Judoca conquista bronze e faz Brasil quebrar seca de quatro dias sem medalhas. Derrotas no vôlei e no basquete são decepções do dia
Nesta quinta-feira, no instante em que derruba, com um ippon, a holandesa Marhinde Verkerk e garante o bronze, é interessante a expressão de Mayra. Ela não entra em um pranto eufórico, como Felipe Kitadai, outro dono de um bronze. Também não faz uma careta de choro, caso de Sarah Menezes, por enquanto proprietária de nosso único ouro em Londres. Mayra, não: ela sorri. Abre um sorriso alegre, claro, mas longe de ser extravagante. É serena. E é serena porque sabe que ainda está em fase de crescimento no esporte, porque sabe que a vida adulta dentro do tatame ainda está por vir. E aí o bronze de hoje pode ser o ouro de amanhã.
O sexto dia das Olimpíadas de 2012 serviu para quebrar a seca de medalhas. Desde sábado, o Brasil estava órfão de pódios. Estávamos com saudade. Fazia tempo. Fazia exatamente... quatro dias.
Mayra sorri com a serenida de quem sabe que ainda tem muito pela frente (Foto: Agência AFP)
Mayra tem uma relação peculiar com o tempo. Ela parece acelerar os relógios da vida. É precoce. Com 15 anos, já tinha uma medalha em Mundiais Sub-20 – é a única atleta a ter quatro pódios na categoria. Foi a Pequim com apenas 16. E não gosta de ver os ponteiros correrem sem que estejam tiquetaqueando segundos de treinamento. Os episódios que acontecem fora do tatame são pequenas partículas que circulam em volta de um núcleo: o judô.
O golpe da vitória contra a holandesa: foram quatro
dias sem medalhas (Foto: Agência Reuters)
dias sem medalhas (Foto: Agência Reuters)
Veja só: a menina morava no bairro Azenha, em Porto Alegre, e desde sempre treina na Sogipa (Sociedade de Ginástica Porto Alegre), um dos principais clubes da cidade. Ela levava cerca de meia-hora para ir e voltar dos treinos. E se irritava com o tempo perdido. Para otimizar o processo, pediu para morar ao lado do local de trabalho. Foi atendida. Vai saber se esses minutos diários ganhos não renderam aqueles detalhes que resultam em uma medalha, não é mesmo?
Cielo, vôlei de praia e boxe dão boas perspectivas
Agora a questão é saber quantos outros pódios, feito o de Mayra ou superiores a ele, virão. A quinta-feira deixou boas perspectivas. Cesar Cielo mostrou que, passados quatro anos do ouro em Pequim, continua sendo um monstro nos 50m livre. Ele avançou para a final com o melhor tempo do dia – empatado com o americano Cullen Jones. Bruno Fratus também foi muito bem: o quarto melhor, dando sinais de que é outro que pode ir ao pódio.
Cesar Cielo e Cullen Jones chegam juntos nas semifinais dos 50m livre (Foto: Getty Images)
Talita e Maria Elisa vencem mais uma em Londres
(Foto: Reuters)
(Foto: Reuters)
No boxe, outra boa notícia. Esquiva Falcão bateu forte em Soltan Migitinov, do Azerbaijão, e foi às quartas de final da categoria peso-médio. Ganhou por 24 a 11. Está a uma vitória de garantir uma medalha. O adversário na próxima fase, segunda-feira, é o húngaro Zoltan Harcsa.
Quem também está perto de outra medalha olímpica é a dupla formada por Robert Scheidt e Bruno Prada na vela. Eles fecharam mais um dia na segunda colocação da classe Star, mas se distanciaram dos líderes, os britânicos Iain Percy e Andrew Simpson. Os anfitriões somaram um primeiro e um segundo lugares nesta quinta, enquanto os brasileiros foram terceiros em uma regata e quintos em outra.
Derrotas nos esportes coletivos
Dante lamenta: Brasil perde para os EUA no vôlei
(Foto: Agência AFP)
(Foto: Agência AFP)
O basquete também sofreu um golpe duro. Faltando menos de seis segundos para o fim da partida, com o Brasil à frente no placar, o russo Vitaliy Fridzon resolveu arriscar, pela primeira vez no jogo, um arremesso de três pontos. E acertou. Assim, transformou a vitória brasileira em derrota. Doeu olhar no placar e constatar: 75 a 74. A ressalva é que foi o primeiro insucesso do time de Rubén Magnano na competição.
Russo Vitaliy Fridzon arremessa para os três pontos da vitória sobre o Brasil (Foto: Reuters)
Vovô do hipismo, recorde e superação
Hiroshi Hoketsu, 71 anos: preocupado com a idade
do cavalo (Foto: Blog)
do cavalo (Foto: Blog)
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Hiroshi Hoketsu foi o 17º melhor do dia no hipismo. É um japonês. Não
seria grande feito se ele não tivesse 71 anos. É a terceira vez que ele
disputa os Jogos. Participou em 1964, em Tóquio, e em 2008, em Pequim.
Questionado sobre a chance de também participar das Olimpíadas de 2016,
no Rio de Janeiro, ele deu uma resposta um tanto curiosa: “Acho que não.
Meu cavalo estará muito velho”.O cavaleiro se classificou também para os Jogos de 1988, em Seul. Mas não participou da disputa, porque seu cavalo da época se machucou. Pois foi justamente naquela edição das Olimpíadas que o time de basquete do Brasil estabeleceu o recorde de pontos da história olímpica, na vitória de 138 a 85 sobre o Egito. Mas a marca desabou nesta quinta. Os Estados Unidos fizeram 156 a 73 na Nigéria e entraram para a história do esporte.
O dia também foi marcante para os americanos na ginástica. Gabrielle Douglas, de 16 anos, chamada de “esquilo voador”, levou o ouro na competição individual geral. A prata e o bronze ficaram com as russas Victoria Komova e Aliya Mustafina.
Na esgrima, quem brilhou foi uma italiana. Valentina Vezzali conquistou sua sexta medalha de ouro, um recorde no esporte. Ela ajudou seu país a ganhar a disputa por equipes no florete feminino.
Húngara Abigel Joo dá golpe final mesmo mal
conseguindo caminhar (Foto: Agência Reuters)
conseguindo caminhar (Foto: Agência Reuters)
Mas a grande vitoriosa do dia nos tatames foi mesmo Kayla Harrison. A algoz de Mayra Aguiar chegou ao ouro depois de superar um grave problema pessoal. Quando tinha 13 anos, ela começou a ser abusada sexualmente por seu treinador, Daniel Doyle, que a acompanhava desde quando tinha oito anos. A judoca só contou o caso a seus pais três anos depois do ocorrido. Doyle foi parar na cadeia, condenado a dez anos de prisão – talvez o lugar mais distante possível de um topo de pódio olímpico, o lugar onde Harrinson chorou nesta quinta, desta vez de alegria.
Kayla Harrinson, abusada sexualmente na infância, chora no pódio (Foto: Agência AFP)
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