terça-feira, 28 de abril de 2015

Fora do Mundial, São Conrado só terá etapa após fim das obras nos esgotos

Cedae afirma que reforma para ajudar no "histórico problema de poluição" termina no 1º trimestre de 2016. Organizador da etapa diz que cancelamento é forma de protesto


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Rio de Janeiro

Os surfistas que disputam a etapa brasileira do Circuito Mundial, no Rio de Janeiro, de 11 a 22 de maio, não poderão mais contar com a praia de São Conrado como palco alternativo. Eles queriam competir no canto esquerdo da praia, com ondas fortes e tubulares. Mas, por conta da poluição, provocada pelo alto índice de coliformes fecais dos esgotos que desembocam no mar, trazendo riscos à saúde, o "plano B" foi cancelado. O palanque principal será no Postinho, na Barra da Tijuca, enquanto o alternativo será no Meio da Barra, entre os postos 6 e 7. Segundo a organização do evento, a disputa só poderá acontecer no pico após o fim das obras do programa "Sena Limpa São Conrado", previsto para o primeiro trimestre de 2016. O projeto visa modernizar o sistema de esgoto sanitário da Bacia de São Conrado, tornando as águas mais limpas.

Praia de São Conrado com esgoto se espalhando pelo mar, que poderia receber etapa do Mundial de surfe  (Foto: Reprodução/Facebook)
Praia de São Conrado com esgoto no mar, que 
poderia receber etapa do Mundial 
(Foto: Reprodução/Facebook)


- Sabendo desse problema histórico de poluição, foi criado o "Sena Limpa São Conrado". O projeto tem como objetivo a preservação do ecossistema da região, prevendo o crescimento dos próximos 30 anos. A obra consiste na implantação de coletores auxiliares, ampliando o sistema de esgotamento sanitário da comunidade do Vidigal. O conjunto de obras inclui a substituição e ampliação de duas linhas no costão da Avenida Niemeyer, que bombeiam os esgotos da Estação Elevatória de São Conrado para a Estação Elevatória do Leblon, que são antigas e sofrem desgaste por conta da maresia, por outras tubulações mais resistentes. Cabe à Cedae, ainda, a reforma da elevatória, que será ampliada e modernizada em avançadas técnicas de automatização, redução do consumo de energia elétrica, baixo nível de ruído e sistema de desodorização próprio - informou a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).

A Cedae, no entanto, afirma que o problema das línguas negras não cabe à empresa, e sim à Prefeitura e à Secretaria de Estado do Ambiente (SEA). O palanque em São Conrado estava até sendo montado e a Cedae havia prometido fechar as comportas nos 11 dias de janela do campeonato, mas a Liga Mundial de Surfe (WSL) optou por preservar a integridade física dos atletas. No início do mês, uma foto mostrando um rastro de poluição se espalhando pela água limpa e verde, compartilhada nas redes sociais por nomes como Gabriel Pensador, Gustavo Kuerten e outros atletas, repercutiu muito mal no mundo do surfe, chegando até a entidade.

- Que revolta eu sinto com a poluição do cantão. É um absurdo. Deixam isso acontecer há anos porque quem frequenta essa praia são os moradores da favela. Se fosse Barra ou Ipanema não estaria assim há tantos anos sem solução e PIORANDO! Por favor, compartilhem e marquem as autoridades (in)competentes. #SalvemosSãoConrado - postou o cantor Gabriel Pensador, surfista nas horas vagas, em sua conta no Facebook, no dia 17 de abril.


A WSL defende muito a questão do saneamento e da preservação das águas. Por isso, o cancelamento devido ao risco é uma forma de protesto. A obra não pode ser paliativa, mas sim, feita por completo para que a gente possa desfrutar das ondas. Não vamos entrar no mérito das críticas e nos pormenores da obra, isso cabe às autoridades. Mas o evento só vai acontecer quando as obras forem finalizadas. Os surfistas gostam muito desta onda e esperamos que a disputa possa funcionar lá"
Teco Padaratz

Bicampeão mundial pela Divisão de Acesso, em 1992 e 1999, e um dos organizadores da etapa brasileira, Teco Padaratz contou que o comissário da WSL, Kieren Perrow, fez uma ligação há dois dias para definir a posição da entidade com os representantes do Brasil.

- O Kieren nos ligou e decidimos juntos que não deveríamos deixar o palco alternativo em São Conrado. Ele ficou contente com a decisão, mas não com a situação. A WSL defende muito a questão do saneamento e da preservação das águas. Por isso, o cancelamento devido ao risco é uma forma de protesto. A obra não pode ser paliativa, mas sim, feita por completo para que a gente possa desfrutar das ondas. Não vamos entrar no mérito das críticas e nos pormenores da obra, isso cabe às autoridades. Mas o evento só vai acontecer quando as obras forem finalizadas. Os surfistas gostam muito desta onda e esperamos que a disputa possa funcionar lá no ano que vem. É uma das ondas mais gringas do Brasil, forte e tubular. Vamos torcer - disse Teco, um dos pioneiros do surfe brasileiro.

Campeão da última etapa, em Margaret River, na Austrália, Adriano de Souza, o Mineirinho, defende a liderança do ranking mundial no Rio de Janeiro. O paulista do Guarujá está no topo, com 24,500 pontos, seguido pelo tricampeão mundial Mick Fanning (16,950), em segundo lugar, e Filipe Toledo (15,700), em terceiro. Atual campeão do mundo, Gabriel Medina está na 16ª colocação, com 7,450. O taitiano Michel Bourez defende o título da quarta etapa da temporada. 


Confira na íntegra o comunicado da Cedae sobre as obras:

"A competição sempre foi na Barra da Tijuca.  No entanto, sabendo desse problema histórico de poluição em São Conrado, foi criado o programa Sena Limpa São Conrado, cujas obras começaram em setembro de 2013 e serão concluídas até o primeiro trimestre de 2016. O programa é fruto de parceria entre o governo do Estado – por meio da CEDAE e Secretaria do Ambiente - e Prefeitura. O projeto tem o objetivo de garantir a preservação do ecossistema daquela região prevendo o crescimento dos próximos 30 anos. 

A obra do Sena Limpa São Conrado consiste na implantação de 615 metros de coletores auxiliares com 250 mm de diâmetro, ampliando dessa forma o sistema de esgotamento sanitário da comunidade do Vidigal. O conjunto de obras inclui ainda a substituição e ampliação de duas linhas no costão da Avenida Niemeyer, que bombeiam os esgotos da Estação Elevatória de São Conrado para a Estação Elevatória do Leblon, que são antigas e sofreram desgaste de material por conta da maresia, por outras tubulações mais resistentes, com 500 mm de diâmetro e 2.100 metros de extensão.

Cabe à Cedae, ainda, a reforma da elevatória, com capacidade para 200 litros por segundo, que será ampliada e modernizada dentro das mais avançadas técnicas de automatização, redução do consumo de energia elétrica, baixo nível de ruído e sistema de desodorização próprio. Os esgotos dessa elevatória seguirão para a Estação Elevatória do Leblon, tendo como destino final o Emissário Submarino de Ipanema.

O projeto fará a modernização do sistema de esgotamento sanitário da Bacia da Praia de São Conrado e contribuirá para elevar as condições de balneabilidade das águas daquela praia, indo ao encontro dos compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional (COI).

Estas são as intervenções que cabem à Cedae. O que acabará com as línguas negras nas praias, no entanto,  são intervenções pertinentes à Prefeitura e à SEA.

Vale destacar que o projeto é uma parceria entre o governo do estado, por meio da Secretaria do Ambiente e da Cedae, e a prefeitura, que também fará uma série de obras na região que incluem a instalação do Canal de Tempo Seco da Rocinha, obras referentes à Laje da Praia, captação do Rio Canoas para o rio Pires, drenagem do tramo do rio Canoas, melhorias da captação do rio Pires para a estação elevatória de esgotos da prefeitura."



*Colaborou: Thierry Gozzer


FONTE:
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