Rodrigo Dourado é do Sul. Otávio, Rithely, Edson, Walace e Renan nasceram no Norte-Nordeste. Quatro se inspiram em europeus, como Pogba, Pirlo e Kroos
Bom no desarme. Marcação implacável. Precisão no passe. Habilidade para sair jogando. Apoio com disposição e presença nas jogadas ofensivas. Velocidade na transição para o ataque. Outrora chamado de centro-médio ou médio-volante, para os mais românticos, ou cabeça de área, numa fase amaldiçoada por brucutus, o volante reencontrou o equilíbrio na direção e revive momento interessante. São caras renovadas e por vezes se inspirando em - vejam só - modelos europeus que lembram velhos e agradáveis tempos nos quais o futebol brasileiro ditava as regras. Otávio, do Atlético-PR, Rithely, do Sport, Edson, do Fluminense, Walace, do Grêmio, Rodrigo Dourado, do Internacional, e Renan, do Avaí, têm apresentado a cada rodada do Campeonato Brasileiro virtudes que os fazem destaques.
Dos cinco nascidos no Norte-Nordeste, quatro confessam se espelhar e seguir exemplos de astros da Europa. Nada mais globalizado. Que o digam Otávio e Walace, fãs do francês Pogba, do Juventus, da Itália; e Rithely, que sonha seguir a cartilha do italiano Pirlo, recém-contratado pelo New York City (EUA). Já o caçula das revelações, o garoto Renan, de 17 anos, do Avaí, é fã do astro francês, do italiano e do alemão Tony Kroos, do Real Madrid.
O gaúcho Rodrigo Dourado, 21 anos, prefere se espelhar em brasileiros, como Luiz Gustavo. O Brasileirão apresenta outros bons nomes na posição, já mais conhecidos. São os casos de Gabriel, do Palmeiras, e Rafael Carioca, do Atlético-MG. Thiago Mendes, contratado do Goiás, começa a aparecer mais jogando improvisado na lateral direita do São Paulo.
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OTÁVIO, O FAZ TUDO DO FURACÃO
Quem vê hoje Otávio se desdobrando em campo cheio de gás, roubando bolas, cobrindo zagueiros e laterais, indo à frente para dar assistência e bater a gol, não imagina que o jogador ganhou 20kg de massa muscular desde sua chegada em 2009, do CRB, de Alagoas. A persistência o levou a ganhar a vaga de titular nas divisões de base somente em 2012. Antes reserva de Hernani, passou a fazer dupla com o jogador até subir aos profissionais (assista ao vídeo acima).
Destaque no estadual de 2014, agora é peça-chave na equipe e vislumbra a seleção olímpica. Neste Brasileirão, é aposta garantida para quem joga no Cartola FC por causa de suas roubadas de bola. Na derrota para o Corinthians, roubou 11. É o líder do campeonato nesse quesito, com 51 em 12 partidas, média fantástica de 4,25. No Armandão aparece em quinto, com média de nota de 6,63. O jogador, de 21 anos, procura assistir a vídeos e jogos de seu ídolo na posição, o francês Pogba.
Milton Mendes, técnico do Atlético-PR:
-
Quando aqui cheguei, o Otávio era considerado um
primeiro volante. Mas, nas minhas equipes, não existem primeiros
volantes, não existem segundos volantes. Existe uma flutuação de
posições, existe uma ocupação de espaços que faz com que
a equipe tenha uma variação de posições. Esses são os direitos. Depois,
tem o outro lado, que são os deveres. Os deveres são quando não temos a
posse de bola. Nossos deveres são a ocupação de espaços, para que a
equipe
rode e transite dentro desses espaços e setores,
onde o jogador, estando, não precise ser primeiro ou segundo. O
caça-craque acabou. Lógico que existem muitos caça-craques aí. Mas
aquele brucutu, que só pega e não joga, está ficando obsoleto. O Otávio é
um protótipo disso, é um jogador com muitas qualidades técnicas, muitas
qualidades de desarme, aguerrido, moderno, determinado e, acima de
tudo, comprometido.
DE "RINTHELY" A MELHOR VOLANTE DO BRASILEIRO
Desde
que saiu da base do Goiás e ingressou no Sport, Francisco Rithely da
Silva Sousa vem lutando no Sport. Em mais de quatro anos, viveu tudo.
Conquistou títulos, foi importante no acesso para a Série A. Mas viveu o
outro lado também: tem a mancha de um rebaixamento para a Série B na
conta. Antes perseguido - chegou a ser chamado de
"Ruinthely" pela torcida -, agora o maranhense é
essencial no esquema do treinador Eduardo Baptista (assista ao vídeo acima).
Admirador
do veterano e ídolo Pirlo, de quem procura o máximo de inspiração
possível tanto pelo posicionamento em campo como para antever a jogada e
pelas aparições em assistências e jogadas de ataque, Rithely acabou de
dizer não a uma proposta do futebol chinês para tentar se firmar de vez
no futebol brasileiro. Aos 24 anos, está em lua de mel com a torcida.
Importante para puxar contra-ataques, é o oitavo em roubadas de bola no
Brasileirão - 32 em 13 jogos, com média de 2,46. Sabe aparecer bem com
surpresa no ataque, tanto que marcou um gol, de cabeça, e é o melhor da
média de notas no Troféu Armando Nogueira em sua posição, com 6,77,
empatado com Rafael Carioca, do Atlético-MG..
Eduardo Baptista, técnico do Sport:
- Rithely é um volante que evoluiu muito. Sempre marcou muito bem e, quando começamos a introduzir a marcação por zona, começou a entender que precisava preencher os setores e evoluiu ainda mais. Desde o ano passado, venho cobrando dele pois sempre jogava muito para o lado. E eu achava que tinha condições de jogar para a frente, como se joga na Europa. O volante que joga nessa posição sempre dá o passe por dentro achando o meia ou o atacante. Comecei a cobrar e mostrei vídeos não só do Pirlo, mas de outros jogadores europeus com essa característica. Ele entendeu bem e levou muito a sério, e isso está sendo o diferencial dele. Rithely ainda tende a evoluir muito.
- Rithely é um volante que evoluiu muito. Sempre marcou muito bem e, quando começamos a introduzir a marcação por zona, começou a entender que precisava preencher os setores e evoluiu ainda mais. Desde o ano passado, venho cobrando dele pois sempre jogava muito para o lado. E eu achava que tinha condições de jogar para a frente, como se joga na Europa. O volante que joga nessa posição sempre dá o passe por dentro achando o meia ou o atacante. Comecei a cobrar e mostrei vídeos não só do Pirlo, mas de outros jogadores europeus com essa característica. Ele entendeu bem e levou muito a sério, e isso está sendo o diferencial dele. Rithely ainda tende a evoluir muito.
Wendel, meia do Sport:
- Rithely é um volante moderno, algo que no futebol atual é fundamental.
É versátil, excelente ladrão de bola e muito bom no jogo aéreo com
uma média boa de gols. Evoluiu muito na participação ofensiva e
transição da defesa ao ataque. Outra virtude: não tem lesões e toma
pouquíssimos cartões. Com apenas 24 anos já possui mais de 350 jogos na
carreira.
EDSON, O TOURO TRICOLOR
O gol de canhota na virada do Fluminense sobre o Goiás por 2 a 1, no Serra Dourada (assista ao vídeo acima),
é a cereja do bolo. Com o direito de compra adquirido recentemente do
Coimbra (MG) por R$ 1,2 milhão, Edson Felipe da Cruz faz jus ao nome da
sua cidade de origem, Touros (RN). Terceiro maior roubador de bolas do
Brasileirão (40 em 13 partidas, com média de 3,08), figura no sétimo
lugar do Armandão da sua posição, com média de nota de 6,42.
A
vice-liderança do Flu no Brasileiro foi conquistada com muito suor
desse jogador, que tem 24 anos e começou no ABC, de Natal. Depois foi
emprestado para o sub-20 do Atlético-MG e do Grêmio, como
lateral-direito, e não aprovou. No Paulista de 2014, pelo São Bernardo,
sua raça e determinação despertaram o interesse tricolor. O volante caiu
nas graças da torcida e de todo treinador que comanda a equipe.
Enderson Moreira, técnico do Fluminense:
- O Edson é um retrato, assim como o Jean, desse volante moderno.
Futebol moderno é criar situações em que o atleta tenha grande
eficiência, no ataque e na defesa. Eles buscam isso. Marcam bem e chegam
na frente como fator de desequilíbrio. Futebol moderno é isso, buscar
eficiência no ataque e na defesa.
Cavalieri, goleiro do Fluminense:
- É impressionante a vitalidade que o Edson tem. Marca, corre, lança e
chega na frente para finalizar. Daqui a pouco já está lá atrás na defesa
de novo. Essa é uma virtude que ele tem. É uma peça muito importante
para nós e vive uma excelente fase.
WALACE: HABILIDADE E SEMELHANÇA COMPOGBA
Fisicamente
parecido com o francês Pogba, com 1,88m de altura, o baiano Walace saiu
do Avaí para o Grêmio quando tinha 18 anos.
Sua posição original era de meia, até que se encaixou como volante, daí a
facilidade de dominar a bola, ter visão de jogo... E haja inspiração
para roubar a bola. Na vitória sobre o Vasco por 2 a 0, no último
sábado, foram sete. No geral, ele aparece na sexta posição, com 33 em 12
jogos (média de 2,75). No Armandão é o oitavo, com média de nota de
6,33. Lançado por Felipão no ano passado, viveu momentos de
instabilidade. Com Roger Machado, virou titular de vez. O novo técnico
passou a lhe dar mais liberdade. Antes, ficava
mais preso às necessidades de marcação (assista ao vídeo acima).
Com isso, seu futebol habilidoso apareceu mais. A ponto de em alguns
jogos cumprir funções mais adiantadas, como segundo volante, geralmente
exercidas
por Maicon. Walace, de 20 anos, não esconde a admiração por Pogba. E
times da Europa já começam a mostrar interesse, como a Fiorentina,
acenando com 5 milhões de euros (R$ 17 milhões). Segundo o presidente
Romildo Bolzan Júnior, não houve proposta oficial até o momento e o
clube não deseja negociar jovens jogadores. Mas é bom a torcida
aproveitar enquanto pode.
Roger Machado, técnico do Grêmio:
- Quando cheguei, já o conhecia. Conversamos e disse a ele que podia dar um passo à frente, jogar no campo do adversário. Ele fecha bem, mas eu disse que precisava que o volante atuasse no campo do adversário, para não deixar sobrecarregado o meia. É importante ter o equilíbrio.
- Quando cheguei, já o conhecia. Conversamos e disse a ele que podia dar um passo à frente, jogar no campo do adversário. Ele fecha bem, mas eu disse que precisava que o volante atuasse no campo do adversário, para não deixar sobrecarregado o meia. É importante ter o equilíbrio.
Edinho, volante do grêmio:
- No meu modo de ver, o Walace é o melhor volante, disparado, do futebol brasileiro. Vai ter mais liberdade, mas sem fugir às características de marcação. Tomara que a gente possa dar mais liberdade para o Giuliano, para o Luan, mas acho que ele terá mais liberdade para chegar ao ataque.
- No meu modo de ver, o Walace é o melhor volante, disparado, do futebol brasileiro. Vai ter mais liberdade, mas sem fugir às características de marcação. Tomara que a gente possa dar mais liberdade para o Giuliano, para o Luan, mas acho que ele terá mais liberdade para chegar ao ataque.
RENAN, TALENTO PRECOCE
A
eficiência e a rapidez na transição da bola do meio-campo para o ataque
são virtudes também do caçula da lista: o
rondoniense Renan, 17 anos, nascido em Ariquemes. O começo foi num time
do interior do Paraná,
na cidade de Arapongas. No sugestivo Laranja Mecânica, aprendeu de cara
a filosofia holandesa, de mesclar a posse de bola com inteligência
tática. Em 2011, chegou ao Avaí para jogar no infantil. Aos 16 anos, foi
para os juniores. Aos 17, firmou-se entre os titulares do Leão
atropelando
nomes mais experientes, como Eduardo Costa e Uelliton.
Na Copa São Paulo de
Juniores, foi o principal jogador e atraiu o interesse de vários
clubes – o Inter o indicou como moeda de
troca quando o Leão negociava para ter Jorge Henrique, ainda no primeiro
semestre. No Catarinense
deste ano, estreou entre os profissionais, sob o comando do interino Raul
Cabral. Não deixou mais o time titular e virou homem de confiança
de Gilson Kleina. Supera a baixa estatura com muita força física e
bom posicionamento e é tratado como uma das principais joias avaianas desde o
surgimento de Marquinhos, atual camisa 10. Não é dos maiores
roubadores de bola (tem média de 1,46 por jogo). Mas, em compensação, chega para concluir e já marcou um gol no Brasileirão.
Gilson Kleina, técnico do Avaí:
- Renan está se mantendo
como titular, e o nível técnico da equipe passa pela competitividade dele.
Mérito do jogador e das pessoas que o monitoraram e o lapidaram. Cabe a nós
lapidar mais ainda agora. É um jogador próximo de ser completo, e, por mais que
seja uma análise precoce, não é qualquer jogador de 17 anos que se mantém como
titular em uma Série A. Muito se fala em futebol moderno, e a gente sabe que
hoje pede muito isso: encurtamento na marcação sobre pressão, tentativa de fazer
pressão no homem da bola. Vi nesse garoto isso, desde os primeiros
treinamentos.
Emerson, zagueiro do Avaí:
- Falam que o Renanzinho é uma promessa. Para mim, é uma realidade e tem que ser trabalhado
com muita cautela pelo clube para poder usufruir dessa qualidade. Ele parece ser
um moleque muito tranquilo, e para ele é boa essa oportunidade. Você coloca os meninos da base
para jogar e estão prontos, e com ele tem sido assim. Ele tem 17
anos, e acredito que para ele é bom ter entrado novo. E às vezes a gente fala que
ele é mais experiente do que qualquer jogador de 30 anos. Está bem à
vontade. Para entrar e encaixar, o grupo tem que aceitá-lo bem, e isso foi feito,
acolhemos muito bem. O grupo está extraindo o melhor dele em cada jogo.
RODRIGO DOURADO, A JOIA DO INTER
Houve
quem não acreditasse no garoto Rodrigo Dourado já nas divisões de base
do Internacional. Não pela falta de habilidade. Dos seis da lista, é o
que tem mais intimidade com a bola, a ponto de alguns verem semelhança
com o maior ídolo colorado, o genial Falcão. A grande dúvida que reinava
era acerca de sua velocidade para a posição. Dos seis volantes da
lista, certamente é o jogador mais lento, apesar dos 21 anos. Mas existe
uma virtude para compensar o defeito: a inteligência. Sabe se colocar. E
por isso não fica devendo. Na primeira partida contra o Tigres, pela
semifinal da Libertadores, quando foi o melhor da equipe, fez nada mais
nada menos do que 10 desarmes. Além disso, conta com a precisão do
passe, até para inversão de jogo (assista ao vídeo acima, quando vira o jogo para Vitinho na esquerda e o atacante marca um golaço na vitória do Inter por 2 a 0 sobre o Coritiba)
Chamado
de Pelotas desde moleque - é natural da cidade gaúcha -, Rodrigo
Dourado firmou-se na equipe no Campeonato Gaúcho deste ano e não saiu
mais do time sob o comando de Aguirre. E olha que o clube, desconfiado
do talento da joia rara, ainda contratou o experiente Nilton, bicampeão
brasileiro pelo Cruzeiro, e Nicolás Freitas, uruguaio emprestado
pelo Montevideo Wanderers. Rodrigo brilhou mais que os dois. Poupado
mais no Brasileirão por causa da Libertadores, atuou sete partidas.
Mesmo assim, vem se destacando. Aparece no top 10 da lista de volantes
do Armandão, com média de 6,29, e é o quinto mais pontuado da equipe.
Nas estatísticas de roubadas de bola, aparece em 42º lugar, com 19 -
pela média, de 2,71, sobe para a nona posição. Agora, com o fim do sonho
do sul-americano, a tendência é o futebol crescer com o foco no
Brasileiro. Seu grande ídolo nem é da posição - sempre confessou
admiração pelo camisa 10 francês Zinedine Zidane. De bola, Rodrigo
Dourado entende...
* Colaboraram Fred Huber, Sofia Miranda, Lucas Liausu, Diego Madruga, Fernando Freire, Lucas Rizatti.
FONTE:
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