terça-feira, 11 de agosto de 2015

Rei da Praia, Fred ignora preconceito e eleva o nível técnico no vôlei sentado

Classificado como "lesão mínima" por problemas no joelho causados pela prática do esporte em alto rendimento, niteroiense trabalha por evolução da modalidade


Por
Direto de Toronto, Canadá

 
Fred vôlei sentado; parapan (Foto: CPB)Fred é um dos destaques da equipe brasileira no Parapan de Toronto (Foto: CPB)


Por quase duas décadas, a praia foi a casa de Fred. Rodou o mundo jogando no Circuito Mundial, fez carreira na principal liga americana das areias e foi coroado “Rei da Praia” em 2000. Mas levar o corpo ao limite por tanto tempo teve seu preço. Após encerrar a carreira devido a uma grave lesão e uma cirurgia mal sucedida, o atleta teve a chance de voltar às competições no vôlei sentado. 

Considerado pelo técnico da seleção brasileira o jogador mais técnico entre os convocados para os Jogos Parapan-Americanos de Toronto, o niteroiense driblou o preconceito de colegas do esporte olímpico e hoje exerce um papel fundamental para aumentar o nível de competitividade do Brasil na modalidade.

Fred jogou vôlei de praia por 18 anos e passou outros sete como ponteiro na quadra. Para aguentar a rotina de treinos e partidas, perdeu a conta de quantas vezes se submeteu a sessões de fisioterapia ou tomou medicamentos para aliviar dores e inflamações, sobretudo nas articulações. Já na reta final da carreira, sofreu um duro golpe ao romper o tendão patelar do joelho esquerdo. 

A previsão de recuperação era de cerca de um ano, mas a cirurgia que deveria ser reparadora não resolveu o problema. Outras três intervenções foram necessárias. Fred até voltou a jogar, mas o prazer que tinha em quadra não resistiu à dor do esforço.

Fred vôlei sentado; parapan (Foto: CPB)
Atleta do vôlei sentado brasileiro, Fred atuou 
no vôlei de praia anteriormente (Foto: CPB)


- O esporte alto rendimento não é sinônimo de saúde. Você é uma pessoa diferenciada que treina 8h, 10h por dia e exige o corpo ao limite. Nem sempre isso é saudável. Suas articulações vão embora, é muita medicação para jogar e sabe que vai ter problema no futuro. Não é saudável, mas é um estilo de vida. Acabou que esporte profissional me levou ao paralímpico. Claro que foi decorrente de uma lesão grave, de uma cirurgia no joelho. Talvez se tivesse sido melhor executada eu teria continuada no esporte profissional mais tempo, mas de qualquer forma o joelho já estava muito ruim. Foram 23 anos de voleibol profissional saltando 300, 400 vezes por dia – lembrou.

Vôlei Sentado Fred Parapan Toronto (Foto: Arquivo Pessoal)Atleta no ano em que disputou e venceu
o Rei de Praia (Foto: Arquivo Pessoal)


Foi um amigo que levou Fred ao vôlei sentado. E tudo aconteceu com uma velocidade impressionante. Uma semana após conhecer o esporte na Associação Niteroiense de Deficientes Físicos (Andef), o jogador disputou seu primeiro torneio. Deu a sorte de ser observado pelo técnico da seleção, e um mês depois apresentou-se na convocação. Após passar por uma avaliação médica e ser enquadrado na classificação de “lesão mínima”, tornou-se figurinha carimbada no time nacional.

Pelas regras do esporte, apenas um atleta com esta limitação mínima pode estar em quadra por vez. O titular da posição é o também ex-atleta profissional Anderson Ribas, de 2,12m. Mas a presença de Fred no elenco, acirrando a concorrência, elevou o nível da equipe como um todo.

- Ele é um cara importante pela condição física e técnica que trouxe da areia. Acho que é o cara mais técnico que temos e um dos mais técnicos do mundo no vôlei sentado. É um cara grande e que veio fazer sombra para o Anderson, pois seria titular em qualquer equipe do mundo. Ele é mais constante e fez o Anderson crescer muito, trouxe a experiência de ex-atleta, de um cara que resolve. Para os meninos é algo muito importante, porque a maioria não veio do vôlei, então se espelham neles que já foram atletas de alto rendimento, e hoje continuam dando duro, dando exemplo – disse Fernando Guimarães.

Fred se orgulha de ser espelho para os colegas de time e lamenta que outros ex-jogadores profissionais não sigam seu caminho. Ele revela que ouviu críticas de compatriotas quando contou que estava competindo no paradesporto, enquanto em outros países, como os Estados Unidos e outros centros europeus, incentivam essa cultura de colaboração com ex-atletas olímpicos.

vôlei sentado Fred parapan Toronto (Foto: Helena Rebello)
Jogador no treino de vôlei sentado no Parapan 
de Toronto (Foto: Helena Rebello)


- Ainda existe preconceito em relação aos atletas. Quando eu falei que ia jogar, as pessoas falavam “você vai para o vôlei sentado? Isso é esporte para deficiente”.  Na verdade não é mais. Até foi em 2003, quando começou, como inclusão social de uma pessoa que tinha acabado de ter um trauma e que usava o esporte para evitar uma depressão. Hoje em dia é esporte de alto rendimento, você briga por medalha de ouro em Mundial e Paralimpíadas. Tem vários jogadores de outros países que jogaram indoor ou praia. No time dos EUA vários me conhecem. Se os atletas olímpicos tivessem uma mentalidade de agregar ao esporte, talvez houvesse mais atletas aqui.

Até o momento, o Brasil está invicto no vôlei sentado masculino no Parapan, sem perder um set sequer. Foram quatro vitórias por 3 sets a 0: sobre México, Canadá, Costa Rica e Colômbia. Nesta quarta-feira, a seleção enfrentará seu principal adversário no torneio, os Estados Unidos.


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/parapan/noticia/2015/08/rei-da-praia-fred-ignora-preconceito-e-eleva-o-nivel-tecnico-no-volei-sentado.html

Nenhum comentário: