Entre cantigas de ninar e fraldas, casal 20 do vôlei supera nervosismo dos primeiros dias, aprende a cuidar do filho e pensa em novo herdeiro para depois das Olimpíadas
- Ele já acorda com músicas, e eu fico com aquilo
na cabeça durante o treino. A bola vai para um canto, e eu penso na Dona Aranha.
Está sendo maravilhoso. Estamos curtindo bastante. Está passando muito rápido.
Ele já vai completar quatro meses e parece que ele nasceu ontem. A tendência é
passar mais rápido ainda, então temos de curtir cada dia, cada momento. Estamos
muito felizes - disse Murilo.
A mamãe também é só felicidade.
- É uma delícia. Sempre sonhamos ter
um filho e estamos realizando esse sonho. Agora eu sei qual é o sentimento de
uma mãe realizada. Eu não me arrependo de nada do que fiz e agradeço a Deus por
colocar mais uma vida em nossas vidas - disse Jaqueline, que abriu mão da
temporada à frente do Osasco e da seleção brasileira para realizar o sonho de
ser mãe.Fruto de um relacionamento de 14 anos, Arthur é um bebê tranquilo. Os pais contam que por vezes nem parecem ter uma criança em casa. Trocar fraldas, colocar o garoto para arrotar, dar banho são tarefas já incorporadas à rotina dos dois. Se Murilo está treinando ou jogando, Jaqueline cuida de tudo. Se a ponteira vai à academia, o marido assume o posto de paizão. Nem mesmo à noite Arthur dá muito trabalho. Sempre que ele desperta, o carinho e o cuidado dos pais logo o colocam para dormir novamente.
Nervosismo nos primeiros dias
A vida de pais de primeira viagem, porém, nem sempre foi tão sossegada. Antes do parto, a curiosa Jaqueline parava mães desconhecidas no meio da rua ou em shoppings para pegar dicas e entender como é ser mãe, o quão difícil é. As conversas não adiantaram muito. Os dias que se seguiram ao nascimento de Arthur, no dia 20 de dezembro, foram de nervosismo e muito aprendizado para os dois jogadores.
- É tudo instinto. Quando o Arthur nasceu, não teve jeito. A enfermeira o tirou da Jaque, enrolou em um pano e falou: “Toma papai”. Não é que eu sabia ou tinha treinado, mas encaixou. Assim foi no dia a dia também. Na maternidade aprendemos a fazer muita coisa. No dia que voltamos para casa, falei: “Agora não vai ter mais jeito, é com a gente, não tem mais ninguém” - disse Murilo.
- Eu fiquei nervosa. Lá no hospital tinha gente para me ajudar, para trazê-lo para amamentar. Quando a médica falou “amanhã você pode ir embora”, eu pensei: “Meu Deus, o que eu vou fazer com essa criança?” Eu não dormi, mas as coisas foram se ajustando aos poucos. É tudo uma novidade. Eu curto tudo: trocar fralda, colocar para dormir, dar de mamar. São momentos que passam, então eu curto tudo da melhor maneira possível. Ainda mais agora que estou sem jogar, estou curtindo mais que o Murilo - completou Jaqueline.
Jaqueline e Murilo: os pais babões do
pequeno Arthur (Foto: Marcos Ribolli)
A mãe da ponteira foi de Recife para São Paulo para ajudar nos primeiros dias. A mãe de Murilo também deu uma força, e a babá, que Jaqueline considera uma mãezona para toda a família, é o braço direito do casal agora. Mesmo assim, os ponteiros não escaparam das noites em claro.
- Todo mundo falava de acordar à noite. Isso assustava muito, tendo que levantar no outro dia cedo para treinar. Houve umas duas semanas que achamos que não iríamos aguentar (risos). Ele nos deu uma canseira. Nossa senhora! Ele acordava o tempo todo. Ele tinha cólica, e não sabíamos o que fazer. Ele desse tamanho derrubava nós dois. Foi na segunda ou na terceira semana. Depois ele ficou mais comportado. Todo mundo falava: “Aproveita para dormir agora” (antes do nascimento). É difícil no início. O sono nunca mais é o mesmo. Tem momentos de pai e mãe que temos de vivenciar mesmo - disse Murilo.
E no meio da reportagem...
- Ele acabou de fazer um "popô". Ele ficou caladinho, e eu sentindo os rumores aqui no meu colo. Esquentou (risos). No início eu até enjoava, mas agora já estou acostumado. O fedor está pior, porque ele está começando a comer frutinha - contou Jaqueline, que ao trocar a fralda percebeu que foi um alarme falso.
Murilo e Jaqueline se preparam para trocar a fralda de Arthur (Foto: Marcos Ribolli)
Filho de uma bicampeã olímpica e de um bicampeão mundial, Arthur carrega o vôlei em seu DNA. Seu quarto é todo decorado com alusões à modalidade e ele até dorme em uma espécie de quadra de vôlei.
- Ele ganhou uma camisa com o número 8 (o número dos pais). O quarto dele é puxado para o vôlei. Tem a girafa, que sou eu, tenho um pescoção. O Murilo é o leão, na época ele estava com cabelo grande. E o Arthur é o ursinho. O berço também é uma quadra de vôlei. Mas não vamos pressionar em nada - disse Jaqueline.
- Vai ser livre e espontânea pressão - brincou Murilo.
Se herdar o talento do pai, Arthur tem tudo para ser mais um grande ponteiro passador. A semelhança física é só o primeiro passo. Ele é muito parecido com o bebê Murilo, só que pode superar o 1,90m de altura do pai.
Jaqueline e Murilo estão nas nuvens com o filho Arthur (Foto: Marcos Ribolli)
Com menos de quatro meses, Arthur foi ao seu primeiro jogo no último domingo e, mesmo diante de um Mineirinho lotado, não deu trabalho à mãe Jaqueline. O garoto estreou logo na final da Superliga Masculina de vôlei e viu o Sesi-SP de Murilo perder diante do Cruzeiro. Mas acompanhou o pai no pódio.
- Eu fiquei preocupada, porque ele não estava indo a um jogo normal. O barulho era três vezes acima do normal. Era torcida de futebol. Ele, com três meses, conseguiu até dormir, deu umas assustadas, mas ficamos em um lugar reservado. O problema foi quando o Murilo foi receber a premiação, porque o barulho era intenso na quadra, mas ele foi muito tranquilo. Foi a primeira viagem de avião também. A estreia de tudo. Ele foi para dar alegria ao papai - disse Jaqueline.
Jaqueline, Murilo e Arthur durante a
entrevista (Foto: Marcos Ribolli)
Arthur tem dado força a Murilo antes mesmo de nascer. O ponteiro passou por uma cirurgia no ombro direito, no início de maio, e o filho o motivou a se recuperar.
- O melhor para mim é chegar em casa depois de treino, depois de viagem, depois de jogo, e ver esse sorriso gostoso, banguelo. Dá vontade de apertar, de abraçar, de beijar. Ele me ajuda bastante. Passei por um momento de cirurgia. Nem todos os dias eram bons. Ele me ajudou a esquecer isso e viver só para ele, para nossa família. Desde pequeno ele nos ajuda.
O ponteiro não desgruda do filho. Por enquanto, as viagens junto com o Sesi-SP foram curtas, mas Murilo deve passar um longo período no CT da seleção brasileira, em Saquarema, para se preparar para o Mundial da Polônia, em setembro. Se depender do jogador, Arthur o acompanhará pelo menos na casa do vôlei brasileiro.
- Vamos montar um berço em Saquarema. Se a Jaque também for convocada, vamos levá-lo junto. Ele fica lá na quadra enquanto estamos treinando, já fica catando bola - brincou Murilo.
O garoto cada vez mais será figurinha marcada nos jogos dos pais. O casal curte ao máximo a nova vida. A felicidade é tanta que Jaqueline já pensa em ter outro herdeiro, mas só depois das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
- É gostoso, é lindo, mas passa um perrengue. A satisfação é olhar o sorrisinho lindo dele. Tudo compensa. Eu já penso em ter outro, mas só depois de 2016.
Jaqueline pensa em ter outro filho, mas
só depois das Olimpíadas de 2016
(Foto: Marcos Ribolli)
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