sexta-feira, 31 de julho de 2015

Festas, costelinha traiçoeira e carro aquático: os "causos" de R10 em Minas

Fornecedores, amigos e vizinhos desmistificam "lendas" envolvendo Ronaldinho, um ano depois de sua saída do Galo. Confira algumas histórias que você não conhecia



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Belo Horizonte
 

O dia 31 de julho de 2014 marcou oficialmente a despedida de Ronaldinho Gaúcho do Atlético-MG. Numa entrevista coletiva emocionada na Cidade do Galo, R10 anunciou o fim de seu ciclo com a camisa alvinegra. Apesar da saída antes do término de seu contrato - válido até o fim de 2014 - ele deixou o nome eternizado na história do clube com a conquista de um Estadual, da Recopa e, principalmente, da Libertadores - maior título da história do Galo. Foram 88 jogos e 28 gols numa passagem de pouco mais de dois anos. Hoje no Fluminense, ele deixa saudades entre os torcedores alvinegros, em especial a alguns que conviveram, de perto, com o ídolo em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, local em que o craque morou durante sua estadia por Minas.

Na data que marca um ano sem R10 no Galo, o GloboEsporte.com visitou a antiga casa do jogador, falou com funcionários que conviveram com o meia, além de "fornecedores", vizinhos e amigos, a fim de buscar “causos” envolvendo a passagem do jogador pelo estado, não antes conhecidos pelo público. Nem todos os entrevistados quiseram se identificar, por terem uma relação de amizade com o jogador, mesmo que à distância. Confira outras histórias protagonizadas por Ronaldinho Gaúcho, em Minas Gerais.

FESTAS EM CASA

Ronaldinho Gaúcho canta em roda de samba (Foto: Rafael Araújo)Ronaldinho Gaúcho canta em roda de samba, durante encontro em sua casa (Foto: Rafael Araújo)


Das diversas pessoas ligadas a R10, ouvidas pela reportagem, a maioria relatou situações parecidas: Ronaldinho sempre fez churrascos com um número reduzido de pessoas: 15. Festas de arromba foram apenas duas, nos dois aniversários comemorados pelo meia em Minas Gerais. Nada de bebedeiras apoteóticas recorrentes ou megaeventos que tiravam o sono dos vizinhos. A agitação era substituída por constantes reuniões, principalmente nos dias de semana.

- Não temos nada a reclamar dele. Só uma vez o som estava um pouco mais alto, aí o encarregado de segurança foi lá, conversou e abaixaram. Era uma pessoa que entrava para a casa dele, fazia umas festinhas lá dentro mesmo, mas sem atrapalhar ninguém – resumiu Lidiane Silva, funcionária do condomínio.

Apesar da pouca badalação relacionada a festas, pelo menos um “causo” marcou funcionários e moradores do Condomínio das Amendoeiras. O porteiro Renílson Abreu relembra uma história que lhe foi contada, envolvendo um dos convidados de Ronaldinho. Depois da festa, ele foi parar com o carro dentro d’água.



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- Eu não presenciei, mas foi à noite. Um convidado entrou, foi na festa, bebeu e, na saída, errou o trajeto. Ao invés de seguir pela avenida, virou para o clube, estava manguaçado mesmo. Aí, lá embaixo, tem um pesque-pague, ele tentou virar, mas não conseguiu. Um dos vigilantes que rodam à noite passou lá, viu aquele movimento, ele tentando tirar o carro... Veio outro carro da segurança e o rebocou. O convidado estava bem embriagado mesmo, mas foi só isso de anormal nessa época aí, além das baguncinhas deles lá. O resto foi tranquilo.

Ele (Ronaldinho) era um cara humilde, que sempre atendia pedidos de autógrafos e era atencioso com as crianças, a gente hoje até sente saudade
Carlos Salgado, ex-vizinho de R10

A opinião dos vizinhos mais próximos é um pouco diferente dos funcionários do condomínio. Mas hoje, sentindo a ausência do craque, eles admitem que Ronaldinho faz falta.

 - Na época, tinha um pouco de barulho, sim, chegava a incomodar. Mas, como ele era um cara humilde, que sempre atendia pedidos de autógrafos e era atencioso com as crianças, a gente hoje até sente saudade. Mas que tinha o som um pouco alto, isso tinha, e não tinha hora e nem dia para eles se reunirem na casa do Ronaldinho – explicou Carlos Salgado, ex-vizinho de R10. 



DUELOS DE MC'S, AMOR AO GALO E DIFERENÇAS COM O R10 

Apesar de sempre reunir pessoas em sua casa, são poucos os registros fotográficos da época, tampouco filmagens. Segundo os frequentadores, não havia nenhuma relação com o que ocorria nos tempos de Flamengo, no Rio de Janeiro. Na capital carioca, a lenda conta que os celulares dos convidados eram recolhidos e entregues na saída. Por aqui, Ronaldo tornou-se mais liberal, sempre educado, mas, mesmo assim, sem permitir a exposição excessiva. Caso algum celular registrasse algo, logo um amigo ou segurança abordava a pessoa e exigia que a foto fosse apagado. Caso contrário, rua.

Ronaldinho Gaúcho e EdCity (Foto: Rafael Araújo)Ronaldinho Gaúcho e EdCity também tiveram 
um encontro durante a passagem pelo Atlético-
MG (Foto: Rafael Araújo)


- Diferente do que era no Rio, aqui não tinha essa de pegar o celular de quem chegasse na casa para colocar num saquinho. O pessoal já ficava mais à vontade, mas sempre que alguém ia tirar uma foto, alguém chegava perto e mandava apagar, na moral. Se algum convidado começasse a ficar muito empolgado e enchendo o saco, Ronaldo já dava um toque nos seguranças e mandava vazar. As festas não tinham quebradeira como se imagina, eram mais reservadas – revelou um amigo, que também fazia o papel de segurança, mas que preferiu não se identificar.

Com o ambiente seguro e tranquilo, R10 passou a mostrar um lado mais extrovertido. Para uma das confraternizações, a banda local No Flow foi contratada, mas, em determinado momento, o jogador mostrou também artista com o microfone.

- A banda tem no repertório funk e rap e, em determinado momento, o pessoal começou a fazer rimas improvisadas, que o pessoal chama de duelo ou batalha. Do nada, o Ronaldo pegou o microfone, começou a mandar algumas rimas e ganhou feio do adversário dele. Todo mundo ficou espantado - disse Marcelo Barcelos, um dos músicos da banda.


ronaldinho gaúcho (Foto: Divulgação)
Ronaldinho Gaúcho fazia declarações de amor 
ao Atlético-MG, confidenciaram os amigos 
(Foto: Divulgação)


Familiarizado com o ambiente e as pessoas, o jogador teria mostrado amor pelo Atlético-MG num discurso que teria marcado quem estava presente.

- Quando cheguei no Rio de Janeiro, o Cristo (Redentor) bateu continência para mim. Mas quando cheguei ao Atlético, que vi realmente o que era uma grande torcida. Cheguei como comandante e agora sou só um soldado do Galo – teria dito o camisa 10, segundo uma das pessoas ouvidas pela reportagem. 

A FIEL ESCUDEIRA

Casa Ronaldinho Gaúcho Lagoa Santa (Foto: Maurício Paulucci)Ex- casa de Ronaldinho Gaúcho, em Lagoa Santa (Foto: Maurício Paulucci)


Zilca é a governanta de Ronaldinho Gaúcho, que acompanha a família do jogador há anos. É ela quem toma conta de tudo relacionado à casa do jogador. Mas, em Lagoa Santa, Zilca ganhou o apoio irrestrito e a amizade de uma fiel escudeira: Eva Reias, dona de um empório na cidade, que vende todo tipo de bebida, além de carnes especiais. A empresária conta como tudo começou.

- Um dia estava aqui na loja, e a Zilca ligou, se identificando como a governanta do Ronaldinho. Ela estava perguntado qual tipo de serviços oferecíamos e se eu poderia providenciar alguns produtos. No início, achei até que era trote, mas, mesmo assim, peguei a lista e levei a encomenda. Quando cheguei por lá, vi que realmente era verdade. Quando eu estava colocando a mão na massa, carregando peso e tudo mais, apareceu o Ronaldo. Ele foi simpático e, no bom mineirês, perguntei se ele estava joia. Foi aí que ele caiu na risada, e sempre que me encontrava por lá, nesses dois anos, perguntava se eu estava joia, brincando comigo.

A lista elaborada por Zilca, por telefone, foi apenas o início do contato entre elas. Segundo Eva, a relação ganhou em confiança, e ela passou a tomar conta da logística dos churrascos. Além disso, chegou até a emprestar freezer para o jogador.

- Depois dessa primeira venda, adquiri a confiança de atender nos eventos, no aniversário dele de 33 anos, de 34, e, diariamente, nos churrascos que tinham lá. Ele tinha muitos amigos constantes, grupos de 15 pessoas, e passei a abastecer a casa dentro do que me permitiam. Eu tinha liberdade de chegar na despensa mesmo, olhar o que estava faltando e repor cada item. Depois eu até emprestei um freezer para comportar o volume de cerveja. E, como atleticana, customizei ele todo com adesivos do Galo.


Empório que Ronaldinho comprava bebidas (Foto: Maurício Paulucci)
Empório que Ronaldinho comprava bebidas 
na cidade de Lagoa Santa 
(Foto: Maurício Paulucci)


Com relação à cerveja, Eva guarda com carinho uma boa lembrança. Ela se orgulha de ter ajudado a apurar o gosto do jogador.

- Ele que me perdoe de estar falando assim, mas chegou aqui em Lagoa Santa bebendo uma cerveja mais fraquinha. Achei estranho, depois ganhei mais liberdade, comentei com a Zilca e ofereci a cerveja mais encorpada. Depois, segundo a Zilca, ele disse que não sabia que aqui tinha. A partir de então, deixei o freezer para eles sempre cheio - explicou a empresária, que também comentou sobre o gosto do jogador por tequilas. Ela apresentou outra marca da bebida ao craque.

- Na hora, ele não se empolgou muito, mas, logo depois, as quatro garrafas que tinha levado estavam vazias – relembra. 



Charge Ronaldinho Gaúcho costela (Foto: Renato Peters)Charge sobre Ronaldinho Gaúcho (Foto: Renato Peters)


Saudade de R10

Eva garante que sente falta da amizade que fez com todos que cercavam o jogador e sonha revê-los um dia. Ela também não desmente que o lado financeiro era muito bom, mas sem revelar valores. Mas, pelo que conta outro funcionário, que sempre estava na casa de R10, o gasto mensal com bebidas e carnes especiais superava os R$ 10 mil. Churrascos regados à picanha também eram constantes, mas ele não dispensava uma boa feijoada. Feijão tropeiro, prato típico de Minas e que geralmente agrada os visitantes, não entrou em sua lista de preferências.

Outro item que não podia faltar era a costelinha, e teria sido justamente ela, a vilã para R10 em um dos churrascos. Logo após encerrar o tratamento dentário, o dentista foi claro: nada de comer alimentos duros por algum tempo. Ronaldinho não seguiu a recomendação à risca, acabou prejudicando um dente e teve que ir às pressas para resolver a situação.

- Não vamos contar a história do dente não, tadinho. A costelinha que quebrou o dente, mas deixa isso para lá – desconversou Eva.


Mas é Ronaldinho quem escreverá uma nova história em seu currículo. Neste sábado, ele voltará a atuar em campos brasileiros, mas agora pelo Fluminense. Ele está confirmado para enfrentar o Grêmio, às 18h30 (de Brasília), no Maracanã.


FONTE:
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