De volta à primeira divisão do Campeonato Carioca, torcedores do America reencontram time grande e roubam cena com cânticos e provocações ao Vasco
A animação recomeçou pouco depois e voltou ao nível em que
estava desde a preliminar, disputada pelas equipes sub-20. Pudera: foi o
primeiro jogo do America em casa após cinco anos nos confins da segunda divisão
carioca; o primeiro duelo com um clube grande desde o retorno. Era a
oportunidade de voltar a se sentir enorme.
Os torcedores do America preencheram com facilidade o espaço
destinado a eles em Mesquita. O jogo contra o Vasco é considerado o Clássico da
Paz, mas, para eles, o clima era beligerante: inesgotáveis, cantaram, cantaram,
cantaram; infernizaram a vida do árbitro; provocaram o adversário pela queda
para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
- Ão, ão, ão, segunda divisão!
Angústia desde a preliminar
Como alguém apaixonado ansioso pelo primeiro encontro, os torcedores
rubros chegaram cedo, a tempo de acompanhar o Vasco vencer a preliminar por 5 a
1. Os meninos do America ouviram instruções, reclamações e xingamentos dos fãs
mais exaltados. A torcida cruz-maltina, por sua vez, chegou mais tarde e pouco
acompanhou o triunfo dos garotos vascaínos.
Além dos fanáticos americanos, havia reforços nas hostes
rubras. Rostos conhecidos como o de Tia Ruth, a torcedora-símbolo do America,
se misturavam a jovens que acompanhavam parentes. O estudante Breno Campos, de
19 anos, por exemplo, é botafoguense, mas aceitou o convite para estrear no
Giulite Coutinho. Com seu boné aba reta, assistiu à partida ao lado do tio,
Alvaro Macedo, 69, que não tirou o fone de ouvido para acompanhar a narração
pelo rádio.
- O America é o primeiro time de alguns, mas é o segundo de
todo mundo – explicou o jovem.
- Eu sou só America. Morro pelo America – completou Macedo.
Breno e o tio, Alvaro: encontro de gerações no
Giulite Coutinho (Foto: Felipe Schmidt)
Irritação com o árbitro
Foi
no intervalo entre a preliminar e o jogo principal que
os americanos mais gritaram. Era o momento da esperança, precedendo o
difícil
choque de realidade que viria a seguir. Antes de constatarem que ainda
estão
longe do nível técnico do outrora rival, os torcedores cantaram o belo
hino,
com ajuda de esforçada banda; pegaram emprestados cânticos de outros
times; e
tiraram sarro do Vasco. A única trégua foi para Jorginho, técnico
cruz-maltino, mas revelado pelo clube rubro, onde também iniciou a
carreira como treinador. Ele teve o nome gritado pelos fãs.
Faixa de apoio dos torcedores ao America
(Foto: Felipe Schmidt)
Com poucos minutos de jogo, a empolgação deu lugar à
irritação. O árbitro Wagner do Nascimento Magalhães assinalou pênalti em
Madson, e Nenê converteu para colocar o Vasco na frente. Foi a senha para os
americanos direcionarem a criatividade para o juiz. Xingamentos e protestos
permearam o restante do jogo – sobraram até cânticos machistas contra a auxiliar
Patrícia Silveira.
Em campo, o time pareceu se esforçar para fazer o torcedor
seguir sonhando. Mesmo atrás, pressionou o Vasco, mostrou vontade e não deixou
de correr. O gol de Leandro Aguiar reacendeu a esperança, até Rodrigo sepultar
qualquer devaneio de reação histórica. Nas arquibancadas, a sensação foi de
dever cumprido. Além das críticas ao árbitro, os fãs exaltaram os jogadores, chamados
de guerreiros. Apesar a derrota, o America, por um dia, voltou a se sentir
grande e lembrou aos apaixonados por futebol a falta que faz ao Campeonato
Carioca.
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