sábado, 21 de junho de 2014

Uruguai se defende sobre choque de Pereira, e Tabárez questiona critério

Após FIFPro criticar Fifa, Celeste avisa que cumpriu procedimentos durante incidente em campo; treinador quer mudança de orientações em atendimentos e substituições


Por Sete Lagoas, MG

Garra ou imprudência? A entrega em campo típica dos uruguaios começou a ser colocada em xeque após o lance forte em que se envolveu Álvaro Pereira na vitória de 2 a 1 sobre a Inglaterra na quinta, na Arena Corinthians. O fato de o lateral ter voltado para jogar minutos depois de ter perdido a consciência por ter recebido um golpe na cabeça alarmou a Federação Internacional de Jogadores de Futebol Profissional (FIFPro, na sigla em francês), respingou na Fifa e, agora, suscitou um debate sobre a postura da própria seleção perante a saúde de seu atleta.

A FIFPro foi a primeira a se manifestar, afirmando que a Fifa fora "negligente" no caso. Alega que a entidade deveria ter impedido o reingresso de Pereira. Ao Uruguai, coube o questionamento se o médico Alberto Pan não teria perdido o controle da situação após o insistente pedido do lateral de não ser substituído, numa cena curiosa que rodou o mundo. O treinador Óscar Tabárez saiu em defesa do corpo médico. Cogita que o erro tenha sido a demasiada pressa em sinalizar uma eventual troca, o que ocasionou um erro de comunicação em vez do sacrifício do atleta.

- Ele levou o golpe e recebeu atendimento imediato. Como sempre se faz nesse tipo de lance, o médico faz perguntas: "quem você, onde você está...". Houve um mal entendido com o sinal da substituição, de preparar a troca. Estávamos a 70 metros. Quem sabe aí estivesse a falha. Me parece engraçado, se não dramático, pensar que nós cometemos algum delito por ter atendido um jogador nosso - explicou, com direito à ironia ao final.

Alvaro Pereira Uruguai x Inglaterra (Foto: Reuters)
Alvaro Pereira chegou a ficar inconsciente em 
confronto entre Uruguai e Inglaterra na 
quinta-feira (Foto: Reuters)

O médico Alberto Pan confirmou que, como não há possibilidade de se dialogar no momento, a substituição é sempre cogitada como plano principal. No entanto, pode haver outro caminho, como o que ocorreu neste jogo.

- No momento em que se incorporou ao jogo, mostrou que não houve nenhum tipo de dano neurológico. Mas sempre temos a possibilidade de trocar. Não tínhamos a capacidade do diálogo. Sem a informação visual, podemos cogitar sempre a substituição. Se tivesse aparecido algum transtorno, teria que sair. Isso nos gera uma responsabilidade muito grande e, por isso, fizemos todos os exames para tirar qualquer dúvida.

Lateral pediu desculpas a médico

Álvaro Pereira revelou na sexta que a primeira reação após o jogo no vestiário foi se dirigir aos médicos e pedir desculpa pelos gestos exagerados contra uma eventual substituição. O lateral não se lembra do início da jogada com o inglês Sterling devido ao pronto desmaio. Consegue descrever a cena a partir do momento em que Albero Pan começa a lhe fazer perguntas e ratificar seu bom estado.

- A primeira coisa que fiz foi me dirigir ao corpo médico, pedindo desculpas. Estava muito concentrado no jogo. Não me lembro de nada, somente do impacto. Não queria sair. Era o meu jogo, não queria sair. Quem trabalha comigo me conhece. Sou assim. Eu falava para o banco, para o Maestro, que queria seguir - relatou o jogador.

Tabárez vê falta de regras
Por que não se dá tempo de fazer sutura em jogadores que sangram em campo? Se joga muito, e há coisas que não estão totalmente legisladas. E isso pode preocupar
Óscar Tabárez

De acordo com o Maestro, a discussão é mais ampla. O treinador acredita que há muitas recomendações que não regulamentadas ou, se o são, se mostram de difícil execução na prática. Ele cita como exemplo que, na realidade, há pouco tempo para se avaliar o estado de saúde de um atleta para poder tomar a melhor decisão sobre substituições.

- Por que não se dá tempo de fazer sutura em jogadores que sangram em campo? Se joga muito, e há coisas que não estão totalmente legisladas. E por aí podem vir preocupações. Mas jamais interpretamos isso como um questionamento do que estávamos fazendo. Foram feitos os exames. Comprovamos que Pereira estava em perfeitas condições. Não tomamos tudo isso como uma crítica em relação ao nosso procedimento. Pelo contrário - definiu.

O que disseram FIFPro e Fifa
No documento, a FIFPro defendeu que a Fifa "conduza uma investigação interna quanto ao seu protocolo de concussões em competições". A entidade destacou que a Fifa falhou ao não proteger o jogador uruguaio. Em outro trecho exigiu "conversas urgentes para assegurar que a Fifa garanta a segurança dos atletas". Na ausência desta condições, ela "está considerando soluções alternativas, como equipe médica independente para futuras competições".

A Fifa se defendeu em briefing na manhã desta sexta-feira, no Maracanã. Delia Fischer, chefe do departamento de comunicação da entidade, disse que a decisão de manter o jogador na partida é da comissão técnica, e que o staff médico da Fifa deu todo o suporte para realização de exames após a partida.


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