TÊNIS
AS LÁGRIMAS VIERAM
Break Point
Por João Victor Araripe e Thiago Quintella
Nem ele conseguiu conter a emoção do momento. Uma final contra seu maior rival e com significado imenso. Foi ali, em 2009, que o gigante Roger Federer mostrou seu lado humano comovendo o mundo com a icônica frase “It's killing me”. Mais uma derrota. Uma que ficaria guardada. Novamente, o jovem rival espanhol triunfaria em uma batalha épica.
Doeu. Na coletiva, o próprio Federer admitiu porque a derrota havia lhe machucado tanto: ”Esse é um dos jogos na minha carreira que senti que poderia ou até deveria ter vencido”. Nem mais na quadra dura podia superar seu adversário. O campeão viu seu maior rival crescer e começar a tomar seus reinados, pouco a pouco.
Um rival que parecia ter sido construído a mão para derrotá-lo. Fisicamente, um monstro. Tecnicamente, um canhoto e dono de um spin mortal. Mentalmente, uma fortaleza mental que mesmo jovem não ruía nos momentos de maior pressão. Seus destinos foram separados. A idade começava a pesar e já não reinavam no circuito.
Dia de coletiva. Mais uma pergunta sobre aposentadoria. Parecia já rotina. Fora assim desde 2010. Perguntas espinhosas, quase num tom de crítica pela decisão tomada. Continuar jogando é uma insistência. É ameaçar diminuir toda a glória e a história que construiu. Seria mais fácil parar em grande estilo no torneio de Wimbledon 2012 com o 17º Grand Slam.
Não. Fácil não era uma opção. Seria muito mais difícil dessa vez. Mas falhar seria não tentar de novo. Por mais que soubesse que o auge já ficara para trás, teria que se desafiar novamente. Viu o jogo mudar e novos rivais ascenderem. Teve de se adaptar e se reinventar. Já não era mais o mesmo jovem. O caminho para voltar às glórias seria muito mais difícil. De protagonista a quase coadjuvante num circuito dominado por um jogo diferente de quando reinara. Mais físico e mais lento. Com mais ralis e menos winners.
O tema aposentadoria virou uma constante na carreira de Federer. Uma certeza, no entanto, já tinha: “Eu não me importo de cair no ranking. Enquanto eu puder ser competitivo fica fácil seguir jogando, sem dúvida”. O desafio seria conseguir se manter competitivo em diferentes circunstâncias. O corpo aguentaria sete vitórias em melhor de cinco sets? Batalhas de quase cinco horas contra os mais exímios contra-atacadores?
Chances vieram e se foram. Cada uma que passava parecia que seria a última. Não era todo dia que Novak Djokovic caía cedo nos Slams. E quando isso acontecia, Federer não conseguia aproveitar. Uma sina que não conseguia escapar. A luz no fim do túnel parecia cada vez menor. O relógio não parava e cada Grand Slam que se passava, um a menos em sua carreira.
O tempo mostraria que a escolha arriscada de continuar foi genial. A história de Roger Federer ganhou um novo capítulo e o mundo parou para assistí-lo. O mais belo de todos eles. Seis meses de ausência. Primeiro torneio oficial. Cirurgia no joelho. Quatro top 10 pelo caminho. O maior rival de sua carreira na final. Quisera a história que o desfecho fosse outro.
Os desafios foram tamanhos que só agigantam a lenda que é Roger Federer. Na mesma Rod Laver Arena que mostrou sua humanidade pela primeira vez, voltaria a protagonizar uma das cenas mais inimagináveis ao esporte. Engrandeceu a maior de todas as histórias.
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Análise da final
Ao contrário no passado, Roger Federer decidiu tomar uma tática arrasadíssima. Não daria um passo para trás. Ficaria colado na linha de base. Se fosse necessários, bate-prontos seriam a opção. Soa quase um absurdo falar isso pensando no absurdo de spin que Rafael Nadal ainda coloca na bola. Á, e não bateria um slice sequer de backhand.
Apesar de descalibrar no segundo e no quarto set, foi o único que chegou a ter o controle da partida. Sacou bem, encurtou os pontos e conseguiu sair de uma situação complicada no quinto e decisivo set contra Nadal.
Defendeu-se bem com forehand, quando necessário, e se manteve agressivo durante toda a partida, errasse ou acertasse. Sacou muito nos momentos de pressão e conseguiu encurtar o jogo. Manteve-se fiel à tática de jogo do inicio ao fim. Foi recompensado e levou o 18º Grand Slam sobre o rival.
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Melhores declarações
"Tênis não tem empate, mas sinceramente não me importaria hoje de dividir o troféu com Rafa (…) Por favor continue jogando tênis. O tênis precisa de ti” - Federer
“Vou continuar a tentar. Sinto que estou a voltar a um nível muito alto. Vou continuar a lutar durante o ano para ter uma boa época e quero voltar aqui por muitos anos para ter novamente aquele troféu comigo” - Nadal
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