Com passagem no Flu e Vitória, ex-lateral, que marcou Figo na Champions, foi auxiliar do Santa Cruz-PB. Agora, se dedica ao futebol amador
Por João Neto -João Pessoa
Esquerdinha não quer saber de virar treinador
(Foto: João Neto)
(Foto: João Neto)
Recentemente, Esquerdinha atuou como auxiliar técnico do Botafogo-PB e do Santa Cruz de Santa Rita. Não por livre e espontânea vontade, mas por pressão do amigo e treinador Neto Maradona, que foi demitido do Bota na véspera da estreia da equipe na Copa Paraíba Sub-21.
- Estou com Neto, principalmente pela amizade que nós temos. Por isso, saí junto com ele do Botafogo. Não tenho a intenção de seguir carreira de treinador ou algo do tipo. Ele pede ajuda algumas vezes, e eu não tenho como recusar. É um grande amigo. Além do mais, não consigo ficar longe dos gramados. Nunca me afastei do futebol desde que resolvi encerrar a carreira - disse o ex-jogador, que chegou a ocupar a função de técnico, depois de Neto Maradona ter pedido para deixar o Santa Cruz-PB nas rodadas finais da segunda divisão do Paraibano.
Nunca me afastei do futebol desde que resolvi encerrar a carreira"
Esquerdinha
- Saí de CaIçara e fui para o Botafogo-PB, aos 12 anos. Meu pai não queria. Dizia que bola não era profissão. A pressão foi grande. Minha profissionalização foi no Santos-PB, em 1989. Na base, ganhei quase tudo que joguei. Passei um tempo lá e aí voltei para o Botafogo, em 1992. Quando fui assinar meu contrato, me ofereceram muito pouco. Então, decidi parar de jogar. Arrumei um emprego e fui ser carregador de mercadoria e verdura.
Naquele momento, Esquerdinha achava que estava pendurando as chuteiras. Enganou-se. A vontade de ser jogador de futebol era maior do que qualquer decepção. E, na primeira oportunidade que apareceu, o coração falou mais alto. Abandonou o emprego e voltou aos gramados em 1993. Novamente no Botafogo. Seu destino e sonho eram outros. Embora ele quase tenha desistido outra vez.
Da esquerda para a direita, Esquerdinha é o último uniformizado em pé (Foto: Acervo Raimundo Nóbrega)
- Eu só entrava nos 10 minutos finais do coletivo. Toda vez era isso. Deu logo vontade de largar de novo. Até que Raimundo, certo dia, pela dificuldade em contratar um lateral, perguntou se eu tinha interesse em atuar na posição. Fiquei em dúvida na hora. Só tinha jogado como lateral em pelada. Mas pensei rápido. "Se eu errar, é porque não conheço a posição. Se eu acertar, é mérito meu." Resolvi encarar o desafio. Acabou dando certo, já que virei titular, fiz minha estreia como profissional e me firmei.
Copa do Nordeste 1994: cobiça de clubes
Esquerdinha mantém a forma em jogos na várzea (Foto: João Neto)
O paraibano diz que caiu no conto do vigário. Assinou documento sem saber do que se tratava. Era um contrato que o prendia a um empresário. Um desleixo que poderia ter custado caro. E acabou fazendo com que fosse ignorado por Joel - o técnico havia mandado um recado pelo massagista que queria levá-lo para o Tricolor das Laranjeiras.
Assinei (um papel) e descobri, enquanto estava indo ao hotel para
conversar com o Joel, que estava vinculado ao Corinthians Alagoano"
Esquerdinha, sobre ter sido 'enganado' por empresário
Foi aí que o empresário resolveu procurá-lo
- Um pouco antes disso, o massagista do nosso time (Zominha) me falou que o Joel Santana tinha mandado um recado de que queria falar comigo. Pediu para eu não acertar com ninguém. Mas o empresário me deu um papel para assinar sem dizer o que era. E descobri, enquanto estava indo ao hotel para conversar com Joel, que aquela assinatura me vinculou a ele. Fiquei indignado e vim parar em casa, extremamente desiludido.
Em seguida, Esquerdinha explicou como foi parar em São Paulo.
- Não faço a menor ideia como ele descobriu onde eu morava. Mas sei que ele me disse que havia conseguido este time para eu ir (o Paraguaçuense), e se eu fizesse oito gols na 2ª divisão do Campeonato Paulista, ganharia uma casa e um carro. Fui embora. Fiz 12 gols na competição. Não ganhei o que ele havia garantido, mas recebi a promessa de que só jogaria em clube grande.
Bahia, Galo e Flu até idolatria no Vitória
Ao chegar nas Laranjeiras, um choque de realidade. Olhava para um lado e via um ídolo. Olhava para o outro, via um campeão mundial pela seleção brasileira em 2002. O que antes parecia surreal agora nada mais era do que um capítulo da vida real. E Esquerdinha garante que se emocionou. Sentiu-se realizado. Mas não amedrontado.
- Quando eu me apresentei ao Fluminense, confesso que fiquei espantado. Olhava para Renato Gaúcho, Vampeta, e passava aquele filme na cabeça. Só tinha visto aqueles caras na televisão. Lembrava logo da minha comunidade. Apesar disso, sempre tive comigo que se eu estava ali é porque tinha condições. Nunca deixei de acreditar no meu potencial. Infelizmente, o Flu estava naquela fase ruim, de ser rebaixado, e, como eles queriam me comprar, o João Feijó (empresário) achou que não era o ideal.
O empresário do atleta acertou. Esquerdinha foi para o Vitória. Lá, foi tricampeão baiano, levou o Rubro-Negro a uma competição sul-americana pela primeira vez e ainda se sagrou bicampeão da Copa do Nordeste. Uma passagem que, para ele, vai ficar guardada na memória (assista no vídeo acima a um gol de Esquerdinha no clube baiano).
Aos 40 anos, Esquerdinha elege passagem pelo Vitória como mais marcante no Brasil (Foto: João Neto)
Porto: história de amor
Esquerdinha chegou ao Porto após fazer sucesso no Vitória (Foto: Divulgação / Porto FC)
- Eu sempre fui fã de Roberto Carlos (que na época jogava no Real Madrid) e, para mim, ele era o melhor da posição. Mas via que nem ele conseguia marcar Figo direito. Fiquei com aquilo na cabeça. Queria enfrentar Figo de todo jeito para ver como era. Aconteceu na Champions League. Pior que antes da partida todo mundo ficava dizendo que eu ia sair todo torto de campo. No vestiário, um dos meus companheiros, o lateral-direito Secretário, olhou para mim e falou: "Vamos sair daqui direto para uma oficina. Você com Figo e eu com Rivaldo." Levei minha família para ver. Foi tudo muito engraçado, até porque no primeiro lance ele deu um baita drible em mim. Só que depois ganhei uma bola, em uma dividida, e moral. Apesar da derrota, fiz um excelente jogo. Fui aplaudido pelos colegas e por boa parte da torcida.
Esquerdinha disse que adaptação foi tranquila no Porto (Foto: Direitos reservados/Jornal de Notícias)
- Quando cheguei a Portugal, diziam que eu era africano, pelo estilo agressivo de atuar. No Brasil, eu não me preocupava muito em marcar. Atuávamos com dois volantes de contenção. Em Portugal, não. O técnico usava o 4-3-3, com dois pontas e apenas um cabeça de área, que ficava fixo no meio. Ou seja: tive que fazer um trabalho especial para poder me acostumar com esta nova necessidade e assim poder me firmar. Após todos os treinos, durante um mês, ficava com o preparador físico Roger Spry. Ele tinha feito algo semelhante com o Roberto Carlos. E valeu a pena. Com 15 dias, eu estava voando – disse Esquerdinha.
Depois de sair do Porto devido à mudança de técnico, o ex-lateral teve passagens não muito marcantes por Zaragoza-ESP e Acadêmica-POR. Encerrou a carreira em 2007, no Botafogo-PB. Agora, é o rei da várzea paraibana.
Esquerdinha deixou o Porto após mudança de técnico e foi para Zaragoza (ESP) (Foto: http://globoesporte.globo.com/pb/noticia/2013/02/lembra-dele-ex-jogador-do-porto-esquerdinha-vira-rei-da-varzea-na-pb.html / Porto FC)
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