GRÊMIO
Atacante desembarca em Porto Alegre para realizar exames médicos e assinar
com o Tricolor. Evolução na parte tática é grande legado de passagem pelo Japão
Kayke no estilo praiano no Rio de
Janeiro: atacante quer voltar ao
Brasil (Foto: Igor Rodrigues/
GloboEsporte.com)
O GloboEsporte.com conversou com o jogador na última sexta-feira de 2016, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. De regata e óculos escuros sob sol escaldante, muito diferente do clima encontrado do outro lado do mundo, o jogador destacou o crescimento como profissional, comemorou os primeiros meses como pai e ainda falou do Grêmio, com o qual já obteve acerto e está em fase final de negociação. Ao saber que Renato Gaúcho o colocou na lista de interesse durante entrevista no Jogo das Estrelas, no Maracanã, o sorriso apareceu junto com os elogios ao atual campeão da Copa do Brasil.
- O treinador tem que conhecer o grupo que tem na mão, e o Renato (Gaúcho) faz isso com perfeição. Não é a toa que pegou o Grêmio no meio do caminho, poderia ter se arrasado em uma competição de mata-mata, que é muito difícil pegar numa fase final (...) O treinador fecha uma pirâmide. Começa lá de baixo, mas se o treinador não quiser lá em cima nada vai acontecer. O fato dele ter aprovado me deixa muito feliz e muito animado para o que possa vir acontecer no Grêmio, porque é uma grande equipe. Seria um prazer, ainda mais com o aval de um treinador como o Renato. Um time que recentemente foi campeão da Copa do Brasil, acredito que venha muito forte para o próximo ano, deve fazer algumas contratações para melhorar o elenco. Estamos conversando e escutando, não só do Grêmio, sondagens de times interessados. Expus minha vontade, mas não é tudo. Espero que vá por um caminho que eu fique feliz.
Seria um prazer (jogar no Grêmio), ainda mais com o aval de um treinador como o Renato Gaúcho."
Kayke
- A carreira de futebol é muito rápida.
Eu fui para o Japão por um propósito, que era atingir um nível diferenciado.
Hoje estou num outro nível como jogador, aprendi bastante, mas infelizmente não
alcancei os objetivos coletivos na liga, saímos na semifinal da Copa. A gente
tinha tudo para conquistar pelo menos um título, mas não aconteceu. Acaba
frustrando um pouco, porque você vai numa expectativa muito grande, o pessoal
depositando muita confiança, no final você acaba pensando, “falhei”. E o
planejamento futuro do Yokohama também, uma troca de diretoria, de presidência,
mudança drástica no elenco, jogadores importantes estão de saída, como o
Nakamura, lenda nossa do Japão. Tem outro brasileiro, o Fábio, que está indo
para o Gamba Osaka. Isso conta muito para mim como jogador, tenho contrato de
três anos. Deixei bem claro para a diretoria que não quero voltar para um time montado de
qualquer jeito, mas sim para um que queira ser campeão, que busque reforços. Minha vontade é realmente estar aqui.
O dia 7 de março de 2015 marcou o fim da passagem de Kayke pelo Flamengo e o início da era no futebol japonês. Uma temporada depois, o jogador revelou estar adaptado, mas não foi fácil, principalmente nos primeiros meses. Entre os complicadores, a língua. Fluente no inglês, acabou "batendo a cara na parede" ao ver que por lá apenas o japonês era falado. Aulas de nihongo (dialeto japonês) depois, algo melhorou, principalmente dentro de campo.
Kayke entra em campo com o pequeno Yan:
pai quer que filho seja Flamengo no futuro
(Foto: Reprodução/Twitter)
A vida com os familiares também é ponto positivo, especialmente pelo tempo disponível para passar com o pequeno Yan, filho que nasceu em fevereiro de 2016. Futebolisticamente falando, a evolução tática é a grande herança da passagem pelo futebol japonês.
- Eu já me achava um pouco diferente dos atacantes que só jogaram no Brasil. Eu atuei três anos na Dinamarca antes de voltar ao Flamengo, joguei na Suécia, na Noruega, passagem rápida pela Alemanha. Aprendi bastante nos treinamentos, jogos, no tempo que estive lá fora para poder voltar.
Quando você cai num time que exige muito da sua parte tática isso fica mais visível, dá para ver que o cara consegue fazer. Quando cai num time que não necessita tanto da parte tática, eu como um atacante, as pessoas acabam não tendo muito essa percepção. Foi com certeza mais um aprendizado. Da mesma forma que eu não queria ter ido para o Japão, percebi que estava lá por um propósito quando cheguei, e era esse, aprender nessa temporada, jogando e sendo mais forte taticamente.
O nível do futebol japonês não surpreendeu o atacante, que fez questão de apontar o Mundial de Clubes como um dos grandes exemplos para justificar a qualidade dos clubes do país. A vitória do Kashima Antlers contra o Atlético Nacional e o jogo duro diante do Real Madrid na decisão foram motivos de comemoração para o brasileiro.
- A maior resposta é o Mundial, né? Fiquei muito feliz do Kashima ter
chegado à final, passado pelo campeão sul-americano, que bateu em todos os
brasileiros, ganhou a Libertadores com sobra. Se o melhor time da América do
Sul perdeu taticamente, fisicamente, perdeu para tudo contra um time japonês,
mostra que o futebol do Japão não é aquilo que as pessoas imaginam. Se você vai
para lá achando que vai ser fácil está muito enganado. Outra prova disso é o
número de gols que fiz na temporada, só eu sei a dificuldade que foi para estar
marcando os nove. Eles marcam muito forte, os espaços entre as linhas de
meio-campo, defesa e ataque praticamente não existem, eles são bem
disciplinados taticamente, se esforçam muito para serem perfeitos. Os japoneses
têm essa cultura para tudo, no futebol entram na bola carregando a cultura.
Kayke ao lado do parceiro Everton, ainda no
Flamengo: ele é torcedor do clube (Foto:
Alexandre Lago/GloboEsporte.com)
Como não é segredo para ninguém, Kayke tem uma relação próxima com o Flamengo. Criado na base do clube, voltou à equipe em 2015 e teve o carinho da torcida renovado. No meio de sondagens do mercado de negociações, o atacante falou sobre profissionalismo de ter que aceitar propostas de outras equipes no futebol brasileiro. Contudo, no atual cenário dos clubes, afirmou que não aceitaria defender o rival Vasco.
Hoje eu não jogaria no Vasco, sendo bem sincero, porque o Vasco está bem longe de ser um Flamengo."
Kayke
Mesmo com o fuso horário trocado, o atacante sempre acompanha o Flamengo pela internet. Já pensa até mesmo no futuro rubro-negro do pequeno Yan. As muitas mensagens dos torcedores nas redes sociais pedindo o retorno chegam a assustar o jogador, que retribui o carinho com declarações de amor ao clube.
- Pelas redes sociais recebo
muita mensagem, cara. Me deixa muito feliz, é um fato que chega até a ser
surpreendente para mim pelo fato de ser pouco tempo de convívio no ano de 2015.
Foi impactante. Acho que o fato de eu ter começado no Flamengo conta muito. Fui
torcedor, torço para o Flamengo, todos sabem. Eu ia nas arquibancadas, sei do
que estou falando. Sei o que eles pensam porque eu pensava igual. Hoje sou
profissional, mas quando eu era moleque estava lá no Maracanã vendo os caras.
Basicamente é isso, quando vem da base é um carinho diferente, começou aqui no
time que eu torço, está desde os oito anos, gosta do clube, tem identificação.
É aquela coisa do amor da camisa, que não existe mais.
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