Retranca que segurou Fluminense e Santa Fé fora de casa oferece poucos momentos de instabilidade, mas velocidade de Bernard pode abrir buracos
Para não depender dos pênaltis, uma vitória por três gols de diferença
separa o Atlético-MG do inédito título da Libertadores nesta
quarta-feira. Mas a tarefa não será simples contra um adversário que só
foi vazado tantas vezes assim numa única oportunidade na competição - 3 a
1 para o argentino Newell's Old Boys, na estreia - e que costuma abrir
mão do ataque para armar um ferrolho quando atua fora de casa. Num
esquema tático formado por duas linhas defensivas, com cinco jogadores
na primeira e três na segunda, o Olimpia segurou o Fluminense nas
quartas de final e o Santa Fé, da Colômbia, na semi, para chegar a sua
sétima decisão do torneio. Só que a eficiente retranca paraguaia não
fica imune a falhas e costuma passar por pequenos momentos de
instabilidade durante os 90 minutos. E se não aproveitar... Que o digam
os tricolores e colombianos.
Os zagueiros Miranda, Manzur e Candia são titulares absolutos do
técnico Ever Almeida e formam a espinha dorsal da primeira linha
defensiva. A eles se juntam os alas Alejandro Silva pela direita e
Benítez ou Salinas, que ficou sem contrato para jogar a semifinal mas
renovou seu vínculo na última segunda-feira, pelo lado esquerdo. À
frente do quinteto, o esquema continua com três volantes mesmo após a
saída de Ortíz para o Toluca, do México. O setor agora tem Aranda,
Pittoni e Giménez, que está gripado e pode dar lugar a Mazacotte na
final. Além disso, os homens de frente, Salgueiro e Bareiro, dão o
primeiro combate no meio de campo e fecham o ferrolho. Nesta tática,
bolas rifadas são muito comuns (confira no vídeo acima).
- O Olimpia trabalha muito bem na defesa. Seu técnico é dos que pensam que, para garantir o poderio ofensivo, tem que começar dando segurança atrás. Candia, Manzur e Miranda são defensores fortes, experientes e rápidos. A fraqueza do setor passava pelas laterais, mas (Ever) Almeida conseguiu que a equipe superasse essa defifiência - contou Juan Carlos Flecha, do Diário "ABC Color", do Paraguai.
Exemplo Fluminense: 'toque me voy' cria buracos por baixo
A marcação funciona por zona, cada um guardando sua posição. Mas os
adversários que flutuarem entre as linhas podem tirar proveito dos
momentos de desatenção dos marcadores. Em São Januário, o Fluminense
teve jogadores livres próximos à grande área em certas ocasiões. Ora com
recuos rápidos de Wellington Nem, ora com chegadas de trás de Wagner (veja no vídeo ao lado).
O meia também surpreendeu a defesa quando se posicionou como atacante
na área e lá ficou. Para o Atlético-MG, a volta de Bernard após cumprir
suspensão representa uma arma para dividir a responsabilidade com Diego
Tardelli em criar situações pelos lados do campo. E sem Marcos Rocha e
Richarlyson, ambos suspensos, a tendência é que o apoio dos laterais
seja menor com Michel e Junior Cesar.
Tabelas em velocidade também são formas de penetrar na defesa
paraguaia, que por guardar posição por vezes não acompanha quem dá o
primeiro passe. Wellington Nem e Carlinhos souberam se movimentar com
agilidade entre as linhas de marcação e receberam livres na área (assista ao vídeo acima).
Só que a conclusão da jogada precisa ser rápida e a pressa pode
atrapalhar a precisão do chute, como no caso do atacante, ou a demora
pode permitir a chegada do adversário, como foi com o lateral-esquerdo.
Quando enfrentou a retranca do argentino Newell's Old Boys no
Independência, o Galo criou situação idêntica com Josué.
Só que velocidade não é tudo quando se tem marcação e cobertura.
Bernard está para o Atlético-MG assim como Rhayner esteve para o
Fluminense na ocasião. Mas o rápido atacante tricolor muitas vezes se
viu cercado e sem opção de passe (confira no vídeo ao lado).
O time chegou a 72% de posse de bola, porém, não transformou o domínio
territorial em vantagem. Foram apenas 11 finalizações, 22 bolas
levantadas e nenhum cabeceio no duelo que terminou 0 a 0 e foi o
primeiro pasSo para a eliminação.
Exemplo Santa Fé: aglomeração abre espaços pelo alto
Já o Santa Fé, no El Campín, em Bogotá, mostrou que a zaga paraguaia
também pode bater cabeça quando tem muitos adversários para marcar nas
bolas aéreas. O time jogou com três atacantes (Medina, Borja e Cuero)
desde os primeiros minutos de jogo, logo que perdeu o meia Molina
lesionado, e pôs mais um homem de frente. Pelo chão, os colombianos não
se criaram, mas na base do chuveirinho foram mais perigosos que os
brasileiros - apesar de uma posse de bola quase igual, de 71%. Com até
seis jogadores na área do Olimpia, vez ou outra um sobrava livre. Foi
assim que Borja e Medina perderam chances claras na cara do goleiro (veja aos 49s e a 1m27s do vídeo acima). E pelo alto é como o Atlético-MG costuma ser eficiente, especialmente com Jô, Réver e Leonardo Silva.
Ao todo, foram 20 finalizações colombianas e um gol - numa bola que não
entrou por inteira. Gol que só foi possível graças a uma falha de
posicionamento de Mazacotte e Miranda dando condições a um batalhão do
Santa Fé no rebote de uma falta de Omar Pérez. Porém, o 1 a 0 não foi
suficiente aos donos de casa por causa da derrota por 2 a 0 no
Defensores del Chaco.
Escanteio como drible à marcação
Embora o Fluminense não tenha tido sucesso no jogo aéreo, lançou mão de
uma tática nos escanteios que por pouco não deu resultado. Ao levar um
jogador para próximo da cobrança, dois adversários saem da área e vão
vigiar o passe curto. Com isso, o resto do time vai para a área e deixa o
caminho livre para quem vier de trás. Em duas ocasiões, Wellington Nem
foi acionado e cruzou para Leandro Euzébio, atento para não cair na
linha de impedimento (assista ao vídeo ao lado). O zagueiro ficou de frente para o gol na primeira tentativa, mas chutou em cima do goleiro.
Galo x retranca
Não é preciso voltar muito no tempo para recordar como acontece quando
o Atlético-MG precisa superar uma retranca. Foi o que ocorreu com mais
frequência, quase que 90 minutos, contra o Newell’s Old Boys, que podia
até perder por um gol de diferença para se classificar no segundo jogo
da semifinal. Para penetrar na barreira argentina, as armas foram:
pressão na saída de bola, movimentação de Ronaldinho entre o meio de
campo e as laterais para abrir a marcação, chegada de volantes como
elemento surpresa e muito, muito chuveirinho (veja os lances do jogo no vídeo acima).
Ao todo, foram 31 jogadas pelas laterais - sendo oito até a linha de
fundo - e 43 bolas levantadas na área argentina. E o plano funcionou. O
primeiro gol surgiu da pressão de Diego Tardelli na saída de bola, e o
segundo após rebatida de uma jogada aérea em que Guilherme levou a
decisão para os pênaltis, já nos minutos finais do duelo. Estará o Galo
pronto para um novo ferrolho?
*Colaborou Diego Rodrigues
- O Olimpia trabalha muito bem na defesa. Seu técnico é dos que pensam que, para garantir o poderio ofensivo, tem que começar dando segurança atrás. Candia, Manzur e Miranda são defensores fortes, experientes e rápidos. A fraqueza do setor passava pelas laterais, mas (Ever) Almeida conseguiu que a equipe superasse essa defifiência - contou Juan Carlos Flecha, do Diário "ABC Color", do Paraguai.
Com oito marcadores no campo de defesa, linhas do Olimpia funcionaram contra Flu (esq.) e Santa Fé (dir.)
Exemplo Santa Fé: aglomeração abre espaços pelo alto
Marcação da zagua paraguaia aos atacantes do Santa Fé
Escanteio como drible à marcação
Galo x retranca
Movimentação de Ronaldinho e pressão na saída de bola contra o Newells (Foto: Tacticalpad.com)
*Colaborou Diego Rodrigues
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