terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Del Piero, Heskey, Ronaldo... Bernardo volta ao Brasil repleto de lembranças

Novo reforço do Friburguense e formado na base do Flamengo, meia "poliglota" narra idolatria na Albânia, partidas a -20º C e projeta sucesso no Brasil: "Chegou a hora"




Por
Cabo Frio, RJ



Bernardo Ribeiro, Friburguense (Foto: Vinicius Gastin/Friburguense)Bernardo Ribeiro vai jogar o Campeonato Carioca pelo Friburguense (Foto: Vinicius Gastin/Friburguense)


Bernado Ribeiro é um daqueles casos clichês de brasileiros que foram tentar a sorte no futebol do exterior muito cedo. Criado nas categorias de base do Flamengo, o meia, em 2009, decidiu pôr literalmente o pé na estrada em busca da continuação do sonho de ser jogador profissional. Conseguiu. Deixou a Gávea e, a partir daí, desandou por clubes da Itália, Albânia, Austrália e Finlândia. Alguns lugares que, mesmo distantes dos grandes centros do futebol mundial, lhe proporcionaram histórias inesquecíveis - como o da parceria com o atacante inglês Emile Heskey, o duelo contra o italiano Del Piero na Terra do Canguru e a chance de disputar uma Champions League por um time... albanês.

Hoje aos 26 anos de idade e após uma passagem quase despercebida pelo Inter de Lages-SC em 2015, Bernardo Ribeiro vai defender o Friburguense no Campeonato Carioca deste ano. Sem a pretensão de retornar ao futebol do exterior por enquanto, o meia, agora, é movido por um novo objetivo.
- Quero fazer minha carreira no Brasil. Saí do Brasil muito cedo. Sei que tenho condições para isso. Chegou a minha hora de crescer dentro do meu país - disse.

Natural de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, Bernardo chegou muito cedo às categorias inferiores do Flamengo. No Rubro-Negro foram quase 10 anos. Faturou diversos títulos na base e participou de uma geração que contava com o zagueiro Wellinton, os meias Erick Flores e Renato Augusto e o atacante Kayke. Mas, apesar dos canecos pelo time da Gávea, um episódio corriqueiro é narrado por ele quase como se fosse uma conquista.


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Bernardo Ribeiro e Del Piero (Foto: Reproduçãol/ Facebook)
Bernardo guarda recordação da partida contra 
o craque italiano Del Piero, na Austrália 
(Foto: Reproduçãol/ Facebook)


- Eu estava trocando de roupa no vestiário, quando olhei para porta do vestiário e apareceu o Ronaldo. Fiquei igual uma criança, cara (risos). Ele veio para a gente e falou "prazer, Ronaldo". Nem acreditava - lembrou o meia, que encontrou Ronaldo no Fla quando o ex-atacante se recuperava de uma lesão na Gávea, em 2008.

Com casamento marcado para este ano com a noiva australiana, que conheceu quando atuava pelo Newcastle Jets, o poliglota Bernardo Ribeiro - que arranha albanês e fala inglês, sueco, italiano e espanhol - orgulha-se da trajetória até aqui no futebol, como você confere na íntegra da entrevista abaixo:

Clubes por onde passou:
Flamengo, Catania-ITA, Skënderbeu-ALB, Newcastle Jets-AUS, IFK Mariehamn-FIN e Inter de Lages-SC

Início da carreira
- Jogava aqui em Nova Friburgo em uma escolinha. Me destacava, fazia gols, era o melhor do time. E, na época, tinha um olheiro do Flamengo que marcou um jogo nosso contra o Flamengo em Friburgo. Me destaquei nesse jogo e fui chamado para fazer um teste na Ilha do Governador. Cheguei e fiz dois gols em 30 minutos e tudo. Aí fui chamado. Foi uma emoção muito grande para os meus pais eu ter passado para o Flamengo. E fiquei 10 anos da minha vida lá.

Títulos na Gávea
- Minha geração ganhou tudo. Fomos o único clube que conseguiu índice para jogar o Mundial de Clubes da categoria na época. Ficamos na frente do Barcelona, do PSV, ficamos em terceiro nesse torneio na Malásia. Tinha o Renato Augusto, o Kayke, o Erick Flores, o Wellinton, que acho que está na Arábia e jogou no Coritiba. Nossa geração ganhou tudo. No mirim, no infantil, a Copa BH, tudo.

Bernardo Ribeiro, meia do Friburguense (Foto: Arquivo Pessoal)Bernardo Ribeiro guarda foto da participação do Fla no Torneio Internacional da Malásia, em 2007 
(Foto: Arquivo Pessoal)


Saída do Flamengo e a chegada na Europa
- Eu tinha contrato na época. Mas eu vi que não teria oportunidade no Flamengo, que queria me emprestar para alguns times. Mas, por bem, achei que não seria interessante para mim. Aí eu fiz testes na Alemanha (Nuremberg), acabei ficando, mas era base, bem amador mesmo. Mas, como não tinha nada, acabei ficando. Mas foi para o Catania que eu saí mesmo do Flamengo, com registro na CBF, tudo mais. Fui fazer teste no Treviso. A ideia era ficar lá. Mas aí me falaram "pô, você foi bem", vamos para o Catania, que é de Série A. Eu tenho o passaporte italiano, aí teve um convite do Catania, que me ofereceu um contrato de seis meses. Nosso time tinha jogadores importantes, como o Maxi Lopes. Foi uma experiência excelente

Pensar em voltar ao Flamengo?
- Eu tenho um carinho muito grande pelo Flamengo. Me profissionalizei ali. Tenho uma relação muito boa com os jogadores do Flamengo, como o Kayke, um irmão que eu tenho, o Luiz Antônio, todo mundo. Se pintar essa oportunidade ficaria muito feliz. Saí, fiz minha estrada, fiz outras coisas. Fui para a Europa muito cedo, mas o Flamengo eu tenho um grande carinho. Foi o clube que me deu a oportunidade de ser profissional.

Bernardo Ribeiro  Albânia (Foto: Divulgação)Bernardo guarda foto de quando treinou com Ronaldo, em 2008, quando o ex-atacante se tratava de uma lesão na Gávea (Foto: Divulgação)


Encontro com o Fenômeno
- O Ronaldo sempre foi o meu ídolo. Quando eu tinha entre 9 e 10 anos, eu sempre comprava as chuteiras que ele usava. Eu estava em Friburgo e ligaram e falaram "você vai treinar no profissional hoje". Aí já pensei "pô, treino físico de novo, não" (risos). Cheguei na Gávea e vi uma movimentação que não era normal, nem em contratação ficava daquele jeito, coisa de louco. Aí pensei "tem alguma coisa hoje aí".  Tinha gente de todo o mundo, japonês. Eu estava trocando de roupa no vestiário, quando eu estava olhando para porta do vestiário e aparece o Ronaldo. Fiquei igual uma criança. Ele veio para a gente e falou "prazer, Ronaldo". Nem acreditava. Cara, fomos treinar junto com ele. Eu aqueci junto com ele. Foi minha dupla no aquecimento, treinamos juntos. Dei um passe para ele fazer um gol no treino. Aí quando acabou, tirei uma foto dentro do campo mesmo, com a roupa do Flamengo. Essa foto está no meu quarto, como um troféu, né (risos).

Passagem pelo Skënderbeu, da Albânia
- Saí da Itália e fui para Albânia. A Albânia hoje em dia está classificada para a Eurocopa, o clube que eu joguei estava na fase de grupos da Liga Europa. Está crescendo, tem um trabalho legal. Foi através de uma parceiro, que é albanês, que queria formar, vamos dizer, um time imbatível. O clube não ganhava o campeonato nacional tinha 82 anos. Um clube de muita torcida. Metade da comissão técnica do Catania foi para lá. Foi excepcional. Lá a torcida comparece, o estádio tinha capacidade para 15 mil pessoas. Ganhamos o campeonato e só perdemos dois jogos. Fui eleito o melhor meia do campeonato. Até hoje as pessoas de lá me mandam mensagem, me procuram, virei ídolo mesmo. Muito legal para mim. Uma coisa muito emocionante. Eu não podia andar nem na rua, no shopping. Meus pais quando foram para lá ficaram assustados. Eu não podia fazer nada, nem tomar um café. Mas foi muito legal. Fiquei um ano e meio. Ganhei dois campeonatos albanês e uma Copa da Albânia.

Participação na Liga dos Campeões, temporada 2011/2012
- Na Albânia, eu também joguei a Liga dos Campeões. Não cheguei a jogar a fase de grupos, mas jogamos a última fase dos playoffs, uma antes de entrar nos grupos. Perdemos para o Apoel, do Chipre. Esse Apoel, inclusive, estava bem, foi eliminado naquela Liga apenas pelo Real Madri no mata-mata (quartas de final). É espetacular poder jogar a Champios.

Emile Heskey jogador da Inglaterra (Foto: Reuters)Atacante da Inglaterra nas Copas de 2002 e 2010, Heskey jogou com Bernardo no Newcastle Jets (Foto: Reuters)


Parceria com Heskey e o encontro com Del Piero, na temporada 2012/2013
- Como fui bem na Albânia, surgiram propostas. E surgiu essa da Austrália, para jogar no Newcastle Nets, que estava montando um time forte. Cheguei junto com o Emile Heskey, que jogou no Liverpool, na seleção da Inglaterra. Eu peguei a 10 e ele a 9. O Cássio (lateral-esquerdo), que já jogou no Fla, disse "é muito bom aqui, cara". Isso foi na época que o Del Piero saiu da Juventus e foi para o Sidney. A repercussão foi muito grande na Austrália com ele e com o Heskey. No primeiro jogo do Del Piero, nós que jogamos contra eles. Tinha umas 85 mil pessoas no Estádio. A gente ganhou. Tenho até uma foto que estou driblando o Del Piero (risos). Poxa, vendo essa foto me faz lembrar que eu cheguei em um nível bom. 85 mil pessoas no estádio, jogando contra o Del Piero, que já ganhou Copa do Mundo, formando dupla de ataque com o Heskey, que também já jogou Copa, foi demais.

Aventura "fria" na Finlândia, em 2013 e 2014
- Na Finlândia se pode pensar que é fácil jogar, mas não é. As dificuldades lá são muito grande. Já joguei lá com 27 graus negativos, menos 20. É muito difícil jogar no frio. Lá eles marcam muito, chegam junto, e o juiz deixa rolar. E eu jogo bem para frente, com aquele estilo brasileiro. Eles não aceitam muito isso, não. Acham que está querendo menosprezar. Nosso time era um time bom, conseguimos chegar entre os quatro primeiros do campeonato. Eu fui escolhido como um dos melhores meias. Consegui chegar a um número que ninguém nunca tinha conseguido de assistências no campeonato. Foram 16 em 25 jogos. Aí surgiu a oportunidade de eu ir para alguns clubes maiores da Finlândia, ir para a Suécia, para a Dinamarca, Noruega. Mas decidi voltar para o Brasil, para fazer minha carreira profissional dentro do Brasil.

Bernardo Ribeiro, meia do Friburguense (Foto: Reprodução/ Facebook)Bernardo jogou na Finlândia antes de retornar ao Brasil (Foto: Reprodução/ Facebook)


Acerto com o Inter de Lages e o retorno ao "lar"
- Fui para lá (Inter de Lages), mas não joguei. Tive problema na documentação e acabou que não consegui jogar. Aí fiz um acordo com o presidente para vir para o Friburguense, que seria melhor para mim. Perto de casa, um clube que fica cinco minutos da minha casa. Conheço todos ali, o Siqueirinha, uma pessoa que eu gosto, confio, que conversou comigo. Não pensei duas vezes. Agradeço a ele pelo convite. Espero fazer um trabalho legal. Assinei com um clube que literalmente é dentro da minha casa. Sai daqui com 12 anos e só estou voltando agora, para ter essa tranquilidade. E para jogar o Carioca que, junto com o Paulista, é o campeonato mais visto, mais charmoso.

Volta ao futebol do exterior?
- Agora mesmo, que nessa abertura do mercado de janeiro, eu recebi uns dois, três telefonemas de pessoas que eu conheço por lá. Mas não quero isso. Quero fazer minha carreira no Brasil. Saí do Brasil muito cedo. Sei que tenho condições para isso. Chegou a hora de crescer dentro do meu país. Tem clubes excelentes, um campeonato forte, que todo mundo comenta lá fora. Dizem que estamos enfrentando uma crise no futebol do Brasil. Mas, para mim, não existe isso. Lá todo mundo fala. Falei que voltei para cá, e as pessoas me deram os parabéns. Tenho condições de crescer muito. Isso que eu quero. Espero fazer um excelente Carioca pelo Friburguense para alcançar muitas coisas.

Bernardo Ribeiro, meia do Friburguense (Foto: Arquivo Pessoal)Bernardo jogou na Austrália por uma temporada (Foto: Arquivo Pessoal)


Poliglota?
- Eu falo cinco línguas. No Albanês, eu engano (risos). Mas falo fluente inglês, porque causa da minha noiva. Falo espanhol perfeitamente, porque tive alguns treinadores espanhóis. Falo muito bem italiano e um pouco de sueco também, porque, na Finlândia, na região que eu morava, a maioria das pessoas falavam sueco.

Sonho realizado
- Tenho que destacar duas coisas bem pontuais na minha vida pelo futebol. Saí do Brasil muito cedo com o sonho de ser jogador. Consegui todas as minhas coisas, tudo o que eu tenho e ganhei títulos em países que não eram da minha língua. Isso é fruto de muito trabalho e muito mais pelo apoio dos meus pais, dos meus irmãos e da minha família. Graças a Deus, eu conquistei coisas boas lá fora. Na Austrália, por exemplo, eu conheci a minha a noiva. Ela veio morar aqui comigo, ela é apaixonada pelo Brasil. Nós vamos no casar esse ano no Brasil. Tive uma experiência muito legal por esse mundo.

FONTE:
http://globoesporte.globo.com/rj/serra-lagos-norte/noticia/2016/01/del-piero-heskey-ronaldo-bernardo-volta-ao-brasil-repleto-de-lembrancas.html

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