terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Bandeirinha se aposenta no domingo e vira um 'inimigo' dos impedimentos

Altemir Hausmann vai fazer seus últimos jogos no fim de semana e depois passará a se dedicar a projeto que ensina jovens a se posicionarem diante da 'linha burra'

Por Rio de Janeiro

Altemir Haussman auxiliar técnico (Foto: getty image)Altemir Haussman encerra a carreira no próximo domingo (Foto: getty image)
 
Responsáveis por anulações de gols que mudariam a história do futebol, os árbitros auxiliares, popularmente conhecidos como bandeirinhas, levam a fama de vilões por provocarem dissabores inesquecíveis às torcidas. Altemir Hausmann completa 45 anos nesta quinta-feira, atingindo a idade limite para atuar em jogos profissionais, e seus dois últimos compromissos estão marcados para os próximos dias 7 e 8, pela última rodada do Brasileirão 2013. Vai trabalhar nos jogos Flamengo x Cruzeiro (sábado) e Botafogo x Criciúma (domingo). Depois disso, Hausmann vai se dedicar a um projeto de formação de jogadores. A curiosidade é que sua principal meta é ensinar às crianças como fugir do impedimento, talvez a infração que mais assinalou em seus 26 anos de carreira.

- Vou lançar um projeto de formação de atletas com crianças e minha ideia é fazer um serviço ao futebol mundial. Pretendo colocar em algum clube um treino para impedir que os jogadores fiquem em impedimento. Quero conversar com alguns clubes. O projeto se chama "Impedimento 0, gol 10: transformando a linha burra em inteligente" - afirmou o auxiliar, que trabalhou na Copa do Mundo de 2010.


teatro de artistas mudos
Hausmann pretende com a "luta contra o impedimento" diminuir o excesso de empates que se observa no futebol brasileiro. Batizado de Altemir numa homenagem do pai a um ex-lateral-esquerdo do Grêmio, o bandeirinha não se empolga com a possibilidade voltar a torcer pelo Tricolor depois de anos "licenciado", já que garante ter colocado a paixão de lado enquanto trabalhou. Sua falta de interesse pela volta à vida de torcedor, segundo o próprio, está ligada ao nível técnico das partidas.

- Perdi meu pai aos 7 anos de idade. Ele me batia todo dia, porque eu era muito maroto. Fiquei colorado, mas depois que ele morreu voltei a ser Grêmio. Hoje em dia é mais difícil ver os jogos com emoção, principalmente depois que meu filho nasceu e me ensinou a torcer pela Seleção. Não consigo mais ver com tanta emoção diante de um campeonato com tantos empates, com menor índice de gols. Os times não estão mais jogando para ganhar, estão jogando para não perder. Você põe um teatro como o Maracanã, que está um teatro pela beleza, cobra R$ 100 e ninguém faz gols? É como você colocar num teatro dois artistas para fazerem um diálogo e os dois serem mudos. Isso acaba com o torcedor, temos que evoluir isso - reclamou.

Apesar dos 45 anos, Altemir trabalhará duas vezes no fim de semana, algo que o pegou de surpresa. Perguntado se o jogo entre Flamengo e Cruzeiro será mais fácil do que Botafogo x Criciúma, negou veementemente.

- Imaginava que minha despedida fosse no jogo entre os dois campeões, o da Copa do Brasil e o do Brasileiro. É uma rara exceção trabalhar em dois jogos num fim de semana. Mentalmente é cansativo, mas temos que superar isso. Sempre pautei minha carreira da seguinte maneira: não existe jogo fácil até no amistoso. Aí vai que cometo um erro no sábado, que seria um jogo menos difícil? Se eu errar como vou para o jogo de domingo? A gente sobrevive em cima do acerto. Sábado não vai ser fácil, não.


parabéns a você ou a oswaldo?
O jogo da despedida já está definido, mas qual seria o mais inesquecível dentre todos nos quais trabalhou? Altemir diz que há várias anulações - corretas - de gols marcantes, porém evitou torná-las públicas para não causar antipatia em nenhuma das torcidas. Resolveu então eleger um Fluminense x Ponte Preta disputado no dia em que completou 33 anos e ouviu o grito de "parabéns a você" entoado por mais de 50 mil pessoas. O coro, porém, era endereçado ao então técnico tricolor Oswaldo de Oliveira, aniversariante da mesma noite. 

- Tem um jogo que carrego com certa emoção foi num 5 de dezembro, dia do aniversário do Oswaldo e também do meu aniversário. Eram 55 mil pessoas cantando parabéns para você. E tive uma boa atitude ao não marcar impedimento do Romário em lance em que o zagueiro recuou para o Romário. Se você não vê ou não presta atenção, marca o impedimento. Então foi especial em função do meu aniversário.

(Nota da redação: Altemir se confundiu entre dois jogos entre Fluminense e Ponte Preta, ambos vencidos por 3 a 2 pelo Flu. Realmente houve o tal coro de 55 mil pessoas no dia 5 de dezembro de 2001, mas Romário ainda nem jogava pelo Tricolor. O jogo em que o zagueiro (Marinho) recuou para o Baixinho ocorreu em 17 de novembro de 2002, porém foi realizado em Campinas).

spray histórico

Talvez o lance em que chamou mais atenção em sua carreira aconteceu em 20 de junho de 2012, quando o Corinthians se classificou para a final da Libertadores após empate por 1 a 1 com o Santos. Nos acréscimos do jogo, ele levou a torcida corintiana, àquela altura já comemorando a classificação, à loucura ao desenhar uma meia-lua com seu spray de forma espalhafatosa. A intenção era demarcar a distância que os jogadores tinham de ficar.

Altemir Hausmann espirra o spray no gramado (Foto: Reprodução/TV Globo)Altemir Hausmann espirra o spray no gramado em velocidade assutadora (Foto: Reprodução/Globo)
 
- Carrego comigo por mais de uma dúzia de anos uma protusão discal. Sempre me esforcei muito para não virar hérnia de disco e nesse jogo deixei alguém de sobreaviso, pois acordei incapacitado de caminhar. Tomei uma injeção logo quando acordei e fui para o aquecimento ainda bastante incapaz. Aí veio o jogo e na pura adrenalina, querendo evitar que acabasse em pancadaria como tinha acontecido em uns oito ou dez jogos anteriores entre Santos e Corinthians, fiz aquilo. Fiz aquilo com o intuito de colocar respeito. Havia quatro jogadores no lance e também fiz aquilo para não fazer quatro risquinhos e me abaixar quatro vezes com aquelas dores.

dorival, o chato
E quem foi o técnico mais chato à beira do campo, que ficou perturbando Altemir na linha lateral? Ele, pautando-se no excesso de desentendimentos, elegeu Dorival Júnior, atualmente à frente do Fluminense.

- Tive vários atritos com o Dorival Júnior, mas por imposição dele e não minha. Toda vez que expulsei alguém eu avisei antes. Nunca expulso o cara de primeira, até porque entendo que o cara está na pressão. Acredito que tenha sido o Dorival (com quem menos se entendeu em campo), mas já me desculpei com ele e ele comigo. 


FOMTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2013/12/bandeirinha-se-aposenta-no-domingo-e-vira-um-inimigo-dos-impedimentos.html

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