi eleito o melhor jogador do time em quase todas, senão todas as partidas. Nem a idade nem o risco de ter menos imunidade, em função da perda do baço, o fazem pedir privilégios na rotina de treinamentos.
- Não quero carga mais leve. Mesmo com 43 anos, eu puxo a fila nos treinos. Tento dar exemplo. Se eu correr, ninguém vai querer dar "migué". Não me poupo. Não fico pensando em imunidade baixa. Sou meio doido. Se Deus quiser tirar minha vida amanhã, ele tira.
E já que é assim, o goleiro vai traçando novos objetivos. Um deles diz
respeito a um recorde que ele quer bater. Hiran acredita que se jogar
por mais três anos entrará para a história ao superar a marca de Manga,
ex-camisa 1 de Botafogo, Internacional e Sport, entre outros clubes, e
que agarrou até os 44 anos. Há, no entanto, registros de que Jairo do
Nascimento, ex-Corinthians e Fluminense, entre outros clubes, atuou até
os 46 anos, quando encerrou sua carreira pelo Trespontano (MG), em 1993.
Isso obrigaria Hiran a atuar por mais cinco anos. Quem duvida?
Outro recorde, porém, já não dependeria mais de nenhum feito seu dentro
de campo. O capixaba reivindica o reconhecimento de ter sido o único
goleiro do futebol mundial a marcar dois gols de cabeça ao longo da
carreira. O primeiro, pelo Guarani sobre o Palmeiras, que decretou um
empate por 3 a 3, pelo Campeonato Paulista de 1997 (assista ao vídeo ao lado). O segundo, pelo Santo André sobre o Juventus, em 1999, na Série A2 do Paulistão (assista ao vídeo acimz).
- Que eu saiba, sou o único goleiro do mundo que fez dois gols de cabeça. Vários fizeram de falta, de pênalti, mas dois de cabeça, só eu. É algo que ainda espero ver no Guinness Book (Livro dos Recordes). Já faz sete anos que estou tentando, mas não consigo, não sei direito o caminho, não tenho inglês fluente... Peço ajuda para saber como é que faz. Dão até recorde de "cuspe a distância", por que não vão reconhecer que fiz dois de cabeça? É fato, é real, existem imagens. No meu primeiro gol, sobre o Velloso (do Palmeiras), eu bati uma falta que ia entrar no ângulo, mas ele espalmou. Após o escanteio, fiz de cabeça. Duas semanas depois, o Rogério Ceni fez o primeiro gol de falta da carreira dele, contra o União (São João). Por pouco não faço antes - gabou-se Hiran, que na final do Capixaba de 2011 também quase fez um gol de falta, pelo Linhares (Futebol Clube), vice-campeão, sobre o São Mateus.
O segundo gol de cabeça feito por Hiran teve outra peculiaridade. Na
saída de bola do Juventus, o meia Adil marcou do meio de campo, enquanto
o goleiro voltava correndo em direção à meta após longa comemoração,
decretando a vitória do Moleque Travesso por 2 a 1. Hiran garante que o
"anticlímax" ficou só para seus companheiros de Santo André.
- Nem liguei. A minha parte eu fiz, que foi ir ao ataque e fazer o gol de empate, de cabeça. Falei com eles (demais jogadores do Santo André): "Bem feito para vocês, cambada de juvenis". Faltou alguém marcar a bola, ué! Eu tinha que voltar para o gol, não tinha jeito. Mas isso aconteceu também com o Rogério Ceni (em que o meia Roger marcou pelo Fluminense sobre o São Paulo enquanto Rogério Ceni corria de volta ao gol) - afirmou.
O fim da carreira, arrastado já para além dos 41, faz par com um início também tardio. Até os 22 anos de idade, Hiran vendia os salgados que sua mãe fazia em Linhares. O começo no futebol foi mais por acaso do que por convicção. Hiran foi revelado no já extinto Linhares Esporte Clube, vencedor de quatro títulos capixabas nos anos 1990 e responsável por eliminar o Fluminense da Copa do Brasil de 1994, quando o time alvianil só caiu nas semifinais, diante do Grêmio.
- Eu jogava de tudo quando era mais novo. Futebol, handebol, vôlei, por ser grandão, também... E conhecia o pessoal do esporte. Um dia, o Delei (ex-meia do Linhares EC) passou de bicicleta e me chamou para ir ver o treino. Ele insistiu, montei na garupa e fui. Chegando lá, um dos goleiros tinha faltado. Zuza (treinador; ex-jogador de Desportiva e Palmeiras) me pediu para ficar no gol, gostou do jeito que treinei e me incluiu no elenco. Fui campeão estadual como reserva do Zé Luís. No ano seguinte, em 1994, virei titular. Defendi tudo contra o Fluminense, fizemos uma boa campanha. O Fluminense me fez proposta, mas achei a do Guarani melhor.
No Bugre, Hiran afirmou que se tornou, de fato, um goleiro. Na época em
que chegou ao Brinco de Ouro da Princesa, o time tinha jogadores como
Amoroso e Luizão. Narciso era o titular da posição. Hiran assumiria o
gol na temporada seguinte. Ficou no clube até 1998. Em 1997, o famoso
gol de cabeça sobre o Palmeiras, que empatou o jogo por 3 a 3,
no finalzinho, lhe deu projeção. Em outro Campeonato Paulista, mas
dessa vez da Série A2, em 1999, ele repetiria a dose pelo Santo André
diante do Juventus.
Outra passagem marcante foi pelo Internacional, onde diz ter feito a sua melhor partida. Foi pelas oitavas de final da Copa João Havelange, em 2000, contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada, em Curitiba, quando o Colorado venceu por 2 a 1. Entre várias defesas, Hiran pegou uma cabeçada cruzada, rente à grama, que ele acha que foi do zagueiro Reginaldo.
Na época, sentiu-se um selecionável. O sonho de vestir a amarelinha, porém, jamais se concretizou. Hiran também já havia tido rápidas passagens por Atlético-MG (1999/2000) e Remo (2000). Do Galo, foi dispensado por indisciplina. No Remo, onde sofreu um pênalti ao tentar novo gol de cabeça, ficou só três meses. Segundo Hiran, porque em Belém chovia demais. Em 2002, já depois do Inter, chegaria à Ponte Preta, seu último time antes do acidente de carro sofrido em 2003.
Passar mais de um ano hospitalizado deixou feridas. A aposentadoria forçada, por si só, já era motivo de frustração. Mas o futebol ainda teria um novo capítulo na vida de Hiran. Em 2007, já recuperado, ele foi a Porto Alegre indicar dois jogadores ao Inter. Por lá, passou 15 dias num estágio para ser treinador de goleiros. De volta ao Espírito Santo, assumiu a função no Jaguaré. Em julho de 2008 foi para o Rio Branco-ES, onde recebeu um pedido fatal do caçula, Hiran Filho.
- Quando um dos goleiros (do Rio Branco-ES), o Walter ou o Felipe, não podia treinar, eu pegava no gol nos treinos. Meu filho mais novo (hoje com 12 anos) me perguntava se eu havia sido mesmo goleiro. Eu dizia: "Eu era, sim, e dos bons!". Mas nem a mais velha, Paola (atualmente com 15 anos), e o Ícaro (de 14 anos e que treina como goleiro numa escolinha de futebol em Belo Horizonte) tinham me visto jogar. Eu estava encostado pelo INSS. O Hiranzinho pediu, e resolvi voltar. Foi surpresa até para mim. Em 2011 fui eleito o melhor goleiro, o goleiro menos vazado e o craque do campeonato (Capixaba) - relembrou, com orgulho.
Jogar pelo Colatina na Série B do Campeonato Capixaba, para Hiran, não é
demérito. Ele garante ter recebido quatro propostas de times que estão
na principal divisão do Espírito Santo - Aracruz, São Mateus, Linhares e
Real Noroeste -, mas optou pelo Colá sem remorso. O contraste entre a
realidade atual e seus tempos de Paulistão e Brasileirão também não o
incomoda.
- A oferta do Colatina foi boa, e a estrutura é melhor que a de alguns times da elite do estado. Na vida e no futebol, tudo faz parte. Há momentos bons e ruins. Num dia você está por cima; no outro, por baixo. Quero ajudar o futebol capixaba. O "glamour" não é igual ao de antes, mas temos bons jogadores. E fora também não tem só coisa boa.
Do alto da sua experiência, Hiran desabafa sobre os problemas que o glamou causa nos grandes clubes.
- Tem acordo de empresário com dirigente, só joga quem está dentro do esquema... Isso é triste. Tem adversário que também joga "sujo". Até 1998, lembro que era comum você chegar ao seu andar no hotel e encontrar 15 garotas de programa contratadas pelo adversário. E jogador não quer saber, vai na mulher e depois pensa no jogo do dia seguinte. Depois, os clubes passaram a colocar seguranças e a vigiar. Então, em todo lugar há coisas boas e ruins. No fim, o mais importante são as amizades. Não sou de bajular, puxar saco, ficar telefonando, mas fiz amigos no futebol. Estive em Campinas há um tempo e me encontrei com Amoroso, Ronaldão, Neto... Em Porto Alegre também sou lembrado. Acho que sou querido, isso que importa.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/es/futebol/capixaba-serie-b/noticia/2013/03/achei-dado-como-morto-em-2003-goleiro-hiran-aos-41-busca-guinness.html
Era alarme falso. Hiran estava vivo, mas as notícias boas terminavam aí. Seu estado de saúde era gravíssimo.
Na estreia no Colatina nessa segunda-feira, Hiran é destaque e time vence Esso: 2 a 0 (Foto: ToninhoCosta)
Hiran espera poder ajudar o futebol capixaba mesmo atuando na Série B (Foto: ToninhoCosta)
Não menos impressionante que essa história é o fato de que, uma década depois, Hiran ainda esteja agarrando. O goleiro que chegou a ser dado como morto resolveu dar sobrevida à própria carreira. Depois de quase oito anos parado, voltou a jogar em 2010. Na última segunda-feira, estreou oficialmente, aos 41 anos, com a camisa do Colatina, na modesta Série B do Campeonato Capixaba. E foi o destaque na vitória por 2 a 0 sobre o Esse. Mas o passado permanece vivo na memória do grandalhão de 1,96m que conseguiu a proeza de marcar dois gols de cabeça - e no último acabou sofrendo um gol do meio de campo enquanto ainda comemorava.
Vi os policiais apagando o fogo e desmaiei. A dor era muito grande.
Tomei desfibrilador. Tive hemorragia interna. Perdi o baço..."
Hiran, goleiro
O goleiro contou as dificuldades pelas quais passou no período de recuperação. Agora, concentra-se no futuro e traça planos sem dar sinal do drama que protagonizou.
- Passei em vários hospitais, por mais de um ano. Vendi duas empresas, uma de cosméticos, que eu tinha montado para minha esposa, e uma revendedora de carros. Eu comprava os carros em Campinas e vendia em Linhares. Gastei R$ 500 mil. O pessoal comenta que perdi tudo. Mas foi para salvar minha vida. E ainda bem que pensei no futuro quando era mais novo. Houve um período em que eu tomava uma injeção por dia e cada uma custava R$ 6 mil. A parte financeira é um dos motivos de eu continuar hoje. Vivo só do futebol. E ainda me sinto em condições. Não sinto dor, não sinto nada - contou.
Na temporada passada, Hiran jogou a Série D do Brasileiro pelo Aracruz, atual campeão do Espírito Santo. Foi eleito o melhor jogador do time em quase todas, senão todas as partidas. Nem a idade nem o risco de ter menos imunidade, em função da perda do baço, o fazem pedir privilégios na rotina de treinamentos.
- Não quero carga mais leve. Mesmo com 43 anos, eu puxo a fila nos treinos. Tento dar exemplo. Se eu correr, ninguém vai querer dar "migué". Não me poupo. Não fico pensando em imunidade baixa. Sou meio doido. Se Deus quiser tirar minha vida amanhã, ele tira.
Hiran foi destaque do Aracruz na Série D do Brasileiro em 2012 (Foto: Simon Dias/Rádio ES)
- Que eu saiba, sou o único goleiro do mundo que fez dois gols de cabeça. Vários fizeram de falta, de pênalti, mas dois de cabeça, só eu. É algo que ainda espero ver no Guinness Book (Livro dos Recordes). Já faz sete anos que estou tentando, mas não consigo, não sei direito o caminho, não tenho inglês fluente... Peço ajuda para saber como é que faz. Dão até recorde de "cuspe a distância", por que não vão reconhecer que fiz dois de cabeça? É fato, é real, existem imagens. No meu primeiro gol, sobre o Velloso (do Palmeiras), eu bati uma falta que ia entrar no ângulo, mas ele espalmou. Após o escanteio, fiz de cabeça. Duas semanas depois, o Rogério Ceni fez o primeiro gol de falta da carreira dele, contra o União (São João). Por pouco não faço antes - gabou-se Hiran, que na final do Capixaba de 2011 também quase fez um gol de falta, pelo Linhares (Futebol Clube), vice-campeão, sobre o São Mateus.
- Nem liguei. A minha parte eu fiz, que foi ir ao ataque e fazer o gol de empate, de cabeça. Falei com eles (demais jogadores do Santo André): "Bem feito para vocês, cambada de juvenis". Faltou alguém marcar a bola, ué! Eu tinha que voltar para o gol, não tinha jeito. Mas isso aconteceu também com o Rogério Ceni (em que o meia Roger marcou pelo Fluminense sobre o São Paulo enquanto Rogério Ceni corria de volta ao gol) - afirmou.
O fim da carreira, arrastado já para além dos 41, faz par com um início também tardio. Até os 22 anos de idade, Hiran vendia os salgados que sua mãe fazia em Linhares. O começo no futebol foi mais por acaso do que por convicção. Hiran foi revelado no já extinto Linhares Esporte Clube, vencedor de quatro títulos capixabas nos anos 1990 e responsável por eliminar o Fluminense da Copa do Brasil de 1994, quando o time alvianil só caiu nas semifinais, diante do Grêmio.
- Eu jogava de tudo quando era mais novo. Futebol, handebol, vôlei, por ser grandão, também... E conhecia o pessoal do esporte. Um dia, o Delei (ex-meia do Linhares EC) passou de bicicleta e me chamou para ir ver o treino. Ele insistiu, montei na garupa e fui. Chegando lá, um dos goleiros tinha faltado. Zuza (treinador; ex-jogador de Desportiva e Palmeiras) me pediu para ficar no gol, gostou do jeito que treinei e me incluiu no elenco. Fui campeão estadual como reserva do Zé Luís. No ano seguinte, em 1994, virei titular. Defendi tudo contra o Fluminense, fizemos uma boa campanha. O Fluminense me fez proposta, mas achei a do Guarani melhor.
Que eu saiba, sou o único goleiro do mundo que fez dois gols de cabeça"
Hiran
Outra passagem marcante foi pelo Internacional, onde diz ter feito a sua melhor partida. Foi pelas oitavas de final da Copa João Havelange, em 2000, contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada, em Curitiba, quando o Colorado venceu por 2 a 1. Entre várias defesas, Hiran pegou uma cabeçada cruzada, rente à grama, que ele acha que foi do zagueiro Reginaldo.
Na época, sentiu-se um selecionável. O sonho de vestir a amarelinha, porém, jamais se concretizou. Hiran também já havia tido rápidas passagens por Atlético-MG (1999/2000) e Remo (2000). Do Galo, foi dispensado por indisciplina. No Remo, onde sofreu um pênalti ao tentar novo gol de cabeça, ficou só três meses. Segundo Hiran, porque em Belém chovia demais. Em 2002, já depois do Inter, chegaria à Ponte Preta, seu último time antes do acidente de carro sofrido em 2003.
Passar mais de um ano hospitalizado deixou feridas. A aposentadoria forçada, por si só, já era motivo de frustração. Mas o futebol ainda teria um novo capítulo na vida de Hiran. Em 2007, já recuperado, ele foi a Porto Alegre indicar dois jogadores ao Inter. Por lá, passou 15 dias num estágio para ser treinador de goleiros. De volta ao Espírito Santo, assumiu a função no Jaguaré. Em julho de 2008 foi para o Rio Branco-ES, onde recebeu um pedido fatal do caçula, Hiran Filho.
- Quando um dos goleiros (do Rio Branco-ES), o Walter ou o Felipe, não podia treinar, eu pegava no gol nos treinos. Meu filho mais novo (hoje com 12 anos) me perguntava se eu havia sido mesmo goleiro. Eu dizia: "Eu era, sim, e dos bons!". Mas nem a mais velha, Paola (atualmente com 15 anos), e o Ícaro (de 14 anos e que treina como goleiro numa escolinha de futebol em Belo Horizonte) tinham me visto jogar. Eu estava encostado pelo INSS. O Hiranzinho pediu, e resolvi voltar. Foi surpresa até para mim. Em 2011 fui eleito o melhor goleiro, o goleiro menos vazado e o craque do campeonato (Capixaba) - relembrou, com orgulho.
Hiran foi o melhor goleiro e craque do Capixabão 2011, pelo Linhares FC (Foto: Arquivo/Cedoc A Gazeta)
- A oferta do Colatina foi boa, e a estrutura é melhor que a de alguns times da elite do estado. Na vida e no futebol, tudo faz parte. Há momentos bons e ruins. Num dia você está por cima; no outro, por baixo. Quero ajudar o futebol capixaba. O "glamour" não é igual ao de antes, mas temos bons jogadores. E fora também não tem só coisa boa.
Do alto da sua experiência, Hiran desabafa sobre os problemas que o glamou causa nos grandes clubes.
- Tem acordo de empresário com dirigente, só joga quem está dentro do esquema... Isso é triste. Tem adversário que também joga "sujo". Até 1998, lembro que era comum você chegar ao seu andar no hotel e encontrar 15 garotas de programa contratadas pelo adversário. E jogador não quer saber, vai na mulher e depois pensa no jogo do dia seguinte. Depois, os clubes passaram a colocar seguranças e a vigiar. Então, em todo lugar há coisas boas e ruins. No fim, o mais importante são as amizades. Não sou de bajular, puxar saco, ficar telefonando, mas fiz amigos no futebol. Estive em Campinas há um tempo e me encontrei com Amoroso, Ronaldão, Neto... Em Porto Alegre também sou lembrado. Acho que sou querido, isso que importa.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/es/futebol/capixaba-serie-b/noticia/2013/03/achei-dado-como-morto-em-2003-goleiro-hiran-aos-41-busca-guinness.html
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