sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Torcer, torcer, torcer: após cinco anos, americanos matam saudade da elite


De volta à primeira divisão do Campeonato Carioca, torcedores do America reencontram time grande e roubam cena com cânticos e provocações ao Vasco




Por
Mesquita, Rio de Janeiro



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A cena foi emblemática. O America havia acabado de marcar contra o Vasco, e o placar apontava 2 a 1 para os cruz-maltinos. A esperança de reação se reacendera na parte vermelha da arquibancada do estádio Giulite Coutinho. A banda aumentara o ritmo. E, então, Rodrigo fez o terceiro gol do Vasco. As fanáticas gargantas pausaram; o bumbo continou batendo por alguns segundos, até parar. Foi o único momento em que a torcida americana esteve silenciosa e não fez aquilo que diz o hino do clube: torcer, torcer, torcer.


Mosaico-TORCIDA-DO-AMERICA (Foto: infoesporte)

A animação recomeçou pouco depois e voltou ao nível em que estava desde a preliminar, disputada pelas equipes sub-20. Pudera: foi o primeiro jogo do America em casa após cinco anos nos confins da segunda divisão carioca; o primeiro duelo com um clube grande desde o retorno. Era a oportunidade de voltar a se sentir enorme. 

Os torcedores do America preencheram com facilidade o espaço destinado a eles em Mesquita. O jogo contra o Vasco é considerado o Clássico da Paz, mas, para eles, o clima era beligerante: inesgotáveis, cantaram, cantaram, cantaram; infernizaram a vida do árbitro; provocaram o adversário pela queda para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

- Ão, ão, ão, segunda divisão!


Angústia desde a preliminar
Como alguém apaixonado ansioso pelo primeiro encontro, os torcedores rubros chegaram cedo, a tempo de acompanhar o Vasco vencer a preliminar por 5 a 1. Os meninos do America ouviram instruções, reclamações e xingamentos dos fãs mais exaltados. A torcida cruz-maltina, por sua vez, chegou mais tarde e pouco acompanhou o triunfo dos garotos vascaínos. 

Além dos fanáticos americanos, havia reforços nas hostes rubras. Rostos conhecidos como o de Tia Ruth, a torcedora-símbolo do America, se misturavam a jovens que acompanhavam parentes. O estudante Breno Campos, de 19 anos, por exemplo, é botafoguense, mas aceitou o convite para estrear no Giulite Coutinho. Com seu boné aba reta, assistiu à partida ao lado do tio, Alvaro Macedo, 69, que não tirou o fone de ouvido para acompanhar a narração pelo rádio. 

- O America é o primeiro time de alguns, mas é o segundo de todo mundo – explicou o jovem. 
- Eu sou só America. Morro pelo America – completou Macedo. 

Torcedores America (Foto: Felipe Schmidt)
Breno e o tio, Alvaro: encontro de gerações no 
Giulite Coutinho (Foto: Felipe Schmidt)


Irritação com o árbitro
Foi no intervalo entre a preliminar e o jogo principal que os americanos mais gritaram. Era o momento da esperança, precedendo o difícil choque de realidade que viria a seguir. Antes de constatarem que ainda estão longe do nível técnico do outrora rival, os torcedores cantaram o belo hino, com ajuda de esforçada banda; pegaram emprestados cânticos de outros times; e tiraram sarro do Vasco. A única trégua foi para Jorginho, técnico cruz-maltino, mas revelado pelo clube rubro, onde também iniciou a carreira como treinador. Ele teve o nome gritado pelos fãs.

Torcida America (Foto: Felipe Schmidt)
Faixa de apoio dos torcedores ao America 
(Foto: Felipe Schmidt)


Com poucos minutos de jogo, a empolgação deu lugar à irritação. O árbitro Wagner do Nascimento Magalhães assinalou pênalti em Madson, e Nenê converteu para colocar o Vasco na frente. Foi a senha para os americanos direcionarem a criatividade para o juiz. Xingamentos e protestos permearam o restante do jogo – sobraram até cânticos machistas contra a auxiliar Patrícia Silveira. 

Em campo, o time pareceu se esforçar para fazer o torcedor seguir sonhando. Mesmo atrás, pressionou o Vasco, mostrou vontade e não deixou de correr. O gol de Leandro Aguiar reacendeu a esperança, até Rodrigo sepultar qualquer devaneio de reação histórica. Nas arquibancadas, a sensação foi de dever cumprido. Além das críticas ao árbitro, os fãs exaltaram os jogadores, chamados de guerreiros. Apesar a derrota, o America, por um dia, voltou a se sentir grande e lembrou aos apaixonados por futebol a falta que faz ao Campeonato Carioca. 


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