Tirei a quinta-feira para deixar pronto um P&R, mas acabei me
empolgando em algumas respostas e deixei o post grande demais. A
solução foi um par de posts separados. A começar por este, resultado da
pergunta enviada pelo leitor Thiago Lolkus Nigro. Ele indaga sobre os
prêmios em dinheiro recebidos pelos tenistas que não estão entre os
melhores do mundo. A questão é bem interessante, e muita gente fica com a
impressão errada ao ver números no site da ATP. Abaixo, pergunta e
resposta (P&R).
Julgando pelo resultado financeiro do top 500 do tênis na ATP, é quase inviável sobreviver do esporte apenas com o “prize money” que recebem. Olhando o site, vi que Daniel Gimeno Traver, profissional desde 2004, ganhou US$ 1,4 milhão em 7,5 anos de carreira. Patrocínio é algo factível para os top 10 ou Belluccis da vida, mas e para os outros? Os top 500 recebem, em sua maioria, patrocínios ou algum tipo de renda extra?
Thiago, aquele valor que a página da ATP exibe como “prize money” (ou prêmio em dinheiro recebido pelo jogador ao longo da carreira) é bastante enganoso. Muita gente olha aquilo, diz “nossa, fulano já ganhou mais de um milhão!” e pensa que o homem está nadando em dinheiro. Pura ilusão.
Vejamos, por exemplo, o caso de Flávio Saretta, que jogou dez anos como profissional e ganhou, segundo a ATP, US$ 1,237 milhão. A primeira a coisa a fazer é descontar os impostos. Sim, quando o jogador recebe o prêmio, ele já recebe com os impostos do país descontados na fonte.
Isso dá, em média, 25%. Só aí o prêmio de Saretta já cai para US$ 927 mil. Dividindo isso por dez anos de carreira, dá US$ 92,7 mil por ano ou US$ 7.725 mensais. Ainda parece um bom dinheiro, não? Mas ainda não descontamos as inúmeras passagens aéreas e eventuais gastos com alimentação e hospedagem (a maioria dos torneios oferece hospedagem, mas só enquanto o tenista está vivo na chave).
Nem incluímos gastos com técnicos ou preparadores físicos, que às vezes viajam com os atletas. Se você fizer a conta na ponta do lápis, vai ver que é impossível um tenista por volta de 80-120 do mundo competir em igualdade de condições com um top 30. E nem precisamos chegar a extremos como o top 10 ou a zona entre os 400 e 500 da lista da ATP. Os primeiros ganham muito (merecidamente, pois são os maiores responsáveis pela exposição do esporte), os últimos praticamente pagam para jogar – e muitos desistem.
É claro que há patrocínio fora do top 30, mas para poucos. Ricardo Mello, por exemplo, tem a Babolat. Flávio Saretta teve Wilson e Babolat (em épocas diferentes, claro). Marcos Daniel não teve quase nada. É até mais fácil encontrar empresários de bom coração querendo ajudar do que empresas buscando retorno visual de sua marca. Um tenista fora do top 50 quase não aparece na TV ou nos jornais.
Há outros ganhos, como participações em Copas Davis, convites para o World Team Tennis (Mello já disputou) e torneios interclubes na Europa (que tanto ajudaram Daniel). Cada um faz o que precisa para se sustentar. Mas vale o que eu disse alguns parágrafos acima. Se você fizer a conta completa, vai entender por que os tenistas de ranking mais baixo continuam reclamando da divisão de renda no tênis mundial.
Coisas que eu acho que acho:
- Não estou colocando nenhum dos tenistas citados no post como coitadinhos. Pelo que me consta, Mello, Saretta e Daniel não passam fome. A intenção do texto é apenas mostrar que a ideia de “milionários” não pode ser aplicada friamente a todos tenistas que ganharam mais de US$ 1 milhão ao longo de toda uma carreira.
- Hoje em dia, boa parte dos tenistas brasileiros recebe ajuda da CBT. Ao conseguir apoio para os atletas em passagens aéreas e outros benefícios, e entidade transfere, automaticamente, a responsabilidade para os tenistas. A geração de Tiago Fernandes, Thiago Monteiro, Christian Lindell e Bia Maia nunca terá a desculpa de falta de apoio no início da carreira.
- A turma que atualmente beira ou passa dos 30 nunca teve ajuda semelhante. Marcos Daniel, Júlio Silva, Rogerinho, Marcelo Melo, Thiago Alves, Bruno Soares… todos estes tiveram de batalhar por conta própria, correr atrás de patrocínio e ganhar num dia para jogar no outro.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/platb/saqueevoleio/2012/02/24/pobres-milionarios/
Julgando pelo resultado financeiro do top 500 do tênis na ATP, é quase inviável sobreviver do esporte apenas com o “prize money” que recebem. Olhando o site, vi que Daniel Gimeno Traver, profissional desde 2004, ganhou US$ 1,4 milhão em 7,5 anos de carreira. Patrocínio é algo factível para os top 10 ou Belluccis da vida, mas e para os outros? Os top 500 recebem, em sua maioria, patrocínios ou algum tipo de renda extra?
Thiago, aquele valor que a página da ATP exibe como “prize money” (ou prêmio em dinheiro recebido pelo jogador ao longo da carreira) é bastante enganoso. Muita gente olha aquilo, diz “nossa, fulano já ganhou mais de um milhão!” e pensa que o homem está nadando em dinheiro. Pura ilusão.
Vejamos, por exemplo, o caso de Flávio Saretta, que jogou dez anos como profissional e ganhou, segundo a ATP, US$ 1,237 milhão. A primeira a coisa a fazer é descontar os impostos. Sim, quando o jogador recebe o prêmio, ele já recebe com os impostos do país descontados na fonte.
Isso dá, em média, 25%. Só aí o prêmio de Saretta já cai para US$ 927 mil. Dividindo isso por dez anos de carreira, dá US$ 92,7 mil por ano ou US$ 7.725 mensais. Ainda parece um bom dinheiro, não? Mas ainda não descontamos as inúmeras passagens aéreas e eventuais gastos com alimentação e hospedagem (a maioria dos torneios oferece hospedagem, mas só enquanto o tenista está vivo na chave).
Nem incluímos gastos com técnicos ou preparadores físicos, que às vezes viajam com os atletas. Se você fizer a conta na ponta do lápis, vai ver que é impossível um tenista por volta de 80-120 do mundo competir em igualdade de condições com um top 30. E nem precisamos chegar a extremos como o top 10 ou a zona entre os 400 e 500 da lista da ATP. Os primeiros ganham muito (merecidamente, pois são os maiores responsáveis pela exposição do esporte), os últimos praticamente pagam para jogar – e muitos desistem.
É claro que há patrocínio fora do top 30, mas para poucos. Ricardo Mello, por exemplo, tem a Babolat. Flávio Saretta teve Wilson e Babolat (em épocas diferentes, claro). Marcos Daniel não teve quase nada. É até mais fácil encontrar empresários de bom coração querendo ajudar do que empresas buscando retorno visual de sua marca. Um tenista fora do top 50 quase não aparece na TV ou nos jornais.
Há outros ganhos, como participações em Copas Davis, convites para o World Team Tennis (Mello já disputou) e torneios interclubes na Europa (que tanto ajudaram Daniel). Cada um faz o que precisa para se sustentar. Mas vale o que eu disse alguns parágrafos acima. Se você fizer a conta completa, vai entender por que os tenistas de ranking mais baixo continuam reclamando da divisão de renda no tênis mundial.
Coisas que eu acho que acho:
- Não estou colocando nenhum dos tenistas citados no post como coitadinhos. Pelo que me consta, Mello, Saretta e Daniel não passam fome. A intenção do texto é apenas mostrar que a ideia de “milionários” não pode ser aplicada friamente a todos tenistas que ganharam mais de US$ 1 milhão ao longo de toda uma carreira.
- Hoje em dia, boa parte dos tenistas brasileiros recebe ajuda da CBT. Ao conseguir apoio para os atletas em passagens aéreas e outros benefícios, e entidade transfere, automaticamente, a responsabilidade para os tenistas. A geração de Tiago Fernandes, Thiago Monteiro, Christian Lindell e Bia Maia nunca terá a desculpa de falta de apoio no início da carreira.
- A turma que atualmente beira ou passa dos 30 nunca teve ajuda semelhante. Marcos Daniel, Júlio Silva, Rogerinho, Marcelo Melo, Thiago Alves, Bruno Soares… todos estes tiveram de batalhar por conta própria, correr atrás de patrocínio e ganhar num dia para jogar no outro.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/platb/saqueevoleio/2012/02/24/pobres-milionarios/
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