terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Emanuel pede rigidez no antidoping: 'Heróis de mentira devem ser banidos'


Único brasileiro na comissão de atletas da Agência Mundial Antidoping (Wada), paranaense apoia punições exemplares e critica ex-ciclista Lance Armstrong

Por Helena Rebello Fortaleza

Emanuel terno prêmio vôlei de praia (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Emanuel no Prêmio Brasil Olímpico: jogador é único do país em comissão da Wada (Foto: André Durão)

Emanuel perdeu a conta de quantos exames antidoping realizou em vinte anos como jogador profissional de vôlei de praia. Temporada após temporada, títulos após títulos, respondeu às dúvidas levantadas por sua longevidade no esporte com testes limpos, sem alterações que apontassem o uso de substâncias proibidas. Pelo currículo irretocável, o medalhista olímpico foi indicado para a comissão de atletas da Agência Mundial Antidoping (Wada) e, nos próximos três anos, vai contribuir com opiniões para que o controle seja mais rígido e, ao mesmo tempo, mais aceito pelos atletas mundo afora. Tudo para evitar que ícones e ídolos se transformem repentinamente em vilões, como no caso de Lance Armstrong.

- Estou acompanhando muito o caso Armstrong. Por muitos anos, ele foi tido como herói, e as pessoas confiaram no trabalho dele. Eu li a biografia dele, sabia muito da história dele. E ele traiu todos aqueles que acreditaram nele. Acho importante usá-lo como um grande exemplo para que os atletas criem consciência e que o controle cresça. Ele tem que ser punido severamente e ter o nome escrito na história para ninguém esquecer que foi um cara que traiu todo mundo. Esses heróis de mentira devem ser banidos.

No final do ano passado Emanuel foi indicado pelo Ministério dos Esportes, pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), pela Confederação Internacional de Vôlei (FIVB) e pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para representar o país na comissão de atletas da Wada. O nome do jogador foi aceito e integrado ao grupo que reúne outros 13 nomes de destaque do esporte mundial para, até dezembro de 2015, ajudar a tornar a abordagem dos exames antidoping mais aceita pelos atletas. Nos dias 29 e 30 de janeiro, ele estará em Nova York para sua primeira reunião no novo cargo.

- Muitos atletas sentem como se sua lealdade com relação a produtos químicos estivesse sendo posta em dúvida, mas, na realidade, estamos querendo mostrar que os atletas são o melhor material humano, e que os dopados têm que ficar fora. Sempre acreditam que eu esteja usando coisas ilícitas por causa da minha longevidade no esporte, mas na minha carreira toda, sempre joguei de forma limpa. Essa sempre foi minha bandeira, e por isso sinto satisfação por estar nesta comissão. Na minha visão o esporte é algo tão limpo e educado que não pode ser deturpado com o doping.

Alison e Emanuel medalha de prata vôlei de praia olimpíadas 2012 (Foto: Reuters)Ao lado de Alison, Emanuel exibe a prata olímpica de Londres: pódio aos 39 anos de idade (Foto: Reuters)

Evolução no controle visando à Copa e às Olimpíadas
Nas duas décadas de carreira nas areias, Emanuel vê com clareza a evolução do controle
antidoping na modalidade. Apesar de, no Brasil, apenas duas etapas (em média) do Circuito Brasileiro por temporada terem realização de exames antidoping, o acompanhamento dos atletas que disputam o Circuito Mundial e almejam chegar às Olimpíadas está cada vez mais intenso e sofisticado.


Atualmente os 42 primeiros atletas do ranking mundial feminino e masculino integram um programa da Wada chamado "Whereabouts". Nele, os atletas são obrigados a informar à agência em que endereços podem ser encontrados em caso de viagem, podendo ser testados de surpresa a qualquer momento. Em 2012, ano em que conquistou a prata olímpica nos Jogos de Londres, Emanuel realizou 11 exames antidoping, três dos quais foram feitos em sua própria casa, sem aviso prévio. Caso o jogador não informe onde pode ser encontrado, recebe uma advertência, o que já aconteceu com o paranaense em uma oportunidade. A soma de três advertências equivale a um resultado positivo.

- Houve uma evolução grandiosa no controle, da mesma forma que a exposição de atletas a nível de Olimpíadas está crescendo no mundo. As pessoas em casa muitas vezes não sabem, mas a Wada faz um trabalho "fora treino" muito eficiente, vai à minha casa e às de vários outros atletas. Todos os esportes olímpicos têm que estar de acordo com todas as regras. Acho que todos os atletas do vôlei de praia já têm essa consciência desta necessidade.

Comissão de atletas da Wada
Nome País
Claudia Bokel Alemanha
Felipe Contepomi Argentina
Matt Dunn Austrália
Frank Fredericks Namíbia
Nina Kemppel Estados Unidos
Alberto López Moreno Espanha
Cydonie Mothersill Ilhas Cayman
Emanuel Rego Brasil
Katarzyna Rogowiec Polônia
Ben Sanford Nova Zelândia
Beckie Scott Canadá
Daichi Suzuki Japão
Annelies Vandenberghe Bélgica
Yang Yang
China
 Em julho 2011, um caso envolvendo justamente um atleta do vôlei de praia colocou em dúvida a credibilidade do único laboratório credenciado pela Wada no Brasil, o Ladetec. Após acusar o uso de anabolizantes por parte do carioca Pedro Solberg, o laboratório foi processado pelo atleta, que acusou erros na cadeia de coleta e obteve resultado negativo em contra-prova realizada na Alemanha. O Ladetec foi proibido pela Wada de realizar exames de IRMS, que avalia se a testosterona encontrada é de origem exógena ou endógena, por seis meses. E o jogador acabou absolvido pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB), mas sofreu sérios danos a sua imagem e perdeu a parceria com Ricardo - ao lado de Márcio, não obteve classificação para os Jogos de Londres.

No dia 1º de dezembro de 2011, o Diário Oficial da União publicou um decreto que instituiu a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) na estrutura do Ministério do Esporte, atendendo à exigência da Wada para criação de um órgão específico de controle de doping no país, compromisso assumido na candidatura do Rio de Janeiro como sede dos Jogos de 2016.

- Acredito que em função dos pequenos probleminhas que houve no passado, o Ministério dos Esportes criou a ABDC, já em função dessa necessidade. Acho que foi detectado que era preciso uma estrutura mais séria, e acho que essa agência vai suprir todas essas necessidades em relação ao doping nos próximos anos. É algo necessário porque temos que ter credibilidade para sediar grandes eventos. A Copa e as Olimpíadas estão vindo aí, e temos que ser um dos melhores neste sentido - completou Emanuel.

FONTE:
http://sportv.globo.com/site/eventos/circuito-brasileiro-de-volei-de-praia/noticia/2013/01/emanuel-pede-rigidez-no-antidoping-herois-de-mentira-devem-ser-banidos.html

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