FONTE:
http://jornalggn.com.br/noticia/irresponsabilidade-do-estadao-pode-custar-a-vida-de-um-juiz
Jornal GGN - Fazer jornalismo com responsabilidade significa, entre outras regras, dar espaço para as duas versões de um mesmo fato e, na reportagem ligando o juiz Luis Carlos Valois à terceira maior facção criminosa do país, o Estadão errou. Nesta terça (3), o assunto repercute nas redes sociais porque, graças ao jornal, o magistrado recebe ameaças de morte de pessoas ligadas ao PCC.
Ontem, o Estadão publicou, por volta das 16h, um texto editado de maneira a insinuar que Valois tem conexão com traficantes da Família do Norte, uma facção que pode estar por trás do massacre que ocorreu no Compaj, o Complexo Penitenciário Anísio Jobim, no Amazonas, que resultou em 56 mortes no último domingo (1).
O juiz foi convocado pela Secretaria de Segurança do Estado para participar das negociações, mas o Estadão escreveu que Valois foi "chamado pelos detentos".
Em sua página no Facebook, o juiz revelou que foi procurado pelo Estadão e foi entrevistado por 20 minutos antes da matéria ir ao ar. Nenhuma linha do que disse foi publicada.
A reportagem, por outro lado, deu amplo espaço a dados de uma operação deflagrada pela Polícia Federal em 2015 contra a Família do Norte e que, em junho de 2016, chegou a alguns membros do Judiciário amazonense. Valois estava entre os magistrados e advogados que foram alvo de pedidos de busca e apreensão. Ele é citado por um dos cabeças da Família do Norte e uma advogada num contexto em que não é possível cravar conexão entre as partes.
O inquérito é de competência do Superior Tribunal de Justiça porque uma desembargadora do TJ-AM é investigada por suspeita de venda de liminares. O processo corre sob sigilo e, talvez por isso, o Estadão limitou-se a reportar apenas as acusações do Ministério Público contra Valois. Não há informações sobre em que pé anda a apuração.
Mas uma breve pesquisa mostra que a operação, chamada La Muralla, fase 2, foi repudiada pelo procurador geral de prerrogativas da OAB no Estado, Allan Feitoza, que afirmou à imprensa local que não havia "provas que comprovem suficientemente algum crime por parte do juiz ou de advogados investigados pelo Ministério Público".
Feitoza também disse que a OAB considerou a "medida um absurdo, uma afronta à dignidade do TJ-AM e à advocacia. Só porque os advogados estão na área criminal, não indica que eles têm envolvimento com a execução do crime. Eles promovem a defesa e a defesa é obrigatória."
Nada disso, nem dos 20 minutos de conversa entre o correspondente do Estadão no Amazonas e Valois foi publicado pelo jornal.
À reportagem do Jornalistas Livres, Valois explicou ainda que negociou com os presos durante a rebelião sempre sob orientação de policiais militares "experimentados" e que o grupo era formado por outros agentes do Estado. Além disso, ele está em recesso do Judiciário, ou seja, estava presente apenas para atender ao pedido da Secretaria.
"Tudo isso falei para o tal Estadão, mas foi indiferente para eles. Agora recebo ameaças de morte da suposta outra facção, por causa da matéria covardemente escrita, sem sequer citar o que falei. Covardes. Estadão covarde, para quem não basta 'bandido morto', juiz morto também é indiferente", disse ele, no Facebook.
Para Valois, o Estadão desenterrou "uma investigação contra mim da Polícia Federal em que esta escuta advogados falando o meu nome para presos, sem qualquer prova de conduta minha. Detalhe, todos os presos das escutas estão presos, nunca soltei ninguém. Mas insinuaram que isso tinha algo a ver com o fato de eu ter ido falar com os presos na rebelião, que sequer eram os mesmos da escuta."
GUERRA AOS GARANTISTAS
O jurista Pedro Serrano saiu em defesa de Valois após a reportagem do Estadão. Ele escreveu ao DCM que o magistrado é "perseguido por ser um ferrenho garantista". "Interviu na tragédia para tentar ajudar. Essa busca e apreensão [da operação La Muralla] não deu em nada. Obviamente, foi feita só para desmoraliza-lo."
Ainda de acordo com Serrano, Valois é um dos "grandes perseguidos pela cúpula fascista do Judiciário federal", um dos "simbólicos de persecução a juízes garantistas, como a desembargadora Kenarick em São Paulo, processada por soltar presos com pena cumprida, e os do Rio processados por emitir opiniao contra o impeachment."
No Justificando, o juiz de Direito Marcelo Semer afirmou que "é preciso ter coragem pra ser juiz. E infelizmente o maior risco hoje não está nos presos. Está na imprensa leviana e sensacionalista”.
Abaixo, a reportagem do Jornalistas Livres com Valois. VEJA CLICANDO NO LINK DA FONTE ACIMA
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