quarta-feira, 24 de julho de 2013

Retranca que segurou Fluminense e Santa Fé fora de casa oferece poucos momentos de instabilidade, mas velocidade de Bernard pode abrir buracos

Por Thiago de Lima* Rio de Janeiro

Para não depender dos pênaltis, uma vitória por três gols de diferença separa o Atlético-MG do inédito título da Libertadores nesta quarta-feira. Mas a tarefa não será simples contra um adversário que só foi vazado tantas vezes assim numa única oportunidade na competição - 3 a 1 para o argentino Newell's Old Boys, na estreia - e que costuma abrir mão do ataque para armar um ferrolho quando atua fora de casa. Num esquema tático formado por duas linhas defensivas, com cinco jogadores na primeira e três na segunda, o Olimpia segurou o Fluminense nas quartas de final e o Santa Fé, da Colômbia, na semi, para chegar a sua sétima decisão do torneio. Só que a eficiente retranca paraguaia não fica imune a falhas e costuma passar por pequenos momentos de instabilidade durante os 90 minutos. E se não aproveitar... Que o digam os tricolores e colombianos.

Os zagueiros Miranda, Manzur e Candia são titulares absolutos do técnico Ever Almeida e formam a espinha dorsal da primeira linha defensiva. A eles se juntam os alas Alejandro Silva pela direita e Benítez ou Salinas, que ficou sem contrato para jogar a semifinal mas renovou seu vínculo na última segunda-feira, pelo lado esquerdo. À frente do quinteto, o esquema continua com três volantes mesmo após a saída de Ortíz para o Toluca, do México. O setor agora tem Aranda, Pittoni e Giménez, que está gripado e pode dar lugar a Mazacotte na final. Além disso, os homens de frente, Salgueiro e Bareiro, dão o primeiro combate no meio de campo e fecham o ferrolho. Nesta tática, bolas rifadas são muito comuns (confira no vídeo acima).

- O Olimpia trabalha muito bem na defesa. Seu técnico é dos que pensam que, para garantir o poderio ofensivo, tem que começar dando segurança atrás. Candia, Manzur e Miranda são defensores fortes, experientes e rápidos. A fraqueza do setor passava pelas laterais, mas (Ever) Almeida conseguiu que a equipe superasse essa defifiência - contou Juan Carlos Flecha, do Diário "ABC Color", do Paraguai.

Frame - linhas de marcação do Olimpia (Foto: Editoria de arte) 
Com oito marcadores no campo de defesa, linhas do Olimpia funcionaram contra Flu (esq.) e Santa Fé (dir.)
 
Exemplo Fluminense: 'toque me voy' cria buracos por baixo
A marcação funciona por zona, cada um guardando sua posição. Mas os adversários que flutuarem entre as linhas podem tirar proveito dos momentos de desatenção dos marcadores. Em São Januário, o Fluminense teve jogadores livres próximos à grande área em certas ocasiões. Ora com recuos rápidos de Wellington Nem, ora com chegadas de trás de Wagner (veja no vídeo ao lado). O meia também surpreendeu a defesa quando se posicionou como atacante na área e lá ficou. Para o Atlético-MG, a volta de Bernard após cumprir suspensão representa uma arma para dividir a responsabilidade com Diego Tardelli em criar situações pelos lados do campo. E sem Marcos Rocha e Richarlyson, ambos suspensos, a tendência é que o apoio dos laterais seja menor com Michel e Junior Cesar.

Tabelas em velocidade também são formas de penetrar na defesa paraguaia, que por guardar posição por vezes não acompanha quem dá o primeiro passe. Wellington Nem e Carlinhos souberam se movimentar com agilidade entre as linhas de marcação e receberam livres na área (assista ao vídeo acima). Só que a conclusão da jogada precisa ser rápida e a pressa pode atrapalhar a precisão do chute, como no caso do atacante, ou a demora pode permitir a chegada do adversário, como foi com o lateral-esquerdo. Quando enfrentou a retranca do argentino Newell's Old Boys no Independência, o Galo criou situação idêntica com Josué.

Só que velocidade não é tudo quando se tem marcação e cobertura. Bernard está para o Atlético-MG assim como Rhayner esteve para o Fluminense na ocasião. Mas o rápido atacante tricolor muitas vezes se viu cercado e sem opção de passe (confira no vídeo ao lado). O time chegou a 72% de posse de bola, porém, não transformou o domínio territorial em vantagem. Foram apenas 11 finalizações, 22 bolas levantadas e nenhum cabeceio no duelo que terminou 0 a 0 e foi o primeiro pasSo para a eliminação.

Exemplo Santa Fé: aglomeração abre espaços pelo alto
Já o Santa Fé, no El Campín, em Bogotá, mostrou que a zaga paraguaia também pode bater cabeça quando tem muitos adversários para marcar nas bolas aéreas. O time jogou com três atacantes (Medina, Borja e Cuero) desde os primeiros minutos de jogo, logo que perdeu o meia Molina lesionado, e pôs mais um homem de frente. Pelo chão, os colombianos não se criaram, mas na base do chuveirinho foram mais perigosos que os brasileiros - apesar de uma posse de bola quase igual, de 71%. Com até seis jogadores na área do Olimpia, vez ou outra um sobrava livre. Foi assim que Borja e Medina perderam chances claras na cara do goleiro (veja aos 49s e a 1m27s do vídeo acima). E pelo alto é como o Atlético-MG costuma ser eficiente, especialmente com Jô, Réver e Leonardo Silva.
Marcação da zagua paraguaia aos atacantes do Santa Fé
 
Ao todo, foram 20 finalizações colombianas e um gol - numa bola que não entrou por inteira. Gol que só foi possível graças a uma falha de posicionamento de Mazacotte e Miranda dando condições a um batalhão do Santa Fé no rebote de uma falta de Omar Pérez. Porém, o 1 a 0 não foi suficiente aos donos de casa por causa da derrota por 2 a 0 no Defensores del Chaco.
Escanteio como drible à marcação

Embora o Fluminense não tenha tido sucesso no jogo aéreo, lançou mão de uma tática nos escanteios que por pouco não deu resultado. Ao levar um jogador para próximo da cobrança, dois adversários saem da área e vão vigiar o passe curto. Com isso, o resto do time vai para a área e deixa o caminho livre para quem vier de trás. Em duas ocasiões, Wellington Nem foi acionado e cruzou para Leandro Euzébio, atento para não cair na linha de impedimento (assista ao vídeo ao lado). O zagueiro ficou de frente para o gol na primeira tentativa, mas chutou em cima do goleiro.

Galo x retranca
 Não é preciso voltar muito no tempo para recordar como acontece quando o Atlético-MG precisa superar uma retranca. Foi o que ocorreu com mais frequência, quase que 90 minutos, contra o Newell’s Old Boys, que podia até perder por um gol de diferença para se classificar no segundo jogo da semifinal. Para penetrar na barreira argentina, as armas foram: pressão na saída de bola, movimentação de Ronaldinho entre o meio de campo e as laterais para abrir a marcação, chegada de volantes como elemento surpresa e muito, muito chuveirinho (veja os lances do jogo no vídeo acima).

Analise tática, Atlético-MG x Newells Old Boys (Foto: Tacticalpad.com) 
Movimentação de Ronaldinho e pressão na saída de bola contra o Newells (Foto: Tacticalpad.com)
 
Ao todo, foram 31 jogadas pelas laterais - sendo oito até a linha de fundo - e 43 bolas levantadas na área argentina. E o plano funcionou. O primeiro gol surgiu da pressão de Diego Tardelli na saída de bola, e o segundo após rebatida de uma jogada aérea em que Guilherme levou a decisão para os pênaltis, já nos minutos finais do duelo. Estará o Galo pronto para um novo ferrolho?
*Colaborou Diego Rodrigues

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