FONTE:
http://jornalggn.com.br/noticia/temer-cortou-bolsa-familia-de-cicero-que-sustenta-5-pessoas-com-r-168-per-capita
Jornal GGN - Uma reportagem do porta Gazeta Web mostra os efeitos do "pente-fino" promovido pelo governo Temer no programa Bolsa Família na vida de beneficiários de Alagoas. Ou melhor: ex-beneficiários, porque com as mudanças promovidas pelo novo Ministério do Desenvolvimento Social, a família de Cícero, que tem cinco pessoas, que gera no máximo R$ 168 per capita (quando trabalha 7 dias por semana, ganhando R$ 30), com alguns bicos do patriarca, teve o atendimento suspenso.
Lais dos Santos, mãe de duas crianças, também foi cortada do Bolsa Família. A desculpa foi que sua documentação era insuficiente para permanecer no programa.
O governo Temer anunciou, em novembro, uma nova base de dados para fazer vistorias no Bolsa Familia. Com isso, em apenas um mês, mais de 1 milhão de beneficiários foram prejudicados com a justificativa de que estavam em situação irregular.
Ao contrário do que fazia o governo Dilma - atualizações anuais de cadastro, para evitar prejudicar famílias com falsas sensações de melhoria de renda num mês mais comercial, como novembro e dezembro - Temer quer promover pente-fino no Bolsa Família todos os meses. O MDS já estimou tirar mais 1 milhão de pessoas do atendimento no início de 2017.
Por Pedro Ferro
Do Gazeta Web
Em uma casa de taipa no município de Girau do Ponciano, no interior de Alagoas, uma família de cinco pessoas comia carne seca com farinha, enquanto aguardava uma boa notícia do pai que estava na sede da Assistência Social do município. Com os olhos inchados de tanto chorar, o homem chega e, rapidamente, todos perguntavam o que aconteceu. Sem responder, ele foi até a cozinha e pegou um santo para rezar. Sua maior preocupação era o que a família poderia comer no jantar.
O homem de 50 anos se tornou mais um excluído do Programa Bolsa Família, após ter seu cadastro bloqueado, por falta de documentos. Um invisível para o governo, que está vivendo abaixo da linha da pobreza, em Maceió, local que veio tentar a sorte de ter uma vida melhor. O maior pente-fino da história do programa do Governo Federal já bloqueou ou cancelou 19 mil benefícios em Alagoas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA).
De acordo com o MDSA, a resultado se deve ao aprimoramento de mecanismos de controle do programa, que teve a sua base de dados ampliada para verificação permanente da renda das famílias. O levantamento mostra que, em todos os casos, foi constatado pelas equipes do ministério que a renda das famílias era superior à exigida para ingresso e permanência no programa.
Segundo Cícero, a única vez que ele teve uma fonte de renda foi aos 18 anos, quando trabalhou como ajudante de uma usina. Hoje, ele vive com a esposa, duas filhas e uma neta. Antes de vir a Maceió, Cícero ganhava cerca de R$ 12,00 reais por dia, quando conseguia trabalho, porque capinava nas proximidades do local onde morava e vendia frutas na beira da estrada.
Segundo Cícero, a única vez que ele teve uma fonte de renda foi aos 18 anos, quando trabalhou como ajudante de uma usina. Hoje, ele vive com a esposa, duas filhas e uma neta. Antes de vir a Maceió, Cícero ganhava cerca de R$ 12,00 reais por dia, quando conseguia trabalho, porque capinava nas proximidades do local onde morava e vendia frutas na beira da estrada.
Hoje, ele cata latinhas e garrafas nas ruas da capital, a fim de vender para empresas de reciclagem, além de cortar árvores e capinar em residências dos bairros de Maceió. Ele diz que consegue faturar cerca de R$ 25,00 à R$ 30,00 reais por dia, trabalhando de domingo a domingo.
O município de Girau tem Índice de Desenvolvimento Humano baixo, segundo o Atlas do IDH. Até o ano de 2000, metade da população da cidade era analfabeta. Hoje, não há uma pesquisa que mostre os números corretamente, do nível de analfabetismo dos habitantes do local.
Casos como o de Cícero têm se tornando constante em Alagoas. Como ele, Laís dos Santos saiu de São Luís do Quitunde, no Litoral Norte do estado, a fim de conseguir dar uma vida melhor para os filhos em Maceió.
Ela tem 21 anos e fica todos os dias na porta de estabelecimentos comerciais e agências bancárias para conseguir dinheiro. Com as duas filhas, ela pede dinheiro ou comida, além de materiais para a higiene da filha de dois anos, que ainda usa fraudas. A jornada em busca da sustento começa às sete da manhã e, enquanto ela está à porta do banco, seu marido está no centro de Maceió ou no Jaraguá, descarregando caminhões para ganhar um "trocado".
"Meu benefício foi cortado. Mesmo assim quando tentei resolver, os documentos não eram suficientes e algo estava errado. Não entendi muito bem porque não tenho muito conhecimento dessas coisas. A alternativa foi tentar a vida em Maceió", desabafa Laís.
Problemas com a economia
Segundo o economista Felippe Rocha o corte do benefício para famílias do interior de Alagoas pode causar danos à economia do estado.
"Quem recebe o auxílio, geralmente, está na subsistência. Retirando este benefício pode ser impactante para a economia por conta de que aquela agricultura familiar, como é o caso de maioria das pessoas que recebem o Bolsa Família, pode virar êxodo rural e impactar no aumento de preços", informou.
Ainda segundo Felippe, a busca pelo emprego na capital, muitas vezes, é ilusória e pode aumentar o número de analfabetos. "Sem auxílio, essas pessoas vem pra capital e buscam trabalho, mas não encontram. Porque o mercado hoje pede qualificação e boa parte não tiveram uma formação. Com isso, aqueles que têm filhos colocam a criança para ajudar no trabalho e isso vai formando mais analfabetos e pessoas sem qualificação", expôs.
Pode aumentar a marginalização
Já o cientista social, Aurélio Santos, explica que o Bolsa Família é necessário para o auxílio das famílias, principalmente no momento de crise e o que a falta do benefício pode causar.
"A maioria das pessoas que recebem o Bolsa Família estão no interior. Estima-se que em todo o país, 20% dos beneficiários não têm acesso a escola ou emprego e, consequentemente, sem qualificação profissional. E quem recebe e tem acesso ao colégio, largaria a escola e tentaria trabalhar. Ou seja, o sub emprego iria ficar cada vez mais barato. Se o país tivessem escolas e ensino de qualidade, aprimorar e qualificar pessoas que não possuem acesso ao estado. Construir novas escolas, também com isso, o Bolsa Família iria começar deixar de ser necessário e iríamos construir uma geração mais qualificada, aumentando o valor da mão de obra e um maior sustento familiar. Podendo até provocar a marginalização de muitos", explica Aurélio.
O Gazetaweb tentou entrar em contato com a Secretaria de Estado da Assistência e do Desenvolvimento Social (Seades), mas não obteve êxito.
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