futebol alemão
Vitória sobre o Mainz e tropeços de Borussia e Schalke garantem bicampeonato com incríveis oito rodadas de antecedência. Invencibilidade na Bundesliga já dura 50 jogos
Guardiola está perto de conquistar a Bundesliga com o Bayern de
Munique (Foto: Reuters)
Contrariando até clichês, o Bayern de Munique
mudou o time que estava ganhando. Foi uma decisão surpreendente, especialmente
pelo desafio de repetir as glórias com um novo treinador. Pep Guardiola
substituiu o detentor da Tríplice Coroa Jupp Heynckes no início da temporada e
precisou de meses para adaptar o seu estilo predileto no esquadrão bávaro. Em
menos de um ano, está em vias de conquistar o seu terceiro título e com ele
estabelecer um novo recorde.
Quebrar marcas parece ser o passatempo
predileto de Pep e seu elenco estelar. Uma vitória sobre o Mainz, neste sábado,
combinada com tropeços de Borussia Dortmund (visita o Hannover, 11º colocado) e
Schalke (recebe o lanterna Eintracht Braunschweig), garantirá o bicampeonato
com impressionantes oito rodadas de antecedência. Na pior das hipóteses, um
outro triunfo na terça-feira, diante do Hertha Berlim, na capital, também
assegura matematicamente o caneco sem depender de outros resultados. O
GloboEsporte.com acompanha Dante, Rafinha e companhia em Tempo Real a partir das 11h30m (de
Brasília).
Se consagrar campeão em março seria apenas um
dos feitos inéditos. O Bayern de Munique 2013/14 tem até aqui a melhor média de
pontos por jogo da história das quatro principais ligas europeias (Alemanha,
Espanha, Itália e Inglaterra), com 2,84, superando a própria equipe de Jupp
Heynckes, campeão com 91 pontos (2,68 de média) em 2012/13.
Achou pouco? Que tal as 50 partidas de
invencibilidade na Bundesliga? A última derrota ocorreu com Jupp Heynckes, em
28 de outubro de 2012 – o Arsenal, com 49 jogos entre 2003 e 2004, foi
superado. O próximo da lista é o Milan, com 58 jogos sem perder entre 1991 e
1993. A sequência de vitórias é igualmente incrível: são 17 seguidas, com 59
gols pró e nove contra, fazendo dos supostos rivais pelo título presas
irreconhecíveis - caso, por exemplo, do Schalke, que sofreu 9 a 1 no placar
agregado após turno e returno.
Corneta dentro de casa
Abusando de outro clichê, Guardiola não pode
reclamar dos ovos que contou para fazer este omelete. Chegaram Mario Götze e Thiago
Alcântara – saíram jogadores apenas com o seu aval: Mario
Gómez, Luiz Gustavo e Emre Can. Administrar o ego de tantos nomes de impacto no
cenário europeu tem sido uma tarefa árdua para Pep. Até mesmo dentro de casa.
- Minha esposa Cristina muitas vezes
reclama de minhas táticas. Ela continua me dizendo que eu deveria ficar
com os jogadores que venceram o último jogo. Explicar
para ela meu sistema de rotação é muito mais difícil do que dizer para Arjen
Robben que ele vai ter que se contentar com um lugar no banco. Com
muitas estrelas no plantel, como temos no Bayern e eu tive no Barça, pode se
chegar a situações em que a dversidade pode ser destrutiva. Todos querem jogar.
Por exemplo, sempre que deixava Messi no banco havia confusão em Barcelona
– disse o treinador em recente entrevista.
O holandês
Robben, citado por Guardiola, concorda.
- Eu estou
feliz por termos tantos jogadores talentosos. Sempre tivemos dois ou três
lesionados, agora estamos praticamente com o elenco à disposição. E há apenas
uma pessoa neste caso que passa por um aperto nessas situações. Esse é o
treinador. Não é fácil decepcionar as pessoas.
Robben, Dante e Ribéry: grande número de
estrelas permite variações no esquema de
Guardiola (Foto: Reuters)
As variedades
táticas e importância dos adversários permite Pep a deixar no banco de reservas
não apenas Robben, como Götze, Mandzukic, Thiago Alcântara, Thomas Müller, Schweinsteiger
e até o capitão Philipp Lahm. Há de se entender que, num meio de quase 20
atletas excepcionais, apenas 11 podem começar jogando.
- Eu nunca vi
um treinador como ele e eu estou prestes a completar 40 anos no Bayern. Este
homem prepara a equipe até o último detalhe: Taticamente, fisicamente,
mentalmente. Ele tem um plano muito claro de como os jogadores devem se
comportar fora de campo. Isso é o que eu sempre gostei sobre o Barcelona: seus
jogadores não são arrogantes. Você não pode cometer o erro de confiar
exclusivamente em títulos. Para mim, a coisa mais importante é o que acontece
na semana, durante o treinamento – afirmou Karl-Heinz Rummenigge, CEO do
Bayern.
‘Xô, arrogância!’
saiba mais
- O Pep sempre nos passa o que precisamos melhorar, cobra foco, exige
que não nos deixemos levar pelo sucesso. Manter os pés no chão é a nossa força
para vencer a cada semana. Temos um grupo fortíssimo, mas não é o fator mais
importante. E sim como trabalhamos, como podemos ser os melhores e chegar um
pouquinho mais perto da perfeição – resumiu Dante ao GloboEsporte.com.
- O que aconteceu na temporada passada já passou, não volta mais. Temos
é que brigar para acontecer tudo de novo. Estamos na história do Bayern? Sim.
Mas aqui o lema é ganhar sempre. Essa euforia nós temos que deixar para o
torcedor. Eles podem usufruir dessa temporada mais do que nós – opinou Rafinha.
Chato de se
ver?
Ídolo Beckenbauer teme ver o 'Bayern jogando como Barcelona' (Foto: Getty Images )
Para não fugir das frases prontas, Guardiola poderia citar que é
impossível agradar a gregos e troianos ao ouvir críticas direcionadas ao estilo
de jogo de sua equipe. Franz Beckenbauer, ícone do clube e da seleção alemã, afirmou
que temia ver o Bayern “jogando como o Barcelona, impossível de se assistir”.
- Ninguém vai querer nos ver, pois quando estão na linha do gol, os
jogadores tocam outra vez a bola para trás - alfinetou.
O excesso de passes é uma das antíteses em relação ao time de Jupp
Heynckes, mais vertical quando tinha a posse de bola. Com Pep, o Bayern procura
cansar seu oponente até dar o bote e finalizar, ilustrado pelos 50 passes em
média até cada uma das 14 finalizações no empate com o Arsenal, por 1 a 1,
pelas oitavas de final da Liga dos Campeões. Pode não ser o entretenimento
ideal para os espectadores, mas os fins, até aqui, têm sido os mesmos.
- O modo de jogar mudou um pouco. Estamos mais no campo ofensivo, temos
mais a bola no meio em vez das pontas. Achamos espaços para nossos atacantes.
Mas Guardiola não quer fazer concessões. Ele quer inspirar o time – disse Thomas
Müller.
Tamanha superioridade levou a página oficial da Bundesliga a criar uma
enquete pedindo para torcedores elegerem a seleção ideal sem jogadores do
Bayern. O volante Luiz Gustavo, da Seleção e do Wolfsburg, foi um dos
escolhidos com outros cinco nomes do Borussia Dortmund, entre eles o de Robert
Lewandowski, já de pré-contrato assinado com os bávaros. Para a entidade, este
seria um time capaz de acabar com o reinado do Bayern, que caminha para ser o
primeiro campeão invicto da história do país.
Domínio ou
equilíbrio?
Como o rival à altura ainda faz parte da ficção, é sensato acreditar que
o cenário não mudará em curto prazo. Mas há alguns poréns que podem preencher
esta enorme lacuna entre o Bayern de Munique e os “mortais” na Alemanha - a
diferença de títulos da Bundesliga aumentará para 18.
Primeiro é preciso analisar rapidamente o próprio Bayern. Tudo o que o
clube construiu em sua história recente é resultado de uma administração financeira
responsável e inteligente – exceção feita ao ex-presidente Uli Hoeness, condenado
ironicamente a três anos e meio de prisão por fraude fiscal.
- Não é que eles ganharam dinheiro na loteria ou um cara russo chegou e
doou um monte de dinheiro. É consequência de um belo trabalho. E é nosso dever
nos aproximarmos - disse Jochen
Schneider, director esportivo do tradicional Stuttgart, vice-lanterna da
Bundesliga.
Por mais que principalmente o Borussia Dortmund condene as compras de
Götze e Lewandowski, o Bayern deverá seguir com a mesma filosofia. É muito mais
simples recorrer ao mercado interno, onde domina, do que tirar um jogador do
Chelsea, Manchester City, Real Madrid ou Barcelona. Cabe às vítimas se
fortalecerem financeiramente para evitar perdas significativas, ou
simplesmente, no caso do centroavante polonês, aproveitar as oportunidades que
o mercado oferece - o clube optou por mantê-lo em seu último ano de contrato,
mesmo com sua saída iminente e sem ressarcimento por parte dos bávaros.
Um sinal positivo é o novo acordo de TV da Bundesliga, que deverá render
€ 1,2 bilhão (R$ 3,84 bilhões) por ano até 2016. Uma
divisão igualitária da renda, ao contrário do que acontece na Espanha, por
exemplo, dá a chance aos outros postulantes a expandirem suas marcas exatamente
como fez o Bayern, hoje presente com um escritório até nos Estados Unidos.
Outro exemplo de que “nem tudo está perdido” vem da Liga dos Campeões.
Apesar da diferença abrupta do Bayern para seus concorrentes locais, outros
três clubes (Borussia Dortmund, Schalke e Bayer Leverkusen) conseguiram se
classificar para as oitavas de final. Um fato inédito que ainda situa uma força
dos alemães dentro do continente. Ter o Bayern como modelo, neste caso, pode
ser uma meta e tanto.
Destaque do rival Borussia, Lewandowski já
tem acordo para defender o Bayern na
próxima temporada (Foto: Getty)
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-alemao/noticia/2014/03/bayern-melhora-com-guardiola-e-pode-ser-campeao-e-recordista-sabado.html
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