Bicampeão mundial em 1959 e 1963 discorda de opiniões de Mão Santa sobre situação do basquete, mas recebe resposta com desprezo: 'Prefiro a opinião do Kobe'
Amaury Pasos com sua esposa no prêmio Brasil Olímpico, em São Paulo (Foto: Divulgação)
- Nós nos tratamos civilizadamente. Não privo da amizade dele, não o vejo frequentemente.
Apenas vejo os comentários que ele faz. Ele é marqueteiro, eu já não sou. Sou mais retraído, mais reservado. Eu discordo dessa maneira de pensar que ele tem, quando ele disse, depois que a seleção não se classificou “Fora Magnano, volta Cláudio Mortari”. Não, pelo amor de Deus! O Mortari já fez o que ele tinha que fazer no basquete, agora tem que ficar lá no Pinheiros, onde está. Há outros técnicos em vez do Mortari. E o Magnano, com certeza, é a melhor opção que temos no momento – disse Amaury Pasos, um dos participantes dos Jogos Pan-Americanos de 1963 homenageados durante o Prêmio Brasil Olímpico, em São Paulo, nesta terça-feira.
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Procurado pelo GloboEsporte.com, Oscar não quis se estender. Mas, com um tom de desprezo, rebateu o bicampeão mundial.- Nunca (a opinião do Amaury) deu repercussão. É a primeira vez que me perguntam. Prefiro a opinião do Kobe Bryant, do Larry Bird, do Coach K. Nem quero saber o que ele falou. Nem precisa me dizer.
Mas apesar das divergências, Amaury garante que tem muito respeito por Oscar e lembra o drama que o Mão Santa vem enfrentando ao lutar contra um câncer no cérebro:
- Eu telefonei para o Oscar na época e disse que eu, minha família, meus amigos estávamos todos torcendo para ele e que tínhamos certeza que ele venceria esse grande contratempo que ele está passando. E espero que assim se suceda. Porque, afinal de contas, ele é um ser humano e merece toda a minha consideração e meu respeito, apesar de divergências técnicas e de questões de pontos de vista que nós possamos ter em relação ao basquete brasileiro.
Enquanto Oscar é crítico ferrenho dos brasileiros da NBA, que pediram dispensa da seleção brasileira nas últimas convocações, Amaury, hoje com 78 anos, sai em defesa dos atletas. O bicampeão citou o exemplo de Nenê Hilário, pivô do Washington Wizards, principal alvo de Oscar, que o criticara duramente na partida exibição da NBA no Rio de Janeiro, em outubro deste ano:
- Não os critico, absolutamente. Eles são profissionais. O Nenê Hilário foi vaiado no jogo da NBA lá no Rio de Janeiro. Mas ele é um jogador de origem humilde, que atingiu uma condição excepcional, estratosférica em questão de remuneração. E quem manda nele é a equipe dele. Se não há seguro que possa resguardar o interesse do clube, ele, obviamente, não pode participar.
O único porém de Amaury sobre a questão é que esses atletas deveriam ter se resguardado com cláusulas que os permitissem servir à seleção em seus contratos com as franquias americanas.
- Ele deveria ter é assinado um contrato com essas condições, como os argentinos fazem, como outros jogadores fazem. O Tony Parker, por exemplo, joga pela França a qualquer momento. Não tenho dúvida que se o Brasil for convidado para disputar esse campeonato mundial, se o Nenê e os outros jogadores participarem, nós vamos fazer uma exibição excepcional.
em defesa dos brasileiros da nba
- Não é uma mancha. Se for convidado e o patrocinador arcar com o pagamento de 500 mil euros, que é o que a FIBA exige para participação, acho que o Brasil tem sim que participar. Por que não? Olha, na Olimpíada de Moscou, o Brasil não se classificou e somente participou porque os EUA declararam boicote aos Jogos e não compareceram. E no seu lugar entrou o Brasil.
Assim como Nenê, Tiago Splitter, Anderson Varejão e Leandrinho, o ex-armador Amaury também teve sua oportunidade para jogar no basquete americano. Mas preferiu se dedicar à seleção brasileira, mesmo caminho escolhido por Oscar, anos depois. Para Amaury, os atuais jogadores não estão errados em preferir essa direção. E ele ainda lembra que o Mão Santa também já recusou vestir a amarelinha em duas ocasiões, durante sua passagem pelo Caserta (Itália) de 1982 a 1990.
Amaury Pasos, em ação pela seleção bicampeã mundial, basquete, 1963 (Foto: Divulgação/CBB)
Mas ele, quando jogava no Caserta, também deixou de ir a um Sul-Americano e em um campeonato mundial porque a equipe exigia a presença dele lá. Então ele não foi. Essa é uma condição do jogador. Agora muito mais, porque hoje em dia é um profissionalismo sério da NBA e o Nenê está tendo um desempenho maravilhoso. Outro dia fez 30 pontos contra os Lakers e ele vai ser um jogador importantíssimo se nós viermos a disputar esse campeonato mundial.
As divergências de visões de Amaury e Oscar se estendem para o estilo de jogo. Pasos reconhece o talento do Mão Santa, mas acredita que a forma de jogo da seleção naquela época, centrada em Oscar, foi, na verdade, um retrocesso. E que, apesar do fracasso na Copa América na Venezuela, a seleção pode voltar aos tempos de glória, como prova o quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
- O basquete brasileiro está retomando a condição que sempre ostentou, da dita geração de ouro, que conquistou dois campeonatos mundiais, duas medalhas olímpicas e figurava entre as três melhores equipes do mundo. Houve um período, a meu ver, que a síntese do basquete foi, de certa forma deturpado. O basquete é um jogo de conjunto, e isso é indispensável para que uma equipe obtenha bons resultados. Tem que haver solidariedade, companheirismo e que os jogadores se integrem. Houve o surgimento então da geração do Oscar, por exemplo, que foi um grande cestinha. No entanto, ele chamou para si as finalizações e nem sempre um jogador consegue ganhar de outras equipes. Então, a não ser aquele pan-americano e um terceiro lugar em um campeonato mundial, ficou aquém das suas possibilidades, porque havia bons jogadores. Mas eles ficavam ofuscados dada a condição que o Oscar exerceu, com a anuência de técnicos e dirigentes que não entendo o porquê. Porque se você me perguntasse se eu jogaria nessa equipe, eu não jogaria, porque eu não sou passador de bola. Eu podia ser um armador, mas não pura e simplesmente um passador de bola.
- Agora, com a vinda do Magnano, um técnico que foi campeão mundial e olímpico dirigindo a seleção argentina, vi que, especialmente, nas Olimpíadas de Londres, o Brasil por pouco não conseguiu chegar à parte final da competição. Perdeu da Rússia no último segundo, em uma contingência toda especial, inerente ao jogo. E me parece que, daqui para frente, que esses novos jogadores, tanto os que estão jogando na NBA, quanto os que estão aqui, nós vamos ter condições de tentar atingir novamente aquela condição que sempre ostentamos - completou Amaury.
*Colaborou: João Gabriel Rodrigues
FPNTE:
http://globoesporte.globo.com/basquete/noticia/2013/12/amaury-pasos-diverge-de-oscar-sobre-brasileiros-da-nba-ele-e-marqueteiro.html
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