sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

LUXA 2014: treinador se reinventa na "confusão" e fecha ano em alta no Fla

Após oito meses parado, técnico aproveita chance no Rubro-Negro, ganha a torcida, faz até papel de "pai", supera fase conturbada e rejeita proposta para sair do clube


Por
Rio de Janeiro


Se o Flamengo em 2014 pode ser visto como A.L. e D.L. (antes e depois de Luxemburgo), com o treinador não é diferente. O retorno ao clube de coração foi a oportunidade ideal para retomar o prestígio no mercado depois de uma temporada ruim seguida de oito meses parado. Moral que o fez receber e recusar neste fim de ano uma proposta do Internacional para comandar os gaúchos na Libertadores. O principal torneio da América do Sul está no planejamento de Luxa, mas em 2016 e com o Rubro-Negro – mesmo tendo contrato só até o fim de 2015, quando termina a primeira gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Mas a confiança no trabalho que vem sendo conduzido é tamanha que vale a pena a aposta tanto para a diretoria quanto para a comissão técnica. Um "projeto" – palavra muita usada pelo comandante – que caminha amparado por jogadores e torcida e sobreviveu sem arranhões à dolorosa eliminação na Copa do Brasil.

8 meses parado: "freela" na Copa e paz com Edmundo

A má temporada em 2013, com direito a demissões no Grêmio e Fluminense, deixou Vanderlei Luxemburgo na geladeira no início do ano. Ofertas de trabalho só no exterior, mas nada que tenha ido para frente. O treinador só voltou a ser especulado no mercado nacional em maio, quando o Palmeiras o procurou para ser o substituto de Gilson Kleina. A negociação, no entanto, não avançou por vontade dos próprios dirigentes alviverdes, que concluíram que Luxa não seria o nome mais apropriado para assumir a equipe naquele momento. A situação do técnico fez despertar até um sonho do Bragantino, clube pelo qual foi campeão Paulista em 1990. Porém, ele seguiu fora do futebol e atacou de comentarista durante a Copa do Mundo por um canal de TV a cabo no Brasil.

Nesse período, Luxemburgo iniciou uma reaproximação com Edmundo. No dia 13 de julho, no Maracanã, antes da final da Copa do Mundo, ambos trabalharam como comentaristas e se encontraram no centro de imprensa. A relação entre os dois historicamente tem brigas e reconciliações. O último episódio foi uma cobrança judicial feita pelo ex-atacante, relativa a dois cheques que recebeu do atual técnico do Flamengo, cada um no valor de R$ 200 mil. O Animal alegou que não havia fundos. Na versão de Luxa, ele pagou e não teve recibo. Em 2011, a Justiça determinou o pagamento de uma dívida de quase R$ 2 milhões ao ex-atleta.

Luxemburgo na coletiva do Flamengo de despedida (Foto: Fabio Rossi / Ag. O Globo)
"Freela": Vanderlei Luxemburgo atacou de 
comentarista da Copa do Mundo no Brasil 
(Foto: Fabio Rossi / Ag. O Globo)


"Convocação": volta ao Fla e lua de mel com torcida

A luz potente da lanterna do Campeonato Brasileiro fez o Flamengo recorrer novamente a Luxemburgo dois anos depois da última passagem – e mesmo com ele tendo sido opositor da atual diretoria nas eleições de 2012. Em avaliação interna, o treinador foi considerado "malandro" para lidar com o grupo e suficientemente forte para aguentar a pressão da torcida e da mídia. Além disso, fugiu da exigência por reforços e garantiu a fuga do rebaixamento. Em sua apresentação oficial, admitiu que profissionalmente seria uma boa oportunidade e tratou o convite rubro-negro como uma "convocação".


E uma das primeiras atitudes do comandante ao ser apresentado foi convocar a torcida para abraçar o time na missão contra o rebaixamento – dias antes, torcedores se envolveram numa confusão, com suspeita de agressão, com o lateral-esquerdo André-Santos na saída do Beira-Rio, logo após a derrota por 4 a 0 para o Internacional. A resposta para Luxa foi imediata. No primeiro treino na Gávea depois disso, vários rubro-negros compareceram e incentivaram os jogadores. Além disso, em enquetes realizadas pelo GloboEsporte.com, 83,5% dos votos aprovaram a contratação do técnico e 52% apostaram que ele tiraria o time do Z-4 em até cinco rodadas.


E o reconhecimento veio em forme de gritos das arquibancadas. Ainda no fim do primeiro turno do Campeonato Brasileiro, no triunfo por 2 a 1 sobre o Vitória em Salvador – resultado que deixou o time a sete pontos de distância para a zona de rebaixamento –, a torcida entoou o nome de Luxemburgo em forma de agradecimento no Barradão.


Bê-a-bá de Luxa: A "confusão" e A "caixinha virtual"

Considerado técnico que "fala a língua dos jogadores", no jargão do futebol, Luxemburgo foi além e adotou palavras para lidar com a imprensa em meio à pressão no clube. No bê-a-bá do treinador, ele cunhou a expressão "sair da confusão" para não falar "zona de rebaixamento", termo considerado pesado pelo comandante. Tudo pelo lado psicológico. Para consumo interno, também criou a "caixinha virtual" onde colocou temas e planejamentos para serem discutidos com a diretoria mais tarde, a fim de não atrapalhar a reação da equipe no Campeonato Brasileiro.



papel de "pai": a contratação de Anderson Pico

Em setembro, Luxemburgo fez também fez as vezes de "pai" no Flamengo durante a contratação de Anderson Pico. O lateral-esquerdo, então desempregado, viajou de Porto Alegre ao Rio de Janeiro de ônibus para pedir ajuda a quem já havia sido seu comandante no Grêmio em 2012. Apesar do histórico de problemas do jogador – a quem Luxemburgo já chamou de "fio desencapado" –, o treinador aceitou o desafio. E teve papel fundamental na recuperação do futebol do atleta, que terminou o ano como um dos destaques do time. Desde que chegou ao clube, já perdeu 15kg e disse que Luxa é "como um pai" para ele.


Assalto, eliminação e protesto: a fase conturbada

Mesmo num ano de redenção, nem tudo foram flores, e o técnico enfrentou uma fase conturbada, com direito até a assalto em seu carro na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro – o assaltante levou o seu relógio. Mas o pior momento foi nos gramados, especificamente no jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil, contra o Atlético-MG no Mineirão. O técnico foi apontado como o principal culpado pela eliminação rubro-negra pelas substituições que fez na partida: colocou Elton e Matheus nos lugares de Nixon e Everton, respectivamente, quando o time ainda conseguia segurar o resultado que lhe era favorável.


Luxemburgo também foi criticado por não ter poupado o time contra a Chapecoense, três dias antes da partida – o Fla venceu por 3 a 0 e praticamente espantou o risco de rebaixamento àquela altura do campeonato. Na volta da delegação ao Rio após a eliminação na Copa do Brasil, ele virou alvo de protestos de torcedores no aeroporto. Alguns rubro-negros culparam o treinador pelo resultado e gritaram contra o comandante, que precisou ser acompanhado por seguranças no trajeto até o ônibus do Flamengo.


Projeto 2015: contrato assinado e "não" ao Inter

Apesar das críticas, a imagem com que Luxemburgo termina a temporada não foi arranhada. O treinador superou o momento conturbado, manteve o prestígio com grande parte da torcida e começou a planejar 2015 com antecedência – antecipou até os exames médicos da pré-temporada. E, enfim, assinou seu contrato após divergência com a diretoria sobre uma cláusula que previa a cessão de ingressos e camisas por jogo ao comandante. A cabeça no Fla o fez recusar até proposta do Internacional para a disputa da Libertadores no ano que vem.

Luxemburgo, Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
Luxemburgo disse não ao Internacional: "Meu 
compromisso é com o Flamengo" 
(Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)


E o planejamento para a próxima temporada inclui a remontagem da dupla com Rodrigo Caetano, contratado no início do mês como o novo diretor executivo do Flamengo. Juntos, os dois não tiveram bons resultados no Fluminense em 2013, mas se mostram empenhados para o novo desafio render frutos e iniciaram as conversas. Em sua apresentação oficial, o dirigente elogiou o técnico e comentou a grande expectativa para o trabalho conjunto.


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