sábado, 25 de julho de 2015

Conheça seis jovens volantes que fogem do conceito de brucutu

Rodrigo Dourado é do Sul. Otávio, Rithely, Edson, Walace e Renan nasceram no Norte-Nordeste. Quatro se inspiram em europeus, como Pogba, Pirlo e Kroos



Por
Rio de Janeiro


Bom no desarme. Marcação implacável. Precisão no passe. Habilidade para sair jogando. Apoio com disposição e presença nas jogadas ofensivas. Velocidade na transição para o ataque. Outrora chamado de centro-médio ou médio-volante, para os mais românticos, ou cabeça de área, numa fase amaldiçoada por brucutus, o volante reencontrou o equilíbrio na direção e revive momento interessante. São caras renovadas e por vezes se inspirando em - vejam só - modelos europeus que lembram velhos e agradáveis tempos nos quais o futebol brasileiro ditava as regras. Otávio, do Atlético-PR, Rithely, do Sport, Edson, do Fluminense, Walace, do Grêmio, Rodrigo Dourado, do Internacional, e Renan, do Avaí, têm apresentado a cada rodada do Campeonato Brasileiro virtudes que os fazem destaques.

Dos cinco nascidos no Norte-Nordeste, quatro confessam se espelhar e seguir exemplos de astros da Europa. Nada mais globalizado. Que o digam Otávio e Walace, fãs do francês Pogba, do Juventus, da Itália; e Rithely, que sonha seguir a cartilha do italiano Pirlo, recém-contratado pelo New York City (EUA). Já o caçula das revelações, o garoto Renan, de 17 anos, do Avaí, é fã do astro francês, do italiano e do alemão Tony Kroos, do Real Madrid.

O gaúcho Rodrigo Dourado, 21 anos, prefere se espelhar em brasileiros, como Luiz Gustavo. O Brasileirão apresenta outros bons nomes na posição, já mais conhecidos. São os casos de Gabriel, do Palmeiras, e Rafael Carioca, do Atlético-MG. Thiago Mendes, contratado do Goiás, começa a aparecer mais jogando improvisado na lateral direita do São Paulo.

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OTÁVIO, O FAZ TUDO DO FURACÃO 


Quem vê hoje Otávio se desdobrando em campo cheio de gás, roubando bolas, cobrindo zagueiros e laterais, indo à frente para dar assistência e bater a gol, não imagina que o jogador ganhou 20kg de massa muscular desde sua chegada em 2009, do CRB, de Alagoas. A persistência o levou a ganhar a vaga de titular nas divisões de base somente em 2012. Antes reserva de Hernani, passou a fazer dupla com o jogador até subir aos profissionais (assista ao vídeo acima).

Destaque no estadual de 2014, agora é peça-chave na equipe e vislumbra a seleção olímpica. Neste Brasileirão, é aposta garantida para quem joga no Cartola FC por causa de suas roubadas de bola. Na derrota para o Corinthians, roubou 11. É o líder do campeonato nesse quesito, com 51 em 12 partidas, média fantástica de 4,25. No Armandão aparece em quinto, com média de nota de 6,63. O jogador, de 21 anos, procura assistir a vídeos e jogos de seu ídolo na posição, o francês Pogba.


Milton Mendes, técnico do Atlético-PR:
- Quando aqui cheguei, o Otávio era considerado um primeiro volante. Mas, nas minhas equipes, não existem primeiros volantes, não existem segundos volantes. Existe uma flutuação de posições, existe uma ocupação de espaços que faz com que a equipe tenha uma variação de posições. Esses são os direitos. Depois, tem o outro lado, que são os deveres. Os deveres são quando não temos a posse de bola. Nossos deveres são a ocupação de espaços, para que a equipe rode e transite dentro desses espaços e setores, onde o jogador, estando, não precise ser primeiro ou segundo. O caça-craque acabou. Lógico que existem muitos caça-craques aí. Mas aquele brucutu, que só pega e não joga, está ficando obsoleto. O Otávio é um protótipo disso, é um jogador com muitas qualidades técnicas, muitas qualidades de desarme, aguerrido, moderno, determinado e, acima de tudo, comprometido. 


DE "RINTHELY" A MELHOR VOLANTE DO BRASILEIRO



Desde que saiu da base do Goiás e ingressou no Sport, Francisco Rithely da Silva Sousa vem lutando no Sport. Em mais de quatro anos, viveu tudo. Conquistou títulos, foi importante no acesso para a Série A. Mas viveu o outro lado também: tem a mancha de um rebaixamento para a Série B na conta. Antes perseguido - chegou a ser chamado de "Ruinthely" pela torcida -, agora o maranhense é essencial no esquema do treinador Eduardo Baptista (assista ao vídeo acima). 

Admirador do veterano e ídolo Pirlo, de quem procura o máximo de inspiração possível tanto pelo posicionamento em campo como para antever a jogada e pelas aparições em assistências e jogadas de ataque, Rithely acabou de dizer não a uma proposta do futebol chinês para tentar se firmar de vez no futebol brasileiro. Aos 24 anos, está em lua de mel com a torcida. Importante para puxar contra-ataques, é o oitavo em roubadas de bola no Brasileirão - 32 em 13 jogos, com média de 2,46. Sabe aparecer bem com surpresa no ataque, tanto que marcou um gol, de cabeça, e é o melhor da média de notas no Troféu Armando Nogueira em sua posição, com 6,77, empatado com Rafael Carioca, do Atlético-MG..


Eduardo Baptista, técnico do Sport:
- Rithely é um volante que evoluiu muito. Sempre marcou muito bem e, quando começamos a introduzir a marcação por zona, começou a entender que precisava preencher os setores e evoluiu ainda mais. Desde o ano passado, venho cobrando dele pois sempre jogava muito para o lado. E eu achava que tinha condições de jogar para a frente, como se joga na Europa. O volante que joga nessa posição sempre dá o passe por dentro achando o meia ou o atacante. Comecei a cobrar e mostrei vídeos não só do Pirlo, mas de outros jogadores europeus com essa característica. Ele entendeu bem e levou muito a sério, e isso está sendo o diferencial dele. Rithely ainda tende a evoluir muito.


Wendel, meia do Sport:
- Rithely é um volante moderno, algo que no futebol atual é fundamental. É versátil, excelente ladrão de bola e muito bom no jogo aéreo com uma média boa de gols. Evoluiu muito na participação ofensiva e transição da defesa ao ataque. Outra virtude: não tem lesões e toma pouquíssimos cartões. Com apenas 24 anos já possui mais de 350 jogos na carreira.

EDSON, O TOURO TRICOLOR 


O gol de canhota na virada do Fluminense sobre o Goiás por 2 a 1, no Serra Dourada (assista ao vídeo acima), é a cereja do bolo. Com o direito de compra adquirido recentemente do Coimbra (MG) por R$ 1,2 milhão, Edson Felipe da Cruz faz jus ao nome da sua cidade de origem, Touros (RN). Terceiro maior roubador de bolas do Brasileirão (40 em 13 partidas, com média de 3,08), figura no sétimo lugar do Armandão da sua posição, com média de nota de 6,42.

A vice-liderança do Flu no Brasileiro foi conquistada com muito suor desse jogador, que tem 24 anos e começou no ABC, de Natal. Depois foi emprestado para o sub-20 do Atlético-MG e do Grêmio, como lateral-direito, e não aprovou. No Paulista de 2014, pelo São Bernardo, sua raça e determinação despertaram o interesse tricolor. O volante caiu nas graças da torcida e de todo treinador que comanda a equipe. 


Enderson Moreira, técnico do Fluminense:
- O Edson é um retrato, assim como o Jean, desse volante moderno. Futebol moderno é criar situações em que o atleta tenha grande eficiência, no ataque e na defesa. Eles buscam isso. Marcam bem e chegam na frente como fator de desequilíbrio. Futebol moderno é isso, buscar eficiência no ataque e na defesa. 

Cavalieri, goleiro do Fluminense:
- É impressionante a vitalidade que o Edson tem. Marca, corre, lança e chega na frente para finalizar. Daqui a pouco já está lá atrás na defesa de novo. Essa é uma virtude que ele tem. É uma peça muito importante para nós e vive uma excelente fase.

WALACE: HABILIDADE E SEMELHANÇA COMPOGBA  



Fisicamente parecido com o francês Pogba, com 1,88m de altura, o baiano Walace saiu do Avaí para o Grêmio quando tinha 18 anos. Sua posição original era de meia, até que se encaixou como volante, daí a facilidade de dominar a bola, ter visão de jogo... E haja inspiração para roubar a bola. Na vitória sobre o Vasco por 2 a 0, no último sábado, foram sete. No geral, ele aparece na sexta posição, com 33 em 12 jogos (média de 2,75). No Armandão é o oitavo, com média de nota de 6,33. Lançado por Felipão no ano passado, viveu momentos de instabilidade. Com Roger Machado, virou titular de vez. O novo técnico passou a lhe dar mais liberdade. Antes, ficava mais preso às necessidades de marcação (assista ao vídeo acima).

Com isso, seu futebol habilidoso apareceu mais. A ponto de em alguns jogos cumprir funções mais adiantadas, como segundo volante, geralmente exercidas por Maicon. Walace, de 20 anos, não esconde a admiração por Pogba. E times da Europa já começam a mostrar interesse, como a Fiorentina, acenando com 5 milhões de euros (R$ 17 milhões). Segundo o presidente Romildo Bolzan Júnior, não houve proposta oficial até o momento e o clube não deseja negociar jovens jogadores. Mas é bom a torcida aproveitar enquanto pode. 


Roger Machado, técnico do Grêmio:
- Quando cheguei, já o conhecia. Conversamos e disse a ele que podia dar um passo à frente, jogar no campo do adversário. Ele fecha bem, mas eu disse que precisava que o volante atuasse no campo do adversário, para não deixar sobrecarregado o meia. É importante ter o equilíbrio.

Edinho, volante do grêmio:
- No meu modo de ver, o Walace é o melhor volante, disparado, do futebol brasileiro. Vai ter mais liberdade, mas sem fugir às características de marcação. Tomara que a gente possa dar mais liberdade para o Giuliano, para o Luan, mas acho que ele terá mais liberdade para chegar ao ataque.

RENAN, TALENTO PRECOCE



A eficiência e a rapidez na transição da bola do meio-campo para o ataque são virtudes também  do caçula da lista: o rondoniense Renan, 17 anos, nascido em Ariquemes. O começo foi num time do interior do Paraná, na cidade de Arapongas. No sugestivo Laranja Mecânica, aprendeu de cara a filosofia holandesa, de mesclar a posse de bola com inteligência tática. Em 2011, chegou ao Avaí para jogar no infantil. Aos 16 anos, foi para os juniores. Aos 17, firmou-se entre os titulares do Leão atropelando nomes mais experientes, como Eduardo Costa e Uelliton. 

Na Copa São Paulo de Juniores, foi o principal jogador e atraiu o interesse de vários clubes – o Inter o indicou como moeda de troca quando o Leão negociava para ter Jorge Henrique, ainda no primeiro semestre. No Catarinense deste ano, estreou entre os profissionais, sob o comando do interino Raul Cabral. Não deixou mais o time titular e virou homem de confiança de Gilson Kleina. Supera a baixa estatura com muita força física e bom posicionamento e é tratado como uma das principais joias avaianas desde o surgimento de Marquinhos, atual camisa 10. Não é dos maiores roubadores de bola (tem média de 1,46 por jogo). Mas, em compensação, chega para concluir e já marcou um gol no Brasileirão. 


Gilson Kleina, técnico do Avaí:
- Renan está se mantendo como titular, e o nível técnico da equipe passa pela competitividade dele. Mérito do jogador e das pessoas que o monitoraram e o lapidaram. Cabe a nós lapidar mais ainda agora. É um jogador próximo de ser completo, e, por mais que seja uma análise precoce, não é qualquer jogador de 17 anos que se mantém como titular em uma Série A. Muito se fala em futebol moderno, e a gente sabe que hoje pede muito isso: encurtamento na marcação sobre pressão, tentativa de fazer pressão no homem da bola. Vi nesse garoto isso, desde os primeiros treinamentos. 

Emerson, zagueiro do Avaí:
- Falam que o Renanzinho é uma promessa. Para mim, é uma realidade e tem que ser trabalhado com muita cautela pelo clube para poder usufruir dessa qualidade. Ele parece ser um moleque muito tranquilo, e para ele é boa essa oportunidade. Você coloca os meninos da base para jogar e estão prontos, e com ele tem sido assim. Ele tem 17 anos, e acredito que para ele é bom ter entrado novo. E às vezes a gente fala que ele é mais experiente do que qualquer jogador de 30 anos. Está bem à vontade. Para entrar e encaixar, o grupo tem que aceitá-lo bem, e isso foi feito, acolhemos muito bem. O grupo está extraindo o melhor dele em cada jogo.

RODRIGO DOURADO, A JOIA DO INTER



Houve quem não acreditasse no garoto Rodrigo Dourado já nas divisões de base do Internacional. Não pela falta de habilidade. Dos seis da lista, é o que tem mais intimidade com a bola, a ponto de alguns verem semelhança com o maior ídolo colorado, o genial Falcão. A grande dúvida que reinava era acerca de sua velocidade para a posição. Dos seis volantes da lista, certamente é o jogador mais lento, apesar dos 21 anos. Mas existe uma virtude para compensar o defeito: a inteligência. Sabe se colocar. E por isso não fica devendo. Na primeira partida contra o Tigres, pela semifinal da Libertadores, quando foi o melhor da equipe, fez nada mais nada menos do que 10 desarmes. Além disso, conta com a precisão do passe, até para inversão de jogo (assista ao vídeo acima, quando vira o jogo para Vitinho na esquerda e o atacante marca um golaço na vitória do Inter por 2 a 0 sobre o Coritiba)

Chamado de Pelotas desde moleque - é natural da cidade gaúcha -, Rodrigo Dourado firmou-se na equipe no Campeonato Gaúcho deste ano e não saiu mais do time sob o comando de Aguirre. E olha que o clube, desconfiado do talento da joia rara, ainda contratou o experiente Nilton, bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro, e Nicolás Freitas, uruguaio emprestado pelo Montevideo Wanderers. Rodrigo brilhou mais que os dois. Poupado mais no Brasileirão por causa da Libertadores, atuou sete partidas. Mesmo assim, vem se destacando. Aparece no top 10 da lista de volantes do Armandão, com média de 6,29, e é o quinto mais pontuado da equipe. Nas estatísticas de roubadas de bola, aparece em 42º lugar, com 19 - pela média, de 2,71, sobe para a nona posição. Agora, com o fim do sonho do sul-americano, a tendência é o futebol crescer com o foco no Brasileiro. Seu grande ídolo nem é da posição - sempre confessou admiração pelo camisa 10 francês Zinedine Zidane. De bola, Rodrigo Dourado entende...


* Colaboraram Fred Huber, Sofia Miranda, Lucas Liausu, Diego Madruga, Fernando Freire, Lucas Rizatti.


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